[Música] eu gostaria de perguntar para vocês Qual é a história do começo de vocês a minha história de começo é numa cidade muito pequena quando digo pequena é muito pequena de 3 mil habitantes lá em 1984 que é o ano que eu nasci filho de um pai pedreiro de uma mãe dona de casa e duas irmãs e eu como vocês mais ou menos quando eu tinha essa idade de quem tava fazendo essa cara de peralta é me fazer uma pergunta o que que você vai ser quando crescer Paulo e eu para Desespero de toda minha
família respondia que ia ser professor e antes que eu continuasse os argumentos vem aquelas frases típicas menino guri no Rio Grande do Sul guri Professor ganha muito pouco guri esse andar muito trabalho e eu sem nenhuma dúvida com muita convicção respondia que eu ia ser professor para ajudar as crianças eu tinha 7 ou 8 anos mas essa era a minha explicação se passou mais ou menos uns 10 anos e eu fui começar a Honrar essa minha convicção eu dançava na época e passando na frente de uma escola de educação infantil já numa outra cidade um
pouco maior tinha uma mulher parada na frente eu perguntei quem é a diretora sou eu falei você gostaria de aulas de expressão corporal quer me contratar ela me olhou e seguindo a fingir um tom de seriedade ela me disse quando você cobra por aula e eu achei aquela primeira pergunta já super inspiradora não duvidei de ser três reais a aula e ela disse tá bom já me dando as costas de fechado na próxima quarta-feira te espero aqui sair eu Saltitante parceiro que eu tinha fechado o meu primeiro trabalho bem essa história do meu começo que
eu contei em dois minutos mais ou menos é e ela é importante para eu explicar sobre os recomeços muito importante porque foi a partir dessa história que eu fui ser professor de dança que eu fui ser professor de informática sempre para crianças que eu fui ser professor de crianças que eu fui coordenar a Escola de Educação Infantil aí eu fui fazer pedagogia fiz duas especializações fiz mestrado sempre em educação infantil eu fiz doutorado e tudo isso foi para dar conta daquela minha convicção lá de criança de que eu ia ser professor para ajudar as crianças
Eu terminei minha dissertação de mestrado E fiz uma pergunta importante eu diria que é bom isso estuda é bom é legal me tornou mestre mas ele serve para quê Como é que vai ajudar as crianças Afinal E aí eu convidei algumas escolas e criei o Observatório da Cultura Infantil obc que é um projeto Cívico que eu tenho que ano que vem completa 10 anos em março hoje junto com 10 escolas sete públicas duas privadas uma de associação de paz que impacta diretamente em torno de 180 educadores e professores e 1139 crianças diretamente porque indiretamente também
a gente impacta tendo em vista que nesse grupo que é uma comunidade de apoio ao desenvolvimento profissional a gente indiretamente acaba também impactando mais uma série de escolas e crianças por sua vez e nessas as pessoas as me dizem Ah um trabalho voluntário que você faz né Eu não e eu não sei porque eu prefiro dizer que quer dizer eu sei porque eu prefiro dizer que é meu papel Cívico né porque essa é uma das formas que eu consigo concretizar um ideal humanista que eu tenho de construir uma sociedade mais digna uma sociedade mais respeitosa
uma sociedade mais acolhedora E como eu tô falando dos inícios eu acho que fazer esse esforço nunca é demais para acolher as crianças de forma respeitosa e sozinho não ia fazer muita coisa com obecil encontrei 180 pessoas para me ajudar a construir escolas mais amáveis tem um livro de uma autora que eu gosto muito que a Alison golpe e ela tem um livro que chama jardineiro e o carpinteiro ela faz uma diferenciação ela tá falando sobre os adultos que acolhe crianças né E ela faz uma diferenciação sobre ser um adulto carpinteiro que acha que seguir
um passo a passo vai chegar com sucesso no que tem que fazer e ser um jardineiro que precisa de atenção para que o outro exista e aposta né aposta porque tu não tem garantia nenhuma que vai dar certo porque quando a gente está tratando de ser humano não tem manual não tem passo a passo então a gente precisa fazer apostas apostas no outro confiar no outro apostar que pode ser possível ser diferente Ou pode ser possível ser bom ser Generoso e é dessas apostas que eu compartilho com essas escolas a gente aposta em fazer escolas
amáveis para as crianças Se eu perguntasse para vocês que que é uma escola de educação infantil pública que imagens vem na cabeça de vocês eu trouxe uma imagem de uma escola pública que faz parte do ABC e eu acho eu tenho super orgulho dessas imagens eu tenho orgulho de ver que uma escola pública pode ser narrada em mageticamente com beleza eu tenho orgulho em dizer que uma escola pública acolhe as crianças para que elas possam brincar se expressar participar conviver num lugar de beleza eu não sei se você sabe quando eu tô falando de educação
infantil eu tô falando de crianças de zero a seis anos 05 anos e 11 meses e nós estamos falando do início de vida do início de vida que em geral as crianças começam nessas instituições com quatro meses passam de quatro a 12 horas por dia dentro dessas instituições cinco dias por semana de 10 a 11 meses por ano o direito a beleza o direito tá num lugar bom bonito acolhedor que acolha subjetividade das crianças para nós é um princípio para nesses começos mas não só não só o direito à beleza nós também achamos importante que
as crianças possam ser escutadas e nós acreditamos nas relações no modo como a gente consegue abrir mão de si para ouvir o pensamento do outro e como é que a gente dá visibilidade a esse pensamento do outro como também uma história possível E aí eu vou contar dois pequenos trechos um é essa minha história que a gente chama de teoria bicho animal quem escreveu ela é uma das professoras do ABC que a Raquel e ela aconteceu com crianças de mais ou menos quatro cinco anos da Escola Espaço Girassol as crianças estavam conversando sobre é bicho
é animal e a Valentina diz animais são grandes e bichos são muito pequenos os bichos já nascem adultos pequenos e os animais nascem pequenos e crescem eu adoro essa capacidade das Crianças esse poder de olhar para o mundo e criar uma explicação e eu acho que isso é uma coisa que a gente tem que proteger para que elas cheguem e cresçam nesse mundo e possam criar outras alternativas discursivas e narrativas e o mais interessante é que não só ela achou uma teoria para explicar o que é bicho e o que é animal como os colegas
entenderam a teoria e deram segmento Francisco concorda ainda da exemplos Pois é a girafa é um animal né nas pequenas e cresce e a abelha é bicho nasce adulto pequeno quando eu era professor só fazer um parêntezinhos quando era professor de criança um dia a diretora chegou em Municipal também tá aí na recepção para me entregar alguma coisa as crianças você tem mãe porque o ter mãe dessa altura imagina o que que não devia ser minha mãe O Pedro sai correndo vai até a recepção volta e tran da turma ela nem é tão grande assim
né É isso que tá aqui nessa história a Maria Clara vai dizer bom os insetos que a gente tem na sala São bichos e não animais e aí a professora propõe para eles amo desenhar essa explicação de vocês a Valentina faz o elefante é um animal escorpião é bicho e o Marcos dá um Twist na gente porque ele bota o sapo é um animal pequeno porque lembram os animais nascem pequeno e crescem é um animal pequeno em cima do bicho-pau que tá ali grandão e o Sapo pequeno ele pega a teoria do Avesso né para
explicar que o bicho-pau já é já nasce adulto pequeno então ele já tá bem grandão enquanto o sapo que animal vai crescer a gente pode dizer assim Ah isso é lindo que fofa as crianças nas conexão ensinar que não existe Bicho na categoria dos animais não interessa para nós ensinar isso nesse momento nos interessa fazer com que as crianças possam pensar Sinhá e criar uma explicação para o mundo elas vão ter milhões de anos para descobrir se existe ou se não existe e quem sabe possa vir a existir não é um outro exemplo é esse
da Maria Clara de uma outra escola que faz parte do ABC que é amigo de gente que é uma narrativa que ela faz sobre o pensamento então pensando sobre como pensamos Esse é o pensamento dela e ela vai explicando aqui eu fiz o cérebro aqui são os meus pensamentos Isso aqui eu tô pensando Daí eu fico com uma nuvenzinha branca aqui fazendo assim o que é o que é o que é o que é aqui é aquele negocinho que eu já tinha falado que a bateria a bateria Nossa energia quando a gente corre aí vai
gastando elas aos pouquinhos a gente recarrega ela quando a gente para um pouco Daí ela sobe fica maior de a gente corre de novo para gastar um pouquinho corre para corre para e assim vai a vida a gente sai bem né aqui tem umas coisas que eu não sei o que é e eu acho ótimo pensa alguém corajosa de dizer olha aqui o desenho aí um negócio que eu não sei não sei o que é matar aqui né aqui é Quando eu escuto fica essas marquinhas aqui vejam como ela tá lendo o mundo né O
que que marca o sinal sonoro é o que tá convencionado na nossa sociedade e tem isso aqui que parece um oito virado isso aqui é a região aqui em cima da boca que eu não sei desenhar muito bem esse jeito dela pensar e explicar o pensamento é o que nós não obedeci vamos chamar de se apoiar na documentação pedagógica para dar visibilidade aos pensamentos mas não só porque a gente acha bonito é porque a gente confia numa imagem de criança capaz e potente e que gosta de ver o seu pensamento ganhando visibilidade não como uma
coisa bobinha Engraçadinha como alguma coisa que é interessante que deu que pensar que faz aquilo que o Bruno chama de criar novos mundos possíveis muito bem contei tudo isso para chegar o final e dizer para vocês de um reencontro que eu tive com texto e que talvez amarre muito bem o que eu quis dizer hoje é dias atrás eu tava preparando uma conferência e peguei um livro de um indígena brasileiro Ailton krenak um livro chamado ideias para diário ao fim do mundo e lendo esse livro eu me reencontro com texto que me impactou profundamente e
que eu vou pedir licença para ler esse pequeno trecho para vocês nosso tempo é especialista em criar ausências ausência do sentido de viver em sociedade ausência do próprio sentido da experiência da vida isso gera uma intolerância muito grande com relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo de dançar de cantar e está cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo que dança que canta e que faz chover o tipo de humanidade zumbi que estamos sendo convocados a integrar não tolera tanto prazer e tanta fruição de vida então pregam o
fim do mundo como uma possibilidade de fazer a gente desistir dos nossos próprios sonhos a minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história Se pudermos fazer isso estaremos adiando o fim do mundo e é com essas palavras que eu quero terminar por duas razões A primeira é porque eu acho que as crianças concretizam essas constelações que dançam cantam e fazem chover e que a gente tem um compromisso em dizer que mundo a gente quer deixar para elas tem que ser um mundo que acolha elas tem que ser
um mundo amoroso com elas tem que ser um mundo generoso com essas crianças que respeite elas que respeite todo mundo e o segundo é porque eu quis contar essa história porque eu sou contra o fim do mundo e eu acho que contar uma história junto como essas escolas que a gente está contando história 10 anos é uma forma de adiar o fim do mundo Muito obrigado [Aplausos] [Música]