Olá o mundo moderno nos trouxe a necessidade do consumo não é que não tenha existido antes Claro nó sempre consumimos que desde a época das cavernas mas na fase atual em que nós nos encontramos nós vivemos uma civilização que nos obriga a consumir agora para consumir nós temos que trabalhar temos que ter os recursos e esses recursos criam a necessidade de nós competirmos no mercado de trabalho competir significa o quê chegar antes dos outros e este é um Este é um ponto fundamental todos nós vivemos numa competição desenfreada no mundo moderno Isso é uma experiência
nova na história da humanidade nós passamos a maior parte dos nossos dias hoje no trabalho e a tecnologia não veio para nos poupar desse trabalho ao contrário ela veio para nos estimular a trabalhar mais ela nos D condições de produzir mais nenhum de nós hoje conseguiria viver sem o celular na mão então esse conjunto de atividades e os problemas que nós temos hoje da da necessidade do convívio familiar e de da resolução desses desses dos problemas que se apresentam acabam às vezes criando uma sobrecarga que é insuportável uma sobrecarga que deixa faz com que a
gente viva uma tensão permanente eh nós temos uma definição recente do que se chama síndrome do Burnout que é uma entidade assim eu acho que sempre um pouco abstrata um pouco mal definida e que você ali coloca um saco de coisas que estão relacionadas com a ansiedade com a depressão desencontro familiar com desencontro no trabalho com a competitividade e é esse o tema que nós vamos discutir nesta conversa de hoje nós tremos para is Dr André Fusco Dr André é médico psicanalista faz um trabalho nessaa de Burnout em diversas empresas e tem uma experiência grande
com com esse tipo de problema que nós enfrentamos [Música] André começa definindo o que é barn que se chama de barn primeiro uma honra um prazer enorme est aqui com você Dráusio para falar de um tema tão importante e e tão mal interpretado tão Inconveniente muitas vezes porque ele justamente fala de coisas que estamos vivendo de estilo de vida e de crenças e valores que a gente carrega hoje e sempre que a gente mexe em crença em valor dá uma desestabilizada dá uma incomodada né porque a partir das crenças que a gente se relaciona com
o mundo né então abala mesmo é um tema que abala as estruturas e é uma definição eh apesar de tá no código internacional de doença é uma definição que ultrapassa a definição de doença e traz questões sociais do nosso contexto de vida né a competição Entra muito nessa questão e espero a gente poder abordar um pouquinho a questão da que é muito importante nesse tema Mas então não dá pra gente querer explicar o Burnout do ponto de vista fisiopatológico exclusivamente né do dos sintomas da da da ansiedade ou da depressão ou do esgotamento Mas genericamente
falando A grande questão do Burnout é que é relacionado ao trabalho é que a vivência no trabalho a experiência no trabalho faz com que a pessoa tenha Ou agrave alguma doença mental seria essa a definição mais adequada quadro e abrangente do do Burnout mas do ponto de vista histórico Eu gosto muito de de fazer um paralelo com ldor com lesão por esforço repetitivo e doença osteomuscular relacionada ao trabalho por conta da mudança da da da forma que a gente trabalhava começou a a a a os equipamentos que a gente veio o computador veio a digitação
eh eh começamos a passar mais horas sentados e isso trouxe uma mudança na rotina do trabalho e as pessoas começaram a ter síndrome do túnel do carpo epicondilite bursite e teve uma reação da sociedade no sentido de é o problema é o doente porque eu sempre digitei nunca tive isso e e a tendência foi responsabilizar a vítima por que que mulher tem mais então o problema é o gênero e e e e a tendência até gerar preconceitos por conta disso aí veio o INSS e e inventou o ler dort Qual é é a a mesma
síndrome do tún do carpo é a mesma epicondilite bursite lombalgia mas relacionado ao trabalho e aí as empresas foram invadidas por eh eh profissionais de educação física fisioterapeutas para fazer ginástica laboral que que tá por trás da ginástica laboral você hipertrofiar a musculatura para aguentar digitação aguentar a carga e se demorou muito isso gerou um passivo trabalhista muito grande para as empresas inclusive até a ergonomia osteomuscular entrar nessa discussão e a gente começa a ver Nossa tem um ângulo do cotovelo tem um ângulo do pescoço determinado pela altura do monitor não pode passar de 8.000
toques por hora e teve uma resistência Como assim vai ter que trocar a cadeira de todo mundo Como assim agora eu tenho que fornecer apoio de punho para todo mundo que novidade é essa mas teve a resistência a coisa foi evoluindo e hoje em dia não se não se discute mais você compra uma cadeira ela já vem com a macias adequada para apoio pra lombar com com nível ajustável e e e e e foi consagrada a ergonomia ó muscular então ler dort serviu para mobilizar a sociedade eh eh no sentido de deixar de focar no
doente e começar a focar no trabalho eu acho que o Bernal a gente tá repetindo a história eh a gente teve por muitos fatores que a gente vai começar a abordar aqui daqui a pouco mas enfim eh uma pandemia de adoecimento mental isso é a nova geração isso é desadaptação das pessoas isso é mimimi isso é malandragem do brasileiro vejo muito caminho por aí né na responsabilização às vezes até a criminalização da vítima E aí agora veio Organização Mundial da Saúde e falou pera aí Burnout que que Burnout é a mesma ansiedade depressão tror do
humor esgotamento um cansaço excessivo relacionado ao trabal Então acho que a grande questão do Burnout apesar de ser um código internacional de doença é que ele ultrapassa a definição de doença são na verdade um conjunto de doenças mentais que são provocadas ou agravadas pelo trabalho e estamos na fase da ginástica laboral a gente ainda não abraçou a ergonomia cognitiva ou a ergonomia mental ou seja lá qual for o nome que vai ser dado a isso e a gente tá fazendo ginástica laboral mental a gente tá estimulando as pessoas a de alguma forma metaforicamente falando hipertrofiar
o aparelho psíquico para aguentar sobrecarga e uma sobrecarga que vai além do quantitativo uma sobrecarga qualitativa também que é uma questão muito importante então a gente faz meditação e yoga boa alimentação higiene do Sono eh atividade física que são coisas essenciais fundamentais mas que nesse contexto ajudam as pessoas a dar conta e aí vem a organização mundal da saúde e fala vamos parar de falar do doente e vamos colocar o trabalho nessa frase tem um outro sujeito essa frase que é a vivência que o ser humano tem no trabalho que é um aspecto fundamental da
nossa vida André eu entendo o teu raciocínio com toda a clareza quer dizer você tem uma pressão e como é que eu me viro como é que eu consigo sobreviver nesse esquema Nesse estilo de vida que eu tenho levado eu saio correndo o outro faz meditação etc agora você fala das condições do trabalho que tipo de condições leva a essa situação a essa pressão é e E aí a a saúde mental no trabalho é uma questão bastante complexa que envolve o entendimento da subjetividade das emoções ela é mais complexa que as questões osteomusculares como eu
trouxe mas o que a gente pode usar como ponto de partida para essa discussão é o que seria um trabalho saudável e aí a gente vê como a forma que a gente organiza o trabalho hoje Parece que foi feito para não ser saudável e quando a gente vai buscar a origem da forma que a gente organiza o trabalho hoje ela é histórica ela começou no fordismo na linha de montagem 14 horas de trabalho por dia sem final de semana depois veio o teoris que importou do exército modelo de gestão hierárquico vertical comando controle depois o
toyotismo buscando mas sempre numa lógica de buscar a maior eficiência dos recursos inclusive do recurso humano uma das Ferramentas dessas lógicas de gestão de recursos humanos é justamente o estímulo pela competição que eu achei muito interessante essa introdução que você trouxe porque isso é provocado nas pessoas quando você faz um ranking e você fala o primeiro vai ganhar mais dinheiro e vai ser promovido e o último Vai ser desligado vai ser mandado embora ou não vai ter a remuneração variável você tá estimulando pela competição e pelo medo eh eh e a competição é um instinto
humano selvagem muito poderoso e traz resultados de de de curto prazo mas tem muitas consequências danosas que se der a gente conversa um pouco sobre isso que acho muito interessante também quer dizer por questões históricas a gente foi organizando o trabalho de uma forma agora se a gente fosse organizar o trabalho de uma forma para ele ser saudável a grande ironia é que ele seria muito mais produtivo e mais sustentável mas seria muito diferente da forma que a gente trabalha hoje o trabalho para ele trazer saúde mental a pessoal para ele trazer orgulho né pra
gente ter orgulho de quem a gente é e ele precisa de ele a gente chama de uma construção de uma boa identidade profissional que quer dizer isso o eu profissional Quem Sou Eu no mundo como profissional é bem constituído me dá saúde e o que que faz uma identidade profissional bem constituída são três aspectos fundamentais O primeiro é eu preciso gerar valor com o meu trabalho não um valor financeiro mas um valor eu preciso fazer o bem eu preciso ser bom para alguém né Então critério moral aí moral o bombeiro socorre o policial mantém a
segurança ordem o médico trata cura diminui sofrimento o arquiteto O engenheiro constrói toda a tarefa toda a área toda a empresa precisa visar a geração de valor precisa ser bom pra sociedade de alguma forma para indivíduo para um grupo para internamente pra própria empresa funcionar melhor enfim mas o meu trabalho gera valor para alguém meu trabalho é útil então eu sou uma pessoa útil segundo aspecto é um senso estético do trabalho eu sou um belo profissional uma outra pessoa pode fazer o que eu faço mas não do meu jeito Tem um exemplo que eu gosto
muito que é E olha que subjetivo esse conceito né É É do operador de uma máquina de uma prensa ele aperta o botão Vê se a coisa tá no lugar certo e a prensa vai lá e esmaga a chapa de aço e vai aí ele ouve um barulhinho e ele chama a manutenção falou acho que vai estourar uma Correia lá aí a manutenção olha e fala fala olha não identificamos nada por favor não interrompa mais a linha de montagem volte ao seu trabalho ele volta ao trabalho e Arrebenta a correia quer dizer é um cara
que na orelha saca a correia Esse cara é um belo operador de prensa e os colegas de trabalho olham para ele e admiram ele por isso então e é é ele é um belo profissional então eu preciso ser útil eu preciso ser único no meu trabalho e eu sei que eu sou útil e único pelo terceiro aspecto da identidade profissional que é o reconhecimento os outros precisam falar para mim precisam falar caramba he como é que você como é que você sabe esse reconhecimento pode vir dos colegas pode vir do Chefe pode vir de fora
do trabalho e pode vir também pelos mecanismos de reconhecimento institucionais da empresa se você pensar que eu preciso ser útil que eu preciso ser único e que eu preciso ser reconhecido por isso para ser satisfeito com quem eu sou e feliz do meu trabalho e no almoço de domingo contar paraa minha família o caso que eu atendi a construção que eu participei o financiamento que eu vendi pro cliente da agência que possibilitou elhe comprar um apartamento e ter uma casa própria quer dizer todo o trabalho precisa ter essa beleza e essa utilidade e eu preciso
receber isso dos outros quando a gente entra no mundo do trabalho hoje parece que ele foi construído para aniquilar a identidade profissional e a gente trabalha para sobreviver a gente trabalha porque tem conta para pagar a gente trabalha porque eh eh senão eu tô à margem da sociedade senão não posso dar uma boa escola para meus filhos não posso dar educação para meu filho não tenho segurança não tenho uma boa limitação não tenho plano de saúde eu não tenho e isso mostra até a relação de como uma questão social de um país é pode ser
ansiogênico pode ser patologizante porque essa pressão que você sofre um trabalho vai para um outro patamar Porque além Eu não tenho medo de ficar desempregado e e demorar para achar outro emprego eu tenho medo de ficar à margem da sociedade então essa pressão em países onde as questões sociais não tão bem administradas ela é muito maior você acha que isso explica essa inundação de casos que nós temos hoje porque no passado ninguém tocava nesse assunto muito Por ignorância também ninguém pensava nessas situações é eu eu acho que teve um um um entendimento muito maior que
fez a gente ter um olhar mais assertivo e e e fazer mais diagnóstico na pandemia por exemplo isso acho um fenômeno muito interessante e isso é é uma percepção minha não é nada científico que eu vou falar agora mas todo mundo acha que o trabalho remoto e a pandemia agravaram a a a questão da Saúde Mental Sem dúvida o convívio O isolamento mas teve um aspecto que eu observei na minha prática que achei muito interessante uma coisa é você viver a lógica do trabalho na trabalho e você ir para casa uma coisa é por exemplo
um gestor eh para quem já foi líder de pessoas e gestor se tem uma uma coisa que é horrível é desligar uma pessoa você deixar uma pessoa desempregada eh mas faz parte da sistemática que a gente utiliza hoje E aí você vai lá e fala pro rapaz rapaz é um ciclo que se encerra e não é novidade nem para mim nem para você os feedbacks Vem vindo nesse sentido eh Muito obrigado não dá voltas a gente se cruza seja feliz dá aqui o seu crachá que dia difícil que dia horrível Aí eu foi um dia
péssimo mas é meu papel eu sou gestor eu tento me organizar de alguma forma para justificar aquilo pego o carro vou toma um banho sento no sofá ven um filho ou filhão então eu descartei um recurso humano e aí eu cheguei em casa e abracei um ser humano outra coisa é você tá trabalhando em casa e desligando uma pessoa no monitor e o filho da pessoa passa atrás ou o seu filho faz barulho Fala filho o papai tá trabalhando aí a cultura do recurso humano e a cultura do ser humano entra em choque direto o
trabalho invadiu a casa e essas contradições ficaram insuportáveis e e isso trouxe Muita contradição muito constrangimento muito e muita gente não deu conta e teve um E aí essa questão do trabalho veio à tona o que eu acho muito positivo mas eu acho que é para além do não é só que a gente tá trabalhando em casa eu acho que o trabalho tá entrando nas casas e esse contraste não tá sendo suportável e eu acho isso Positivo porque a gente pode aproveitar essa provocação da Organização Mundial da Saúde e discutir o trabalho porque inclusive se
eu observo muito na minha prática quando a gente faz adaptações na organização do trabalho no sentido da Constituição de uma boa identidade profissional o efeito é muito positivo inclusive financeiro quer dizer é uma questão histórica mesmo são crenças e valores que a gente tá apegado que a gente precisa começar a discutir e um deles é a competição André eh tradicionalmente as pessoas atribuem a determinadas profissões um aumento do número de casos de Burnout os médicos são exemplo típicos mas não só eles os policiais bombeiros sei lá você acha que existe realmente isso algumas profissões predispõe
ou que predispõe é a própria natureza do trabalho que é feito eu acho que existem alguns trabalhos cuja natureza tendem a trazer mais sofrimento mas eu acho que isso não pode servir como educativa pra gente evoluir essas essas profissões e a gente tentar mitigar todos os riscos e todas as e todas as causas de de adoecimento isso mostra Inclusive a relação com trabalho quer dizer eh Por que que policial e bombeiro adoece mais por que que enfermeira adoece mais que médico eh a gente pode falar bom então já que enfermeira é submetida a mais estress
a mais a mais situações ansiogênico adoecimento então para ser uma boa enfermeira você precisa ter mais resiliência aí eu eu eu acho tem que ser mais firme forte mais firme eu acho que não eu acho que a gente precisa entender porque que enfermeira precisa ser tão resiliente e ao invés de estimular a resiliência das Enfermeiras acolher as demandas das Enfermeiras e reorganizar o trabalho no sentido de de delas não terem que sofrer tanto né Eh e um dos dos grandes impeditivos para isso que é que é quase Irônico é que quando a gente é submetido
a um sofrimento e a gente é impotente diante dele a gente tende a criar mecanismos de defesa para dar conta e esses mecanismos de defesa geram crenças e valores para dar um exemplo bem da nossa praia aqui eh um médico plantonista se vangloriando de ter ficado Pô fiquei 48 Horas emendei dois plantões fiquei 48 horas sem dormir olha que grande médico né por que que se privar do Sono faz dele um grande médico porque sen não é só privação do Sono como para ser médico eu vou ter que dar plantão e eu vou ter que
me privar do sono então eu vou chamar isso de bom é uma qualidade desejável no médico trabalhar se privando do sono e se eu chegar para esse plantonista e falar não é melhor você dormir não é melhor para você pra sua saúde e para o atendimento que você vai dar para seus pacientes você tá com mais saúde você tá descansado E se a gente parar para pensar muitas especialidades médicas não estão plão eu pessoalmente não dou plantão mas eh eh eh fora essas de de de de CTIS e prontos socorros quer dizer e eh não
é mais tão necessário você se privar do Sono para ser médico mas até hoje nas faculdades a gente passa por estágios de privação do sono é muitos muitos e tem gente que abandona a faculdade por causa Quantos médicos a gente já não perdeu por causa disso e às vezes o caraa para uma especialidade que não precisa da plantão Mas é uma uma valor n a privação do é um valor André Hoje você pega o pessoal que trabalha nas empresas especialmente que trabalh nas grandes empresas uhum as grandes empresas eles se reúnem discutem todos osores e
estabelecem metas que precisam ser alcançadas uhum essas metas são necessárias paraa empresa manter a competitividade continuar produzindo etc né Essas metas são transmitidas para os funcionários só que a meta depende do teu trabalho pessoal também lógico se ficar em casa n deitado você não vai cumprir meta nenhuma mas grande parte das metas não se devem às características individuais e nem a eficiência pessoal no trabalho elas dependem Sei lá uma empresa que vende produtos vai depender da economia do país Depende de outros fatores como é possível conciliar a necessidade de trabalhar de ter eficiência no serviço
que você presta com as metas que não dependem que não estão ao seu alcance Essa é uma das raízes do do do problema né O problema não é meta o problema é é uma questão da qualidade da meta retomando a identidade profissional vou dar um exemplo bem prático porque a gente não precisa cuidar da saúde mental e prevenir e evitar o Burnout sem prejudicar o resultado das empresas é oo contrário quando a gente faz isso a gente potencializa o resultado das empresas vamos pegar um um lojista que tem tem loja ele tem os vendedores ele
dá uma meta pros vendedores então ele chega pro pro pro logista e fala Olha você tem que vender 50 gravatas esse mês e ele tá lá tem uma loja de roupa chique masculinas e femininas e ele tem entre algumas metas ele tem que vender 50 gravatas e entra uma senhora ah vou no casamento da minha sobrinha Ah tem esse vestido tem aquele e tal tal a senhora não quer uma gravata aí ela vai falar não mas eu não uso gravata meu filho não mas eu seu marido não mas eu sou viúva né Não tenho não
é o casamento do sobrinho das não tem ninguém tá bom meu eu compro uma gavat ele consegue bater a meta Mas você percebe que é uma meta desatrelado do valor a ser gerado pro cliente é uma meta mais atrelada a um resultado financeiro direto outra coisa é entre uma senhora e a meta dele é de satisfação do cliente e de resolutividade do cliente e tem formas de medir isso NPS hoje em dia tem umas formas muito interessantes de você medir a geração de valor pro cliente e o resultado financeiro ser uma consequência disso tô falando
da utilidade eu tenho que ser útil para trabalho ser saudável que é um dos aspectos da da identidade profissional então entra uma senhora e fala ah eu tô procurando um vestido assim assim assim assado aí ele fala ó nós temos esse esse esse esse é isso que a senhora tá procurando Quando ela entrou ele já olhou no olho dela e já se conectou com ela porque quer saber com a necessidade dela porque ela ter uma necessidade bem atendida é a meta dele e aí ela fala ah não é isso que eu procuro procuro uma coisa
mais assim mais assada ela fala minha senhora aqui mesmo nesse andar no shopping se a senhora for naquela loja lá no final primeira esquerda acho tem exatamente o vestido que a senhora Procura ele não vende mas quando ela precisar de alguma coisa qual vai ser a primeira loja que ele vai que ela vai naquela onde tem alguém que escuta ela que se relaciona com ela então você percebe que uma meta pode fazer você empurrar um produto ou gerar um valor pro cliente e são metas né então e e todos quer dizer o o que tá
por trás dessa lógica é uma empresa ela não serve para dar lucro uma empresa não não precisa ser determinada pelas questões econômicas e buscar um resultado financeiro direto porque se você atinge um resultado financeiro direto sem gerar valor para alguém nessa sistemática nesse processo nessa cadeia produtiva tem gente adoecendo tem gente que tá vendendo a umao diabo tem gente que tá fazendo uma coisa que não acredita mas tem que fazer porque tem conta para pagar e a vida fica sem sentido o que adoece não é o sofrimento segundo tudo que eu tô falando que tá
por trás é é é psicodinâmica do trabalho que é uma é um ramo da psicanálise que estuda o trabalho muito desenvolvido pelo Christopher de jul que é um francês casado com uma psicanalista brasileiro brasileira vivo até hoje um cara excepcional um pós freudiano que mergulhou no trabalho então o que eu tô falando por trás dessa dessa geração de valor e e é muito da teoria dele e ele diz isso o que o que adoece não é o sofrimento o que adoece é o sofrimento sem sentido porque se eu sou um bancário e eu bato a
minha meta de venda de título de capitalização então eu vendo título de capitalização que que que é título de capitalização é você dar um dinheiro pro banco e receber menos dinheiro só que você corre o risco de ser sorteado e ganhar uma bolada 20.000 50.000 100.000 é é gambling é é é loteria é é é uma forma de de jogatina Então qual que é o valor do título de capitalização o prazer do jogo é para isso que serve título de capitalização mas tem muita gente que para não ficar para trás da competição Tem muita gente
que para bater a meta e não correr o risco de ser mal avaliado e não recebeu uma remuneração variada ou não ser desligado para bater a meta de título de capitalização quando vem um velhinho no caixa e fala ah Sobrou um pouquinho da minha aposentadoria eu queria investir ah vovô investe no título de capitalização quer dizer essa pessoa para bater a meta tá ultrapassando uma fronteira ética moral eh e ela pode ser promovida por isso ela pode ter sucesso por isso só que ela deita a cabeça no travesseiro e quem é ela no mundo e
o que acontece muitas vezes é que quando se pega uma venda dessa se pune o vendedor e tá certo né é cruel você iludir uma pessoa que não domina a a o linguajar do sistema financeiro e falar que ela tá fazendo investimento e e ela tá apostando né uma coisa que provavelmente vai perder e são vários os casos de pessoas que compraram 20 títulos de capitalização achando que tava investindo Então quando você gera lucro bate a meta mas não gerou valor pro cliente quem é você no mundo e a gente tende a punir esse vendedor
e a não discutir a meta e aí a gente vai ficar enxugando gelo e isso tem tudo a ver com saúde mental quer dizer a a a gente tem que ter meta Norte mas isso precisa ser mais atrelado à geração de valor uma empresa não pode servir para dar lucro uma empresa serve para gerar valor pra sociedade e a contrapartida é o lucro uma empresa tem que ter lucro senão ela não é sustentável não é viável a gente tem que buscar o lucro mas não pode ser um lucro a Qualquer Custo aí Vira essa selvageria
que adoece todo mundo André do ponto de vista do trabalhador né todos nós vivemos num mundo hoje que nos solicita o tempo inteiro né você levanta toma banho e vai trabalhar e continua com os problemas domésticos né que se acumulam no decorrer do dia aí você sai do trabalho mais tarde do que devia perde um tempo enorme no trânsito nas grandes cidades chega em casa você ainda tem e-mails para responder você tem os problemas familiares que estão ali n acontecendo às vezes pais mais velhos o filho que vai mal na escola etc e você passa
os dias todos preocupado nãoé o tempo inteiro preocupado e um pouco ansioso para tentar resolver como é que você consegue reconhecer em você quando você tá ultrapassando uma barreira do que é razoável da pressão que é razoável você suportar muito muito interessante isso porque porque são questões subjetivas né eu eu costumo falar pras pessoas que me fazem essa pergunta né que é como eu sei se eu tô doente como eu sei se eu tô eh ultrapassando esse limite e eu costumo dizer que pro leigo seria né pro não médico que tem tem uns sinais e
sintomas né irritabilidade é insônia oscilação do humor dificuldade de concentração perda de memória e a gente pode fazer a listinha o checklist deu oito é isso é aquilo mas eu acho que pra pessoa que não é profissional de saúde e quer saber eu acho que tem duas coisas fundamentais a doença mental ela ela é uma exacerbação de coisas normais é normal você a véspera do vestibular ou do Enem você ter uma insônia quem nunca né É normal você eh num ônibus indo para uma entrevista do emprego que você quer muito e que é um sonho
seu te dá uma angústia ali uma falta de ar e você até chegar ter que descer do ônibus né E falar nossa eu tô nervoso demais eu não posso ir na entrevista desse jeito aí você se acalma e você vai quer dizer tem uma uma causa definida tem uma um um um estopim para aquilo tem um gatilho para aquilo tem um um contexto que que gera essa essa esse problema essa emoção exacerbada e você consegue controlar de alguma forma diferente de você Nossa eu não posso pegar ônibus porque quando eu entro no ônibus eu fico
com falta de ar aí tem duas coisas que tá acontecendo primeiro você mas por quê Ah não ônibus eu mas ônibus tem problema ah não consigo ter reunião com essa pessa pessa sempre que eu sei que tem uma pessoa eu vou ter uma reunião com essa pessoa eu vou no banheiro lavo a cara dou uns pulinhos tá limitando demais a vida e não tem uma causa Mas que que essa pessoa fez para você ah é o jeito dela né então se tem uma causa definida e você e não tá te impedindo de viver tudo bem
agora se você não consegue definir a causa e tá limitando muito a sua vida vai se consultar vai procurar um um psiquiatra um psicanalista um psicoterapeuta vai conversar com alguém que entende e e A grande questão aqui é que do eh eh insônia as vésperas do vestibular até não posso pegar ônibus na metrô que eu fico com falta de ar não tem uma linha de corte muito nítida Às vezes a coisa vai insidiosamente se agravando e a gente vai dando conta e a gente vai Ah mas então vou tomar aqui um um zolpidem um Rivotril
para dormir porque e eu ouço às vezes essas adaptações ao agravamento dos sintomas Ah aqui na área todo mundo toma tja preta porque faz parte quer dizer vai normalizando comportamentos e compensações E aí esse esse esse limite entre a saúde e a doença não é nítido então na dúvida vá procurar um profissional e vá falar o que você tá sentindo o que tá acontecendo vá buscar orientação e vá tentando se adaptar Só que eu acho também muito cruel a gente depositar toda a responsabilidade no doente na pessoa a gente precisa ampliar essa discussão pro trabalho
pras regras do trabalho para a importância do trabalho na vida das pessoas eu vejo muita muito profissional de saúde falando o problema da doença mental tá no equilíbrio entre vida profissional e pessoal eu acho isso lamentável porque pressupõe que trabalho é ruim e pessoal é bom bom e às vezes é até o contrário à é o contrário ainda bem que eu tô trabalhando aqui porque senão não ia dar conta né então eu acho que é isso que a gente precisa buscar a gente precisa e eh e aliás trabalho é horrível é tripalium tortura né aig
da palavra trabalho né Eh eh eu gosto muito mais do servir do serviço porque é isso é gerar valor para alguém é fazer bem feito alguma coisa é ser reconhecido por isso é fazer parte da sociedade dando esta minha contribuição é merecer usufruir dessa sociedade fazendo a minha parte isso é muito positivo isso é colaborativo isso é é é traz bons relacionamentos e e quando o trabalho chega nesse lugar para muito além da economia e do eu eu eu sempre dou um exemplo muito radical né Eh pergunta pro médico sem fronteiras se ele ganha bem
o médico sem fronteiras ganha 1000€ por mês e às vezes paga a própria passagem para um país em guerra aí você fala esse cara é um estúpido né não é é que é tanto valor salvar a vida né é tão heróico é tão reconhecido pelas pessoas que a remuneração fica em segum plano né remuneração é necessária mas não é pelo dinheiro que a gente trabalha o dinheiro ele se encaixa nemum das formas da gente ser reconhecido você fez um bom trabalho tá aqui o seu pagamento que com esse pagamento você vai usufruir de algumas coisas
então é uma forma de reconhecer mas não é o objetivo em si André você vê da forma em que as coisas estão organizadas no mundo atual você vê uma possibilidade da gente sair dessa da gente poder lidar com essa pressão cada vez mais intensa cada vez mais competitiva Olha a competição é um tema bastante polêmico e eu eu vejo assim o primeiro animal que a gente domestica é nós mesmos né a gente você pega um um playground de criança e puxa o cabelo a gente nasce selvagem a gente se submete à cultura a gente vai
se civilizando e você vai limitando esses instintos selvagens para civilização ser viável Então você vai se civilizando a competição é um desses instintos selvagens a competição serve pra gente ter poder e ser o macho alfa a fêmea alfa e Os descendentes serem meus eu Tero mais acesso a alimento então numa sociedade eh selvagem num bando de de macacos num alcateia e seja lá onde for tem sentido A Hierarquia e a competição agora para nós seres humanos tá na hora da gente eh eh admitir que isso é selvagem e domesticar esse instinto também a a olimpíada
é uma mensagem de paz né ao invés da gente competir na trincheira Vamos botar um representante de cada país e Quem chegar primeiro ganha E aí a gente gasta a nossa selvageria e torce e fica muito feliz e muito bravo né dependendo do resultado né que que é um estádio de futebol que que que são 11 marmanjos colocando a bola na rede de outros 11 marmanjos serve para nada aquilo é uma convenção é uma brincadeira e você xinga a mãe do outro e você chora e vive aquelas emoções Então você gasta sua selvageria é catártico
agora você saiu do estádio e você luta você briga aí cadeia aí não é civilizado então no teatro a gente pode ser selvagem também por quê Porque é um ambiente controlado porque não é vida real é uma mentirinha e as pessoas assistem e vivem aquelas emoções e a gente gasta Nossa selvageria no esporte no teatro agora o trabalho é vida real quando você compete no trabalho e você perde as consequências são devastadoras você pode perder o emprego você pode perder uma remuneração você pode então e a grande ironia é que não precisa não precisa a
colaboração é muito mais produtiva mas a gente insiste por conta de questões históricas a estimular pela competição e é consagradíssima você faz o ranking e se tem um empate você precisa desempatar quer dizer não tem empate uma pessoa tem que às vezes um vendedor cuida de uma área da região central de São Paulo o outro vendedor cuida da periferia de São Paulo eles estão num ranking de resultado de vendas já não é comparável como é que você vai comparar os clientes do centro de São Paulo com na periferia de São Paulo poderá que você tiver
outros gostos são outros então e eh quando você estimula a competição eh eh que a tal da meritocracia você tá não tem como você não você ser totalmente justo e e e e e controlar todas as variáveis né Aliás quando você compara uma pessoa a outra já tá errado porque as pessoas são incomparáveis né eu eu costumo dar um fazer uma brincadeira era muito Inconveniente e e e e mas que eu acho que é um exemplo bem potente que é Imagina você tem dois filhos para um filho você é você julga que esse filho é
melhor esse meu filho é melhorzinho que o outro então vou pagar uma boa escola vou dar uma boa educação uma boa alimentação Esporte aula de inglês eh um bom plano de saúde e pro outro filho vou falar filhão você tá vendo seu irmão melhor você reagir porque eu só tenho para um não é cruel isso is é mérito racia em casa e é em casa é insuportável porque em casa somos seres humanos no trabalho isso é justo porque somos recursos humanos Então se E olha como isso é Inconveniente como porque a gente tá vivendo isso
nesse momento Então são essas conversas difíceis sobre o trabalho que a gente precisa começar a ter para ir e falando será que a gente precisa competir ou será que a gente tem um objetivo comum de geração de valor onde mais importante do que ser melhor do que o outro é ser melhor do que você no passado eu não quero ver vencer o outro eu quero vencer Quem era no passado e isso é muito mais estimulante paraa performance inclusive você se vê hoje e fala Nossa hoje eu tô trabalhando bem melhor faço mais rápido faço mais
preciso faço com mais domínio isso é muito estimulante agora e é é você Comparar as pessoas e chamar um de melhor e um de pior eu eu fiz um trabalho numa empresa que tinha um ranking em todas as os níveis hierárquicos eraa separado por níveis hierárqu e tinha uns diretores eram comparados cerca de 20 duas dezenas de de diretores e o o último era mandado embora sempre é um turnover forçado o nome diso você pega o último por quê para tirar o pessoal da zona de conforto para eles competirem O último é desligado e o
primeiro ganha mais remuneração entra nos critérios de promoção etc tal eu peguei e era uma nota de um a cinco que avaliava dentro dos critérios venda satisfação da da da da equipe sobre sua gestão e tinham vários indicadores ali e aí somava fazia a média e você ganhava um um um valor de 1 a c se fosse pelos indicadores em si era quase todo mundo cinco Mas aí tem que forçar curva não pode empatar porque senão o estímulo pela competição não funciona aparece então o que que você faz você força a curva E aí eu
fiz um trabalho que mostrou que do primeiro lugar ao último lugar a diferença estava na segunda casa decimal quer dizer o primeiro lugar era 4 V não vou lembrar o número exato agora 4,86 e o último lugar era 4,71 quer dizer é você chegar pro numa escola fala o aluno que tirou 10 passa de ano o que tirou 9,9 você reprova que recado você tá dando para esse aluno que tirou 9,9 né ele vai desistir de estudar ele vai se frustrar então tem muitas coisas que historicamente a gente tá praticando hoje que a gente precisa
ter coragem de discutir André nós estamos chegando final do nosso tempo eh no do no plano individual você recebe uma uma pessoa que te procura no consultório e descreve o dia a dia dela os problemas que ela tá enfrentando a ansiedade que ela tem no trabalho na vida familiar etc Que tipo de orientação Você costuma dar olha Eh como psicanalista Eu costumo fazer análise com essas pessoas e e vai muito no sentido de entender o que levou ela para aquele lugar Quais as escolhas que ela fez por que ele se colocou nessa situação é como
eu tô tratando o indivíduo tendo a mostrar o que é responsabilidade dele junto com ele para que ele tome decisões e escolhas e read ministre a vida numa forma de não se colocar mais nessa situação genericamente é isso mas dentro disso uma coisa que eu observo muito é a busca de um culpado nessa história então eu vejo uma pessoa que só tenendo uma pessoa com Burnout normalmente a culpa é o chefe o a culpa é o colega de trabalho a culpa e a gente fica buscando culpado e eu nunca vi graças a Deus de esses
anos aí de de prática um gestor um executivo que quisesse trazer resultado adoecendo as pessoas existem psicopatas por aí mas eu não cruzei com nenhum desses eu acho né só tivesse bem disfarçado Mas o que eu observo é um gestor por exemplo que foi submetido a uma uma lógica meritocrática e foi ranqueado e venceu os outros e chegou lá e se sacrificou e deu conta de alguma forma deu conta sobreviveu agora ele tá aplicando essa mesma lógica nas pessoas e aí ele desempata dois e desse que ele ficou mais alto ele vai lá e dá
um feedback e fala ó você foi muito bem parabéns tá aqui mais remuneração Parabéns você é um exemplo e pro outro é o 10 e o 9,9 ele fala olha você precisa melhorar porque veja bem não mas eu fiz exatamente que o outro é foi é e tenta justificar o injustificável essa pessoa que recebe um feedback negativo e fala você precisa melhorar e ele deu pro sangue ele se esforçou se dedicou e ele recebe ó Man ficou abaixo né Isso é muito frustrante isso derruba isso tira o sentido do trabalho quer dizer esse esforço todo
que eu fiz esse ano todo não serviu para nada então isso derruba a pessoa quando eu atendo uma pessoa dessas ela não fala A sistemática meritocrática me colocou numa posição inferior injustamente precisamos rever as formas de avaliação das pessoas ela vai falar o meu gestor é um filho da mãe ela vai personificar no gestor que foi submetido e sofre a mesma coisa quando é avaliado Então o que eu vou falar o que eu falo para as pessoas é vamos aprofundar essa discussão vamos entender que escolhas a gente faz que colocam a gente né porque aí
vai ter que abrir mão de uma coisa Às vezes abrir mão de uma remuneração maior para poder ter mais convivo com a família às vezes eh busca um trabalho que tem mais sentido para ele e fala eu tô fazendo isso porque E aí como psicanalista a gente vê muita coisa né às vezes tá atendendo demandas da família e não da do desejo autêntico dele Eh aí são muitas coisas que a gente pode discutir no sentido de read ministrar a própria vida mas se tem uma armadilha que eu acho que que limita muito a progressão das
pessoas nesse sentido é buscar um vilão buscar um culpado e porque isso evita que a gente assuma responsabilidade da nossa vida e conduz ela de uma forma que a gente se satisfaça mais se realize mais e encontre seu próprio caminho né então pros indivíduos é isso agora pra questão do Burnout eu acho que a gente precisa discutir menos os indivíduos e mais a forma que a gente organiza o trabalho a forma que a gente tá se estimulando se relacionando se organizando porque parece que a gente inventou uma coisa feita para descimento mental André Muitíssimo obrigado
viu Eu que agradeço um prazer muito Grand gostei muito dessa discussão também nós tivemos essa conversa sobre o Burnout com o Dr André que é uma pessoa com grande experiência nessa área veja também os nossos podcasts o saúde sem tabu o outras histórias e o porqu dói todos estão disponíveis nos principais agregadores e no YouTube muitíssimo obrigado pela atenção