Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde (Entrevista com Rita Barradas Barata)

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A entrevistada é a autora Rita Barradas Barata que conversa sobre seu livro: Como e por que as desig...
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[Música] embora os indivíduos façam escolhas que possam implicar em comportamentos adilson ou nocivos à sua saúde essas escolhas estão situadas em contextos familiares econômicos culturais políticos e históricos os estilos de vida ou os comportamentos individuais são apenas as evidências mais imediatas de todo o processo de determinação e mediação das desigualdades sociais em saúde como e porque as desigualdades sociais fazem mal à saúde é o livro de ciência e letras de hoje um programa resultado da parceria entre o canal saúde e editora fiocruz conversa comigo no estúdio do canal saúde a autora do livro e tá
barradas barata doutor em medicina preventiva pela usp e coordenadora de saúde coletiva no capsi seja bem vindo então lendo livro uma das primeiras informações que a gente tem é que a desigualdade social de saúde não são prática propriamente uma novidade né se fala muito tempo dela e você até marca o final do século o início do século 19 com o surgimento do capitalismo uma época muito importante para essa desigualdade se começarem a ser tratadas né porque que acontece aí é o que acontece que modifica um pouco a percepção dessas coisas no início do capitalismo é
que a sociedade portuguesa é aqui pela primeira vez na história da humanidade defende um lema de igualdade e fraternidade que era o lema da revolução francesa não é só que o capitalismo e não permitir a concretização de cinema na vida real o capitalismo a ce ro o empobrecimento das populações trabalhadoras né então você tinha uma contradição entre aquilo que se pregava no nível ideológico e aquilo que era a vida real das pessoas é nesse momento que surge a medicina social a preocupação de pessoas na área da saúde com um enfrenta essa situação que ficou muito
evidente não tinha mais como se escondida nas épocas anteriores era como se fosse natural que um cervo tivesse uma condição pior que um senhor que as conversas na por mês mas manda sem neto se começa a ficar mais relativo é exatamente esse diários que existiam nessa época são contrastantes com o dia a dia né uma coisa que a gente puxa um pouquinho mais para hoje a gente também ainda vem muita contradição né porque hoje em dia também se sabe cada vez ainda mais se fala sobre as desigualdades sociais saúde e muito dificilmente se consegue mudanças
com rapidez neco é que a gente pode agora trazer pra cá e ver com um conceito claro mas com algum tipo de vocês essa palavra pode ser usado o tipo de manipulação desses conceitos de acordo com os objetivos a exigi muito isso você vê hoje na nos diferentes discursos dos diferentes setores todos falam em desigualdades sociais e estratégias de redução das desigualdades sociais entretanto a concepção que está por trás dessa desse discurso é muito diferente se você pegar só para dar um exemplo todo o ideário do banco mundial de como ele trabalha com as políticas
sociais no mundo vai estar presente lá preocupação com a redução das desigualdades mas é uma forma de pensar a questão bastante simplificada que não leva em conta de fato que é que produzem essa desigualdade não é ao passo que nos teóricos da medicina social da saúde coletiva a nossa preocupação em entender esses processos sociais o que é que resulta nessa desigualdade não simplesmente constatar que ela existe e nem tratá lo de uma maneira simplificada para pegar um exemplo assim muito simples que o livro traz temas que serve pra gente ilustrar por exemplo a gente sabe
que fumar faz mal à saúde que provavelmente se uma mãe ou uma uma mulher grávida fuma isso pode trazer consequências mas quando a gente vai somando outras há outras variáveis a gente começa a ver que isso não é linear né essa não linearidade se acha que a coisa mais importante a gente marcar para acabar com essas respostas implícitas com certeza eu acho que se a gente entender os problemas tentando simplificar los a nossa eficácia na intervenção vai ser pequena e esse exemplo que eu trago um livro que você comenta é muito bom nesse sentido cemar
certamente é algo nocivo para a saúde em vários aspectos e nesse aspecto em particular de ser fator de risco para crianças de baixo peso está bastante comprovado só que isso é modulado pela classe social não tem o mesmo impacto sobre a saúde se a mulher fumante é do proletariado é da burguesia porquê porque ela tem outras condições de vida que acabam se combinando positivamente ou negativamente com essa característica do fumar e se eu for tratar dessa questão simplesmente querendo convencer as mães é não fumar eu não vou resolver o problema é claro que isso é
importante mas isso resolve um pedaço o outro pedaço que a desigualdade social ela requer políticas muito mais complexas do que simplesmente convencer as pessoas a não fumar eu acho que a gente não lembra a gente abre o programa falando justamente isso é que os comportamentos individuais eles são importantes são mas eles são apenas uma parte da compreensão desse processo né apartamento de ação né dos determinantes sociais da saúde ea gente percebe que muitas vezes a gente é bombardeado com muda sua maneira de viver porque isso resulta claro que quanto mais saudável a gente conseguir uma
vida melhor mas não basta né a gente não pode ser responsabilizado a esse ponto é exatamente aí está uma das grandes diferenças entre a política adotada principalmente pelos países que têm uma perspectiva mais liberal em relação a esse assunto na questão liberar uma composição política em que os indivíduos por si e em si são responsáveis pelas suas escolhas sem considerar que a sociedade na sua organização o limite para isso você não é completamente livre para escolher como viver a sua vida não é então é onde os lugares não têm acesso a determinados bens não têm
acesso a determinados serviços de saúde por exemplo não é isso que a gente quer chamar a atenção que tá bom tem uma parte que é o comportamento individual eu posso escolher entre fumar muito não fumava uma pouco mas até que ponto eu tenho essa liberdade como um ser isolado no mundo isso não existe mesmo a gente é muito produto que é onde a gente nasceu com quem a gente viveu com que condições que escolhas de fato eu pude fazer em que medida o meu comportamento é mais resultado desse constrangimento do meio e em que medida
é uma escolha racional não é claro que existe em determinadas classes esse grau de liberdade maior de escolher é o mesmo só estão condicionados culturalmente por uma série de coisas não é claro aquilo que eu valorizo aquilo que eu considero que me faz integrante deste grupo que me diferencia enfim todas essas questões elas existem são relevantes para a saúde mas ela sozinha não conta é que muitas vezes não percebe a gente tem essa impressão mesmo de que a gente faz o que quer porque vivemos numa sociedade democrática tudo relativo né a gente acaba sendo muito
mais condicionado do que a gente mas recebe acesso resulta em menor o melhor ou pior salvaltti com certeza esse a gente não leva isso em conta a gente volta pra questões lineares né que dizem se você assim resulta nisso sou sensata resultado aquilo né isso na no dia a dia dos profissionais de saúde você acha que isso já tá entronizado que as pessoas conseguem adiar lidar com os seus pacientes com seus colegas ela já tem essa compreensão eu diria que não apesar disso parecer tão óbvio não é quando a gente começa a mostrar os exemplos
e falar eu diria que a nossa formação como profissional ela não é estímulo você a raciocinar dentro da complexa é muito mais levado a simplificar as questões ea considerar que todo e qualquer caso é tem mais ou menos o mesmo os mesmos condicionamentos e o mesmo desenvolvimento não é matemática não é tecnologia e seu círculo social junto ainda com essa característica biológica que já é muito variável faz com que querida com saúde têm aqui o tempo todo tá se confrontando com esta variabilidade com essa diversidade de situações não é mas nem sempre a gente é
preparado pra funcionar desta forma profissionalmente até propor esse diálogo né e propor esse diálogo mais aberto que não responsabilize quem está na frente do profissional mas que leve a pensar sobre como isso os condicionantes o que que ele tem aquele comportamento não é a gente brinca que a educação e saúde por exemplo durante muito tempo a tradicional educação em saúde na saúde pública era completamente ineficaz porque você propunha que as pessoas tivessem comportamento que elas não podiam ter por exemplo não adianta dizer para alguém lá alemão antes das refeições numa situação em que ele não
tem água encanada dentro de casa é só realizava em um prato colorido com todos os lugares onde eu compro isso como é que eu conservo inclusive pessoas hoje de classes sociais mais desleixados vamos chamar assim têm dificuldade de ter essa alimentação saudável que a gente preconiza porquê porque a vida cotidiana não te permite você come fora de casa você não encontra a variedade de alimentos que você gostar eu precisaria você tem dificuldade mesmo morando no bairro bom se você trabalha o dia todo mora sozinha hora que você chega onde você vai comprar as frutas dos
legumes a tuas coisas frescas que rapidamente se deteriorou mesmo com a geladeira enfim são condicionantes da vida concreta que acabam tendo um peso maior na sua escolha do que simplesmente a sua vontade e não é crime o que a gente lê vai seguir baixo que você pode até concordar e achar o melhor mas daí a fazer tem uma série de outras questões que têm muito a ver com a estrutura social com as políticas mais amplas não é assim você tem condições por exemplo de consumir esses alimentos que a gente considera saudáveis porque é que hoje
a população consome mais açúcares tipo macarrão mesmo feijão que era uma coisa que era o cotidiano do brasileiro prato é do arroz feijão macarrão uma salada investir mais nesse prato nas famílias brasileiras porque culturalmente feijão demora pra cozinha as mulheres hoje trabalham fora elas não têm esse tempo muito mais rápido fazer o macarrão do que fazer o arroz feijão então são coisas que a gente não se dá conta mas que vão se transformando que ter repercussões na saúde hoje você tem por exemplo usando esse exemplo da ue feijão anemia por deficiência de ferro é comum
em todas as classes sociais praticamente em crianças e tem muito a ver com essa mudança de hábito que antes o feijão era uma fonte enorme de aporte de ferro e hoje ela desapareceu desapareceu da da da refeição cotidiana e tudo isso transparente um desafio ainda maior porque essas questões todas não dependem só na área da saúde né o que a gente vai ver melhor no próximo bloco mas aí você volta já [Música] sem letras está de volta conversando sobre o livro como e porque as desigualdades sociais fazem mal à saúde comigo no estúdio do canal
saúde autora do livro rita barradas barata então eu queria falar sobre uma questão que parece é que está um pouco distante mas faz muito parte do nosso tema que são os preconceitos se dedica um capítulo as etnias e outro capítulo as questões das relações de gênero né como é que a gente pode explicar para as pessoas que todo o preconceito faz mal à saúde pois é isso temo nos últimos anos mobilizado muitos pesquisadores na área da saúde quer são temas difíceis de trabalhar em termos de pesquisa empírica mas temos avançado nesse sentido de mostrar que
os preconceitos que a discriminação que toda forma de exclusão de grupos seja por motivos socioeconômica ou seja por motivos de preconceitos de tininha de gênero de religião de preferências sexuais elas acabam produzindo impactos negativos sobre a saúde não apenas daqueles que são discriminados mas também do conjunto da sociedade onde essas práticas são mais freqüentes ou seja todos nós exatos 20 ou 30 não está você pode não ser a vítima da discriminação mas ao viver num ambiente onde isso existe é é como as suas gentes s não dá pra ser feliz tendo uma parcela das das
pessoas ou várias parcelas excluídas deste convívio isso repercute a mesma que você não perceba que você se sinta em unha esses problemas porque você não pertence a nenhum desses grupos que normalmente são discriminados viver numa sociedade onde isso ocorre acaba fazendo mal para a saúde ea evidência já de muitos estudos empíricos mostrando isso a sociedade que são menos desiguais ela em geral têm um nível de saúde melhor para sua população então não é mais só questão individual mas é o conjunto da sociedade você viver num lugar onde se pratica discriminação onde não se respeitam as
diferenças e os direitos das pessoas faz mal pra todo mundo é bom a gente tentar porque às vezes lutas que estão naturalizados ainda né por mais que se tenha avançado em todas as questões relativas às questões dizendo que as questões de etnia ainda se naturalizam muita coisa né desde uma piada simples do que parece inofensiva a tratos violência violência doméstica ou não né que muitas vezes a gente é a violência no méxico é um dos grandes é indicado dores dessa intolerância não é em que ela é muito escondida na sociedade né em briga de marido
e mulher não se mete a colher com o r7 falou isso acaba se permanecendo isso né como se voltando que se sente como se dissesse respeito a todos nós né uma violência ao lado da minha casa diz respeito à minha cara é essa questão do ambiente e do méxico familiar como algo privado e que portanto violar eu que ninguém pode chegar perto e olhar é isso tem favorecido não é muita coisa de violência doméstica contra a mulher contra criança contra idosos em todas as camadas sociais com lances de intensidade de freqüência porém é algo que
afeta a sociedade como um todo não é e aí então a gente chega nessa questão que deixou em aberto que é essas questões todas elas são muito difíceis de serem transformadas só com setor saúde claro que é tradicionalmente a gente vem vendo isso ao longo da história recente do brasil o setor de saúde tem sido praticamente uma locomotiva de transformação apontando agindo né mas a ele segundo determinado momento que ele fica impotente se outras transformações sociais não acontecerem é como pensar sobre isso exatamente acho que esse é um ponto fundamental é não enfrentamento das desigualdades
é inevitável a necessidade de políticas intersetoriais o setor saúde tem uma parcela para fazerem vem fazendo através do sus mas ele sozinho não resolve porque já também temos evidências de outros países que há muito mais tempo têm sistemas nacionais de saúde como a inglaterra em que apesar do acesso a serviços está ampliado para toda a sociedade garantindo você não consegue com isso eliminar aquelas diferenças sociais geradas na própria organização da sociedade então que o sistema de saúde consegue fazer é minimizar não potencialidades a desigualdade não agir discriminando grupos tudo isso é fundamental porém sozinho vai
equacionar o problema vamos precisar de outras políticas nas casas em que a exemplo de país por exemplo em que o sistema de saúde é um outro fator de desigualdade a existe por exemplo estados unidos o sistema de saúde pois é e s1 esse é um assunto bem recente toda todo dia medo da luta do banco pra tentar modificar um pouco o sistema de saúde americano que tentou mas visando considero um amigo viu é porque porque os americanos não acham que o estado deva se responsabilizar por garante acesso aos serviços de prevenção nada disso porque eles
consideram que as pessoas por seu próprio esforço devem ter renda suficiente para comprar esses serviços é essa é a visão do ponto de vista cultural daquele povo é que eles tentaram vender para o mundo inteiro não é como fazer isso realmente estava certa eo serviço de saúde acaba reforçando a desigualdade na medida que ele exclui uma parcela muito grande da população seja por semih grante seja por ser negro seja por ser mulher migrante negro enfim é o serviço acaba funcionando como uma caixa de repercussão das desigualdades que estão na sociedade consegue então fazer um papel
de minimizar isso através da saúde aqui com o sus a gente está buscando exatamente isso nós reconhecemos que a nossa sociedade profundamente desigual mas nós politicamente céus saúde direito uma pessoa não pode deixar de ter assistência porque ela é pobre ou porque ela é negra ou porque ela é mulher então o sus na verdade ele é um esforço no sentido de ser uma política social ampla para tentar compensar nós sabemos que não vamos resolver só através do sus mas se ele puder ampliar o atendimento e não reproduzir na atuação dos serviços essas discriminações ele vai
ajudar a pelo menos corrigir de mim esta semana eu acho que o setor saúde ele tem funcionado muito isso é como a apontar os locais os estrangulamentos essas desigualdades para que haja realmente uma transformação maior né e voltando aos princípios do sus né universalidade integralidade e eqüidade é atender a todos até de todas as questões e equidade que eu acho que é um conceito tão importante quando a gente fala de desigualdade né é como é que ele pode explicar e cuidar e equidade é o mais difícil de todos não é porque qualidade é um princípio
que a primeira formulação dela tá lá maior estoque eles que a idéia de que você não deve se deve pedir a cada um de acordo com as suas capacidades e com as suas possibilidades e essa é a idéia do sul eu não vou dar igual para todos eu posso dar mais para quem precisa mais e aí é que está o desafio não é a idéia da igualdade é mais simples se a gente pensar em dividir o que temos por todos mas isso não resolve o problema dos jovens e outros já têm menos silber igual pra
todo mundo num nessa situação inicial então a equidade o desafio grande é esse que está mais precisa receber mais em fazer essa aritmética nem sempre é fácil é fica às vezes parece até contraditório né criamos então as pessoas e tratados desigualmente sim vão ser tratados desigualmente de acordo com as desigualdades né isso parece contraditório com um princípio de igualdade igualdade no aprendizado de justiça social não é eu acho que seu livro me logo no início dessa claro né igualdades e diferenças são muito bem-vindas netter que elas não sejam frutos de justiça justiça é esse é
o ponto central não estamos falando que queremos uma sociedade todo mundo igual é muito chato né nós queremos justiça que as pessoas não tenham menos por serem membros de determinados grupos portarem determinada condição social e até para que elas tenham possibilidade de serem diferentes né eu acho que quando você elimina as desigualdades sociais as pessoas podem ser diferentes e isso não vai implicar em ter mais ou menos saúde exatas dissuadida diferença é não discriminar tem a ver com isso e queria ser transparente hoje a eu trouxe eduardo galliardo nosso que conterrâneo mario draghi mas ele
parece tão brasileiro né ele conta histórias muito interessantes nesse livro pequenas histórias sobre os vários países da américa é muito interessante muito bem escrito como sempre perdendo tem uma tradição também de lutar contra as dificuldades nem eu acho bom ver que a nossa briga não é com o tema e de uma forma fluida nelson ele é uma linguagem que é quase poesia na hora sendo prós e brigadistas pela presença aqui pelas coisas eu é que agradeço esta oportunidade e programas em seletas resultado de uma parceria entre o canal saúde e editora fiocruz se você quiser
entrar em contato conosco e mandar sua crítica ou sugestão de leitura nosso telefone 0800 701 8122 a gente vê no próximo programa ela vai entrar em contato com ele flávio cruz acesse www pontofrio cruz ponto br barra editora ou ligue 21 3882 9007 [Música] [Música] [Música] [Música] [Música] [Música]
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