Olá, bom dia! Você que está me acompanhando ao vivo, seja bem-vindo! Você que está vendo este vídeo depois da transmissão ao vivo, esse vídeo foi pensado para todos vocês que já caíram em conversa de algum coach, de algum picareta, de alguém que prometeu a você entregar algo muito valioso. E, no final das contas, você percebeu; você se sentiu feito de tolo. Evidentemente, esse não é o vídeo dirigido a pessoas que continuam buscando milagres nas mãos de curandeiros. Claro que não! Aqueles que continuam acreditando que seres humanos comuns, homens normais, podem fazer milagres evidentemente vão
apenas se irritar com a mensagem desse vídeo. Mas você que já se sentiu enganado, já se sentiu ludibriado, eu queria hoje trazer uma reflexão para você entender por que você se deixou enganar, o quão humano é isso e de que forma isso se relaciona com uma necessidade profunda no nosso ser que tem mobilizado os homens desde os princípios dos tempos. Tá, então não é algo para você ficar aí; não é algo para te conduzir ao remorso. É algo com que você pode aprender, e o objetivo do vídeo é esse. Mas, evidentemente, eu vou fazer primeiro
uma pequena pincelada sobre o que é o império coach, né? O que são? Quais são as principais tendências dessas pessoas que fazem milhões simplesmente usando, explorando a esperança das pessoas que têm uma razão legítima para buscá-los? Então, para ficar claro, qual é a razão legítima que leva as pessoas a buscarem, em outro ser humano, uma espécie de mestre de como se viver? Porque, basicamente, o coach... se você pensar, a ideia de coach é um instrutor. Né? Originalmente, nos Estados Unidos, os coaches são aquelas pessoas que vão dar treinamentos em empresas. Então, são treinadores, né? Pra
gente não ficar usando o termo, hã, o termo inglês. O que é coach? Coach é um instrutor. O que é o instrutor? É alguém que precisa treinar você para você usar o instrumento. Então, por exemplo, no ramo da tecnologia, no ramo da engenharia, essas tecnologias são desenvolvidas com uma rapidez impressionante, né? Então, esses instrutores vão atualizando as equipes, vão atualizando as pessoas, todos aqueles que cooperam numa empresa muito grande, em geral nas multinacionais, a se familiarizarem com as novas tecnologias. São aqueles que vão dar treinamentos, instrução, tá? E é daí que vem, e aí o
que acontece? Desse nicho, que é um nicho de mercado muito específico, que tem profissionais sérios, tá? Desse nicho surgem aquelas pessoas que vão vender regras de vida, tá? São os vendedores de regras de vida. Há algum tempo, nesse canal, eu fiz uma resenha sobre um livro fantástico do Louis Lavelle chamado “Regras de Vida”, que tem a ver justamente com a tradição da filosofia antiga, da filosofia clássica, de nos ensinar mais ou menos, pelo menos, nos introduzir na arte de viver. Por quê? Porque realmente viver é uma arte! Viver é uma arte a tal ponto que
nós temos, para dar um exemplo, ah, de uma obra fantástica a esse respeito de um filósofo contemporâneo, temos esse livrinho aqui, que é um bestseller, tá? Do Dietrich von Hildebrand, “A Arte de Viver”, por exemplo. Ele, com a sua esposa, né? É um bestseller, um livro muito lido, mas muito valioso, porque nesse livrinho realmente você encontra os fundamentos da arte de viver. Mas é um filósofo, tá? É um filósofo, é um homem sério e alguém que vai te dizer algumas coisas difíceis, para que você tenha noção de que, realmente, viver, viver bem, ah, e viver
em conformidade com aquilo que te torna plenamente humano é um pouco difícil. Mas os coaches, eles são mais ou menos esses que vendem, os comerciantes de fórmulas de vida. Eles são os sofistas da nossa época, né? Os sofistas, na época da Grécia Antiga, eram aqueles vendedores de virtude. Virtude, em grego, vem do termo "areté"; a palavra grega significa excelência. O que é você ser um vendedor de excelência? Olha, eu vou fazer de você um cara muito bom! Eu vou transformar você em um cara poderoso! Você, depois que for meu aluno, depois que passar pelo meu
treinamento, você vai ser outro! Você vai ser o cara! Você vai ser poderoso! E os gregos, eles eram educados. Os aristocratas de Atenas faziam parte da educação, eles eram preparados para assumir o comando da cidade, porque eles, ah, assumiriam cargos, tocariam a cidade. Então, eles precisavam de uma educação, uma propedêutica, esse aprendizado de como me conduzir com excelência, para que a cidade continue funcionando bem, sendo boa e promovendo a excelência dos demais cidadãos. É uma responsabilidade muito grande você tocar a cidade, né? A política, a ação política, é uma responsabilidade muito grande. Hoje em dia,
ela se confunde com esse ofício burocrático de assinar papel, fazer não sei o quê, eh, brigar ali no Parlamento; "Ah, eu faço isso em troca daquilo", porque a gente vive na era do Estado burocrático. Então, mesmo a política dos homens bons e virtuosos, ela fica um pouco travada pelas limitações impostas por essa máquina, né? Eu falei disso no vídeo anterior e em vários outros vídeos desse canal. Mas na Grécia não! Não era um estado burocrático, era uma democracia de fato, com todos os problemas que são próprios ao regime democrático, mas que, ainda assim, havia espaço
para a virtude, virtude no sentido da excelência. E aí, nós tivemos alguns grandes homens que marcaram a democracia grega, eram modelos para aqueles jovens que buscavam aprender a arte de quê? A arte de viver. E qual é a arte de viver para um grego, da época ali do século IV? É ser... dominar a excelência, é ser o melhor possível, porque se eu for... melhor possível. Eu estou à altura de conduzir a cidade. Eu sou um exemplo para os outros homens, eu sou um exemplo para os outros cidadãos. Eu consigo arrastar comigo as pessoas para a
excelência e, com isso, nós conseguimos todos nos tornar mais fortes, né? Mais poderosos e mais capazes. Tem uma questão da habilidade: mais capazes de suportar as adversidades que também são próprias da vida. Então, o homem excelente, o jovem excelente, era capaz de suportar diversidade; ou seja, ir para a guerra. Os aristocratas tinham que estar prontos para a guerra. Vamos lembrar que Atenas teve um contexto de várias invasões persas, e os exércitos persas eram muito maiores. E aí temos alguns grandes nomes na história, justamente a da Grécia, que são os gregos que conseguiram, de fato, enxotar
os persas e preservar a autonomia das cidades-estado gregas por meio de uma coalizão, que teve como fim último justamente não ajoelhar-se ao Império Persa; ou seja, não perder soberania, não perder autodeterminação. E a autodeterminação era tão importante para os gregos. Bom, porque eles se esmeravam tanto em formar os seus jovens para que eles fossem excelentes, para que eles fossem virtuosos. Portanto, evidentemente, eles eram capazes de dizer o que era melhor para eles, e o melhor para eles não era ser “empregadinho” do Império Persa. Então, essa gana dos gregos diante das invasões persas tem todo um
contexto e está atrelada a uma mentalidade e uma visão de moralidade e de postura diante do viver comunitário, ou seja, de postura política muito complexa, que eu estou apenas esboçando aqui. Mas tudo isso para dizer que o sofista surge numa época em que a cultura grega começa a decair, né? Quem é o grande nome dessa grandíssima época? O mais celebrado é Sócrates. Então, veja, o modelo de homem grego de excelência é Sócrates, que é um dos sete sábios. Simplesmente, se você pegar qualquer manual de filosofia antiga, você vai encontrar as sentenças dos sete sábios, as
de Solon estão ali. Aí, depois de Solon, a gente vai ter de Péricles em diante já uma queda. Péricles foi, digamos assim, o último homem sobre quem nós podemos falar alguma coisa, mas ainda assim Péricles já traz consigo, ele teve que reformar, fazer uma série de reformas que vão conduzir Atenas para uma decadência, e é justamente na época de Solon, de Péricles, que florescem os sofistas. Os sofistas são estrangeiros que vêm a Atenas ensinar os jovens a serem virtuosos, ou seja, a arte de ser excelente. A arte de ser uma máxima é você vencer o
cara e você estar pronto para assumir a cidade. Essa é a pegada dos sofistas, né? E aí Sócrates, justamente, teve um papel fundamental de mostrar aos sofistas que a virtude, a excelência em si mesma, era algo que eles desconheciam. Eles não sabiam o que era excelência, portanto, eles estavam necessariamente vendendo gato por lebre, porque eles não eram nem capazes de definir excelência; ou seja, eles não eram capazes de entender o valor que estavam comerciando. E essa é uma das querelas fundamentais que Platão, em uma das suas tetralogia, vai explorar magnificamente bem. Mas ele explora em
toda a sua obra. Há uma tetralogia especificamente: Eutidemo, você tem Eutidemo, Protágoras, Górgias. Depois, a gente tem, nesse mesmo diálogo, Meno. Mas depois do diálogo Meno, a gente tem ainda Ípias Maior e Ípias Menor. Então, a gente tem aí pelo menos cinco, seis diálogos platônicos em que essa questão de investigar profundamente, primeiro, se a virtude pode ser ensinada; segundo, o que é a virtude e se ela pode ser ensinada. Esses dois problemas articulados são realmente mobilizados para que Platão consiga mostrar como Sócrates quebrou a credibilidade que era usufruída pelos sofistas. Um dos diálogos mais engraçados,
se você quiser começar por um deles, são os dois Ípias. Você tem o Ípias Maior e o Menor. Um deles versa questões estéticas sobre a beleza, mas o Ípias Maior é uma enorme sátira desse homem que se apresenta, ele vende a si mesmo e, vendendo a si mesmo, ele consegue alunos. Então, Ípias é aquele sofista que diz: “Ah, eu sou maravilhoso, sou rico, tenho muitos alunos, eu sou rico, eu sou maravilhoso, e eu vou ensinar justamente os jovens a serem tão bons quanto eu”. E ele se vale de atributos superficiais, como, por exemplo, o fato
de ter uma quantidade extensa de alunos, o fato de ter uma quantidade extensa de riqueza. Ele se vale do império da quantidade, que está no campo dos atributos secundários, não dos primários, não dos essenciais, para moldar uma figura de autoridade que evidentemente vai convencer os jovens a serem como ele. E assim, para se tornar como ele, passam pelo seu treinamento. Então, esse cultismo próprio no campo da arte da vida, isso que virou febre no Brasil e que mobiliza um mercado enorme, cheio de picaretas, esse mercado por quê? Porque são pessoas que estão comercializando algo, com
não com o fim de formar o próximo, mas simplesmente de ganhar dinheiro. Os sofistas eram homens muito ricos, né? Você tem Protágoras, que, porque Platão tem um pouco mais de respeito, quer dizer, "não, você me pague quanto você puder", etc., tinha uma outra maneira de cobrar. Mas, de fato, havia uma atitude mercenária no sentido de que os sofistas tinham muito prestígio e atendiam às famílias muito ricas de Atenas e iam enriquecendo cada vez mais vendendo um produto que eles próprios. Desconheciam porque a sua atitude expressava o desconhecimento desse produto, tá? Que é tornar alguém excelente,
né? Porque o que você tem de fazer para ensinar alguém a ser excelente? Veja, se a pessoa não quiser ser decente, se a pessoa não quiser escolher o que é realmente valioso, valioso em si, e ela quiser escolher a aparência do valioso, ela vai ter uma aparência de excelência, mas ela não vai ser excelente, ela não vai ter virtude. Por nós, somos o tempo todo enganados, né? Ah, pelo parecer. Nem tudo é o que parece, tá? E essa é uma das grandes mensagens dos diálogos platônicos, que por isso eles mereceram leitura desde sempre e continuarão
a ser lidos enquanto aqui estivermos, certo? Mas os coaches, então, as pessoas que se deixam muito enganar pelo fenômeno dos coaches, desses instrutores, os mestres da vida, evidentemente são pessoas que estão em busca de algo verdadeiro. Esse é o problema, né? Por isso que os caras conseguem ganhar tanta grana, como os jovens atenienses estavam em busca de algo profundamente necessário, mas acabavam topando com mestres errados, né? E veja, por isso que Platão, quando ele faz a Academia, ele erige a Academia, ele constrói a Academia justamente porque ele sabia que era absolutamente necessário que as pessoas
se formassem, que as pessoas se educassem, que as pessoas realmente entendessem a arte de viver e fossem capazes de viver de maneira correta, mesmo diante da pior adversidade. Platão sabia que não era possível salvar Atenas, que ali a derrocada era inevitável, mas ele entendia que uma saída espiritual era possível. Ó, veja, não é porque a nossa cidade está em derrocada, por um contexto complexo, que todos nós devemos ceder a essa derrocada e deixar nossa alma ir junto com esse barro que escorre. Não, não! Vamos, ao contrário, nos tornar reservas morais para um tempo pior que
seja, ou para sermos capazes de abrir caminhos para um tempo melhor, tá? Então, esse é o papel da Academia, por isso que ela tem um papel histórico importantíssimo, enfim, etc. Agora, no caso da vida de hoje, veja, é legítimo que os jovens buscavam tanto. É legítimo que a filosofia, as escolas de filosofia, exemplo da Academia de Platão, não que a Academia tenha sido a primeira; ela é a primeira que tem este objetivo de forma muito bem explicada, ela tem muita clareza quanto ao seu objetivo. Mas já as reuniões dos pitagóricos na Magna Grécia já tinham
um papel de formar pessoas, tá? Então, essa ideia de vida filosófica, de fazer da filosofia um parâmetro que te permita entender a arte da vida aos poucos, é algo que os pitagóricos já faziam, e Platão traz essa influência para a Academia. Mas a Academia fornece o grande modelo das escolas filosóficas. Então, a gente vai ter primeiro a Academia de Platão, depois o Liceu de Aristóteles, depois a gente vai ter a Estoa dos estoicos, a gente tem o Jardim de Epicuro, a gente tem também a escola dos pirrônicos. E aí você tem uma série de escolas,
mesmo instituições, são grupos que se formam e dos quais os jovens se aproximam, as pessoas se aproximam porque elas estão procurando realmente o sentido da vida. Pô, mas como eu devo viver? O que é tudo isso? Quem eu sou? O que estou fazendo aqui? E qual é a maneira correta de proceder? Porque a arte da vida é difícil mesmo, e qualquer pessoa que tenha uma consciência funcionando, em algum momento, vai se perguntar: como é que eu vivo? Como é que eu devo viver, tá? Então, essa é uma pergunta fundamental, absolutamente legítima, que todos nós nos
fazemos. O que acontece é que muitas das pessoas fazem essa pergunta ah sem antes se libertar das obsessões próprias da nossa época, ah, das grandes linhas que são vendidas como o caminho da vida, né? Então, a depender da época em que nós estamos, existe uma ideia geral, e muitas vezes essas grandes ideias gerais estão equivocadas. Por isso, a gente precisa manter nossa consciência sempre afiada. Ah, e essas ideias gerais que dizem: "O caminho da vida é esse, é esse e aquele", e as pessoas compram isso sem fazer tanta meditação, ou porque elas não tiveram a
instrução necessária, ah, para ter uma consciência um pouco mais preparada para se perguntar se aquilo que está sendo vendido como correto é mesmo. E quais são essas grandes obsessões centrais da nossa época? Quanto a o que eu devo fazer para que minha vida seja boa, para que minha vida tenha sentido, né? A gente tem três grandes obsessões. A principal delas é, evidentemente, o enriquecimento e criar patrimônio, né? Ter dinheiro. Ter dinheiro, por quê? Porque o dinheiro é um instrumento para você poder sustentar sua família, né? Pelo amor de Deus, você poder comer, mesmo você até
fazer caridade. Você precisa ter dinheiro. Então, o dinheiro é o grande instrumento relacional e é o instrumento que supre as nossas necessidades, né? Mas, de você ter o necessário a você ter muito dinheiro, existe um ponto aí importante que é o seguinte: você ter patrimônio torna você alguém capaz de, nessa mentalidade geral, depois poder fazer tudo o que você quiser. Então, uma das grandes obsessões, uma das grandes, uma das maiores ideias falsas que circula entre nós é o seguinte: "Quando eu tiver dinheiro, eu posso fazer as coisas importantes". Então, o primeiro: eu tenho que ter
dinheiro. Primeiro, eu preciso prosperar, como todos os instrutores, né? Os mestres de vida dizem: você precisa prosperar, né? É, muitas... Veja, você tem muitas, há muitas pessoas que trabalham nesse campo. Eu vou... Falar do mais caricato de todos, que é o primo rico, né? O primo rico é, se você tá muito tempo, ele ganhou dinheiro na internet fingindo que tinha dinheiro e que ia ensinar você a ter dinheiro como ele. Ele não tinha. Ele enriqueceu com isso, né? Ele enriqueceu mesmo, vendendo métodos de enriquecimento, né? E é engraçado que o primo rico, ele é... Ele,
na verdade, para qualquer pessoa com a consciência, com a cabeça no lugar, ele é material humorístico. Ele é material pronto para o humorista fazer piada. Aquilo não é para ser levado a sério, mas mesmo assim ele tem muitos seguidores, ele conseguiu muitas pessoas, e as pessoas ficam ali ouvindo piamente, achando que as coisas que ele fala realmente vão mudar a situação financeira delas, tá? E as pessoas têm uma esperança. O ser humano, ele é... Veja, nós temos na nossa alma a luz e a sombra, mas no campo da nossa alma, que é luz, é uma
propensão para a luz. Nós somos pessoas de boa fé. Nós temos fé. Nós acreditamos no próximo. Uma pessoa diz: "Olha, eu vou te ajudar". Imagina, você tá numa situação péssima. Pô, se você tem tudo que você precisa, você vai acreditar naquela pessoa. Você vai acreditar e você vai se entregar. Ela fala: "Nossa, por favor, me ajuda, né? Eu quero a sua ajuda." Por quê? Porque os seres humanos têm um laço de fraternidade entre si. E não é verdade a antropologia que pinta o ser humano como naturalmente odioso uns aos outros, como seres em competição permanente
que se matariam para conseguir a mesma coisa. A natureza disso seria justificada porque todos os homens, por natureza, têm direito a todas as coisas. E, quando você vê alguém que é concorrente, você vai lá e mata... tira essa pessoa da frente para conseguir. Por natureza, não é algo errado. Essa teoria antropológica que acaba sendo sintetizada naquela frase famosa de que o homem é lobo do homem, ela é falsa. É verdade que ela é falsa, tá? E a prova de que ela é falsa é a boa fé das pessoas que, em algum momento da sua vida,
se deixaram enganar. Todos nós já fomos enganados um dia, tá? Então, não se sinta culpado, não tenha remorsos por você já ter sido enganado. Isso é comum. Isso acontece com todos nós. E, se você foi enganada, também é porque você é uma pessoa de boa fé, né? Uma pessoa que não teve a malícia para perceber-se diante de alguém que só queria se aproveitar de você, pegar o seu dinheiro para ele se enriquecer. Então, ele não estava querendo te ajudar, ele estava querendo te usar para se ajudar, tá? Era como os sofistas faziam, né? E é
como os coaches fazem, tá? E aí, essa grande obsessão principal, que é o patrimônio, o que é? É um distinguir-se pela quantidade. A gente tem que entender que a mentalidade moderna, a filosofia moderna, a moralidade moderna, ela é toda de inspiração matemática. Isso eu falo sempre para os meus alunos de filosofia moderna. Sendo ela de inspiração matemática, a gente está no reino da quantidade, né? E, quando a gente está no reino da quantidade, toda a ética — a ética científica — acaba tendo como horizonte a quantidade. E a quantidade, quando a gente pensa nas categorias
do ser de maneira filosófica, ela é um atributo secundário. Ai, mas Bruna, você está falando de quantidade como categoria filosófica. Pera, complicou. Tá bom, vamos dar um exemplo simples. Aristóteles tem um escrito ali chamado "Categorias", que é fácil de ler. Não é difícil, é um texto muito importante e muito introdutório, né? Mas veja só, vamos fazer a distinção entre quantidade e essência, que é simples, né? É quantidade, por exemplo, seu peso. Seu peso varia, não varia? A variação do seu peso está em que categoria do seu ser? Ah, tá na categoria da quantidade. Tá, não
estou falando do peso, posso falar de inúmeras coisas, sei lá, o quão bronzeado você está, né? As gradações diferentes. Mas o peso, eu acho que é algo mais... mais sua altura, seu peso, esses atributos, alguns atributos físicos. Mesma altura. Ah, não, mas a minha altura é sempre a mesma. Primeiro, não é, porque você se desenvolve ao longo da vida, né? A gente chega a um topo da altura, depois a gente começa a ressequir, né? Aí o envelhecimento é um processo de ressecamento, então ela também se altera. Mas, além disso, ela é diferente entre os seres
humanos. Mas há algo que todos os seres humanos possuem, que é o quê? A capacidade de linguagem, por exemplo, que é a capacidade de raciocínio, a capacidade de lidar com símbolos. Bom, isso é inerente a todo ser humano. Isso é inerente. Temos isso em diferentes capacidades, a depender do quanto a gente desenvolve a inteligência. Mas isso é uma característica essencial. A nossa altura, o nosso peso não é uma característica essencial. Ela é secundária e ela é do reino da quantidade, para vocês terem um exemplo simples, tá? E aí, todos os valores... A partir do momento
que os valores morais têm como lastro o reino da quantidade, a gente já começa a fazer besteira, né? E aí, a gente tem as três obsessões modernas que estão ligadas ao reino da quantidade: patrimônio, dinheiro e poder. Poder, que é a capacidade de influenciar e modelar outras pessoas, ah, que era o que Protágoras tinha muito na época de Platão, né? Tem uma... tem o diálogo Protágoras, é uma obra de arte, é um dos maiores... Diálogos de Platão. Mas tem uma cena que é inesquecível, que é quando Protágoras é o Platão. Ele era um grande poeta
e um grande satirista; ele fazia sátira como ninguém. E tem um momento que o Sócrates chega para conversar com Protágoras, que era o grande sofista, o grande instrutor da época. E ele, o Protágoras, vai andando, e conforme ele vai andando, você tem duas filas de jovens aqui e duas aqui; eles vão como se fosse uma coreografia. Eles vão seguindo Protágoras. Então, Protágoras vai para a esquerda e eles também vão; para a direita, eles também vão. Daí, o que é que Platão está figurando quando ele coloca essa imagem na nossa frente? Que Protágoras era influente, ou
seja, ele arrastava consigo as pessoas. Ele arrastava aqueles que se aproximavam dele; ele os arrastava consigo. Isso é influência, né? Isso é poder. É uma forma de poder você conseguir arrastar uma multidão com você; é você ter poder. Então, patrimônio e poder não são exatamente iguais. Você pode ter dinheiro e não ter poder; você pode ter poder e não ter tanto dinheiro, né? Mas evidentemente que um conduz ao outro, né? Quem tem patrimônio consegue ter poder, exercer poder, fazendo do dinheiro um instrumento para alcançá-lo. E quem tem poder, muitas vezes, consegue, com base na sua
capacidade de influência, arrastar os outros consigo. Daí, fazer nascer um patrimônio, né? Enriquece em cima disso. E aí a gente tem uma terceira obsessão, que é própria da nossa época, e eu vou depois relacionar as três. Vocês vão entender por que é que essas três são o núcleo duro, assim, de todos os códigos que existem por aí, tá? Embora eu tenha citado um apenas, mas são inúmeros. Vocês já devem ter pensado em vários, né? É a questão da saúde, da boa forma, tá? Agora, essa questão da saúde e da boa forma... Olha a quantidade de
gente que ganha grana com esse tal do mundo fitness. Aprender a comer, dietas miraculosas, "ah, emagrece tanto em tanto tempo". Todo esse universo, ele está atrelado a quê? À celebração do eu no tempo, tá? E aí, quando a gente observa, aqui, para que que você quer se cuidar tanto da sua forma? Ah, não, mas o importante não é. Eu tô falando da obsessão, né? Quando você tem uma obsessão por mostrar a melhor forma possível. Quando você é uma mulher que, com 25 anos, começa a fazer botox porque você não quer perder a elasticidade da sua
pele. Então, você, antes de envelhecer, já se garante que a velhice não vai te pegar, porque você vai fazer com que sua beleza perdure ao máximo. Quando você tem essa obsessão, e tem mulheres que começam, começa com 30, com mulheres que começam na vintena, entendeu?, a fazer procedimentos estéticos. Então, esse universo dos procedimentos estéticos, da boa forma, da harmonização facial... Quantos colegas meus aqui do YouTube eu não vi, ceder à harmonização facial e ficarem com aquela cara que não corresponde a algo principal do ser humano, que é o seguinte: veja, você quer celebrar o seu
eu no tempo. A celebração do eu no tempo é o quê? É o cuidado excessivo com o corpo. É você endeusar seu próprio corpo, você tem uma idolatria pelo seu próprio corpo. Veja, é muito engraçado. Se a gente pegar essas três coisas: ter patrimônio, ter influência e ter uma saúde, uma forma perfeita, as três são opostas às três virtudes reais, né? Por exemplo, ter patrimônio, ter muito dinheiro, querer acumular. Porque ter patrimônio é acumular. É curioso porque ela está nas antípodas da caridade, que é você se desprender. Você fica com o necessário e você se
desprende de boa parte. Fala: não, isso aqui, se isso aqui dá para mim, eu posso abrir mão disso aqui. É estar disposto a abrir mão, né? Concentrar patrimônio é antagônico a você estar disposto a abrir mão. É muito difícil, não que não existam pessoas ricas que são caridosas. Não é isso que eu tô dizendo, mas o que eu tô dizendo é que esse impulso de determinar sua vida e falar: ó, o sentido da minha vida agora é formar patrimônio. Quando você faz isso, você se fecha, você abre mão. Segundo, que é ter influência, ter poder.
É você se distinguir pela quantidade, pela quantidade de pessoas que você arrasta consigo, né? Isso na internet fica muito claro, né, pelo mundo dos influencers, dos likes. Outro dia eu, a minha conta no Instagram tava cheia de problemas de configuração; eu mandei apagar. Falei: apaga; eu vou fazer uma outra. Nossa! A quantidade de pessoas que vieram falar para mim: "Ai, que horror! Mas você perdeu o seu patrimônio, aqueles 100 mil seguidores". Falei: não, não, pelo amor de Deus! O que importa a quantidade de pessoas? Isso não define o meu trabalho; não define para onde eu
vou. Pelo amor de Deus! Depois eu fiz outra conta e lá, e aos poucos, as pessoas vão me encontrando, entendeu? Mas as pessoas se chocam com isso, né? Você abre mão... Meu Deus, da influência que você conquistou! Não, pelo amor de Deus! Isso tá justamente nas antípodas do quê? Da humildade verdadeira, que é você saber que você não é nada. E é daí que as pessoas dizem: "Eu não sou nada". Portanto, essa tendência que tá surgindo agora de detox das redes sociais eu acho excelente. Muitas pessoas devem fazer mesmo para que elas se lembrem de
quem elas são. Porque senão, a pessoa fica naquela aparência de que, puxa, muitas pessoas, e elas acham que elas são alguma coisa! Não é porque você... Tem 1, 100.000 milhões de seguidores que você é alguma coisa, cara. Você continua sem dizer nada, mas você vive a aparência de que você é alguma coisa, que você é importante, que por isso você arrasta as pessoas consigo. E aí tem o terceiro ponto, que é ter saúde de forma perfeita. Isso está exatamente oposto ao fato, à consciência de que o tempo é só uma passagem. A gente veio do
pó, pro pó a gente vai voltar. O recesso, o envelhecimento e as alterações são próprias do corpo, e você tem uma obsessão em se transformar numa estátua perfeita de mármore, assim, bela para sempre. Isso não condiz; isso é uma ilusão com relação ao que é a condição humana. Vocês sabem que eu tenho uma admiração profunda pelas atrizes francesas da década de 50 e 60. Minha favorita era a No Kem, que elas não faziam procedimentos estéticos, eram todas lindíssimas, não faziam procedimento estético, né? Uma ou outra, sei que a Catherine Deneuve fez, a Sofia Loren. Mas
aquelas mais humanamente conscientes de si não faziam e envelheceram, envelheceram com uma dignidade impressionante. Essas mulheres que eu tomo por modelos para mim, aliás, é porque eu vejo as mulheres da minha geração, a gente envelhece mais devagar porque nós temos muitos recursos, suplementos, medicina, e a beleza dura mais. Eu falo: "Dura mais, mas um dia acaba". Meu Deus do céu, você precisa se desapegar o quanto antes disso, entende? O quanto antes. Tá? Não estou falando para você se abandonar, claro que não, não é isso. Mas aceite aos poucos a passagem do tempo, meu Deus do
céu, aceite, porque é própria da condição humana. E essa celebração do eu no tempo é justamente a aparência da arte de viver. Então, ter muito dinheiro te permite fazer muitas coisas, tá? Enquanto você está aqui. Ter influência sobre outras pessoas é algo passageiro, e segurar fazer uma Esfinge de si mesmo também é passageiro. Então, essas obsessões centrais, todas próprias da era moderna, né, que é uma era anticristã, não preciso dizer, né? Ela é uma era muito marcada por valores surgidos de uma oposição, do ponto de vista da definição do ser humano, da condição humana, em
oposição ao cristianismo. Então, elas são antagônicas a algumas virtudes fundamentais que nós aprendemos pela grande tradição da cultura do Ocidente, que tem no cristianismo, nos seus pilares, né? Inequivocamente. Então, essa celebração do eu no tempo está por trás de todas essas obsessões das quais os coaches, mesmo sem saber nada do que eu estou falando aqui, se valem, porque, no fundo, sabem o que as pessoas procuram e vendem as fórmulas de felicidade. É engraçado que essas três grandes vertentes dão origem a inúmeras outras; há um rol de loucuras, né? Outro dia um amigo meu me contou
que ele viu uma nova pessoa vendendo um curso. A menina estava vendendo um curso de como comprar passagem barata. Mas o que é você comprar bilhete aéreo barato? Bom, você viajar é o quê? Você viajar é você parecer que você está, ou você parece ser uma pessoa muito bem-sucedida que viaja, que vai para lá e vai para cá. Ou você quer realizar algo que está fora do seu alcance, porque viajar é algo que é caro, não é para todas as pessoas. Viajar o tempo todo por todos os lugares é caro, mas a menina vende um
curso de: "Olha, vou te ensinar a comprar bilhete aéreo barato". Ou seja, eu vou pegar um atalho e fazer algo que minha condição não permite. No fundo, ela está te dando um curso de como você burlar a condição que é a sua, de como você burlar a adversidade que te cabe viver. É isso que ela está fazendo: um curso de como burlar essa adversidade que pode me amadurecer, pode me ensinar, pode me fazer melhor, mas eu quero burlar, porque eu não quero, eu quero o meu prazer de viajar e não a dificuldade do amadurecer. Então,
é diametralmente oposta à velha filosófica arte de ensinar a viver. Esse império coach é que gera milhões, que enriquece muita gente e empobrece inúmeras outras, e ele se articula justamente à celebração do eu no tempo, que se desdobra em várias outras obsessões modernas, né? Como comer, como comprar bilhete aéreo, como parecer rico. Tem de tudo, até como ser elegante. Ah, puxa, como ser elegante! Um negócio que começou e pegou, né? A Sinas Chagas tem essa pegada, né? E eu gosto até do trabalho, acho a gente engraçada, não quero colocar ela no universo dos coaches, que
ela é professora de português, ela tem um trabalho bom, mas vamos pensar na coisa, não vamos falar da pessoa. O trabalho que ela faz tem valor, mas a coisa, essa ideia de que falar bem é chique. Veja, a questão da fala sempre distinguiu as pessoas em termos de classes sociais, né? As pessoas com mais acesso à educação e à cultura, evidentemente, vão ter um domínio da linguagem maior. Então, é evidente que a aristocracia sempre teve o domínio da palavra, enquanto as classes populares não necessariamente. Mas eu digo: o que é exatamente isso que a gente
chama de elegância? Elegância é você aparentar ser um aristocrata, é isso. Porque muitas vezes me parece que é isso: elegância é você parecer ser aristocrata, ainda que você não seja. E aí eu também me pergunto: a etiqueta? Quem começou com esse negócio de etiqueta? Tinha uma mulher na época da minha mãe, Glória Cali, hoje me esqueci o nome dela, mas ela era a grande pessoa da etiqueta na época dos anos 90, né? Ah, etiqueta, etiqueta, etiqueta. A etiqueta, basicamente, é você ter acesso a uma série de... Modos que são partilhados por uma classe social muito
rica, que tem nesse conjunto de modos um distintivo, um instrumento para distinguir quem pertence a ela e quem não pertence. E é você querer passar-se por alguém que pertence a essa classe. Eu me pergunto: saber quem nós somos não é mais importante do que parecer o que não somos? Essa questão da etiqueta está no campo da aparência; ela não está no campo da essência. Você tem uma alma gentil, que é muito mais difícil do que você ter etiqueta. Aliás, você tem inúmeras senhoras insuportáveis, intragáveis, intoleráveis, que têm muita etiqueta e uma alma muito pouco gentil.
Ter uma alma gentil é algo virtuoso, é algo humano, é algo que tem valor em si. Uma pessoa capaz de ser gentil com o próximo, capaz de... Bem, um componente da aristocracia que se esqueceu é que o aristocrata é aquele que conversa com todas as pessoas de qualquer classe social, com a mesma familiaridade, porque ele reconhece no outro o fundamental, que é a humanidade. Ele tem capacidade e ele teve tantas experiências porque, realmente, foi-lhe facultado ter um conjunto inúmero de experiências que o tornam capaz de compreender as pessoas de inúmeras classes distintas. E era essa
razão que fazia dos aristocratas os mais adaptados a exercer o poder político, porque eles eram capazes de uma compreensão muito ampla, de atender pessoas das mais diferentes possíveis e conseguir conversar com cada uma delas. Essa era a essência, por exemplo, do Rei Justo, na época da cristandade. O Rei Justo não era o cara "Ai, puxa, ele tem mais dinheiro, ele é o mais elegante". Não, ele era o mais profundamente humano, porque, por ele ter meios que lhe permitiram um conjunto de experiências maior do que o das demais pessoas, ele conseguia compreender as demais pessoas profundamente.
Então vocês estão entendendo? Então o que eu quero dizer para vocês é que tudo isso que nos impressiona, que gera todo esse mercado, Império Coach etc., é algo que está atrelado a uma questão legítima, que é: nós queremos entender como se viver, como eu devo viver, como eu devo me comportar, como eu devo falar, como eu devo... Como eu devo trabalhar, como eu posso, né, me tornar uma pessoa respeitável, etc. Mas o que os coaches trazem são fórmulas para você aparentar algumas coisas, entendeu? E que não vão te conduzir a justamente nenhuma satisfação real, porque
não têm autenticidade. Eles são mercadores da aparência daquilo que você busca, que é entender a arte de viver. E eu vou dizer por que eu estou a 37 minutos falando de todas essas coisas, tá? Eu evidentemente tenho meditado muito nesses assuntos, porque esse é um tópico importante na nossa época, no nosso contexto, sobretudo. E aí, olha só que curioso, me ocorreu receber um livro do professor de Filosofia, colega meu, que é o Vítor Sales Pinheiro, chamado "Amor à Sabedoria", em que ele reúne uma série de prefácios que ele escreveu para várias obras clássicas e um
conjunto de transcrições de aulas, mas evidentemente com elaborações, né, posteriores, com revisões. E nesses textos o que ele estabelece é uma ponte entre os alunos e as pessoas em geral, e os grandes espíritos que aos poucos vão nos comunicando a essência do real. Sendo que, para nós, compreender a essência do real, da condição humana, do que nós somos, do para onde nós vamos, de onde nós viemos, é condição sem a qual nós somos incapazes de dominar a arte da vida. E eu achei fenomenal esse livro dele; é muito bom, porque ele é um professor muito
competente. O Vítor Sales Pinheiro, eu ainda não havia me dedicado a pegar alguns dias, deixa eu ver o que é que ele produz aqui. Eu conhecia ele, ele tem uma boa reputação de bom professor, mas eu nunca tinha parado para ler com concentração um livro seu, né? E eu parei porque ele gentilmente me convidou. Ele vai fazer um lançamento no dia 23 de janeiro, aqui em São Paulo, desse livro. Aqui, ó, esse livro. O lançamento oficial vai ser aqui em São Paulo e quem tiver curiosidade, é gratuita a inscrição, tá? É só dar um pulo
lá no Instagram do Vítor Sales Pinheiro. Vocês vão ver a faculdade Bela Vista, se eu não me engano, lá em Pinheiros, e a inscrição é gratuita. No meu Instagram também eu compartilhei. Mas o que eu quero falar de mais importante para vocês é o seguinte: que nesse livro aqui, quando eu estava lendo a introdução, e aí eu comecei a ler justamente para poder contribuir para essa mesa redonda, né? Foi um convite que me foi feito. Ah, claro, sempre tive curiosidade pelo seu trabalho, vai ser uma oportunidade ótima. Quando eu estava lendo a introdução, eu me
deparei com um trecho que eu falei: "Meu Deus do céu, que coisa incrível!" Eu estou há tanto tempo querendo explicar para as pessoas que já foram enganadas por coaches por que elas não podem se recriminar para sempre, porque a busca delas era legítima; elas só não encontraram o caminho correto. E esse trecho da introdução desse livro me deu essa oportunidade, né? E eu queria também falar para vocês desse livro porque ele é um livro bom, né? É um livro bom, é um livro bonito e é um livro de professor. É um livro que serve realmente
como auxiliar para você entender qual o grande autor ou grande escritor da nossa tradição, dentre os verdadeiramente excelentes em si mesmos, portanto imortais, aqueles autores que nós nunca deixamos de ler. E aí ele tem Santo Agostinho, uma referência fundamental. Né, porque evidentemente ele é Vítor Sales Pinheiro, é alguém alinhado à filosofia cristã. Então, ele tem Santo Agostinho como uma grande inspiração, porque Santo Agostinho realmente se dá conta de que toda a sua vivência intelectual, toda a busca que ele fez pelo sentido da vida no campo da filosofia, antes de realmente ser conquistado, antes de aprender
a amar a Deus, né? E ele diz: "Tarde te amei" nas Confissões, uma das melhores coisas escritas, né, na história. E quando ele diz "Tarde te amei", é como se estivesse dizendo: "Tarde eu entendi o que eu estava buscando". É engraçado que o livro todo é uma celebração desses movimentos que nós fazemos de busca pelo sentido da vida. Nós, que já conseguimos entender que não adianta a gente se iludir. E todos nós nos iludimos às vezes, tá? As mulheres se iludem com a questão da boa forma o tempo todo. Tá bom, eu estou aqui falando,
mas eu não estou nem me excluindo dessas ilusões, tá? Não estou me excluindo dessas ilusões. Essas ilusões nos pegam porque nós vivemos a era moderna, e a era moderna é o reino da quantidade. O tempo todo, a gente se deixa enganar pelas aparências. Tá? Mas quando a gente começa a ler, estudar, meditar, rezar, quando a gente realmente entende qual é o caminho da tal da arte de viver, né, de que o H. de Brand fala tão bem nesse bestseller que ele escreveu, quando a gente entende, aos poucos, a gente vai se desapegando. E a gente
vai conseguindo dizer: "Isso aqui é ilusão, isso aqui é ilusão, isso aqui é bobagem. Não, esse cara é um picareta que está querendo enriquecer, falando para mim que vai me ensinar como enriquecer. Assim, eu dou dinheiro para ele, e aí ele enriquece enquanto eu continuo na mesma". A gente vai se desapegando dessas ilusões com uma certa facilidade. A gente não tem aquela loucura: "Ai, puxa, nossa, como eu sou máximo, eu tenho 1 milhão de seguidores. Nossa, que pessoa especial". Não, não é. Seu idiota, você continua sendo idiota, você continua sendo pó, você continua sendo um
punhado de pó, tá? Você continua sendo alguém sujeito ao erro, alguém que pode cair a qualquer momento, alguém que cai o tempo todo. E que, aliás, dependendo da sua qualidade moral... Que pena que você tem tantas pessoas se deixando arrastar por você, porque você está levando elas ao abismo, que é para onde você está se dirigindo, né? E aí o Vítor Sales Pinheiro examina inúmeros escritores fantásticos, né? Você tem uma parte que são prefácios e uma parte que são estudos. Na parte dos prefácios, nós temos F. Touchin, Gabriel Amorth, né, aquele exorcista fantástico. Claro, Tomás
de Kempis, que escreveu a "Imitação de Cristo", que é um livro importantíssimo também. Ah, tem o Joseph Pieper, né, "Epifania da Beleza", que é, provavelmente... Não, é certamente o capítulo a partir do qual eu farei um comentário no dia da mesa redonda, porque eu adoro Joseph Pieper, né? Eu já divulguei aqui nesse canal, acho ele espetacular. Mas, evidentemente, tudo se abre com um prefácio à "Vida Intelectual", do Seranje, chamado "A Espiritualidade da Inteligência", né, que ecoa a experiência de Santo Agostinho, que é a capa do livro. Tá? Tem Vítor Frankl também. Depois temos Chesterton, porção,
Sófocles, Peter Kreeft. Três, adoro Peter Kreeft. Ele analisa aqui "As Confissões". É evidente que é o ponto alto do livro. Dante Alighieri, esse eu não li ainda. Dostoiévski e Manzoni, porque Dostoiévski e Manzoni, ele explica na introdução, né, por que a compilação é dessa forma e por que Dostoiévski e Manzoni são muito curiosos, né? Eles viveram a época de surgimento do nihilismo e resistiram ao nihilismo e, por meio da literatura, eles reencantaram um mundo que era o mundo moderno do desencantamento. Ah, a vida não tem sentido mesmo, não tem, pelo amor de Deus. Basta abrir
os olhos, né? E se deixar iluminar pela Luz da verdade que você verá. E é isso que ele faz por vocês aqui nesse livro, né? Ele vai conduzindo, ele faz de si uma ponte de uma alma a outra alma, que é o trabalho do professor. Por isso que eu achei tão bonita a proposta, né? O trabalho do professor é ser uma ponte entre duas almas. Você tem sempre um conjunto de alunos na sua frente, e você tem no seu interior, na sua memória, os grandes espíritos que te formaram, que fizeram de você uma pessoa menos
tola, menos imbecil. Ah, a gente sempre tem muito a melhorar, né? Sempre está pior, muito mais pro pior do que pro melhor, mas, ainda assim, são as pessoas que conseguiram te fazer ver coisas realmente importantes. E aí você, como que, se curva e faz de si mesmo uma ponte, porque você entende que isso é importante de compartilhar. E você não quer compartilhar, você quer compartilhar esse movimento de alma que você faz sempre ao meditar profundamente um autor que consegue te conduzir à compreensão do sentido da vida, né? E aí aqui eu vou ler uma passagem
da introdução para vocês, que eu acho a mais significativa e que resume o que eu falei aqui nessa live, né, aproveitando, evidentemente, para trazer à tona esse assunto do império Coach ou Evangelho da picaretagem, que é um dos assuntos que realmente mais me preocupam hoje. Mas por que me preocupam? Porque eu sou a pessoa... eu sou a pessoa que vem, que ouve, depois as... Pessoas que foram enganadas... Tá, isso que acontece: muitas pessoas que foram enganadas por vários desses vendedores de mercadorias, de receitas falsas sobre a vida, muitas vezes vêm me contar depois. Então, eu
vejo o impacto que isso tem. Só que eu fico feliz com isso porque eu falo: “Nossa, que bom! Essa pessoa se desenganou, ela está no caminho bom.” Então, se isso aconteceu com você, não se envergonhe, não, porque se você se deu conta de que aquilo era mentira, é porque sua consciência está plena. E aí basta você se colocar agora e buscar os subsídios para realmente encontrar a arte de viver, né? Se você é a pessoa mais apressada, esse livrinho aqui, seu quadrante... Eu acho que eu nem coloquei na descrição desse vídeo "Arte de viver", mas
eu estava descendo aqui para fazer essa live e eu ah, falei: “Ah, não preciso levar esse livro porque isso aqui é lindo, é um negócio lindo, né?” E o Debrand é um filósofo maravilhoso, né? E esse bestseller dele é mais ou menos como as regras de vida do Lúcio Vel. O Lúcio Vel também é um filósofo muito sui generis, cristão, que repete o movimento dos antigos, de falar: “Olha, toda essa sabedoria, o meu amor que eu tenho à sabedoria”, né? E o título do livro do Victor é "Amor à Sabedoria", tem a ver com tudo
que a gente está conversando aqui. O meu amor, sublime amor pela sabedoria, me fez submeter-me à verdade, e essa submissão à verdade me permite elaborar algumas regras de vida, regras práticas, né? Lições de prudência. Esse "Arte de viver" é isso, dos fundamentos da condução humana. Ele vai, pouco a pouco, de forma dissertativa, combinando uma série de lições de prudência, assim como Lúcio Vel, no caso, faz em pequenos fragmentos, né? Lindíssimo! É mais filosófico. O Lúcio Vel, esse aqui é mais fácil de leitura, é como Foucault, né? Muito, muito fácil de ler, muito rápido de ler.
Não confundam com autoajuda barata! É o exato oposto da autoajuda barata. Se a autoajuda tiver alguma legitimidade, é esse o tipo de autoajuda, por assim dizer. Nas pessoas que procuram: “Eu quero me ajudar, eu quero me ajudar, eu quero entender como se viver, como se viver.” Esse é o tipo de coisa que realmente ajuda de verdade, não é picaretagem! É verdade! E aí, eu quero, para encerrar essa nossa conversa, ler uma passagem que está na página 21 da introdução do livro do professor Vittor Sales Pinheiro, em que ele diz o seguinte: “É uma citação de
uma encíclica do Bento 16 muito conhecida, sobre a esperança cristã, que o Bento 16 nos diz o seguinte: ‘Nos antigos sarcófagos, a figura de Cristo é interpretada sobretudo mediante duas imagens: a do filósofo e a do pastor. Em geral, por filosofia, está falando da antiguidade mesmo, não se entendia, então, era uma difícil disciplina acadêmica, tal como se apresenta hoje. Então, é claro que se tinha da filosofia o que ela realmente é: uma atividade de difícil acesso. O filósofo era antes... Então, assim, a gente não tinha uma ideia de que a filosofia fosse apenas uma atividade
de difícil e que precisava dessa propedêutica. A gente também entendia a filosofia como aquela prática que ia te ensinar a viver.’” Por filosofia, não se entendia, então, uma difícil disciplina acadêmica, como se apresenta hoje. O filósofo era antes aquele que sabia ensinar a arte essencial: a arte de ser retamente homem, a arte de viver e de morrer. Certamente, já há muito tempo que os homens se tinham apercebido de que boa parte dos que circulavam como filósofos, como mestres de vida, não passavam de charlatães que, com suas palavras, grangeavam dinheiro. Procurem no romance “Quo Vadis”: a
gente tem um picareta sofista que se vende como estoico, que é um dos personagens principais, que é exatamente esse perfil. Que tinha na antiguidade, eram os instrutores da época, os pseudo-filósofos da época, que se vendiam como filósofos para ensinar essa difícil arte do viver. Não passavam de charlatães que, com suas palavras, grangeavam dinheiro, enquanto sobre a verdadeira vida nada tinham a dizer. Isto era mais uma razão para se procurar o verdadeiro filósofo que soubesse realmente indicar o itinerário da vida. Quase ao fim do século I, encontramos pela primeira vez em Roma, no sarcófago de um
menino e no contexto da ressurreição de Lázaro, a figura de Cristo como o verdadeiro filósofo, que, numa mão, segura o Evangelho e, na outra, o bastão do viandante, próprio do filósofo, né? Aquele bastão peregrino que é uma insígnia do filósofo antigo. Com este bastão ele vence a morte. O Evangelho traz a verdade que os filósofos peregrinos tinham buscado em vão. Nesta imagem que, sucessivamente, por um longo período, havia de perdurar na arte dos sarcófagos, torna-se evidente aquilo que tanto as pessoas cultas como as simples encontravam em Cristo. Ele nos diz quem é, na realidade, o
homem e o que ele deve fazer para ser verdadeiramente homem. Ele nos indica o caminho e este caminho é a verdade. Ele mesmo é simultaneamente um e outro, sendo, por isso, também a vida de que todos nós andamos à procura. Ele indica ainda o caminho para além da morte. Só quem tem a possibilidade de fazer isso é um verdadeiro mestre de vida.” Essa passagem dessa encíclica é extraordinária, né? E o fato de o professor Vittor Sales ter colocado na introdução desse livro... A introdução é onde ele... Justifica a obra, justifica a compilação e explica o
todo por trás desses textos aparentemente separados, né? Eu acho que só o fato dele citar essa passagem já nos dá uma boa ideia da qualidade da obra e da qualidade do seu trabalho também, né? É por isso que eu estarei lá no dia 23 de janeiro, nessa Mesa Redonda, discutindo essa obra no lançamento e continuarei, ao longo da minha vida, fazendo o que eu sempre fiz: socorrendo aquelas pessoas que, depois de terem se sentido enganadas, vêm dizer, pois já perceberam, pelo meu trabalho, pelas minhas opiniões, pelos meus posicionamentos, pelo fato de eu não estar o
tempo todo atrás de seguidores e não viver correndo atrás de dinheiro, fazendo lançamento atrás do outro. Por entenderem, nas minhas atitudes, nas minhas ações, meu negócio, meu assunto realmente é com a verdade. Não estou nem atrás de patrimônio, nem atrás de influência e nem atrás de perpetuar essa porcaria dessa minha miséria no tempo, né? Então, é pelas nossas atitudes que as pessoas acabam nos procurando e eu só estou compartilhando com vocês o que eu tenho vivido aí no último ano, né? Nos últimos seis meses, sobretudo, né? Porque aí a gente teve uma explosão, né, no
cenário político desse modo de pensar e as pessoas... Eu conversei mais sobre isso com muitas pessoas, né? Mas, assim, a arte de viver é uma arte que vale a pena ser aprendida e, se a filosofia que exprime, né, a filosofia estudar filosofia, ler os filósofos ou meditar filosoficamente... um romance, romances geniais. Outro dia eu falei aqui para vocês do processo Maurício, né? O Olavo de Carvalho dizia: “Dostoiévski do século XX.” Os romances do Dostoiévski nos obrigam a mergulhar profundamente em nós mesmos e fazer reflexões filosóficas, né? Então, é por isso que está aqui Dostoiévski ao
lado de Santo Agostinho. Santo Agostinho é o grande ícone dessa obra, mas tem outras tantas, né? Então, esse impulso, esse amor à sabedoria que se renova continuamente numa atividade filosófica que busca, como luz, como horizonte, como parâmetro, a verdade, ou seja, o Supremo mestre da vida, né, que é o próprio Cristo. Na luz da verdade, eu encontro o que eu preciso para começar a compreender essa atitude, que pode nos ajudar realmente, né? E essa é a atitude que é celebrada nessa obra. Então, se essas são as coisas que você procura, se são esses seus valores,
talvez você goste desse livro. Tá, é isso, pessoal. Então, aqueles que se interessaram pelo lançamento presencial, que vai ser aqui em São Paulo e que moram na cidade de São Paulo, se procurem lá, Vittor Sales Pinheiro, no Instagram, ou meu Instagram, que é @bruna. Vocês encontram mais informações sobre como fazer inscrição, link, etc. Tá, mas é muito simples. Estaremos lá para conversar com vocês. E quem não é de São Paulo, eu fiz essa live justamente para deixar aqui um pouco para vocês a relação entre a importância de livros como esse, né? Por que que é
um livro que, na verdade, vai servir para você de ponte a muitos outros. Esse trabalho de ponte que nós precisamos fazer, nós precisamos ter uma atitude de fazer e de nos apresentar assim, né? Os professores de filosofia precisam ter esse papel, né? Os professores de filosofia precisam ter esse papel de ponte entre almas, né? E esse é um papel importante que pode mudar infinitamente a vida de muitas pessoas que realmente estão genuinamente atrás de entender a arte de viver, tá? A filosofia nos põe nesse caminho e a verdade de Cristo nos ilumina esse caminho para
que a gente consiga percorrê-lo sem pegar desvios equivocados, tá? Era essa a mensagem de hoje, esse era o objetivo dessa live. Muito obrigada a vocês que me acompanharam. Eu não consigo ver todas as mensagens, mas muito obrigado. Se você gostou dessa live, compartilha. Se você quiser que o YouTube entenda esse vídeo, curte, dá um like aí, tá bom? E muito obrigada por ter me acompanhado e até a próxima, tá? Links do livro do Vitor e de alguns outros livros aqui na descrição. Tchau! Boa tarde para todo mundo!