Hoje, nós continuaremos a conversar sobre Mateus, no capítulo 4, especificamente do verso 8 ao verso 11. É a terceira tentação de Jesus. A primeira foi a que teve a ver com os elementos da sobrevivência, e os fins justificam os meios. Para sobreviver, a gente está autorizado a fazer qualquer coisa: transformar pedra em pães, usar de qualquer recurso. E aí falamos muito a respeito disso. Tem duas sequências de uma hora e pouco cada uma, estão gravadas no meu YouTube. Depois, passamos para o pináculo do templo: as tentações da religião. Eu falei mais duas horas, três
horas, em dois papos de graça, diferentes. O último foi o de ontem, onde a gente ficou uma hora e quinze falando a respeito do assunto. E hoje, nós chegamos à terceira tentação, que é esta do poder político, do domínio sobre as forças e os poderes deste mundo. Então, é algo com que nós lidamos também todos os dias. E aquilo que nós chamamos de igreja, que é bastante diferente do que Jesus pensava quando falava de igreja, caiu nessas armadilhas do poder político, especialmente nos últimos 1.700 anos do cristianismo, onde a igreja assim chamada foi descoberta pelo
poder político, no caso do imperador romano Constantino, e se serviu politicamente da igreja, que era a única entidade, a única organização com capilaridade suficiente, com tentáculos em todas as expressões e segmentos sociais e econômicos, indo dos escravos e dos pobres até algumas pessoas ricas que tinham crido em Jesus e no evangelho. Sob o conselho de Lactâncios, escriba de Constantino, ele foi convencido de que, dadas as circunstâncias de rachadura, de fratura política em todo o império romano, provavelmente o único grupo com capacidade de coesão para juntar todos em torno do Império Romano, que passou, depois de
um tempo, a ser chamado de Sacro Império Romano, de tão fundida que a igreja se tornou com o poder político, o que de fato continua até os nossos dias, não apenas onde começou originalmente, na Igreja Católica Romana, mas se expandiu em todas as versões de cristianismo que é uma invenção do quarto século para cá. Antes do quarto século, como eu já disse trilhões de vezes, você tinha o "Caminho" ou você tinha a igreja, quando todos estavam reunidos para orar, louvar, adorar, edificar-se mutuamente e reunir-se para ajudar os pobres e necessitados, primeiramente entre eles, e a
partir daí socorrer os necessitados que eles fossem encontrando na totalidade da vida. E foi assim, com algumas diferenças de abordagem, de compreensão e de entendimento, mas foi assim durante os primeiros quatro séculos de Jesus. Pelo menos até o início do ano 320, foi mais ou menos assim que a igreja veio, sem nenhum templo, sem nenhum poder. Quando não estava perseguida, já era um alívio; quando estava perseguida, era o que se deveria esperar. Eles lidavam com uma outra consciência do significado de ser igreja no mundo e no mundo hostil, como era o mundo romano, e profundamente
enciumado e também, dependendo do imperador, os caprichos do ódio ou da expressão política de devastação de um determinado grupo, como grupo cristão, para entretenimento imperial e da população, de tempos em tempos. De modo que aquele grupo de cristãos já vinha frustrado; já era a quarta ou quinta geração de cristãos muito frustrados, porque o que lhes sobrava, do ponto de vista público e político, era sempre a perseguição, os espetáculos de expressão carnívora das bestas feras contra eles, ou deles queimando no fogo, ou sendo decapitados, mortos das maneiras mais desumanas. De tal forma que eles vinham cansados,
cansados. Quando surge a tentação de Constantino, e a tentação de Constantino se tornou uma coisa praticamente insuportável de ser controlada pela igreja, os bispos então não aguentavam mais tanto sofrimento, tanta perseguição, tanta pobreza por amor a Cristo, e foram abrindo o coração com uma rapidez enorme, quando os poderes deste mundo lhes foram oferecidos. Quando eles foram poupados de pagar impostos, quando se tornou praticamente obrigatório tornar-se cristão para se ter algum privilégio naquela sociedade constantiniana romana, quando benefícios sobre benefícios, benefícios de propriedades, herdadas de glebas doadas para a igreja, de antigos templos abandonados entregues para serem
transformados em catedrais, em pequenos lugares de culto ou grandes lugares de culto. E o privilégio de grandes proprietários, que começou a ser dado aos bispos de modo que, em menos de 40 anos, aquilo que até então tinha suportado 300 anos de luta, de opressão, de angústia, de martírio, abriu as pernas, arreganhou-se para o Império Romano, para o mundo, e nunca mais fechou as pernas. Desde o quarto século até o dia de hoje, a gente tem uma igreja que canta a música da Rita Lee, no pior sentido, não no bom sentido dela: “Me põe de quatro”.
E assim, durante esses 1.700 anos, não importando se era a Igreja Católica Romana, depois a Igreja Ortodoxa Grega, a Igreja Russa Ortodoxa, a Igreja Ortodoxa Cópica, depois o protestantismo, se serviu dos mesmos poderes, só que com outras intenções. Depois aconteceu o mesmo com os anglicanos na Inglaterra, e depois da imigração dos cristãos europeus para o mundo novo, para os Estados Unidos da América, foi exatamente a mesma coisa. Foram para lá com a certeza de que eles estavam ungidos para serem o novo Poder de Deus no mundo, e a perspectiva era a seguinte: Israel não deu
certo, já desobedeceu. Israel não conheceu obediências contínuas; era, no máximo, um período de 20 anos, 30 anos, enquanto um rei bom estava presente, com alguns sacerdotes legais. Mas logo depois, eles se voltavam para Baal, para Astarote, para vários outros deuses, para os dragões espalhados por todos aqueles povos e nações, sucumbindo a essas tentações. E aí, esses colonizadores do novo mundo, nos Estados Unidos, disseram: "Israel fracassou, nós somos um novo Israel, nós temos um destino manifesto." O Manifest Destiny era como eles intitulavam o que tinham recebido como designação divina para... Construir um mundo novo do outro
lado do oceano quântico, que fosse o Novo Israel, que fosse um poder dominador. Cristiana, Cristiane, nador do mundo inteiro, era um poder de cristianização planetária. Era isso que eles imaginavam que conseguiriam fazer à medida em que crescessem e se organizassem. Já da Península Ibérica para cá, os portugueses e espanhóis tinham chegado. No resto da América Latina, com suas espadas em formato de cruz e suas cruzes em formato de espada, saíram fincando os seus poderes de domínio, que permanecem opressivos até os dias de hoje. De modo que nós vamos falar hoje de uma tentação que é
uma das mais recorrentes e repetidas na história da Igreja, embora a primeira tentação de transformar a pedra em pão. A Igreja tem feito também o tempo todo qualquer coisa, qualquer coisa, para garantir a nossa sobrevida. Para o lado pináculo do templo é o que mais aconteceu, e nos nossos dias é uma tentação recorrente. Acontece que, em praticamente todos os grupos e em todo o mundo, qualquer um apela para essa publicidade, para esse marketing, para esse espírito suicida, para manipulação da Bíblia, para o uso equivocado da Escritura, para ludibriar as mentes ingênuas. Como eu passei dois
dias falando até ontem, e hoje a gente chega nesse ponto em que o diabo, tendo já sido vencido duas vezes nas tentações propostas, levou Jesus a um Monte Alto. O Evangelho de Lucas, no capítulo 4, nos diz, nos últimos versículos, que de fato Jesus, Satanás mostrou a Jesus todos os reinos deste mundo. Aliás, não foram os últimos versículos de Lucas, essa passagem, que a quem Mateus é a última. A última tentação em Lucas está no meio, depois do “Pedras em pão.” Lá se diz “e elevou o diabo num instante no momento”, elevou, designando, mostrando, definindo
que foi uma viagem de natureza subjetiva, e mostrou a ele todos os reinos deste mundo. Os descobertos, os conhecidos naquela época, e a quantidade enorme de outros reinos, de outras nações, etnias e povos, e riquezas e poderes que o mundo de Jesus, o mundo contemporâneo do Oriente Médio, do Império Romano, ou até mesmo dos indianos, ainda não conheciam. E os próprios chineses, havia uma quantidade enorme de gente do outro lado da terra que nunca tinha sido detectada até então por povo conhecido, ou pelo menos a sua história não tinha sido descrita suficientemente no ambiente onde
essa tentação de Jesus acontece. De modo imediato, Satanás, todavia, o eleva. O texto de Mateus, subindo a um alto monte, é claro que de um alto monte ninguém vê todos os reinos deste mundo; mesmo que tivesse sido sobre o Monte Hermon, que é o monte mais alto daquela região, não se veria nada além de um pedaço da sília do Líbano e o norte de Israel, e o oceano à frente, o Mar Mediterrâneo. Nada além disso. Portanto, não importa em que geografia, o que caracteriza essa viagem é a subjetividade; é praticamente a viagem astral do negócio,
né? Mostrar tudo num instante, mostrar todos os reinos, todos os reis, todos os poderes, todas as riquezas, todas as forças, todos os principados e potestades visíveis e invisíveis, todos os controladores deste mundo tenebroso e as forças espirituais do mal, nessas regiões onde espíritos tentam influir a mentalidade dos seres humanos, chamada por Paulo de regiões celestes, designando o mundo ultradimensional, onde essas forças mediúnicas do mal, de acordo literalmente ao contexto de Paulo em Efésios 2, atuam, atuam nos filhos da desobediência. Daí vem Satanás e diz para Jesus: “Para que todo esse caminho?” Ele vem insistindo nisso
desde o início. “Por que passar fome? Tu podes transformar pedras em pães, em broas gostosas, aqui mesmo neste deserto. É tu abençoa e come. Muda a natureza das coisas. Não importa se elas não são o que são; elas se tornam o que tu desejas que elas se tornem, e assim tu alteras a natureza da tua própria criação. Fazer isto para o teu conforto. Usa do teu poder para o teu próprio conforto e benefício o tempo todo.” E Jesus disse: “Não, nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca
de Deus.” Aí vem a segunda tentação que nós vimos também no dia de ontem, que é essa da religião, do templo, da publicidade, do marketing, do atalho, de fazer todo mundo se curvar sem precisar do testemunho da vida, da existência, do amor, da graça, da cura, da misericórdia, do perdão, do acolhimento, daquilo que só cabe numa vida vivida, um dia depois do outro, na presença de Deus. Mas o diabo está sempre propondo um atalho rápido, para que, se você pode, com uma outra mensagem, com uma nova abordagem, com outra fronte, tu podes suscitar uma expectativa
messiânica imediata. E tu vai ser poupado de tudo mais que é horrível. Por que tu vais abraçar o horrível? Por uma questão de dignidade profética, messiânica, de testemunho da Escritura, se tu podes hoje, num salto, vencer a observação dos olhares da expectativa suicida, olhando para ti no pináculo do templo, no lugar mais alto de Jerusalém. E se tu desceres do paraquedas dos Anjos, todo mundo vai saber quem tu és da noite para o dia, no instante, no momento, tudo vira para o teu lado. É um poder que tu terás, e seguindo o meu conselho, eu
me torno no conselheiro, porque eu sou o grande facilitador do teu ministério, te poupando de ter que viver uma vida fiel, dedicada, entregue, apaixonada, sofrida, resiliente, perseverante, misericordiosa, paciente, constante, cheia de propriedes, de perseguições, de blasfêmias contra ti. Para quê? Se tu podes, num salto, resolver? E Jesus disse: “Olha, eu, meu caminho do Salmo 91. É nos meus caminhos, é no caminho da natureza dada a Deus para ser vivida por um ser humano. Não é uma benção aos passarinhos, é uma proteção de Deus aos seres.” Humanos que andam no caminho reto do caráter e que
andam sem provocar a natureza da própria criação, não tentarás o Senhor teu Deus. E muito mais coisas foram ditas a respeito disso, e hoje essa viagem astral mostra o mundo inteiro, mostra tudo, todos os poderes e diz: "Olha, basta uma genuflexão, basta tu te colocares de quatro no ato aqui na minha presença. É uma joelhada, é uma reverência, é só um reconhecimento". E não é um reconhecimento tolo, porque eu não estou te oferecendo o que seja produto de um estelionato; eu estou te oferecendo aquilo sobre o que eu tenho poder. Eu tenho poder, e o
próprio Jesus reconheceu que ele tinha esse poder quando chamou de príncipe deste mundo. Mais tarde, aí veio o príncipe deste mundo, e ele nada tem em mim, nada. Ele tentou colocar coisas em Jesus, anzóis para puxar Jesus. Se tivesse caído na transformação de pedra em pães, meu Deus, era um arpão na alma dele. Ou, se ele tivesse sido socorrido por anjos naquela descida, instantaneamente virado um Messias aclamado, ele estava com um grilhão no pescoço de Satanás, puxando ele para lá e para cá. Agora, Satanás diz: "Eu não tenho mais nada a perder; agora é dizer:
ajoelha que eu te dou tudo, tudo, tudo! Olha, tudo me foi dado". No texto de Lucas, isso é dito explicitamente: "Eu te darei todos esses poderes, porque me foram dados". E o apóstolo Paulo também consente com essa realidade: "É o espírito que agora atua nos filhos da desobediência; é o Deus deste século, é o príncipe deste mundo". Então, nem Jesus nem os apóstolos negaram isso em momento nenhum, de que ele tinha poderes que haviam sido conferidos pela desobediência humana, conferidos pelas ações humanas, com feridas pela multiplicação dos aderentes em toda a sequência da história da
civilização humana. Não foram poucos, foram muitos os que se dobraram, os que se ajoelharam, os que pactuaram, os que fizeram qualquer negócio para terem uma fatia desse poder. Em toda a história humana, por isso é que no Apocalipse, no capítulo 5, se diz que não havia ninguém digno de abrir o livro e seus selos, o livro da história humana e os selos da sequência da história da Redenção. Ninguém, porque todos, todos haviam se ajoelhado, de um modo ou de outro, ao poder maligno, ao poder satânico, conscientemente ou inconscientemente, por decisões lúcidas ou por acolhimentos ainda
que involuntários, no sentido da lucidez, mas voluntários na perspectiva da avidez, do desejo, da posse, do sentimento do auferimento e da posse daquilo que estava sendo concedido, da possibilidade de alguma fatia de poder. E as pessoas fazem qualquer negócio quando enxergam o poder. Como eu na introdução já disse, foi aquilo que a própria igreja não resistiu muito tempo; não resistiu, não resistiu, de fato, em momento nenhum. Porque logo depois do Pentecostes, quando eles receberam as línguas e manifestaram sabedorias que até então não tinham, foi aquela Santa Balbúrdia em Jerusalém, aquele burburinho de ninguém sabia o
que era aquilo, aquele inusitado e glorioso acontecendo no meio daqueles galileus ignorantes. Foi uma receptividade tão extraordinária, foi tanta gente querendo se batizar, que, ao invés de pregar em Jerusalém e irem para a Judeia, para Samaria e depois para o mundo inteiro, eles ficaram em Jerusalém alguns anos e já começaram com Lulu e com os sacerdotes do templo. Gostaram do poder que os sacerdotes, logo depois da primeira e da segunda prisões dos apóstolos, começaram a conceder a eles. Depois da morte de Estevão, houve um apaziguamento, quando de fato eles começaram a descobrir que era melhor
estabelecer um diálogo com os poderes sacerdotais do templo do que qualquer forma de enfrentamento. E foi assim que houve a primeira cooptação do grupo de discípulos pelo templo. Aí surgem os cristãos judaizantes, que foram os piores perseguidores de Paulo. Qualquer imperador romano perverso foi fichinha, foi só episódio na vida de Paulo. Os grandes perseguidores eram os cristãos judaizantes, os que se diziam de Jesus, mas praticavam os postulados dos mandamentos de Moisés contra Paulo, que era um libertário do Evangelho da Graça de Deus e não negociava isso com ninguém, nem com coisa alguma. Empadeceu todos os
seus infernos; praticamente vieram desse grupo que atiçava perseguição. Eles próprios perseguiam. Depois vieram as tentações das filosofias gnosticas, mas que não tinham nada a ver com poder político; era mais uma sedução filosófica, acadêmica, de alguns outros grupos, até que chega Constantino, com o próprio poder político encarnado na figura do Imperador. E aí não saímos nunca mais desse trilho descarrilado do poder da política sobre a alma dos crentes. E não tenho tempo para discorrer a respeito disso com nenhuma minúcia, e muito menos ainda com qualquer que seja generalização. Eu já fiz o suficiente para quem quer
que tenha interesse em estudar melhor isso. Pode procurar até no meu portal caiobabio.net, qualquer coisa relacionada à palavra cristianismo, e vocês vão achar vários textos que narram essas histórias. Ou quem quiser ler alguma coisa em sequência muito boa, leia o livro do Jaqueluche chamado A Subversão do Cristianismo, que eu creio que já existe em português; e se não, você acha em inglês, da Subversão Nova. Cristiane está lá para todo mundo ler essa sequência de corrupções e de como a igreja nunca conseguiu resistir a um Messias político com promessas políticas. Do tipo de Constantino, que veio
a ser um Messias político e foi chamado de o décimo terceiro apóstolo de Cristo, o grande salvador do que antes era chamado de evangelho e depois de Constantino passou a ser chamado de cristianismo. Por isso me dá erisipela quando eu vejo algum cristão com um pouco mais de lucidez referir-se a esse fenômeno que vem do quarto século para cá como sendo alguma coisa à qual eles pertencem. Eu não pertenço ao cristianismo; eu não creio no cristianismo. Crist christianismo, para mim, é igual. O Islamismo é igual ao judaísmo, é igual a qualquer outro "ismo": é um
sistema doutrinário, filosófico, político e econômico fechado, que tem seus objetivos totalmente herméticos e que não se abre como o evangelho da Graça de Jesus, que se renova de geração em geração, que se reaplica a cada nova condição da sociedade humana, da vida humana, da experiência humana. Ao contrário, o cristianismo é um engessamento, é um empedramento, é um endurecimento do que um dia foi um coração de carne e que depois se transformou num coração de pedra. É o que vocês chamam de cristianismo. Ainda vejo alguns teólogos, até lúcidos, dizerem: “Esse é o mal cristianismo, não é
o bom cristianismo”. Meu Deus, qual é o bom cristianismo? Quando foi que ele existiu? Me explique essa terminologia! É podre, é fértil, só bravo. Antigamente, a expressão "evangélico", como Paulo diz aos Filipenses, era lutando juntos pela fé evangélica. E eu me coloquei nessa luta, nesse bom combate, boa parte da minha vida, quase toda ela, lutando juntos pela fé evangélica, na esperança de que os evangélicos — eu já conheci tortuosos, defeituosos, ignorantes, burros e antagônicos à cultura —, apavorados com saberes universitários, que diziam que qualquer conhecimento científico fazia a fé morrer. Eu já me converti nesse
espírito, mas ainda havia sinceridade nessa ignorância, e eu tentei juntar, lutar junto à fé evangélica. Fui para as cabeças; os pais de vocês sabem, os avós de vocês sabem que eu fui para as cabeças, treinando pastores de manhã, de tarde, de noite, ensinando o que era evangelho para pastores, para crentes, evangelizando milhões, milhões e milhões em cruzadas, em televisão, em rádio, em programas diários, em entrevistas, em revistas, de todos os modos, todos os dias, tentando ver se havia uma transformação, uma conversão na consciência da igreja. E, depois de muitas tentativas, de muitos anos, só Deus
sabe quantas madrugadas acordando às quatro da manhã para ir para o aeroporto, para pregar o dia inteiro, fazendo entrevista o dia todo, voltar tarde da noite, quem sabe ainda para conseguir dar um beijinho nos filhos e partir de novo, quatro, cinco horas da madrugada. Durante anos e anos e anos e anos, pregando 12, 13 vezes no mesmo dia, sem falar na multidão que era atendida. Tudo porque eu queria que era possível a gente lutar juntos, a fé evangélica, por uma consciência simples. Eu gostava da palavra "evangélico" porque ela designa aquilo que carrega a qualidade do
evangelho ou aqueles que carregam a qualidade do evangelho, e eu queria fazer parte de um grupo que carregasse a qualidade do Evangelho. Aí chegamos no momento em que, na frustração total na qual eu já vivia por 30 e tantos anos de ministério, vendo a coisa só piorar, nós jogamos a última cartada. Eu, pelo menos, joguei a minha última, que foi a criação da Associação Evangélica Brasileira, e tentamos, colocamos debaixo daquele guarda-chuva 65% dos evangélicos do Brasil. Aí me deu uma esperança de que, quem sabe, com essa unidade, a gente conseguisse, no mínimo, estabelecer uma média
evangélica ponderada de consciência e que todos assumissem aquela média ponderada de consciência do evangelho. Podia não ser ainda o melhor, mas já seria medianamente suportável. Mas, depois do terceiro ano, eu vi que eles vinham para mim e diziam: "Tá lindo, é isso mesmo, tá tudo certo", mas, na prática, dentro dos seus guetos, dentro de seus nichos, dentro dos seus reinados, dos seus impérios particulares, eles eram exatamente como Edir Macedo. Eram exatamente iguais ao Malafaia, que ainda não era tão pior quanto se tornou, mas já era horrível. Eram exatamente iguais a todos os anteriores, exploradores da
fé que tinham aparecido. Era um horroroso na sua intimidade. E eu dizendo: "Meu Deus, o que que eu estou fazendo aqui, dando validade à expressão monstruosa disso tudo?" Porque eles não conseguiam se segurar; eles se vendiam para prefeitos, no nível mais baixo, para vereadores, os de menos importância, os pastores com menos importância, aos governadores. Logo depois, ao Governador tal, "tá me prometendo isso, aquilo, aquilo outro, eu vou conseguir isso, ele vai me levar pra isso, pra aquilo, tá, vai me liberar verba, vai facilitar acessos". A mesma coisa que Constantino fez, e todo mundo repete porque
dá certo. Aí, depois, eram os senadores, eram os deputados federais, era a bancada da Bíblia trabalhando aqui, da década de 80 em diante, para arranjar rádio para todas as igrejas, canais disponíveis locais para todos os pastores, para as denominações, arranjar verba de publicidade galopantemente grande, em tamanhos exorbitantes que não tinha nada a ver com o alcance daquele grupo; tinha a ver apenas com uma determinação de cooptação do grupo e dos votos que aquele grupo supostamente traria. E eu fui vendo aquilo e vi que não retrocedia; a cada eleição era pior. Quando nós chegamos em 94,
eu já estava aqui, não aguentava mais. Em 96, eu disse: "Agora eu tô me tornando cúmplice, eu tô me ajoelhando com eles". Embora eu não esteja de fato ajoelhado na presença de ninguém, nem tenha vendido a minha alma para ninguém, eu tô me ajoelhando com eles porque eu sou o presidente do grupo ao qual eles dizem pertencer e que abre uma infinidade de portas para eles, porque tá também associado à respeitabilidade que eu tenho junto a essas pessoas todas e à mídia. Também estou sendo cúmplice dessa maldade. Foi quando eu comecei a dizer que ia
sair, que não queria mais e aproveitei as decisões que eu vinha tomando em 1998 e, juntamente com o meu divórcio conjugal, eu me divorciei da instituição evangélica. Eu me divorciei; ninguém se divorciou de mim, fui eu que me divorciei de tudo. Mandei carta para todos, unilateralmente, saindo de tudo, e dizendo que eu não queria mais. E recebi uma quantidade enorme de apelos da minha própria denominação, eu tenho cinco, seis cartas pedindo para eu voltar e eu dizendo que... Não de outros grupos variados. Até que o meu divórcio ficou tão consolidado, a minha disposição tão irreversível,
que já não podemos me coarctar de volta. Eles passaram a me tratar como anticristo, um diabo, um samaritano doido, um Satanás, o indiabrado, endemoniado, seja qual seja o apelido dos tártaros que você queira. Eu já recebi e recebi, olhando para os céus, sabendo que o mesmo sofrimento se cumpriu nos profetas que viveram antes de nós. Os mesmos apelidos foram dados a Jesus, aos apóstolos, me sentindo na melhor companhia possível e com testemunho da Assembleia dos Santos, da Igreja dos Primogênitos, arolados nas dimensões celestiais em Cristo Jesus, a Igreja de todas as dimensões universais, dando testemunho
que eu carrego no meu coração como pacificação absoluta. Escolhi o caminho mais difícil até aqui, graças a Deus. As lições que eu aprendi com meu pai foram as mais preciosas, porque ele aprendeu com Jesus. Que lições foram essas? A minha mãe dizia a vida inteira e, depois que meu pai partiu para Jesus, ela repetiu isso muitas vezes: "O Caio foi a pessoa mais especial que eu já conhecia, esse filho do meu pai". Porque, desde que eu conheci, ainda novinho, nem convertido, ele era ainda um agnóstico. Ele nunca escolheu nada que ele tenha sido dado privilégio
de escolher. Ele sempre disse: "Deixa os outros escolherem primeiro; eu prefiro ser o último." E, depois que todo mundo ia lá e pegava tudo que queria, ele pegava o que sobrava, e ele, daquilo que sobrava, transformava numa coisa tão maravilhosa, tão especial, que tudo mais que os outros tinham apanhado antes, porque era melhor, se transformava em coisa boba. Porque chegava na mão dele, virava um outro produto, fruto do trabalho dele, da lapidação dele, do esforço dele, da inteligência dele, da dedicação dele. E eu disse a mim mesmo: "Eu quero ser como ele", porque Jesus foi
assim. Nunca escolheu o caminho mais fácil, sempre escolheu o caminho reto e justo. Podia ser a vereda estreita, aquela que ninguém escolhe, o caminho menos percorrido. Podia ser o prêmio que todos rejeitam, que ninguém quer, porque, para chegar lá, pensa que tem que passar por todos os sofrimentos, apedrejamentos, dificuldades e mais interpretações possíveis. Mas foi isso que ele escolheu para ele. Eu não quero escolher nada diferente para mim. Não sou um masoquista de maneira alguma, não escolho nenhum sofrimento, mas eu escolho andar no meu caminho; não importa por onde. Tem que passar. O meu caminho
tem que ser trilhado segundo os passos de Jesus. Do contrário, qualquer outro atalho, qualquer outro desvio, colocará o que? Transformando pedra em pães ou pulando do pináculo do templo para tentar fazer um atalho para um reconhecimento espiritual ou, então, posse de rei, poderes, capacitações, admissões de autoridade e reverências para todos os lados. E você, para isso, se curva, negocia, faz barganhas, faz negócios e diz: "Senhor Jesus, é para a tua glória que eu estou fazendo isso. A Deus, meu pai, é para a tua glória que eu estou fazendo isso." Mas ninguém sabe como tem um
grande líder evangélico, dos evangélicos atuais no Brasil, com esses evangélicos que transformaram a palavra evangélica numa abominação, que é exatamente o oposto da qualificação etimológica original que a palavra carregava. Virou essa coisa, essa geleca morfa, essa coisa horrorosa. Um desses líderes, eu já contei aqui para quem ouviu, era um cara que, pelo menos até há uns 30 anos, já era importante no país inteiro, no meio evangélico. Mas o motorista dele contou para o meu amigo pastor Túlio Barros, da Assembleia de Deus, que me diz, almoçando comigo. Não é orquestra lá no bacalhau de São Cristóvão,
um lugar especial. Que aquele cara, o motorista, disse que levava esse líder evangélico, dos mais poderosos, uma vez por semana a uma cachoeira, no lugar onde ele arriava as suas oferendas. Ele tinha uma origem que vinha daí e fazia alguns rituais de maneira malignamente intencionada contra os inimigos dele e depois ia expulsar os demônios que estavam em comum com ele; e os expulsava não em nome de Jesus, mas no seu próprio nome. Porque ali tudo era sugestão ou cachê pago ao endemoniado ou demônios, a cumplicidade. Para se ter uma ideia, isso não inaugura uma era.
O papado fez isso, se associou às feitiçarias mais indiscriminadas e indescritíveis, e tantos outros fizeram a mesma coisa. Isso não é uma oferta exclusiva de Jesus; ela se repete de geração em geração, com muitas caras, com muitas faces, sob muitos argumentos, inclusive o argumento da justiça, da luta contra a corrupção. Às vezes você vê pessoas, em nome da justiça e da luta contra a corrupção, se corrompendo na mentira, transformando pedras em pães, pegando atalhos para cumprir a sua obsessão, embora isso seja feito em nome da justiça. Mas o ajoelhamento é na presença do diabo, porque
o que não é justo segundo Deus é iniquidade diabólica, que a gente está apenas fantasiando com os nomes de justiça, sem que o sejam. De modo que os disfarces, os mascaramentos para esse poder de natureza política são os mais variados. E quando o representante político chega como um Constantino, dizendo: "Eu estou dando força a vocês." Eu não sei se vocês sabiam, mas Constantino se tornou fiel ao cristianismo que ele inventou e aos bispos do cristianismo que ele tinha na mão, com seus tesouros e poderes. Fez isso o tempo todo, sem se batizar jamais. Ele deixou
para se batizar na véspera da sua morte. Por quê? Porque ele não queria perder o remanescente dos outros grupos religiosos que ainda o entendiam apenas como favorecedor dos cristãos, mas que não era ele mesmo um cristão, porque ele tinha seus vínculos com as demais divindades do império romano, dos reinos greco-romanos. Então, para não perder esses nichos, que eram menores, mas eram importantes para ele, ele deixa para se batizar na véspera da morte. Como a gente recentemente assistiu a uma pessoa que fez coisa semelhante frequente em todos os cultos por aí, enquanto interessou, mas o compromisso
de fato não era com nada senão com ele próprio, e continuará sendo da mesma natureza, porque não continuou, depois de tudo Consumado, voltou tudo à vaca fria, exceto na cabeça dos que continuam com saudades dos privilégios que tiveram nos últimos tempos e do dinheiro que correu solto em abundância, que fez alguns desses indivíduos, que já eram ricos na igreja, se tornarem milionários e até bilionários, mais do que se possa imaginar. No entanto, o acerto de contas virá, ou com os homens, ou com Deus. Com os homens, não se sabe, mas com Deus, com certeza absoluta.
Tá aqui o diabo dizendo: "Isso é Jesus. Eu recebi esse poder. Não é falsa a minha palavra, e tu sabes todos esses reinos que eu estou te mostrando, cada um deles. Olha cada glória de cada reino. Olha o poder de tudo, de todos; tudo isso vai convergir para tua mão." Jesus, no projeto do diabo, se transformaria no anticristo de Satanás, todos os poderes na mão, mas obedecendo a um senhor que não quer aparecer, que não precisa aparecer. Ele quer se fazer representar de maneira absoluta, de maneira total, em obediência completa às suas faltas, aos seus
interesses, aos seus caprichos. Outro pode aparecer, e quem quer que apareça, reunindo todos esses poderes, vira o homem da iniquidade, se torna o anticristo. A ousadia do projeto diabólico é essa: transformar Cristo no anticristo. É transformar Jesus no anticristo, como é transformar a igreja no anticristo. Antes, evangélico, é tão óbvio; é uma tentação regular, recorrente, que não se afasta nunca. Todas elas voltam sempre, não se afastarão de nenhum de nós. De geração em geração, ela se repete recorrentemente, e como a história cresce nessa linha do tempo que cresce de maneira espiralada, vai ficando cada vez
maior. Quanto mais a história se maturar na direção do fim, mais horrorosas serão as manifestações dessas tentações e as adesões a elas. Você tá me entendendo? Mas adesões a elas! E tudo isso: "Eu te darei, tudo isso te darei, sim, se esse a diferença entre ter e não ter tá necessário." Como eu ouvi muitas vezes: "Cai tudo que você ensina." Tá certo, mas não dá certo. É o que o diabo tá dizendo para Jesus: "Ó, tá tudo certo, só não dá certo." Eu sei você é um garoto novo, é um Messias jovem, cheio de ideais,
de adrenalina messiânica. O rapaz, preste atenção na minha sabedoria milenar: eu tenho isso tudo da minha mão, porque eu sei jogar o jogo, joguei, ganhei, é meu e eu te dou. E não precisa aparecer, a cara pode ser tua, o nome pode ser teu, as expressões, os clientes, tudo que você quiser podem ter a máscara da tua fisionomia, mas já não serás mais tu, mas eu em ti, e tu realizando o objetivo do domínio. E aí tem um subterfúgio satânico horroroso, que é manter o objetivo do Teu domínio, quando na realidade Jesus não veio para
dominar. Ele disse: "Eu não vim para ser servido, eu vim para servir e dar a minha vida em resgate de muitos." Aí ele propõe uma inversão de significado: você não precisa mais morrer, não precisa mais se dar, não precisa mais se esfolar de paixão. Você pode atingir um objetivo e caminhar para a dominação, para o controle. Essa coisa de livre arbítrio é idiotice de santa ruína. De fato, a inteligência pragmática diz que o negócio é controlar, e não dar alternativa; é tirar o livre arbítrio, é dominar, é causar dependência. E tudo isto, esse controle de
mentes, esse controle de inconsciente, essa sugestão de sonhos, de pensamentos, de pesadelos, de pânicos, de medos, de sugestões insuportáveis, tudo isso será dado a ti, e tu vais usar para constranger qualquer um. Não haverá nenhuma autoridade, nem Roma, nem qualquer outro lugar do mundo conhecido a desconhecido, que não se dobre diante de ti, dos poderes que eu vou conferir a ti, que são meus. Eu te transfiro. E aí você planta o reino de Deus na Terra. Não é isso que você quer? Chamar o reino de Deus no peito, na raça, para implantar aqui com armas,
com espadas, com escudos, com força, com violência. O reino de Deus segundo Satanás: reino de Deus segundo o diabo. O reino de Deus que vem para matar, roubar, destruir, os diferentes, os que não são como nós. O reino de Deus da excludência, o reino de Deus da discriminação, o reino de Deus das marginalizações homicidas, o reino de Deus das impiedades, o reino de Deus da acumulação de recursos, de dinheiro, de poder nas mãos de um pouco, de uns poucos que estejam dispostos a fazer a tua vontade, sem se importar com essa filosofia barata de que
os fins não justificam os meios. Ao contrário, o objetivo não importa, porque mesmo você chega lá. O negócio é alcançar. O negócio é alcançar: "Tudo isso eu te darei." Aí Jesus, ouve, sabe que é isso mesmo. Mas sabe que seja verdade, é verdade, mentira como aqueles conceitos que eu estabeleci no meu livro "Enigma da Graça", na introdução. E um deles é de verdade e mentira. Você encontra no Livro de Jó, para todo lado, eles mesmos falam da verdade desmontada de mentira, assim como falam da mentira desmontada de verdade. Era verdade: o poder, nesse sentido, do
mundo, deste mundo, desta morte, deste aón, dessa era, desse estado de coisas, está nas mãos do príncipe. Agora, a vitória de Jesus estaria em poder dizer o que ele disse: "E eu nada temerei." Nada. Não tem um anzolzinho. Ele não deixou uma minhoca de sedução em nada. Eu varri tudo, tudo, absolutamente tudo. Quando eu disse: "Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e somente a Ele tudo dará." Caminhos fáceis não está prometendo nos poupar de aflições; ao contrário, ele diz que, no mundo, nós teremos aflições e não nos poupa de tentações. Ao contrário, à semelhança de Jesus,
conforme Hebreus 4:15, somos tentados em todas as coisas à semelhança de Jesus. A diferença é que ele nunca se deu ao pecado. A tentação é com o pecado; é por isso que ele pode ser o Sumo Sacerdote que se solidariza comigo, porque foi tentado em todas as coisas à minha semelhança e não caiu em nenhuma, e eu caí em todas. Por isso, ele é o meu intercessor, é o meu Senhor, é o meu Salvador, é aquele a quem eu recorro, é a quem eu imito, é como eu quero andar, é como eu quero ser, é
como eu já sou dele, como me tornarei andando com ele. Somente ao Senhor, teu Deus, adorarás; não importa as consequências, com cabeça ou decapitado, abençoado ou amaldiçoado, possuindo ou despossuído, tendo ou nada tendo, experimentando meios abundantes, pois, baseado em todos os recursos, não importa, estou seguindo a Jesus Cristo, e deste caminho eu não desisto. Que acabou virando marchinha de carnaval neopentecostal, mas eu já cantei isso nos anos 70, com muitas lágrimas nos olhos, quando era um hino de compromisso sincero dos cristãos com Deus. Estou seguindo a Jesus Cristo, e deste caminho do Evangelho, não da
Igreja, do Evangelho, eu não desisto. Agora, olhe e veja: os que têm conhecimento histórico dos últimos, pelo menos, 1.700 anos verão que a igreja caiu em todas as arapucas políticas. Em todas, ela desenvolveu uma ideologia para cada proposta ideológica. Nos dias do Imperador Constantino, apesar de Paulo ter denunciado a ideologia do império em Colossenses, no capítulo 1 e no verso 13, ele faz uma denúncia à teologia do império, à existência do império, quando diz: "Ele, o Pai, nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino." Reino era entendido como algo legítimo, que
tinha suas fronteiras definidas. Assim eram os reinos. Os impérios não respeitavam domicílios nem fronteiras; os impérios queriam abarcar tudo. Os impérios cederam à tentação do domínio absoluto: "Tudo isso que eu te darei, se, prostrado, me adorares." Paulo denuncia isto, denunciando assim o império romano na cara do Império Romano, que era o único império em exigência naqueles dias. Era o único grupo político que recebia o nome de império. E Paulo diz: "Ele nos libertou do império das trevas." Era como, em plena ditadura, dizer: "Ele nos libertou da ditadura das trevas." Era como um e-mail a uma
república religiosa fanática, como do Irã, dizer: "Ele nos libertou da República da dominação fanática e nos transportou para o reino do Filho do seu amor." Era uma denúncia ao império, contra a posição ao reino, que carregava a ideia de legitimidade e de transferência de ginástica ou de aprovação da maioria do povo no reconhecimento de que uma dada pessoa tinha o direito ao poder ou à experiência ou à maturidade para presidir o povo. Daí para frente, havia uma diferença que não era sutil, mas, nos dias de Constantino, apesar dele ser o Imperador, foi transformado no décimo
terceiro Apóstolo e se desenvolveu uma teologia imperial que dava valor e significado à evangelização transcultural, transétnica e transideológica da igreja. Ela podia ir para o mundo inteiro em nome daquele Imperador, que era o representante de Cristo. O décimo terceiro Apóstolo era o inaugurador de uma nova era e estabeleceu aqueles postulados muito mais os do império do que os do reino de Cristo. É claro que, à medida que o poder político vai crescendo, o reino de Deus vai se recolhendo, porque o reino de Deus não é uma demonstração política exterior. O reino de Deus, Jesus diz
em Lucas 17, está dentro em vós. Paulo diz que o reino de Deus não é comida nem bebida, nem opulência, nem são castelos, nem são expressões de exterioridade; o reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito. Só cabem aqui, no coração, aqui, aqui, no coração. E aí foi inventando para cada situação uma teologia. Quando precisaram se relacionar com os reis locais de grupos menores, a teologia do Reino de Deus foi desenvolvida para se adaptar àquela realeza. Você veja que, até o dia de hoje, assistindo à coroação do Charles III, lá na Inglaterra, você
viu como ele é o representante, é o cabeça da Igreja da Inglaterra. Eles deram uma teologia toda de que ele é a representação do domínio de Deus através da coroa e a expressão do domínio de Deus através da igreja e dos poderes constituídos da política. O cristianismo sempre deu esse jeito. Quando, por exemplo, nos Estados Unidos da América, veio a vigir a democracia, você vê que as igrejas de modelo que mais cresceram desde o início lá foram aquelas congregacionais, onde o povo democraticamente elegia o seu pastor. Um governo democrático, uma igreja democrática, com sucessão mais
ou menos semelhante à dos presidentes de quatro anos ou cinco anos. Nesse mesmo rodízio, vamos fazer adaptações. E vocês vejam, por exemplo, aqui no Brasil, no tempo da ditadura, surgiram os pastores dinásticos, que ficavam 20, 30 anos no poder. Porque se era assim no estado constituído, por que não seria assim na igreja constituída, que se declarava como obediente ao estado e às suas autoridades? Não importando a natureza ideológica, os princípios, as práticas, as tendências, aquilo que se advogava como pretexto de dominação, não interessa. É uma autoridade que foi constituída por Deus. A interpretavam Romanos 13,
valendo qualquer coisa em qualquer direção. Se tá aí, foi Deus que estabeleceu. Vamos fazer Caramuru, Caramuru, nos dobrarmos diante desse Satanás, porque a teologia foi mais adiante, disse que esse Satanás foram postos para serem objetos da nossa obediência, foram postos por Deus, quando, na realidade, Paulo, em Romanos 13, só está lidando com um princípio quando a autoridade... É boa. Ela louva quem pratica o bem. Quando ela é má, ela punha quem pratica o bem e exalta os que praticam a maldade. Então, há uma referência do que seja autoridade de Deus e o que não seja
autoridade de Deus. Ali, está praticando bem, está deixando as pessoas viverem em paz; no mínimo, não está explorando de maneira devastadora até a morte. É minimamente razoável, não por amor a Deus, mas por amor à sociedade. A gente vai contribuir com o que pode. Agora, se se levanta para matar, roubar e destruir, não serei um desses que serão destruídos ou mortos, vilipendiados. Mas eu mesmo não me entregarei. Eu estou do lado dos apóstolos e dos profetas. Eu sigo a Jesus de Nazaré. O meu caminho pode me levar à cruz, me levará com certeza, mas eu
sou filho da ressurreição, que já está selada como penhor da minha glória em Cristo Jesus, da incorruptibilidade que há em Jesus, seu andar, segundo os seus passos. Agora, interessante é que, quando o Diabo diz isso, a maioria de nós pensa apenas em poderes políticos imediatos. Mas, na realidade, a gente está falando, quando o Diabo está dentro dessa equação, ele é que está dizendo tudo isso: "Eu te darei tudo isso se, prostrado, me adorares." Quando a gente chega nesse ponto, aqui, alguma coisa que saiu, dobra. Quando a gente chega nesse ponto... Ajeitando... tá aí, se você
tá ao vivo. Então, tá bom. Quando a gente chega nesse ponto, a gente não está falando só de poder político imediato; a gente está falando do que está por trás do poder político. É interessante porque a Bíblia não fala muito disso. Não fala. A gente começa a ouvir um pouco mais disso nos Salmos, em alguns Salmos, quando fala que o Senhor Adonai preside na assembleia dos benai-loren, dos anjos superiores, dos principados e potestades. O Senhor Supremo preside sobre eles. A gente vê em alguns Salmos que não se está falando de deuses ídolos dos povos, mas
de deuses angelicais caídos, de príncipes, principados espirituais. A gente lê no Livro de Jó essa mesma assembleia de principados dominando reinos variados deste mundo na presença do Senhor Deus e do pedido de Satanás naquela assembleia de anjos, de principados, de potestades espirituais para molestar a Jó. A gente começa a ver essa ideia de principados e potestades espirituais se desenvolver mais no exílio em Babilônia, onde a riqueza desses conhecimentos sobre os outros deuses era bem maior do que na expressão da compreensão imediata dos israelitas. Eles tinham aprendido muito durante os 430 anos sobre os deuses do
Egito, mas quando eles foram para Babilônia, eles foram de fato para o nascedouro da civilização humana contemporânea. Eles foram para a terra de Abraão, da Mesopotâmia, um dos caldeus. Já tinha acontecido, portanto, dilúvio, já havia a epopeia de Gilgamesh, havia a história e os contos dos Anunnaki, que eram os equivalentes aos Nephilim; equivalentes aos filhos de Deus que geraram com as filhas dos homens os gigantes poderosos que dominaram toda a antiguidade, corromperam a natureza humana e da criação. Era uma mesma equivalência que a gente encontra. E foi, nesse outro lugar, de onde originavam-se os babilônios,
de onde estavam os caldeus, vieram os babilônios, os medos, os acádios e, depois, os persas. E foi especialmente na época dos persas em que essa teologia se desenvolveu mais na cabeça dos judeus. Foi no período da ausência do Templo, que tinha sido destruído alguns anos antes por Nabucodonosor. Foi nesse período de 70 anos, onde eles conviveram com caldeus, babilônios, medos, persas e um pedaço de convívio com a cultura que se espalhava dos gregos, no movimento de helenização que já estava ecoando pela terra naquele período, onde também as filosofias gregas viajavam, onde os ditos de Zaratustra
estavam presentes, onde havia algumas outras expressões de conhecimento espiritual extremamente sofisticadas, que influenciaram os judeus que tinham acabado de criar, porque não tinham tempo; criaram as sinagogas, que eram lugares de reflexão teológica, de leitura da escritura, de tradução, de abismo, de ensino para as crianças, para os jovens, para os adolescentes, para os adultos, acerca da lei, dos mandamentos e daquelas que eram as questões levantadas. Aí começaram a surgir várias novas concepções que a gente depreende, por exemplo, no Livro de Ezequiel. O Livro de Ezequiel é um livro carregado de presenças de seres de outras dimensões.
Começa com aquele giro, aquelas rodas com cambotas e olhos em volta. Começa assim o livro, todo é tremendo por essas manifestações de seres celestiais poderosos, chegando, entregando mensagens, se afastando de maneira horripilante, que nem o profeta aguentava; a presença caía, desmaiava, não suportava ficar em pé: "Toma, casa filho do homem, põe-te em pé que eu falarei contigo." A mesma coisa no livro do profeta Daniel, onde tudo isso vai crescendo. É lá que a gente ouve pela primeira vez a expressão, o termo "vigilante", que é o mesmo que a gente encontra no Livro de Enoque, que
diz que os vigilantes é que desceram sobre o monte Hermon, 300 deles, e fizeram pacto. Mesmo que aquilo destruísse a vida deles na presença de Deus eternamente, eles iriam possuir as mulheres, filhas dos homens, iriam gerar, eles próprios, uma geração deles na terra; uma geração de dominadores deste mundo em carne e sangue. "Vigilante" é a palavra que Daniel usa; ele fala do anjo Gabriel, fala do príncipe Miguel, então, principado de que Miguel é o príncipe de Israel. Principado de Israel, mas ali mesmo em Daniel, ele fala do príncipe da Grécia, ele fala do príncipe da
Pérsia, que fez oposição nas regiões celestes a Miguel, a ponto de Gabriel ter demorado 21 dias. Você veja como não são coisas instantâneas; a gente está lidando com o mundo de criaturas que pode ser regulado também na perspectiva do espaço-tempo. É Gabriel que disse... "Luta celestial de Miguel sendo resistido pelo Principado da Pérsia. Eu demorei 21 dias para vir te dizer que a tua oração foi ouvida e que tu és o homem muito amado. É ali no livro de Daniel que ele diz: 'Eis que eu vi um vigilante voando no céu, trazendo uma palavra, levando
uma mensagem'. É naquele período que a leitura da Escritura do Velho Testamento vai se enchendo mais de anjos, de nomenclaturas, de principados, de potestades, de tronos, de soberanias e de coisas e dimensões superiores que até então não havia menção delas no passado. No passado, só havia anjos do Senhor ou o anjo do Senhor, que era o Cristo antes de Jesus, mas não havia essas designações que foram todas aprendidas no período do cativeiro e depois dele, naqueles 400 anos entre Malaquias e a chegada da Revelação de João Batista, falando de Jesus. Naquele período chamado intertestamental é
que muitas dessas coisas se desenvolveram na consciência espiritual dos grupos judeus, os mais diferentes, especialmente dos que se dedicavam à meditação, como monges no deserto, e que foram os que mais se dedicaram à compreensão dessas múltiplas dimensões sobre nós. Então, voltando ao texto, quando a gente está falando aqui de que o Diabo diz: 'Eu te darei os reinos deste mundo', ele está dizendo: 'Olha, todos os principados e potestades que estão sobre todos esses reinos e que darão todo o trabalho a todos aqueles que quiserem te servir, andar contigo, esses todos estarão também sobre o teu
domínio. Eu entrego tudo aquilo que se entregou a mim. Eu entrego a ti como a condição: tu reines em meu nome, que tu usas o teu nome para fazer a minha vontade, que tu use as tuas terminologias, os teus ditos, aquilo que tu desejas, que as pessoas creiam como fé, pode transformar em crenças sistematizadas, dá para o povo desde que tu faça isso em teu nome, em obediência ao meu desejo, à minha intenção, ao meu objetivo, às minhas finalidades.' E é aí que, nesse sentido, o cristianismo se tornou a expressão daquilo que Jesus negou-se a
fazer. Jesus disse: 'Somente ao Senhor teu Deus adorarás e somente a Ele darás culto.' Agora nós usamos o nome de Jesus, usamos os batismos, a ceia, o sacramento, falamos promessas de Deus, citamos a Bíblia. O diabo adora citar a Bíblia, como a gente viu anteontem; adora. Aqui ele cita o Salmo 91, que é o mais poderoso salmo de proteção. Você veja onde ele chega, como ele se mistura com Deus, com a Bíblia, com a Escritura, com Jesus. Agora está aqui dizendo a Jesus: 'Olha, põe a tua cara para fora, pode usar teu próprio nome, mas
desde que tu faça conforme a minha vontade. A glória é tua, mas a vontade cumprida é a minha, e eu tenho os meus objetivos que a gente lê na carta, na epístola, no Evangelho de João, no capítulo 10, que esse ladrão — seja ele ladrão humano, ladrão espiritual, ladrão de qualquer natureza — vem sempre para matar, para roubar, para destruir. Então você, que anda assim numa ingenuidade brutal, e eu sei que muita gente se entregou a isso no curso dos tempos, ultimamente também na maior ingenuidade, na total ignorância, é absoluta manipulação que pode ser atribuída
apenas aos crentes, não aos pastores. Os pastores sabiam o que estavam fazendo e de que poder eles estavam se alimentando. E quando usaram o nome de Jesus para manipular vocês, todos, eles já estavam de quatro no ato, na presença do diabo, do príncipe deste mundo, do Deus deste século. Essa palavra que eu preciso terminar agora, porque eu já falei uma hora e 20. Entre no seu coração de algum modo e que você fique sabendo de uma coisa: quando a gente resiste, quando a gente resiste, guarde bem o que eu estou lhe dizendo. Quando a gente
resiste, olha como tudo termina com isto: 'O deixou o diabo'. A gente tem alívios, tem folgas; a gente resiste como o irmão de Jesus, Tiago, ensinou: 'Resistam ao diabo e ele fugirá de vós.' Existe, não tem um passo, um milímetro, sem barganhas com Deus, quanto mais com o diabo. Com isto, 'O deixou o diabo'. E eis que vieram os anjos e o serviram. Eis que vieram os anjos e o aguentam firme, mesmo que você tenha que ficar sozinho. Sozinho! Não ceda, não negocie, não faça negócios com o príncipe deste mundo e com seus principados, e
suas potestades, seus tronos, suas soberanias, seus poderes. Não faça, porque aí você vai receber aquela ajuda da morte, a mão de satanás, em seu favor. Vai te dar tudo e vai te roubar a própria alma. Mas por que ele deixa? Ele não aguenta a fidelidade amorosa, apaixonada, continua e perseverante diante do Senhor. E aí vêm os anjos, vêm os anjos e nos servem. Vêm os anjos e nos socorrem. Eu não tenho tido muita coisa, eu quase nada sobrando. A minha vida inteira eu nunca tive nada sobrando, mas nunca tive anjo faltando. Nunca tive nada, mas
nunca tive o socorro dos anjos me faltando. Repita comigo: eu nunca tive nada sobrando, mas nunca tive o socorro dos anjos me faltando. Existe ao diabo e ele fugirá de vós, e os anjos do Senhor servirão a mim, a você e a todos nós. Senhor Jesus, que essa palavra singela, simples, saída da espontaneidade da minha mente, do meu coração, tenha chegado com espontaneidade ao coração de muitos e que chegue ao coração de outros milhares que virão e que aprenderão, não só agora, mas no curso dos tempos e das gerações, porque essa palavra que eu estou
pregando não tem prazo de validade. Vai ser útil para os nossos netos, bisnetos e para gerações variadas, porque a verdade irretorquível do Evangelho de Jesus está proclamada em nome dele. Amém."