O país mais populoso do mundo, com a quinta maior economia e um dos poucos a ter um estoque de armas nucleares à disposição. Muita gente acredita que a Índia caminha pra ser a próxima superpotência global. E, justamente por isso, as megaeleições indianas que começam agora em abril são tão importantes.
Quase 1 bilhão de eleitores estão aptos a votar em um processo eleitoral que vai durar um mês e meio – e que vai definir se o atual primeiro-ministro, Narendra Modi, continua ou não no cargo. Eu sou Laís Alegretti, repórter da BBC News Brasil, e nesse vídeo eu vou explicar em 4 pontos essa possível ascensão da Índia como superpotência global e o impacto disso pro próprio país e pro resto do mundo. Mas antes eu quero fazer um convite muito rápido pra você entrar no nosso novo canal no WhatsApp.
É só escanear este QR code ou clicar no link da descrição e ativar as notificações. Agora, vamos voltar pra Índia! No ano passado, o premiê Narendra Modi afirmou que o país estava pronto pra se tornar, entre aspas, “o motor de crescimento do mundo”.
E de acordo com várias instituições financeiras, a Índia de fato está se encaminhando pra superar a Alemanha e o Japão e se tornar a terceira maior economia do planeta até 2027. A taxa de crescimento do país é muito alta. Isso se deve especialmente a um setor de serviços forte e ao desenvolvimento das áreas de telecomunicações e tecnologia.
E essa força da economia indiana é ainda mais impressionante quando se leva em consideração que o país era extremamente pobre nos anos 40, quando se tornou independente depois de quase nove décadas sob a colonização britânica. Em 1945, a expectativa de vida dos indianos era de apenas 33 anos. Em 2019, último ano antes da pandemia, já era de 71 anos.
Em 2023, a Índia também ultrapassou a China e se tornou o país mais populoso do mundo. E, embora os indianos estejam de fato vivendo mais, a média de idade da população ainda é bem baixa: de 28 anos. A do Brasil, por exemplo, é de 35 anos.
E a do Japão, de 48. Isso significa que tem muita gente apta a trabalhar. Economistas estimam que, até 2030, mais de 1 bilhão de indianos estarão em idade produtiva.
Alguns pesquisadores afirmam que outros países asiáticos, como China e Japão, teriam se beneficiado de conjunturas demográficas como essa que a Índia vive agora. Mas criar postos de trabalho pra toda essa gente é um dos vários desafios que o país deve enfrentar nos próximos anos. De acordo com o relatório de um banco , a Índia precisaria criar 70 milhões de empregos na próxima década - mas é improvável que consiga criar mais de um terço disso.
Atualmente, a taxa de desemprego é de cerca de 8% . Porém, entre os desempregados, a grande maioria tem menos 34 anos – o que revela uma dificuldade do mercado de trabalho de absorver os mais jovens. Por sinal, muitos talentos promissores estão indo morar fora.
A Índia é o país com o maior número de cidadãos vivendo no exterior: são 18 milhões de pessoas. E vários deles são acadêmicos de grande destaque. Outro desafio é a desigualdade.
Se por um lado a Índia está bem colocada no ranking das maiores economias do mundo, por outro, quando a soma da riqueza do país é dividida pela população, o país despenca mais de 100 posições. Quase metade dos indianos vive com menos de 3 dólares e 65 centavos por dia, cerca de 19 reais. Por outro lado, o número de super ricos deu um salto nas últimas décadas: no início da década de 90, havia apenas dois indianos bilionários.
Agora eles já são 200. Vários estudos indicam que a desigualdade realmente deu disparou nos últimos anos. De acordo com Ashoka Mody, professor de política econômica internacional, esse é um obstáculo que a Índia vai precisar superar caso queira ampliar sua influência no resto do mundo.
Ele diz: Outro desafio importante de mencionar aqui é a polarização política, muito ligada a questões religiosas. Desde que Modi chegou ao poder, em 2014, críticos dizem que ele tenta trazer a fé hindu pro centro da vida pública - e que estimula nacionalismo hindu às custas de minorias como os muçulmanos, que são 15% da população e se dizem alvo de discriminação e violência. Um exemplo marcante dessa política nacionalista hindu aconteceu em janeiro, quando Modi participou da inauguração do megatemplo Ayodhya, construído para receber 100 mil visitantes por dia e considerado uma espécie de Vaticano hindu.
O templo tem eletrizado a população hindu, mas também causado polêmica. Críticos dizem que obras como essa, que custou o equivalente a um bilhão de reais, podem simbolizar o início do fim da Índia secular e prejudicar a separação entre Estado e religião. Fora que até mesmo alguns religiosos hindus boicotaram o templo, argumentando que Modi estaria usando a religião para angariar apoio popular para as eleições.
O que nos leva justamente ao maior processo eleitoral do mundo. Enquanto no Brasil nós reservamos um único domingo para o dia de votação, a Índia tem 7 datas Começa com dois dias em abril, depois são quatro dias em maio, encerrando em 1° de junho, para receber os votos de até 970 milhões de eleitores registrados. É um contingente de eleitores mais de seis vezes maior que o do Brasil.
Cada região indiana tem o seu dia de votação, com urnas eletrônicas. Mas no Estado de Uttar Pradesh, que tem a população de tamanho quase igual à do Brasil inteiro (Na tela: 200 milhões de habitantes), a eleição acontecerá em todas as sete datas Os resultados são previstos pra 4 de junho. Os indianos vão eleger os ocupantes de 543 cadeiras da Lok Sabha, que é a Câmara dos Deputados dentro do Parlamento.
Como a Índia tem um sistema parlamentarista, o partido ou coalizão que obtiver mais do que 272 cadeiras consegue a maioria e elege o primeiro-ministro E o partido BJP de Narendra Modi não só é favorito a continuar majoritário, como tem o objetivo neste ano de eleger 67 representantes a mais do que na eleição anterior, em 2019 Se o BJP mantiver a maioria, junto com outros partidos da sua coligação, Modi confirma mais um mandato de cinco anos, o seu terceiro consecutivo. A enorme popularidade de Modi praticamente não tem paralelos na Índia moderna, como explica a correspondente da BBC no Sudeste Asiático, Yogita Limaye. A correspondente explica que Modi ganhou popularidade com obras de infraestrutura que tiveram grande impacto em um país ainda predominantemente rural.
Mas a campanha dele conta também com uma enorme ofensiva nas redes sociais, muitas vezes abastecida por notícias falsas que enaltecem o premiê. Uma fake news que circulou amplamente alegava que Modi havia conseguido uma pausa humanitária na guerra da Ucrânia, algo que nunca aconteceu. A importância das redes sociais fica clara no trabalho deste escritório de campanha do BJP Pra concluir, esse processo eleitoral joga luz sobre a crescente importância da Índia no cenário global.
E não só por causa de sua força econômica ou populacional, mas também geopolítica e militar. O país nunca divulgou o tamanho de seu arsenal atômico, mas estima-se que tenha capacidade de abastecer mais de 200 ogivas nucleares. Os indianos contam também com o segundo Exército mais numeroso do mundo, atrás só da China e à frente dos Estados Unidos.
Washington, por sinal, têm se aproximado da Índia pra ter um aliado comercial e de segurança na Ásia, em contraposição à China. Mas a Índia nem sempre se alinha com o Ocidente. Na invasão russa da Ucrânia, por exemplo, o país foi criticado por países ocidentais por ter se mantido neutro, em vez de se opor a Moscou.
Além disso, a Índia continua a comprar petróleo russo, apesar das sanções impostas pelo Ocidente. A acadêmica Saniya Kulkarni acha que as relações do Ocidente com a Índia tendem a serem sempre mais fáceis do que com a China. Mas ela explica que a ambição indiana não é ser, entre aspas, uma "embaixadora do Ocidente", e sim ser uma potência não ocidental capaz de dialogar com os países ocidentais.
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