Oi, pessoal! Hoje eu quero falar com vocês sobre uma das virtudes que talvez sejam das mais esquecidas e negligenciadas, mas não menos importante nos dias de hoje: a prudênci. Não esqueçam de seguir o canal, dar like nesse vídeo, ativar o sininho para você receber notificação quando tiver vídeo novo, compartilhar com seus amigos, e venham debater com o Professor HOC!
Se a cortesia é a origem das virtudes e a fidelidade os seus princípios, a prudência é a pré-condição para todas as outras virtudes. São Tomás de Aquino dizia que a prudência é uma das quatro virtudes cardinais: temperança, justiça, coragem, que eu já falei para vocês, eu já conversei com vocês, e prudência - pois a prudência é a pré-condição para existência de todas as outras virtudes. Eu quero começar falando com vocês sobre a origem ou significado de prudência na antiguidade.
Hoje em dia, como o valor ou como uma virtude, a prudência foi esquecida, como eu acabei de mencionar, e ela tem muitos significados que se perderam ao longo dessa história. Então vamos resgatar isso começando pelos gregos: a palavra que dá origem a prudência no Grego é phronesis, o que significa sabedoria prática, sabedoria da ação, para a ação. Isso não substitui a sabedoria original, a sabedoria sofia, mas não tem como você ter sabedoria (sofia) sem prudência.
Os romanos traduziram a palavra phronesis para prundetia. Aristóteles explicava que prudentia ou phronesis era a capacidade de você deliberar entre coisas boas e ruins, ou seja, fazer escolhas entre aquilo que é bom e aquilo que é ruim. E obviamente que, uma vez que você faz a escolha, você tem que agir corretamente de acordo com aquela escolha.
De uma forma simples, a gente pode chamar isso de bom senso, mas bom senso a serviço de um bem maior, ou até mesmo inteligência, mas do tipo virtuosa. Se você não consegue fazer boas escolhas, será que você é inteligente? Então a prudência tem a ver como fazer boas escolhas, e isso tem a ver com inteligência; não inteligência rasa, mas a inteligência virtuosa.
É nesse contexto que a prudência é a pré-condição para todas as outras virtudes, e como mencionei, o São Tomás de Aquino tinha ela com uma pré-condição para as outras três das quatro virtudes cardinais, e sem prudência você não consegue escolher, entender o que a justiça, o que é temperança, o que é coragem. Nesse caso, essas outras virtudes elas seriam cegas. A pessoa ama justiça, mas ela não sabe quando aplicar a justiça e nem como, ou seja, sem a prudência não tem como você ter as outras virtudes - por isso que ela é a pré-condição para a existência de todas as virtudes.
Mas, da mesma forma, a prudência por si só, sozinha, também não tem sentido. Ela precisa das outras virtudes para ser aplicada, para ser utilizada. Como trazer essa discussão, essa definição, para a modernidade?
E primeiro eu quero começar com uma distinção entre chamar prudência de uma virtude, ou chamá-la de uma habilidade, de uma característica. Os pensadores modernos e a ideia moderna que se tem de prudência é colocá-la na categoria como uma disposição psicológica, uma habilidade psicológica, e não necessariamente como uma virtude. Lembrando que dizer ou chamar alguma coisa de virtude significa que nós estamos no campo da moralidade, dos deveres, não é simplesmente uma habilidade - mas é uma habilidade com uma disposição, com um foco, com uma orientação moral.
Para vocês terem uma ideia, até Kant não considerou prudência como uma virtude. Ele dizia que a prudência não era nada mais do que um amor próprio iluminado; nada repreensivo, claro, é útil, podemos utilizá-la, mas sem nenhum valor moral, sem nenhuma conotação moral. O que é que eles querem dizer com analisar ou olhar para prudência sem esse aspecto moral?
Imagine o seguinte: você tem que cuidar da sua saúde, e alguém vai chamar isso de prudência. "Ah, é prudente você cuidar da sua saúde". Mas qual é o mérito por trás disso?
É vantajoso para si mesmo, então você estará se auto-protegendo, focado em si mesmo. Por que isso seria moralmente superior? Por que é que isso seria uma virtude, se ela tem um benefício próprio para você?
Essa seria mais ou menos a distinção ou a diferença entre tratarmos prudência como apenas uma habilidade ou como uma questão moral, no caso uma virtude. Agora tem um ponto mais interessante, que entra em choque com algumas das ideias de Kant e um aspecto moral da sua visão de mundo principalmente no que diz respeito aos deveres, né. E o Kant ele tinha a seguinte máxima: nós devemos sempre dizer a verdade.
Ou seja, o princípio, o valor da veracidade, ele tem que ser absoluto. O que é que isso tem a ver com prudência? Porque entra em choque direto com a ideia de ser prudente.
Se você defende o valor de uma forma absoluta e diz que em nenhum momento você pode recusá-lo de agir sobre aquela ideia. Isso significa que você vai aplicar aquele valor, ou princípio, independente das consequências geradas. E essa era a máxima do Kant em relação à veracidade.
Você tem que dizer a verdade, não importa quais sejam as consequências que você falar a verdade cause. E é óbvio que nós temos que colocar isso em cheque, ou diante da pergunta: mas isso seria ser prudente? Se prudência é sobre fazer escolhas boas ou ruins, será que você dizer a verdade a todos os momentos, de forma absoluta, você estaria sendo prudente?
A resposta é não, e por isso que a ideia de valores ou princípios absolutos se choca com a noção de prudência. Deixa eu dar um exemplo para vocês. Imagina que um assassino entra na sua casa, e ele tá procurando a vítima que ele quer matar, e a vítima tá na sua casa escondido.
E aí ele te pergunta: "você viu o fulano de tal? ". E se você seguir a máxima de Kant de sempre dizer a verdade, sem se preocupar com as consequências, você vai dizer assim: "Claro, ele tá escondido ali na minha cozinha".
Óbvio que isso seria imprudência, mas pro Kant é melhor você ser imprudente e preservar o princípio absoluto da veracidade, do que você estar preocupado com a consequência do que você dizer a verdade vai ter no mundo, ou em outras pessoas. O Kant defende a noção de dever. Você tem um dever para com a veracidade.
É claro que esse pensamento, essa visão, de Kant, nesse sentido se torna assustadora e totalmente imprudente, e a prudência é exatamente sobre isso - sobre você conseguir ponderar sobre as consequências dos seus atos. O Max Weber chamou esse conceito, essa visão assustadora do Kant, de ética de convicção. Se torna impossível a gente não questionar de que valem tais valores absolutos em detrimento da nossa humanidade, do bom senso, da generosidade, de salvar uma vida alheia.
Certamente isso traz até uma outra discussão: talvez um insight ou uma ideia de que nós devemos questionar ou duvidar até mesmo da moralidade, ainda mais quando ela for mais absolutista. Então qual é a saída? O próprio Max Weber nos propõe que, ao invés da ética de convicção, nós devemos adotar uma ética de responsabilidade, mas sem abdicar de princípios; é só não ter eles como forças ou ideias absolutistas.
Quem já não viu que boas intenções podem levar a catástrofes? Ou que pureza de motivação nunca foi capaz de evitar o pior? Bons motivos ou defesa de certos princípios não significam que você não vai produzir resultados ruins, portanto, uma ética de responsabilidade requer que a gente considere as consequências das nossas ações, dos nossos princípios - claro, até onde for possível prevê-los.
Mas a ideia é que você não pense só nos princípios em si, mas quanto que a aplicação desses princípios tem de impacto no mundo e em você e nas outras pessoas. A ética da prudência é a única ética válida. É melhor você mentir para um guarda nazista que está procurando um judeu escondido do que você simplesmente resguardar um princípio absoluto de veracidade.
Um outro jeito de entender essa ética, ou a aplicação de tudo isso, é chamarmos a prudência, ou esse jeito de ser prudente com valores e princípios, de moralidade aplicada - aplicada na prática, na realidade. E aí, a gente chega à conclusão que não é possível ter moralidade sem prudência. De que adianta uma moralidade ou um princípio absolutista que produz resultados catastróficos?
A moralidade precisa servir e ser aplicada na prática, e você só vai conseguir considerar os elementos da consequência prática quando você insere a prudência dentro da consideração - por isso que não tem moralidade sem prudência. Se a gente não tivesse a prudência, todas as outras virtudes seriam meramente boas intenções que pavimentam caminhos pro inferno! Seria o equivalente à gente dizer o seguinte: a prudência não reina sobre as outras virtudes, mas ela as governa - e o que seria de um reinado sem um governo?
De novo: somente amar justiça não nos faz justos. Para sermos justos nós temos que saber aplicar justiça, e aplicação da moralidade, no caso a justiça, requer prudência. Caso contrário, nós vamos estar sendo absolutistas, sem estar preocupados com o que pode acontecer.
Bom, tá ficando claro para vocês, então, que prudência é sobre tomada de decisão, sobre escolhas? Quais escolhas? As boas ou as ruins!
Se preocupar com as consequências! Se nós estamos falando de escolhas, nós temos que levar em consideração que cada escolha que eu faço tem riscos envolvidos, porque resultados estão conectados com a ideia de risco. Quando a gente decide alguma coisa, a gente tá deliberando.
E essas escolhas vão ter essas consequências, e eu tenho que lidar com os riscos. Análise de risco é sobre como você vai gerir as consequências dos seus atos, as consequências daquilo que vai acontecer no futuro. A gente só tem que fazer escolhas quando nós não temos certezas absolutas, quando você precisa colocar em jogo ou ponderar, ou pensar, ou agir com prudência, sobre qual caminho tomar.
Ser um bom pai não adianta você simplesmente amar o seu filho ou desejar tudo de melhor para ele, você precisa fazer escolhas! Escolhas sobre o futuro, sobre o presente, sobre a vida dele. E o amor não desculpa a falta de inteligência.
Lembra que eu falei que prudência era um tipo de inteligência, também, a inteligência virtuosa? Portanto, não basta amar, é necessário você fazer as boas escolhas para o seu filho, e só prudência vai te ajudar a isso. Voltando para ideia do risco: quando a gente fala então de risco, nós estamos, na verdade, falando de tempo, porque o risco é sobre o futuro.
Se eu virar para vocês e falar assim: "olha, tal ato, enfim, vai ter um impacto daqui 10 milhões de anos, mas aí você fala, "ah, 10 milhões de anos, dane-se, isso não faz diferença". Então falar de risco é, na verdade, falar do futuro. Qual futuro?
A discussão é sempre o quanto antes, e quanto mais perto for esse futuro, mais risco e mais preocupado nós vamos estar; quanto mais longe, menos importante aquilo vai ser para nós. A prudência é sobre as escolhas que fazemos e a gestão desse risco para o futuro, ou seja, prudência é orientada para o futuro. Você tem duas formas básicas de lidar com o risco, com a gestão de risco, e aliás tem um vídeo meu que eu falo o que é risco, explico mais no detalhe tudo isso.
Mas você tem a prevenção e a precaução. Uma das maneiras modernas ou mais contemporâneas, atuais, de entender a prudência, é simplesmente chamar ela de precaução. Ser prudente é ser precavido.
Isso não significa que você vai ser capaz de eliminar todos os riscos que existam. Ser prudente não é eliminar os riscos, mas é saber escolher quais que você vai tomar, e quais perigos você vai enfrentar não cegamente, seguindo um princípio absolutista ou desconsiderando totalmente as consequências dos seus atos. A pessoa prudente ela não é atenta somente com que está acontecendo, mas principalmente com que pode, com o que vai acontecer.
Então prudência tem uma orientação antecipatória, direcionada ao futuro. É uma virtude do presente, como todas as outras virtudes, mas ela tem uma preocupação com o futuro. Significa que é uma virtude do momento incerto, da duração, da paciência, da antecipação, do inesperado, do desconhecido, também, que você está tentando conhecer, está tentando delimitar e fazer a boa escolha.
Ninguém pode viver só no momento, não se pode escolher só o caminho mais curto para o prazer! Isso é a falta de prudência. Viver os momentos de prazer imediato e só se preocupar com eles, sem pensar nas consequências futuras, é a falta de prudência.
A realidade sempre vai impor as suas leis, obstáculos e desvios. A prudência é a arte de levar em consideração esses obstáculos e desvios da realidade, é o desejo lúcido e razoável. Os românticos eles vão sempre lidar só com o momento, ou vão lidar com uma realidade fantasiosa, e vão agir sem prudência, porque eles não estão levando em conta a realidade, as escolhas e as consequências do que pode acontecer.
Prudência é o que diferencia impulso de ação, e o que diferencia heróis de inconsequentes malucos. Basicamente é o que Freud chamava de "princípio da realidade", que é a capacidade de você aproveitar o máximo possível, sofrendo o mínimo possível, levando em conta os limites da realidade. De uma forma bem simples, somente os prudentes vivem; imprudência total leva à morte no curto prazo.
Para vocês terem uma ideia, os estóicos consideravam a prudência como uma ciência, a ciência de saber o que fazer e o que não fazer. Aristóteles discordou dessa ideia, porque ele dizia que uma ciência ela não pressupõe escolhas, a ciência tem certezas - e a prudência é sobre escolhas. Na verdade você só precisa da prudência se você não tem informação total sobre tudo.
Deus não precisa de prudência. Tecnicamente, a ciência, se ela existe, ela te dá respostas claras, e não há necessidade da prudência. Prudência só vem quando você não sabe o que pode acontecer quando você tem que lidar com contingências, com riscos, com possibilidades.
Vocês podem estar pensando aí: "bom, Heni, mas, se prudência é sobre você eliminar, ou gerir, ou evitar riscos e perigos, então será que o prudente não é covarde, ou pouco corajoso? No fundo, até mesmo significado moderno de prudência tem alguma analogia, alguma relação com isso. "Ah, eu sou prudente, ah, essa é uma palavra bonita para dizer que você é covarde".
E a resposta é simples e óbvia: não, prudência não tem nada a ver com covardia ou com medo. Só para vocês terem uma ideia, coragem sem prudência é inconsequência, é loucura. Então você não pode separar as duas coisas, e uma não anula a outra - na verdade, só dá para existir coragem se você tiver prudência e vice-versa.
Será que a gente estaria falando, então, de eliminar todos os riscos? Não, e o termo prudência não tem a ver com isso. Imagina um alpinista, ou imagina o velejador.
Será que ele deve, para ser prudente, ele tem que eliminar todos os riscos? Mas eliminar todos os riscos significaria que ele jamais nem começaria as suas aventuras e viagens absurdas e difíceis. Prudência é parte do trabalho daqueles que vivem em profissões de alto risco, ou que vivem a vida sempre no limite.
Quais riscos correr? Quais perigos enfrentar? Quais são os limites que eu posso ultrapassar ou que eu não posso chegar perto?
A prudência vai responder exatamente essas perguntas. Prudência é sobre você testar isso, entender e ponderar sobre isso. Eu posso evocar aqui um outro princípio, o princípio do prazer.
E ele vai nos dizer o que nós queremos fazer, o que nós desejamos, o que nós amamos. Ele que vai digitar o que é que eu quero fazer, mas como, de que forma, sobre quais consequências, aí é que entra a prudência. Essas coisas quem decide é o princípio da realidade, e quando a decisão é tomada se preocupando com as consequências e com o melhor, nós chamamos de prudência.
Em outras palavras, nós fazemos aquilo que o princípio do desejo nos impulsiona, aquilo que a gente ama, que a gente tem vontade. Mas nós temos que colocar esse princípio, essas vontades, esses desejos, em cheque ou contrapô-los ao princípio da realidade. E aí, você vai tomar ou fazer escolhas e administrar esse risco pensando no melhor.
E aí, sim, vai ser a prudência. Prudência é o amor que escolhe com sagacidade. Mas escolhe o que?
Não um objeto do amor em si, isso quem escolhe é o desejo; mas a forma de alcançá-lo e de protegê-lo. Isso é a prudência, que a gente pode chamar de sagacidade das mães. Para a gente chamar prudência de uma virtude, ela precisa estar preocupada com objetivos honrados, com generosidade, com bem maior.
Ela não pode só servir a si mesmo, mas ela tem que ter um aspecto moral maior de preocupação, não só com você ou comigo, mas com todos. Como eu falei há pouco: moralidade sem prudência é inútil ou perigoso. A boa vontade não garante que a moralidade não possa desrespeitar os seus limites, por isso que a gente precisa da prudência.
Bom, para concluir, pessoal, é imprudente deixar a moralidade sozinha, e é imoral ser imprudente. Não temos moralidade sem prudência, e prudência sem moralidade não é uma virtude. Espero vocês tenham gostado desse vídeo.
Não esquece: siga meu canal, ative o sininho, convida seus amigos para virem conhecer o canal do Professor HOC, e venham debater comigo. Até mais!