A classe média sempre foi sinônimo de estabilidade. Sem muitos luxos, mas também sem passar tanta dificuldade, a classe média era tida como essencial para a economia de um país. As famílias tocavam a vida normalmente, bastando um pai assalariado pra sustentar uma casa inteira.
Só que hoje, isso praticamente não existe mais. “Tocar a vida normalmente” ficou caro, e muito difícil. Hoje, a classe média enfrenta muitas dificuldades financeiras, lutando simplesmente pra pagar contas básicas – algo especialmente verdade depois de aumentos sucessivos nos preços de itens fundamentais como gasolina, gás de cozinha, carne e até leite e vegetais.
O fato é que o salário não acompanhou o aumento de preço que se viu em praticamente tudo ao nosso redor, mergulhando as pessoas em contas cada vez mais profundas, mas sem dinheiro pra conseguir respirar. Todos esses aumentos no custo de vida, juntamente com o fato de que o salário médio praticamente estagnou desde 2012, fizeram com que a classe média perdesse cada vez mais espaço e poder de compra. Atualmente, existem diferentes classificações de classes sociais, que levam em conta desde itens de conforto e grau de instrução, até renda familiar – e um ponto bastante discutido é justamente “quem exatamente é a classe média?
”. De maneira geral, a gente fala que a classe média é a que fica no meio, entre os ricos e os pobres. Um artigo do Pew Research Center demonstra que, nos Estados Unidos, a disparidade financeira entre os americanos de classe média e os de alta renda vem aumentando há décadas.
Já por aqui, a situação é ainda pior. Segundo a FGV, o número de brasileiros que vivem na pobreza basicamente triplicou no final de 2020 – só de agosto daquele ano, até fevereiro de 2021, esse número saltou de 9 milhões e meio de pessoas, pra assustadores 27 milhões. É claro que a pandemia potencializou muito esse efeito, e isso se tornou mais evidente em alguns setores da indústria, como o setor alimentício.
Esse fenômeno fez com que o diretor da Danone, Emmanuel Faber, declarasse não muito tempo atrás que: “Não haverá mais uma classe média, de certa forma. Parte dela vai cair e ser obrigada a reduzir os gastos com alimentos. A outra parte ficará mais exigente aumentando os gastos em busca de alimentos mais saudáveis e de maior qualidade.
” Mas a gente sabe que essa tendência não é exclusiva dos alimentos, e parece se estender para outros mercados também. Afinal de contas, o que está acontecendo com a classe média, e por que ela está lutando tanto pra sobreviver? Estaria a classe média realmente condenada a desaparecer?
O termo “classe média” não tem exatamente uma definição universal, já que muitos críticos e teóricos divergem a respeito das condições de vida que uma pessoa precisa ter pra ser considerada parte dela, mas, ao mesmo tempo, é muito fácil perceber o uso recorrente desse termo, seja nos jornais, na televisão ou na internet. O fato é que, pra maioria da população, a classe média é aquela fatia de pessoas que está no meio, entre os mais ricos e os mais pobres de uma sociedade, ou seja, aquelas pessoas ou famílias que vivem de uma maneira razoável, que não passam por grandes apertos mas também não podem sair torrando grana por aí. Por muito tempo, a classe média foi cobiçada como o ideal de vida pra se atingir, tida como essencial pra economia de um país — já que, na maioria dos países economicamente desenvolvidos, ela corresponde a mais ou menos metade da população total.
Sua origem é histórica, e pode-se dizer que foi mais ou menos no final do século 18 que o termo começou a ser usado. Naquela época, Thomas Gisborne, padre e teórico inglês, se referiu à classe média durante a revolução industrial como uma parte da população que se encaixava no meio termo entre os grandes donos de terras, que detinham grandes riquezas, e os trabalhadores urbanos e agrícolas, que eram pobres e trabalhavam pros senhores. Na ideia de Thomas, as pessoas da classe média eram os profissionais liberais que realizavam trabalhos não manuais, muitas vezes pessoas alfabetizadas ou com algum diploma — o que ainda não era tão comum naquela época.
Com o desenvolvimento do capitalismo industrial no século 19 e a chegada do trabalho assalariado, o cenário mudou, mas a classe média ainda era composta, no geral, pelo trabalhador que possuía mais habilidades e maior grau de educação formal, o que permitia que ele aproveitasse um padrão de vida acima da média — se comparado ao trabalhador de fábricas, que enfrentava horas exaustivas de trabalho mal remunerado. A evolução do capitalismo e o surgimento de novos postos de trabalho trouxe os chamados empregos de “colarinho branco”,, aqueles que não produzem ou botam a mão na massa, mas organizam e coordenam os outros trabalhadores e suas atividades de produção – algo conhecido hoje como gestão. Pra alguns sociólogos da década de 1950, esses eram reconhecidos como a nova classe média.
A definição de classe média não é estática, muito menos bem delimitada. Ao longo das décadas, conforme as relações de trabalho e produção foram se modificando, surgiram novas interpretações e análises a respeito do termo. Em 2021 um levantamento feito pelo Instituto Locomotiva detectou que a classe média encolheu no país impulsionado pela pandemia, saindo de 51% em 2020 pra 47% em 2021, empurrando mais de 4,9 milhões de brasileiros para a classe baixa.
No estudo, foram consideradas pessoas de classe média aquelas que têm renda per capita mensal entre 667 e 3. 755 reais. Mas apesar da renda per capita ser um dos principais parâmetros utilizados pra “medir” as classes, ele não é o único.
Acesso à educação, saúde e condições de moradia e emprego, também são alguns indicadores importantes nos dias de hoje. Cidades brasileiras como São Caetano do Sul e Florianópolis, por exemplo, concentram maior renda e, consequentemente, melhores condições de vida. Com renda média que ultrapassa os 4 mil reais, será que seria interessante classificar a classe média dessas cidades como aqueles que ganham menos que 3.
700, como na pesquisa? Aliás, quem ganha 4 mil reais hoje no Brasil já deveria ser considerado rico? Quem sabe do custo atual de morar no Brasil sabe que isso não faz muito sentido.
A realidade é que a classe média brasileira vem se modificando, e principalmente depois da pandemia, os desafios pra manter padrões de vida medianos se tornaram mais difíceis do que antes. Infelizmente, ao que tudo indica, o cenário não vai melhorar tão cedo. A classe média do Brasil tem enfrentado dias difíceis e seu poder de compra já não é mais tão forte assim, se considerarmos os anos de crescimento econômico que o país viveu entre 2003 e 2009, onde quase 30 milhões de brasileiros ingressaram na “nova classe média”.
O aumento do salário mínimo, formalização da economia do país e o boom das commodities foram os propulsores de bons resultados que o Brasil conseguiu alcançar. As mudanças sociais e econômicas vivenciadas nesse período aumentaram a competitividade com os demais países, o que facilitou uma abertura financeira e comercial, além do combate à inflação. O boom da economia possibilitou a ascensão social de milhares de famílias, e consequentemente, elevou o poder de compra e consumo de muita gente.
Mas com a crise mundial de 2008 e o período de instabilidade política que o Brasil vivenciou — e de certa forma, vivência até hoje — os indicadores de bem-estar econômico começaram a apontar problemas que poderiam abalar a instabilidade financeira de muita gente. Bom, foi exatamente o que aconteceu. A desaceleração da economia começou a gerar um cenário de instabilidade econômica que foi bastante acentuado pela pandemia de 2020, uma crise que chegou de surpresa e impactou diretamente o orçamento de milhares de pessoas.
Mas, antes mesmo da pandemia, o cenário já não era dos melhores: segundo dados da Fundação Getúlio Vargas, a capacidade de poupar da classe média do Brasil caiu muito, ela despencou entre 2007 e 2010 e ficou estagnada entre 2010 e 2015. Com o custo de vida elevado e as oportunidades de emprego cada vez mais escassas, o ciclo do endividamento parece não ter fim. O aumento dos gastos não acompanha a renda, que cada dia mais, é insuficiente pra suprir as demandas do mês.
Essa realidade atinge em cheio as famílias que se encontram entre os mais pobres e os mais ricos do país. A solução que muitos encontram é recorrer ao crédito pra continuar consumindo, só que o endividamento compromete ainda mais a renda, já que os juros das dívidas em andamento só aumentam as despesas mensais. E basta atrasar o pagamento da dívida, que a bola de neve cresce rapidinho.
O cenário brasileiro é comparável ao de outros países subdesenvolvidos, como a África do Sul, onde as despesas mais básicas, como alimentação e vestuário, equivalem a quase um terço dos gastos nos lares de classe média. Na teoria, os preços de bens e serviços básicos deveriam acompanhar o percentual de renda da população. Na prática, a história é outra: sabemos que o salário mínimo brasileiro tá bem distante de ser considerado suficiente pra uma família sobreviver de maneira razoável.
Segundo a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos divulgada em 2022 , o salário mínimo necessário pra atender uma família de quatro pessoas deveria ter sido de 6. 400 reais, considerando gastos com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, transporte, dentre outros. Ainda de acordo com os dados de 2022, quem recebeu um salário mínimo comprometeu, em média, 60% da renda pra comprar alimentos considerados básicos — ou seja, mais da metade do salário vai embora só no mercado, algo que deveria suprir todos os gastos de um mês inteiro.
Mas diante do cenário dramático que a população brasileira vivencia, esse parece ser apenas o começo da crise que a classe média vai vivenciar nos próximos anos. Enquanto seguirmos o ritmo atual, a classe média tende a diminuir drasticamente de tamanho. Mas não se engane, os impactos desse evento catastrófico serão sentidos em todas as camadas sociais.
A expectativa mundial quanto aos mercados emergentes, ou seja, economias em pleno desenvolvimento, como alguns países latino-americanos e do leste asiático, são muito positivas. Nessas regiões, estima-se que aproximadamente 600 milhões de consumidores da classe média vão atingir um poder de compra de 20 bilhões de dólares até o ano de 2025, no total. Mas mesmo diante das expectativas de um futuro positivo, a classe média enfrentará dificuldades relacionadas ao custo de vida e a manutenção de serviços básicos como saúde e educação — e este é o caso do Brasil.
Enquanto o fator renda for um impedimento pro crescimento e a ascensão social das famílias, mais e mais pessoas acabarão caindo no poço sem fundo do endividamento e dos juros altos, em busca de continuar consumindo pra manter o mínimo padrão de vida considerado adequado. Países como a Coreia do Sul e Singapura, que atualmente compõem o grupo dos Tigres Asiáticos, enfrentaram períodos de baixa econômica e instabilidade, mas conseguiram superar rapidamente investindo grande parte das suas riquezas na área da educação e tecnologia — e atualmente, são exemplos de economias desenvolvidas. Mas mesmo que os países tomem iniciativas pra amenizar essa situação, a classe média atual já enfrenta uma realidade bem diferente das gerações passadas, ou pelo menos, dos últimos 30 anos.
Viver na média ficou mais difícil. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OCDE, a classe média diminuiu em 40 países ao redor do globo, desde a geração dos baby boomers. E é claro, a imensa maioria dessa pessoas obviamente não saiu da classe média porque subiu de classe.
Parece certo que o encolhimento da classe média seja realmente uma tendência mundial, e que com isso, as gerações mais jovens dificilmente tenham as mesmas oportunidades que seus pais tiveram. Enquanto nossos pais provavelmente conseguiram comprar uma casa própria muito mais fácil e bem mais jovens, a geração atual, e a futura geração, dificilmente vai alcançar esse feito tão cedo — pode até ser que muitos nunca alcancem. É claro que essa mudança reflete brutalmente na economia dos países, principalmente aqueles que ainda não atingiram o seu desenvolvimento pleno, já que a classe média representa uma boa fatia da população economicamente ativa em uma economia saudável.
Mas é fato que o futuro da classe média ainda é incerto e pouco previsível, já que, na maioria dos países, os avanços tecnológicos e as novidades do mundo do trabalho imprimem mudanças a todo momento. O que é certo é que a falta de investimentos em áreas estratégicas como educação e tecnologia podem, e vão, comprometer o desenvolvimento econômico desses países a longo prazo, e sem dúvidas, colocar cada vez mais gente da classe média na pobreza. Me diz ai, o que você acha dessa tendência e o que você acha que vai acontecer com a classe média?
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