A independência e a formação do estado e da Nação (Aula 11, parte 2)

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[Música] [Música] além da ideia de que a história do brasil de um modo geral ela é desprovida de grandes acontecimentos de grandes personagens porque tudo isso soaria como uma história oficial mentirosa distorcida é enganosa nós temos especificamente no que diz respeito à independência uma aceitação muito grande inclusive da parte da academia de que tratou-se e se de um processo pacífico sem grandes convenções compara se então de modo formal o processo de independência do brasil com outros processos que ocorriam na mesma época em outras regiões da américa de colonização ibérica e constata se a ausência de
grandes batalhas de grandes movimentações militares de grandes derramamentos de sangue com aqueles que ocorreram por exemplo nas lutas de independência da venezuela em nova granada no peru e no chile na nova espanha com a formação do méxico uma comparação for mal nos mostra que o processo de independência do brasil foi muito menos militarizado foi muito menos belicoso e foi muito menos sangrento do que o de outras regiões da américa no entanto eu já tive a oportunidade nessa sala que eu não lembro a propósito se foi você que perguntou um livro que a pergunta saiu daqui
confiando que seis então sempre mais ou menos nos mesmos lugares não quer a pergunta saiu mais - daqui a proposta da escravidão colonial do brasil em comparação com a escravidão colonial das 13 colônias da américa do norte foi você quem falou isso né e aí tem gente que argumenta então não é que a escravidão no brasil ela foi menos dura é os castigos eram mais brandos do que na américa do norte isso tem a ver com as taxas de alforria isso tem a ver com algumas modificações históricas e eu me lembro de ter argumentado de
maneira bastante geral né pela necessidade de nós entendermos os processos históricos pelo que eles foram não pelo que eles não foram lembra disso né então o que nós ganhamos argumentando que a independência do brasil não foi tão violenta quanto em outros lugares a um coeficiente de violência esperado para processos de independência em regiões como reais a um coeficiente um volume de líquido sanguíneo a ser derramado em determinadas ocasiões de modo a tipificar tais ocasiões como mais importantes do que outras não claro que não assim se nós deixarmos essa comparação formal de lado nós poderemos valorizar
né as guerras de independência do brasil porque ela existe por que elas existiram ora se o brasil não era uma unidade antes da independência não era uma unidade ele não era uma unidade estável não era uma unidade plenamente viável não era unidade consolidada obviamente né mas era digamos uma unidade em construção com diferentes projectos de construção dessa unidade o mais bem sucedido deles foi o mais recente em que começa a surgir 1820 toma corpo mesmo em 1821 1822 e que pensa o brasil comunidade isto é como uma organização política desmembrada de portugal autônoma independente soberana
esse é um projeto recente se não havia nada disso antes hum não há porque se esperar que o projeto de independência isso é a proposta então de que o brasil se separasse de portugal e do restante do reino unido português acontece de imediato com ampla adesão de todo mundo que deveria fazer parte desse brasil tradicionalmente o brasil é parte do império português e essas pessoas que aqui estão são em geral portugueses não são brasileiros por que então a declaração de independência que é menos importante no sete de setembro e 22 e mais importante entre outubro
e dezembro de 1822 quando a então em outubro a aclamação pública de pedro 1º como imperador do brasil é em dezembro a coroação de pedro primeiro imperador do brasil esses são dois marcos mais importantes do que o tal do grito do ipiranga nem sabe exatamente se o grito existiu e se existiu como é que ele foi os testemunhos não são suficientes não são definitivos há uma tremenda mitificação em torno desse grito do ipiranga como sempre a notificação nessas reinvenções de fenômenos históricos fundadores da nacional das nacionalidades só acontece em toda parte não é obra exclusiva
do brasil distorcer a realidade para inventar um acontecimento grandioso em tudo quanto à história nacional existem esses acontecimentos distorcidos ideologizados inventados reinventados para ser aquilo que eles não foram de todo modo seja na declaração que a gente não sabe se existe mesmo seja na aclamação seja na coroação não cria se de imediato adesão de todo mundo que deveria fazer parte do império do brasil cria-se um império do brasil esse império tem amplo apoio de alguns grupos não têm apoio de outros grupos têm mais apoio em algumas regiões do brasil do que em outras regiões do
brasil sérgio buarque de hollanda grande historiador na nossa história e autor de um texto cuja leitura foi recomendada para a aula de hoje é um capítulo da história geral da civilização brasileira intitulado a herança colonial sua desagregação dentre outros acertos afirma o dique no brasil 11 as aspirações de independência e de unidade não nasceram juntas isto é uma coisa é se separar de portugal a independência outra coisa é a construção são de uma unidade que não é natural nessa separação que não é consensual nessa separação que não é inevitável nessa separação há que se construir
uma unidade nacional a partir da independência essa construção é rápida conforme eu disse a vocês lá no período regencial final do período regencial já não há grandes ameaças essa unidade nacional a essa associação entre estado e nação mas são duas coisas distintas são duas coisas que nascem em épocas distintas que obedeceram a ritmos de desenvolvimento histórico distintos até se encontrarem em fim rapidamente após a independência assim sendo houve guerras de independência do brasil por exemplo na província um era mais capitania na província da bahia a província do maranhão na província do pará e na província
cisplatina essas quatro províncias que integravam o reino do brasil desde 1815 elas se vêem divididas com a oficialização do império do brasil existem grupos que apóiam então o governo do rio de janeiro o novo governo do rio de janeiro de pedro 1º e tem grupos que não vê nenhum motivo para apoiar pedro 1º e que preferem continuar do jeito que estava antes a província isto é como parte do reino unido português porque o brasil não era uma unidade anteriormente já expliquei isso a vocês assim é assim o fato de nessas províncias de imediato a correlação
de forças pender para a não adesão ao império do brasil obrigou o governo de pedro primeiro governo do rio de janeiro a usar da força para conquistar a adesão dessas províncias a mobilização então de tropas de exércitos de inclusive de forças mercenárias elas foram mobilizados então nessas quatro províncias houve guerra houve inclusive batalhas específicas que resultaram na derrota dos grupos não há desistências na derrota daqueles que não queriam o império do brasil por que então uma guerra de independência na bahia há por que o brasil não se construiu então sem a bahia porque tinha que
fazer parte a baía do império do brasil porque do ponto de vista então o governo do rio de janeiro a bahia é uma província muito importante é ter um segundo posto mais importante e todo o brasil tem uma alfândega que arrecada muito dinheiro tem um número de um fim população muito expressivo e tem uma economia pujante esses são fatores então que criam um grande interesse na adesão da província da bahia a esse império do brasil de início o império está muito bem garantindo no rio de janeiro em são paulo em minas gerais e no rio
grande do sul são essas quatro províncias as que de imediato constituem essa unidade política a principal resistência então as principais vendo essas outras quatro províncias mesma coisa no maranhão mesma coisa no pará guerras de independência não teve tanto o exército como na independência da venezuela os exércitos comandados pelo bolívar nas batalhas e boyacá a 1819 em carabobo 1.121 sim o número é menor mas por que deveria ser maior o número para ser considerado uma guerra de independência se efetivamente exército se enfrentaram a quantidade de combatentes não esvazia o caráter desses eventos como sendo guerras está
claro isso pessoal sim temos então o ensino de história bastante enviesado bastante regionalizado no brasil está mudando ensino de história melhorando em termos de conteúdo também depois de anos e anos de esforços e universidades quando professores discutindo conteúdos de ensino né faz pouco tempo que é o nosso departamento aqui têm disciplinas voltadas ao ensino de história é é um fenômeno relativamente recente é coisa de cinco ou seis anos mas já é um indicativo muito forte então desses esforços que são feitos para submeter o ensino de história estudos acadêmicos isso é muito importante enfim um conjunto
de outros fenômenos mais amplos da nossa sociedade eu arrisco dizer que o ensino de história nesse país tem melhorado em termos de conteúdo condições de efetivação desse ensino e já uma outra discussão mas hoje em dia há muito mais pensamento crítico há muito mais pluralidade de interpretações e alguma aproximação entre a academia e o ensino não especializado digamos tudo isso tem gerado então um ambiente mais favorável à introdução de conteúdos que tradicionalmente são ignorados nessa esfera de produção do conhecimento eu me refiro então ao aprendizado da independência como sendo de várias independências isto é de
contextos regionais específicos nenhum deles completamente isolado obviamente todos eles em articulação mas com textos com especificidade ninguém mais está autorizado então achar que em 7 de setembro de 1822 dom pedro berrou independência ou morte a independência estava pronta porque na bahia então comemora-se a independência do brasil no dia 2 de julho refere se a 2 de julho de 1823 a derrota dos não exista um marco então da adesão da província da bahia ao império do brasil sabe é só fazer um pequeno parêntese uma dessas crônicas bizarras a nossa vida cotidiana até um tempo atrás o
aeroporto de salvador se chamava aeroporto 2 de julho em memória então a essa independência do brasil na bahia veja curiosamente a independência à liberdade e tudo mais quando foi a um triunfo da força do rio de janeiro em detrimento de grupos regionais de grupos provinciais na própria bahia até um tempo atrás então é proporcional 2 de julho e aí a coisa de uns 10 anos atrás só essas minhas datas são sempre muito impreciso sábado falou uns dez anos pode ser 15 talvez me perdoe o aeroporto 2 de julho virou aeroporto luís eduardo magalhães né antigamente
nós diríamos que o luís eduardo magalhães era o filho do acm só que como acm já passou dessa pra melhor algum tempo renovando a descrição diríamos que luís eduardo magalhães era o pai do acm neto o novo prefeito de salvador esses marcos públicos esses nomes de logradouros é essa presença simbólica de um imaginário histórico nacional poderia ser pretexto para um para a construção de um conhecimento crítico em torno da da história do brasil da história do mundo da história de qualquer país em qualquer história olhando para aquilo lá nós poderíamos nos perguntar o que aconteceu
em 2 de julho então nós vamos chamar 2 de julho agora chama luis eduardo magalhães tudo bem vai história mais recente nã está em toda parte no brasil em todo canto não tem uma cidade que você visite que não tem lá uma rua uma praça da independência uma rua ou avenida o parque sete de setembro uma praça rua avenida da república tem pedro 1º em todo canto é então só essas esses esforços deliberados que foram sendo feitos ao longo dos séculos para cravar né marcos históricos né no dia a dia das pessoas é uma maneira
muito tradicional e por vezes eficiente então de se reproduzir de modo oficialesco uma versão da história por que não aproveitar esses marcos oficiais para a desconstrução dessa própria história na sua dimensão oficialesco né não visitem lassila olinda por exemplo na rua da independência em olinda né só que pernambuco tem uma política toda a própria nesse contexto da independência tinha feito uma revolução republicana em 1817 fará uma outra revolução em 1824 contra os desmandos centralizadores do governo de pedro 1º no rio de janeiro aqui independência se refere aquela placa numa rose em olinda por exemplo independência
ou a independência se refere o feriado de 2 de julho na bahia são pretextos justamente pra gente desconstruir essa história podem ser tremendamente aproveitados por professores é por jornalistas é por todo mundo que quiser conhecer minimamente a história dá pra virar coisa do avesso utilizando os próprios mecanismos de construção de uma história tradicional isso costuma ser melhor do que destruir esses marcos vamos lá falar dos bandeirantes já foi um pouquinho mais sobre a expansão territorial no primeiro semestre também falei disso né aí nós temos lá no monumento às bandeiras no ibirapuera uma versão oficial leica
embora dotada de grande valor artístico na minha modesta opinião então aquela obra victor brecheret instalar uma versão oficial da história do brasil via são paulo bom então os bandeirinhas não foram nada daquilo semanas foram assassinatos de índios caçadores legal e aí que a gente vai fazer a gente vai dinamitar o monumento às bandeiras o projeto meio punk né meio não dá para levar a sério aproveitemos um marco para desmontar aquela história e colocar os pingos nos devidos isso os devidos pingos nos is a independência então tem um monte de pretextos para a gente fazer isso
no que diz respeito mais especificamente a província cisplatina é ela corresponde territorialmente grosso modo atual república oriental do uruguai só que desde 1810 a formação de uma junta de governo independente buenos aires por conta do colapso da monarquia espanhola a qual eu me referi na aula passada desde 1810 a uma grande indefinição em torno do pertencimento daquilo que genericamente se chamava de banda oriental está à margem oriental do rio uruguai a um organismo político tem gente que quer continuar como parte da monarquia mesmo que a monarquia seja em colapso espanhola tem gente que quer que
aquilo faça parte então do governo de buenos aires o governo joanino do rio de janeiro desde 1808 olha com muita atenção para essa região um em duas ocasiões invadir ocupa militarmente essa região e tenta anexá la como uma província do brasil essa província formalmente criada em 1921 com o nome de província cisplatina cheia de opositores cheia de conflitos em torno dela cheia de fissuras pouquíssimo a possibilidade de unanimidade como quer que seja em 1822 essa província cisplatina é pode se tornar uma província do brasil mas pode também continuar a ser uma província do reino português
assim como pode se tornar no outra coisa que não essas duas possibilidades assim a província cisplatina só adere formalmente ao império do brasil em 1924 mas a guerra entre o brasil e buenos aires que não existe argentina de 25 a 28 termina sem vencedores e com a formação de uma república independente a república do uruguai mas durante esse tempo de fato então houve disputas e houve guerra de independência do brasil na província cisplatina coisa também pouquíssimo estudado né então a justificativa para a ausência disso os conteúdos formais escolares porque a academia sabe muito pouco também
sobre essas guerras de independência do brasil na província cisplatina mais sobre a baía um pouco menos sobre o pará muito menos sobre o maranhão muitíssimo menos sobre a província cisplatina são histórias ainda equipes vão ser muito revisitadas precisam merecer muitos investimentos da parte dos estudiosos em geral vocês vejam que com isso o pessoal estou abrindo um leque de possibilidades né de se entender né a independência do brasil com grau de importância talvez pouco usual é e com uma pluralidade de situações isso também nos conduz à cena internacional porque afinal de contas é muito frequente afirmar
se que a independência do brasil resultou numa grande singularidade quase que uma excentricidade ou uma aberração histórica né o único império entre as repúblicas da américa né a única monarquia é em meio ao governo os republicanos isso não é verdade o méxico se torne independente 1821 também com a criação de um império o império mexicano que deixa de existir em 1822 uma experiência fhemeron mas os protagonistas dessa experiência não tinham nenhum motivo para afirmar que eles estavam brincando de fazer um império que daqui a um ano eles iam enfim acabar com esse império e não
se tornar aquilo que o destino lhes reservava uma república houve uma outra experiência monárquica então na américa e além disso o fato do brasil ter se consolidado como um estado monárquico não retira desse contexto americano não retira desse contexto internacional cada independência uma não existe correlação perfeita entre esses movimentos que ocorrem na américa portuguesa e na américa espanhola mas todos eles possuem muitas conexões eles influenciaram reciprocamente eles não são ambientes completamente isolados completamente blindados a influências externas todos eles se cruzam o fato de um ser diferente do outro mostra simplesmente uma obviedade a isso a
história nunca se repete tal qual cada espaço tem um espaço cada tempo eu tenho cada fenômeno é um filme [Música]
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