Imagine um lugar onde gigantes do mar vão para morrer. Uma praia que se estende por quilômetros, não coberta por areia dourada, mas por esqueletos de aço enferrujado. Bem-vindos à Lang, na costa noroeste da Índia, estado de Gujarate.
Este não é um porto comum, é o maior cemitério de navios do mundo. Mais de 1/ terço de todos os navios cargueiros, petroleiros e até mesmo antigos transatlânticos aposentados do planeta encontram seu fim aqui, nesta paisagem surreal e perigosa. Mas por que aqui?
O que atrai essas enormes embarcações para esta remota costa indiana? E qual o custo humano e ambiental por trás da reciclagem desses colossos? Nesse vídeo imersivo do origem curiosa, vamos mergulhar fundo na história e na realidade de Alang.
Vamos desvendar os segredos por trás do processo de desmanche, os bilhões de dólares envolvidos, a vida precária dos milhares de trabalhadores e os graves riscos que eles enfrentam diariamente. Eu sou a Talita e hoje iremos conhecer a fascinante e sombria origem do aço reciclado que pode estar mais perto de você do que imagina. [Música] Mas como exatamente o navio gigante, pesando dezenas de milhares de toneladas, acaba encalhado nesta praia?
A resposta está em uma combinação única de fatores geográficos, econômicos e, infelizmente, regulatórios. Tudo começa quando o navio chega ao fim de sua vida útil, geralmente após 25 ou 30 anos de serviço. Manter e operar uma embarcação antiga torna-se excessivamente caro.
Reparos constantes, alto consumo de combustível e novas regulamentações marítimas tornam a aposentadoria inevitável. Para os proprietários, a opção mais barata e lucrativa não é uma reforma, mas sim a venda para desmanche. E é aí que a entra em cena.
Por que aqui primeiro as marés, o Golfo de Canfa, onde a está localizada, possui uma das maiores variações de maré do mundo. Durante a maré alta, a água sobe drasticamente, permitindo que os navios, mesmo os maiores super petroleiros, naveguem o mais próximo possível da costa. Os navios são deliberadamente encalhados na lama da praia em alta velocidade, um método conhecido como Beachin.
Quando a maré rqua, ela deixa para trás essas estruturas colossais, prontas para serem desmontadas. A inclinação natural da praia também facilita esse processo. Outro fator crucial é a economia.
A mão de obra na Índia é significativamente mais barata do que nos países desenvolvidos, onde a indústria de desmanche existia anteriormente, como Estados Unidos e Europa. Além disso, as regulamentações ambientais e de segurança em ALang, embora tenham visto algumas melhorias recentes, ainda são consideravelmente menos rigorosas do que as normas internacionais exigidas em estaleiros europeus ou americanos. Isso reduz drasticamente os custos operacionais para os estaleiros de desmanche.
Uma vez encalhado, o trabalho pesado começa. Cabos de aço grosso são presos ao navio e guinchos potentes, ancorados em terra começam a puxar o gigante ainda mais para dentro da praia, centímetro por centímetro, a cada maré alta. É um processo lento, árduo e perigoso, mas essencial para posicionar o navio para a fase final.
O desmantelamento peça por peça. O desmanche de navios em Alangual impressionante, é também uma indústria multibilionária. Mas como funciona essa economia?
Quanto vale o navio velho? E quem lucra com isso? Para o proprietário do navio, vendê-lo para lang pode render uma quantia significativa.
Dependendo do tamanho e do tipo da embarcação, o valor pago por tonelada de deslocamento leve, LDT, basicamente, o peso do navio sem carga, combustível ou tripulação, pode chegar a centenas de dólares. Um grande navio cargueiro pode facilmente render milhões de dólares apenas em aço, por estaleiros de Alang pagam mais. Como vimos, os custos operacionais são menores devido à mão de obra barata e regulamentações menos rígidas.
Isso permite que eles ofereçam um preço mais alto pela sucata, tornando a Lang o destino mais atraente financeiramente para os navios em fim de vida. Estima-se que vender um navio para lang pode render o dobro do que se obteria em um estaleiro turco e ainda mais em comparação com o europeu. Mas o valor não está apenas no aço, que compõe a maior parte do peso do navio.
Praticamente tudo a bordo é recuperado e revendido. Motores, geradores, mobília, equipamentos de cozinha, eletrônicos, cabos de cobre, alumínio, latão. Nada é desperdiçado.
Cada peça tem um destino no vasto mercado de segunda mão que floresce ao redor de Alang. O aço recuperado em Alang é uma fonte vital de matéria-pra a indústria siderúrgica indiana, reduzindo a necessidade de minério de ferro importado. Estima-se que uma parte significativa do aço consumido no país venha dos navios desmontados aqui.
Essa indústria alimenta uma cadeia econômica complexa, sustentando não apenas os estaleiros, mas também transportadoras, comerciantes de sucata e aciderúrgicas. No entanto, essa economia bilionária tem um lado sombrio. Enquanto os proprietários de navios e os donos dos estaleiros lucram alto, a vasta maioria dos trabalhadores que realizam o trabalho pesado e perigoso vive em condições de extrema pobreza.
A praia de Alang não discrimina. Ela recebe uma incrível variedade de embarcações, verdadeiros gigantes que navegaram por todos os oceanos do mundo. Que tipos de navios encontram seu fim neste cemitério marítimo?
Os mais comuns são os grandes navios cargueiros e graneleiros que transportam contêineres, minérios, grãos e outras commodities pelo globo. Super petroleiros VLCCS e ULCCS, que carregam milhões de barris de petróleo, também são frequentemente vistos aqui. Desmontar essas estruturas massivas, com seus múltiplos tanques e complexos sistemas de tubulação, é uma tarefa monumental.
Ocasionalmente, embarcações mais raras e até históricas chegam a Langue. Navios de guerra desativados, navios de pesquisa, plataformas de petróleo e até mesmo porta-aviões já foram desmontados aqui. Embora o processo para navios militares possa envolver etapas adicionais de desmilitarização antes da chegada, cada tipo de navio apresenta seus próprios desafios e perigos específicos durante o desmanche.
Petroleiros podem conter resíduos de óleo inflamáveis. refrigerados podem ter gases perigosos em seus sistemas de isolamento. Em embarcações mais antigas, especialmente navios de guerra e de passageiros construídos antes dos anos 80, estão repletas de amianto e outros materiais tóxicos.
Essa diversidade de embarcações reflete a história da navegação mundial nas últimas décadas. Cada casco enferrujado em Alang conta uma história de viagens, comércio e, finalmente, obsolescência. Mas as histórias mais urgentes e muitas vezes trágicas são as das pessoas que desmontam esses gigantes.
Por trás dos lucros bilionários e das toneladas de aço reciclado, existe uma realidade humana dura e muitas vezes invisível. São os milhares de trabalhadores que arriscam suas vidas diariamente para desmontar esses gigantes de metal. Quem são eles e como vivem?
A grande maioria dos cerca de 15. 000 trabalhadores de Alang. Embora alguns números cheguem a 40.
000 dependendo da época, não é da região de Gujarate. São migrantes internos, vindos principalmente dos estados mais pobres do norte e leste da Índia, como o Birrar e o Tar Pradesh. Eles deixam suas famílias para trás em busca de qualquer trabalho, mesmo que perigoso e mal pago.
As condições de trabalho são brutais. Rornadas de 10 a 12 horas por dia, seis ou s dias por semana, sob um sol escaldante ou em meio à lama. O pagamento é ínfimo, muitas vezes apenas alguns dólares por dia, o suficiente apenas para sobreviver.
A segurança é uma preocupação secundária. Equipamentos de proteção individual, como capacetes, luvas, botas de segurança e máscaras respiratórias, são raros ou inadequados. Muitos trabalham descalços ou de sandálias, manuseando metal pesado e cortante.
Fora do horário de trabalho, a vida não é muito melhor. Os trabalhadores vivem em favelas superlotadas que surgiram ao redor dos estaleiros. Moradias improvisadas feitas de restos de madeira e metal, sem acesso adequado à água potável, saneamento básico ou eletricidade.
Doenças se espalham facilmente nessas condições. Acidentes são terrivelmente comuns. Quedas de grandes alturas, esmagamentos por peças de metal que despencam.
Explosões causadas por gases residuais em tanques ou cortes profundos são riscos diários. Incêndios podem prender trabalhadores dentro dos cascos. Embora os números oficiais sejam difíceis de obter, organizações de direitos dos trabalhadores relatam dezenas de mortes e centenas de feridos graves todos os anos em Alang.
Embora algumas melhorias tenham sido implementadas nos últimos anos, como treinamentos básicos de segurança e a inauguração de um hospital mais próximo, a realidade para a maioria dos trabalhadores de Alang continua sendo de extrema precariedade e risco constante. Eles são a força motriz dessa indústria, mas pagam um preço altíssimo pela reciclagem dos navios do mundo. Além do custo humano direto em acidentes e condições precárias, o desmanche de navios em Alang cobra um preço alto do meio ambiente e da saúde a longo prazo dos trabalhadores e da comunidade local.
Quais são esses riscos ocultos? O próprio método de beaching é inerentemente poluente. Resíduos de óleo combustível, lubrificantes, água de lastro contaminada e outras substâncias tóxicas são liberados diretamente no ambiente marinho e na zona intertidal durante o encale e o desmonte.
A lama da praia de Alang está saturada com anos de contaminação por metais pesados, como chumbo, mercúrio e cadmio, além de olhos e graxas. O maior perigo, no entanto, vem dos materiais perigosos presentes na estrutura dos próprios navios. O amianto, amplamente utilizado como isolante térmico em navios mais antigos, é um carcinógeno conhecido.
Durante o desmonte, fibras microscópicas de ameianto são liberadas no ar e inaladas pelos trabalhadores, muitos dos quais não têm máscaras adequadas. Isso leva a doenças pulmonares graves, como as bestose e mesotelioma, que podem se manifestar anos depois. Outros vilões químicos incluem os PCBs, bifenilos policlorados usados em equipamentos elétricos e fluidos hidráulicos, que são altamente tóxicos e persistentes no ambiente.
Tintas anti-incrustantes aplicadas nos cascos para evitar o crescimento de organismos marinhos contém tributilestanho TBT, uma substância extremamente nociva para a vida marinha, mesmo em concentrações muito baixas. Metais pesados de tintas, baterias e componentes eletrônicos também contaminam o solo e a água. O corte de metal com maçaricos liberam fumaças tóxicas no ar.
A queima céu aberto de plásticos, isolamentos e outros materiais não metálicos para extrair metais valiosos também contribui para a poluição atmosférica. A falta de instalações adequadas para o gerenciamento e descarte seguro desses resíduos perigosos agrava o problema. Muitas vezes, materiais como ameianto são simplesmente enterrados ou até revendidos no mercado local, espalhando o risco.
O impacto ambiental se estende além da área imediata dos estaleiros, afetando a vida marinha no Golfo de Canfa e potencialmente a saúde das comunidades que dependem da pesca ou vivem nas proximidades. É um ciclo vicioso onde necessidade econômica entra em conflito direto com a saúde humana e a preservação ambiental. Alang.
Um nome que evoca imagens de destruição e renascimento. O maior cemitério de navios do mundo é um lugar de extremos, lucros bilionários e pobreza extrema, reciclagem essencial e poluição devastadora, engenhosidade humana e risco de vida constante. Vimos como as marés únicas e a economia globalizada transformaram esta costa indiana no destino final para os gigantes dos mares.
Acompanhamos o processo árdo e perigoso do desmanche, onde cada peça de metal é recuperada em uma busca incessante por valor. Não há dúvida de que a reciclagem de navios é necessária. O aço recuperado em Alang alimenta indústrias e reduz a necessidade de extrair novos recursos do planeta.
é um elo crucial na economia circular, mas como vimos, o custo dessa reciclagem, da forma como é feita em Alang é imenso. O custo humano, pago com a saúde e a vida dos trabalhadores migrantes que realizam o trabalho mais perigoso em condições precárias e o custo ambiental com a contaminação tóxica do solo, da água e do ar, deixando o legado de poluição para gerações futuras. Existem esforços para melhorar as condições?
Sim, pressões internacionais, ações de ONGs e algumas iniciativas do governo indiano e do Gujara Maritim Board levaram à adoção de códigos de reciclagem e algumas melhorias na infraestrutura e segurança. Alguns estaleiros em Alang buscam certificações internacionais, mas a realidade no terreno, para muitos, ainda está longe do ideal. Aang nos força a questionar o preço do progresso e do consumo global.
De onde vem os materiais que usamos? Quem paga o verdadeiro custo dos produtos baratos e do transporte marítimo que sustenta a nossa economia? A história de Alang é complexa, sem respostas fáceis, mas exige nossa atenção e reflexão.
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Eu sou Talita Briorne e aguardo você no próximo vídeo.