Gutenberg e A Máquina Que Nos Criou - Documentário (2008)

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Amador da Inteligência Artificial
(Legenda no botão) Tradução: Rico Ferrari - Stephen Fry constrói uma cópia da prensa de tipos móvei...
Video Transcript:
Eu sempre fui um apaixonado por livros. Na verdade, creio que são uma das coisas mais importantes jamais criadas um dos pilares de nossa civilização. Então, quando me sugeriram fazer uma jornada em busca do gênio que inventou a imprensa, aceitei na mesma hora. - Jesus Cristo, é ela mesmo? - Sim, é ela. Esse foi o homem que iniciou a primeira revolução de mídia e abriu-nos as janelas do mundo contemporâneo. Mas sua história está envolta em mistério, então, para esclarecer alguns pontos decidimos fazer uma experiência e construir nossa própria impreSssora medieval. "Tão lindo!". Isso significa meter a
mão na massa com ferramentas e tecnologia do século 15. Assim não, Stephen! E produzir alguns dos ingredientes com minhas próprias mãos. O que me levou de volta às aulas de educação artística, onde eu era um desastre. O que depois se comprovou absolutamente verdadeiro. "Me sinto conectado a isto, de alguma maneira, só pelo fato de fazê-lo." Então aqui está a história um pouco mais mão-na-massa-do-que-eu-esperava de Johannes Gutemberg e sua máquina maravilhosa. A Máquina Que Nos Criou Bem, se você for tão velho quanto eu, deve se lembrar disso. O Kit de Impressão John Bull. Produto da Inglaterra.
Este foi meu primeiro contato com a arte da impressão, verdade. E, mesmo simples como são, esses bloquinhos de borracha aqui traduzem tudo o que é necessário saber sobre impressão com tipos móveis. Toma-se a tinta... Oh, aqui está. E vou sujar meus dedos logo, logo. Há dezenas de letras diferentes e pode-se rearranjar o conjunto em qualquer sequência desejada numa destas, que, creio, se chama 'forma'. E, então, quando você imprime... O conteúdo é exatamente o mesmo, todas as vezes. Você pode imprimir centenas, dezenas, milhões de páginas absolutamente idênticas. E aqui está. Claro que o fato de que
estes são tipos móveis me possibilita mover as letras em qualquer arranjo, criar outras palavras, como num jogo de Scrabble, então vamos misturá-las e ver o resultado? Aí está. ("Galinhas de estimação fritas") Então porque a humanidade levou tanto tempo para juntar esses elementos tão singelos em uma máquina que pudesse fazer livros? O salto quântico foi dado por um homem chamado Johannes Gutenberg, há mais de 500 anos atrás. Sua máquina de imprimir foi o mais revolucionário avanço tecnológico desde a invenção da roda. Vivemos ainda envoltos em suas consequências, como se pode ver aqui, no subsolo da Biblioteca
Britânica, onde há pelo menos uma cópia de todo e qualquer livro em inglês. Sim, há quase vinte quilômetros de estantes aqui E mais um número enorme adicionada todos os anos já que 3 milhões de novos livros saem dos prelos em inglês, e sobre mim, todos os leitores esperando seus livros não fazem a menor idéia do labirinto de estantes aqui. Foi a invenção da imprensa que iniciou isso tudo, tornando a produção em massa de livros possível pela primeira vez na História. Passados poucos anos de sua invenção, já havia milhões de livros circulando. Na medida em que
circulavam, levavam sua preciosa carga de novas idéias ou teorias, filosofia ou propaganda a todo e qualquer canto da Europa e além, plantando as sementes do grande reflorescimento cultural que chamamos Renascença. Os frutos do invento de Gutenberg podem ser visto por toda parte,S mas há mais que isso, pois tudo aquilo que baseia nossa cultura e civilização começou com este invento de Gutenberg. E este era o seu carro-chefe - um dos primeiros e mais refinados livros impressos usando sua nova máquina. Para o olhar contemporâneo, a Bíblia de Gutenberg abre uma janela para um mundo desaparecido de monges
e monastérios. Mas, quando de sua primeira aparição, na década de 1450, foi visto não como um souvenir do passado, mas como um farol iluminando o futuro, e provando que uma nova era da informação estava acontecendo na Europa, impulsionada pelo poder da palavra impressa. Eu quero descobrir como e porque Gutenberg inventou sua máquina. Para responder a pergunta "como?", Estou planejando um experimento único. E este é o laboratório em que o experimento terá lugar. Vamos entrando. Essa oficina no coração da Inglaterra pode não parecer muito hi-tech - mas só é assim pois a tarefa que tenho em
mente requer materiais e técnicas do século 15, e a ajuda de um expert quando o assunto são os pioneiros da imprensa. <i>Ecce homo: Alan May.</i> - Então esse é o lugar em que você tentará replicar uma prensa de Gutenberg, certo? - Essa é a idéia. Mas não qualquer prensa. Eu quero uma igual à de Gutenberg. E funcionando. Nenhuma dessas primeiras máquinas chegou até nós. E ninguém jamais descobriu uma ilustração ou esboço de como elas realmente eram. Então Alan tem menos pesquisa pela frente. - De fato, essencialmente, este é um território inexplorado. - Um conto de
mistério, se preferir. - A mais antiga ilustração de uma prensa está em A Dança Macabra, de 1499. - Mais de 50 anos depois que Gutenberg começou seu negócio. - Então as coisas evoluiram rápido... - Exatamente. - Acho que esse período inicial foi realmente revolucionário. - As coisas mudavam o tempo todo. Mais ou menos como a Internet agora. - Foi mesmo um 'bum!' - Sim Alan acredita que a prensa de Gutenberg guarda algumas semelhanças com máquinas posteriores. "Todas as impressoras até por volta do ano 1800..." "tinham uma parte central que descia, imprimindo os tipos." - Havia
um pistão e uma prensa. - E outra coisa fundamental em qualquer máquina desse tipo é que é necessário um meio de transportar a superfície impressa e o papel sob a prensa. - Então você tem o papel se movendo nesse sentido e então vem a prensa, como você diz... Descendo aqui e ela imprime o ... " Mas há uma diferença crucial entre o original de Gutenberg e as chamadas 'prensas comuns', como a em que esse modelo se baseia." - Para imprimir nesse tipo de equipamento, se põe duas folhas nesta pedra aqui. - Certo... - Uma pedra
muito pesada, cerca de 100 quilos. - Jesus! - E então o processo de impressão era duplo. - Você coloca a primeira página, move a alavanca, que faz a prensa baixar. Então solta parcialmente e baixa de novo na próxima página e imprime outra vez. - Daí o termo "prensa de dois tempos". Análise periciais no original da Bíblia de Gutenberg revelam que ele imprimia apenas uma página por vez. Em outras palavras: sua prensa era de "um tempo". Isso influenciará o tamanho e design da máquina experimental de Alan, que já está tomando forma em outro canto da oficina.
- Certo, vamos lá. Por favor passe a marreta e o formão. - Oh, Deus, sim, aqui estão. "Carpintaria nunca foi minha especialidade na escola, mas ninguém parece ter avisado Alan deste detalhe." - O truque está em não usar a largura completa do formão. - Certo. - Cerca de um terço dele, isso faz com que ele deslize. - Melhor menos profundo que excessivo. - E se for muito raso você pode ajustá-lo com a mão, ok? - Certo, tente agora. - Oh meu Deus. Você vai se arrepender disso. Não quero estragar tudo. Eu avisei. - Certo, cerca
de um terço, assim mesmo. - Vamos, coragem. Ficou muito bom! - Uau! É muito bacana! - Dá uma sensação boa, não? - Sim, é sim. Eu sinto como se estivesse descobrindo um fóssil numa rocha. - Sim, é como se fosse isso! - Hum, espero que não tenha errado esta. Não, está bem. - É extraordinário criar algo como um mecanismo complexo - literalmente com as próprias mãos. - E aí está. - Está muito bom... - Termine isto para mim, por favor, Quando Alan tiver terminado a máquina quero imprimir uma página réplica da Bíblia de Gutenberg. Isso
significa que também terei que buscar alguns outros ingredientes, incluindo tipos móveis e papel do século 15. Mas antes, tenho uma viagem a fazer. - Viajarei através do Vale do Silício da Europa medieval, para explorar os lugares onde Gutenberg e seu time desenvolveram a máquina que moldou o mundo moderno. Meu primeiro ponto de parada é Mainz, nas margens do Reno, no Oeste da Alemanha. Esta é a cidade natal de Gutenberg e o lugar em que passou a infância. Mas, apesar das aparências, restam poucos vestígios da cidade medieval em que Gutemberg cresceu. - Esta é a casa
em que ele nasceu. - Uma farmácia? - Você sabe ler emS alemão? - Sim. - "Esta é a casa em que Gutemberg nasceu". - E 'Gutenberg' é o verdadeiro nome de família? - Não, na verdade o nome de sua família era 'Gensfleish'. - Que significa? - 'Carne de Ganso'. - Então... quem quer andar por aí portando um nome como CARNE DE GANSO a vida toda? Logo na esquina está a igreja onde ele provavelmente foi batizado. Bem, parte dela, pelo menos. Mainz foi pesadamente bombardeada na Segunda Guerra, então as ruínas medievais de São Cristóvão agora estão
amparadas em concreto do pós-Guerra. - Foi deixada assim deliberadamente, como um memorial? - Sim, sim. - Pense numa impressora e você lembra de fontes, esta aqui deve ser uma fonte de 7.000 pixels! Mas é formidável de se ver. - Ah, ali há placa sobre ele. - Bem, ali estão seus restos mortais. - Sim, há algo que eu queria lhe perguntar, na verdade. - A cidade de Mainz anunciou no ano 2000 o sexto centenário de seu nascimento, então acreditam que ele tenha nascido em 1400. - Bem, isto foi decidido publicamente em 1900, quando promoveram o mesmo
oba-oba ao redor de seu quinto centenário, na época e decidiram que Gutenberg nascera em 1400. Mas a data exata é algum dia entre 1397 e 1404. Bom, eu diria que concordo um pouco com a decisão da cidade. - Acho que 1400 é um belo ano para fixar seu nascimento, não por causa do número redondo, mas por que é exatamente o ano em que Geoffrey Chaucer morreu, na - Oh... Então foi o final de uma era, digamos, a Era do escritor medieval e o início de uma nova Era, o alvorecer da Renascença. Há muito poucas evidências
sobre os primeiros anos de Gutenberg em Mainz. Sabemos que sua mãe era dona de terras e que seu pai era um comerciante, cujo trabalho o pôs em contato com os ourives, fundidores de metais, donos de talentos que Gutenberg descobriria muito úteis, e é provável que ele tenha frequentado a universidade onde teria entrado em contato com os livros, ao contrário da maioria de seus contemporâneos. Mas esta é toda a informação que se tem. É como vislumbrar a aparição ocasional de um rosto numa multidão, e vê-lo sumir instantes depois, fundido com a massa. E, quando você finalmente
topa cara a cara com o grande homem, você não tem certeza se está olhando para o Gutenberg real. Tivesse ou não três mãos, como este sujeito aqui, Parecesse ele ou não como um David Tennant ou como um Doutor Who, ou ainda tivesse ele uma barba em forma de peixe - ou não - uma coisa é certa - não sabemos realmente como Gutenberg se parecia, e isso abre diversas possibilidades. Talvez ele se parecesse com você. Ou comigo. Improvável. Ele seria queimado na fogueira se se parecesse comigo. Ninguém sabe exatamente quando o arisco Gutenberg sonhou pela primeira
vez com seu invento. Mas a ideia era revolucionária no mundo pré-industrial do século 15. Estamos tão acostumados com materiais impressos em nosso dia-a-dia, de pacotes de cereais pelas manhãs ao livro de cabeceira, que, talvez, seja muito difícil imaginar como era o mundo antes da invenção da imprensa. Então foi necessário vir aqui, a esse monastério, o Kloster Eberbach, em uma aldeia a apenas alguns quilômetros de Mainz, onde Gutenberg cresceu, e onde não a palavra impressa, mas a palavra escrita, era a rainha soberana. - Ah. Dr. Schneider. - Olá... Oi. Prazer em conhecê-la. É maravilhoso estar aqui,
num sítio monástico. - Estou tentando entender como era a vida por aqui na época de Gutenberg, como os livros eram produzidos nos Scriptoria - como se dizia. Ja (em alemão). Este é um belo salão. Mas, de fato, é uma sala de reuniões onde liam os capítulos da Bíblia sentados em bancos largos. - Então um SCRIPTORIUM, é de se presumir, era diiferente de salões como este? - Sim. - Que tipo de coisas é de se esperar numa sala de escribas? Ah, os scriptoria eram salas menores que essa, pela necessidade de aquecimento nesses ambientes, pois para escrever
você precisa de dedos descongelados. - Claro. - Segurar uma pena e fazer todo esse trabalho meticuloso manualmente. - E luz. Uma janela no verão, e, no inverno, velas... "Kerzen. Ja, Ja, Ja". - Há alguma ideia de que tipo de caráter ou personalidade tinham esses monges copistas? - Muito raro. Por vezes encontramos, no final destas Bíblias ou outros manuscritos, pequenos textos, onde os copistas informavam o quão duro seu trabalho tinha sido. - Sério? Eles deixavam pequenos registros? - Ja, ja, ja. - Fazia muito frio, eles tinha que sentar sempre na mesma posição e tinham... - Cãimbras
e reumatismos. - Ja, ja. E fazia frio, e era escuro, e as vistas cansavam. - E eles registravam isso? - Sim! Sim, sim, sim. "Bíblias manuscritas eram luxos raros e caríssimos," "muito além do alcance de simples mortais." "E mesmo os melhores copistas cometiam erros." "Uma máquina de imprimir permitiria a criação de cópias exatas," "e muitas." "Ainda que alguns líderes da Igreja" "temessem qualquer coisa que pudesse quebrar seu monopólio sobre o conhecimento," "outros entendiam que uma versão padronizada e universalmente aceita da Bíblia" "seria uma arma poderosa na batalha para preservar a unidade dos Cristãos". "Mas a
Igreja era apenas um dos mercados potenciais para livros impressos". "Além do claustro, novas universidades surgiam aqui e ali por toda a Europa." - Então é tentador pensar que Gutenberg, além de seu interesse puramente técnico, também pensava como empreendedor... - Ja, ja, ja. - Era uma mistura de três coisas, creio. - Ele era um técnico no que tangia aos desafios técnicos, era um comerciante, e também um intelectual - frequentara a universidade e sabia que muita gente precisava de livros. "Com a demanda crescente por livros, qualquer um que inventasse uma máquina para fazê-los podia fazer uma fortuna.
"E, tendo crescido na maior região vinícola da Alemanha," "Gutenberg não precisava buscar longe uma fonte de inspiração." Estas são estruturas bastante sólidas, e eu creio que o pobre Alan, lá na Inglaterra, tentando construir uma prensa, acharia interessante ver de perto como as originais eram feitas. "Essas trqaquitanas são prensas de uva." "Alan crê que a prensa de Gutenberg evoluiu de máquinas como essas." - Oh, muito esmerada. Muito boa. - Sim, para Gutenberg este era provavelmente um cenário corriqueiro. - Ele cresceu em uma das maiores regiões vinícolas do mundo. - Mas, me pergunto, terá havido um momento,
um instante exato em que ele, sentado perto de uma dessas, ou vendo as uvas espremidas pela prensa, viu a espiral empurrando para baixo o bloco, e pensou, "Ah! É Isso que preciso." Algo como esse enorme quadro com uma espiral." "Prensas como essa podem ter iniciado o processo criativo de Gutenberg," "mas transformar uma peça mecânica tão simples numa máquina de precisão seria uma tarefa de outra magnitude." "E isso foi apenas parte do desafio que ele enfrentou." "O projeto todo tomaria anos de experimentos" "e custaria fortunas." "Mas dinheiro não dava em árvores na Mainz do século 15."
- A cidade fora muito influente e próspera na Idade Média, mas, então, já no século 14, desacelerou um pouco, pois foi abatida pela peste duas vezes. - A Peste Negra. - Sim, a Peste Negra. - A cidade já não era mais tão rica. Mas fora politicamente influente. - O Arcebispo era um dos 'primus inter pares', como se diz dos responsáveis pela eleição do Imperador. Então era uma cidade importante, de qualquer modo. - De certo modo, o que você está me dizendo é que Mainz era uma cidade do passado, e que Gutenberg precisava de uma cidade
que mirasse para o futuro. - Sim, creio que é isso. "Para o jovem empreendedor Gutenberg, Mainz não era o lugar ideal para começar um negócio." "Ele tinha pouco mais de 30 anos quando fez as malas e içou velas pelo Reno." "A dois dias de barco ao sul estava a cidade onde seus experimentos com impressão" "começariam." "Na oficina de Alan May, na Inglaterra, nosso protótipo de impressora já está em marcha." "Alan convidou seu amigo Martin Andrews, também expert no assunto, para mostrar-lhe o progresso do trabalho." "Estou feliz de ver que minhas fotos de turista estão sendo
usadas." "E Alan também concluiu a espiral de madeira maciça que gera a pressão necessária para imprimir." Mas essa rosca precisa de uma 'contra-rosca' para guiá-la na sua viagem, "e é preciso fazê-la manualmente na própria máquina." "Parece difícil para mim, mas Alan tem um plano." - É uma engenhoca formidável, Alan! - A idéia foi emprestada de um sujeito chamado 'Heron de Alexandria', que fez algo assim por volta de 64 dC. "Esse dispositivo engenhoso usa esses pinos de madeira" para guiar a viagem." "Enquanto isso, um conjunto de lâminas no outro lado da espiral esculpe as ranhuras no
bloco". - Com cuidado de posicioná-lo sem bater na lâmina. - Você está usando a própria rosca para esculpir a contra-rosca. - Exato. Essa é a parte elegante da idéia. - Ela já empurrou bastante serragem no caminho, veja. "Está funcionando, aparentemente, mas só há um jeito de saber se a espiral e a contra-espiral estão ajustadas." - Ah! isso muda toda a perspectiva. - Assim que você tira o pistão dá para ver o resultado. - Jesus! lá vamos nós! - Excelente! Acho que está muito boa! - Nunca vi algo assim. Estou convencido, funciona! - Estou convencido também,
mas há um pouco mais de trabalho pela frente. "Estou seguindo a pista de Gutenberg pelo Reno, de Mainz a Estraburgo". "Quando Gutenberg chegou, nos anos 1430," "esta era uma cidade que efervecia, com relações comerciais por toda a Europa e além." "Isto fazia dela uma base comercial muito mais promissora que a cidade decadente em que nascera." "E dominando a paisagem da região comercial vê-se a grande Catedral." "Claro, quando Gutenberg aportou por aqui ela ainda não estava concluída" e essa impressionante torre pontiaguda ainda não estava concluída. "E, como se pode ver, o trabalho continua até hoje." "É
preciso ter em mente que," "nessa época, o único investimento que os seres humanos faziam" "era em seu futuro longínquo, em outras palavras, na vida após a morte." "Ao participar na construção dessas enormes estruturas," "estavam garantindo seu lugar no Paraíso." "Na época de Gutenberg," "entra em cena um novo personagem, o empreendedor," "que investe não no pós-morte, mas no seu futuro em vida." "Investidores de risco. E essas pessoas provaram-se bastante úteis ao projeto de Gutenberg." "A catedral era mais que o coração espiritual da cidade." "Era também o ponto de encontro para negociantes e homens de posses," "protótipos
de capitalistas com os fundos de que Gutenberg precisava para seu projeto." "No final da década de 1430 ele iniciou uma sociedade com três deles," "e estava preparado para materializar seu sonho." "E, sempre que ele quisesse se assegurar de que sua idéia era excelente," "era só dar uma voltinha pelas ruas da cidade." "Veja a Rue des Freres, 'a Rua dos Irmãos' - nos diz um pouco sobre essa região." - Estamos ao lado da catedral, o coração eclesiástico de uma cidade eclesiástica encrustrada no centro de um império eclesiástico - o Sacro Império Romano-Germânico. - Pode-se comparar este
local com algo como a City de Londres o centro nervoso de um sistema que comanda o mundo atual. Para nós são as finanças, para eles, a religião. - Era a Igreja que produzia toda a papelada toda a documentação legal, todos os serviços impressos. - Tudo, de fato, que Gutenberg enxergava precisava de cópias, que demandavam uma nova tecnologia. - E então chegamos aqui, uma rua claramente menos pomposa que a anterior, mas não o nome: "Rue des Écrivains". - "Rua dos Escritores. "Schriwerstubgass". - Nessa rua, em Estrasburgo, Gutenberg deve ter topado com copistas passeando a própria pompa
com grandes maços de papel sob os braços e calos nos dedos tisnados de tinta. - E deve ter pensado: 'Vocês acham que têm seus empregos assegurados para sempre, mas estão enganados'. 'Pois, um dia, vocês todos serão substituídos, por uma reles e vulgar máquina.' "Ele contratou um carpinteiro de nome Saspach para iniciar sua nova invenção." "Ninguém sabe ao certo como se parecia, então Alan May usou outras pistas para desenhar nosso protótipo." "Ele já sabe que Gutenberg imprimia uma página por vez," "enquanto as prensas posteriores imprimiam duas em uma rápida sequencia." "Talvez seja por isso que esses
protótipos pareçam incomuns a um expert no assunto." - Deixe-me ver rapidamente como ela funciona, pois parece bem pouco convencional. - A primeira coisa que me surpreende, é que todo o peso se concentra nesse quadro aqui, e, normalmente, numa prensa de dois tempos você teria o quadro mais ou menos aqui, o que deixa tudo mais rígido, mas também equilibra o peso da pedra e das outras traquitanas. - Isso não é mais necessário, veja. - Pois só é preciso mover o aparato até aqui. - Quando a prensa está em uso, nunca passa além... - Além daqui. -
É incomum... "Talvez não seja convencional, mas Alan acha que encontrou suporte teórico para seu design de uma fonte bastante curiosa." - Essa ilustração de prensa foi desenhada por Albrecht Dürer "60 anos após a primeira impressão de Gutenberg." É o único registro conhecido em que os pés da prensa aparecem para fora do quadro. - Semelhante à minha. - Esta tem uma estrutura reforçada na frente... - Como a sua. - Que a prensa tipográfica nunca teve, ela tem uma pequena... - Perna. - Então eu concluí que essa pode ser uma prensa obsoleta que Dürer encontrou, e o
que vemos no desenho é um produto com mais de 50 anos de idade. - É uma teoria engenhosa! - Se os outros experts no mundo concordarão com ela, já não sei. "Se Alan estiver certo, essa é uma descoberta importante." "Seria este um retrato de uma das primeiras prensas Gutenberg?" "A equipe de Gutenberg estava crescendo. Além do carpinteiro Saspach," "ele recrutou outros artesãos das guildas de Estraburgo" "e os pôs a trabalhar seguindo suas novas premissas." "Não na área urbana, mas em um lugarejo próximo, "afastado dos olhares curiosos de eventuais concorrentes." - Porque tanto segredo? Era necessário?
- Havia bastante gente nessa região tentando resolver o mesmo problema. Autor de "A Revolução de Gutenberg". - Quem conseguisse mostrar à Igreja um trabalho impresso, faria uma fortuna em dinheiro, então era necessário manter sigilo, ou alguém poderia copiar seu invento. "Enquanto eles trabalhavam em segredo no novo invento, era necessária uma segunda fonte de renda para pagar as contas do dia-a-dia." - Surpresa! - O destino apresentou a Gutenberg uma brilhante ideia. A fabricação de espelhos para peregrinos em passagem para Aachen. - E por que Aachen era importante? - A cidade era importante pois havia uma catedral
lá, e, nessa catedral encontrava-se relíquias supostamente do próprio Cristo, e a cada quatro anos eram expostas, e gente de toda a Europa vinha ver tais relíquias e receber os raios curadores que emanavam delas. Eventualmente havia tantos peregrinos que era impossível chegar perto dessa relíquias, então nasceu a idéia de que era possível capturar esses raios, com o uso de espelhos metálicos côncavos, que seriam apontados como uma mini antena parabólica para a miraculosa fonte irradiadora. Os fabricantes locais não conseguiam dar conta da demanda. A idéia de Gutenberg foi que, se ele conseguisse a liga metálica certa, poderia
usar as prensas que estavam em construção para imprimir espelhos, que seriam vendidos aos romeiros a caminho de Aachen. "Soava como um futuro sucesso de vendas, mas, na Europa do século 15, havia uma variável a mais a temer, capaz de destruir o mais elaborado dos planos de negócios." - A Peste Negra atacou de novo, e os peregrinos sumiram. - Eles adiavam peregrinações por causa da peste... - Seria um desastre real se houvesse 100 mil pessoas todas juntas num ataque da peste. - Sim, claro. Isso significa que todos os investidores que esperavam o retorno naquele ano... -
Sim. Um dos sócios morreu. A sociedade começou a se desfazer, deixando Gutenberg não exatamente na sarjeta, mas em maus-lençóis. "Esse revés teria detido um homem com menos fibra que ele, mas agora, "Gutenberg estava completamente obcecado por seu plano, então o trabalho prosseguiu." - Pronto. Ilha Gutenberg. - E aqui há uma estátua dele com a barba de peixe de novo. "Ninguém sabe exatamente onde a oficina era, mas devia ser em algum lugar aqui perto." "Ele teria escolhido este QG afastado para se proteger do perigo da espionagem industrial." "Mas há também uma razão para estar perto da
água, pois Gutenberg estava brincando com fogo." "Você lembra do meu Kit de Impressão John Bull" "e aquelas pecinhas de borracha com letras?" "O projeto de Gutenberg só daria certo" "se ele descobrisse um sistema de produção em massa de letras individuais" "que pudessem ser arranjadas e rearranjadas em qualquer ordem." "Ele foi então à guilda dos ourives e achou um sujeito chamado Hans Dunne". "Juntos, eles desataram o nó-górdio técnico" "que impedia a idéia brilhante de Gutenberg de se tornar uma realidade prática." - Então assim é uma fundição de tipos gráficos... - Sobre essa bancada, creia ou não,
há uma fundição completa. "Eu também pedi a Stan para me ajudar um tipo, "uma simples letra E," "para usar em nosso protótipo de prensa." "Para emprestar autenticidade," "pedi que minha letra tenha as mesmas dimensões da fonte original usada na Bíblia de Gutenberg." - Primeiro temos que fazer um punção," "uma cópia mestra da letra que queremos reproduzir." Depois que transferimos contorno da letra para a ponta dessa barra de aço, "é preciso esculpi-la à mão usando uma lima - uma lima muito afiada." - Dá para produzir um punção por dia, talvez dois. - Então, para produzir o
conjunto completo de tipos gráficos que Gutenberg precisava em sua Bíblia, quanto de trabalho foi necessário? Há pelo menos 270 caracteres, talvez mais. Então, contando os muitos feriados religiosos, creio que boa parte de um ano. - Um ano. Se você fosse um dos investidores nessa nova tecnologia, você talvez ficasse impaciente. - Perguntaria: "Sr. Gutenberg, será que são mesmo necessários oito tipos diferentes de 'Es'?" E a razão para a necessidade de tantos tipos era obviamente porque ele buscava um visual elegante e harmonioso, ele exigia a mais alta qualidade, e ele encomendou algumas fontes mais largas, outras um
pouquinho mais estreitas, para que pudesse ter sempre as linhas justificadas.... - Exato. - ... Sem espaços em branco e composições hediondas. "Esta é uma primeira prova com fumaça, uma modo rápido de garantir que nosso punção é uma cópia acurada da letra que queremos replicar. "Parece que acertamos!" - Veja isto! - Então aqui temos, esculpida à mão e limada, polida e ajustada, cinzida e formatada, fundida e temperada. - E agora temos em mãos a chave que destrava o baú que revelou a tecnologia que mudou o mundo. - O punção. Formidável. - E nós o fizemos. -
Mas, qual é o próximo passo? - Bem, temos de gravar uma matriz com isso. - Gravar uma matriz? - Sim. Vou martelar esse punção diretamente numa peça de cobre. - Isto vai gravar o formato da letra. - Exatamente. "Os experts não chegaram a um consenso sobre como exatamente Gutenberg produziu suas letras, "mas a teoria de Stan é a mais comumente aceita." "Gutenberg teria inventado algo engenhoso como esse dispositivo." Essa ferramenta diante de nós é o salto quântico da invenção de Gutenberg. Esse é o molde dos tipos e ele é composto de duas metades. E ambas
se encontram para formar uma cavidade. na qual o tipo se formará. Com a matriz certa no fundo. Correto, com a matriz de cobre. -Sim. Então essas duas metades encaixam-se elegantemente. E porque elas formam tanto tanto um abertura larga quanto estreita, colocando essa matriz dentro do molde, que foi cuidadosamente construído antes, e fechando o molde na matriz, usando a mola para mantê-lo fechado - é isso que essa coisinha ridícula é - agora há uma cavidade dentro do molde que tem a forma da letra que vamos formar. OK. - Não é bacana? - Não acredito que isso
funcionará. É uma peça única. Não havia nada como isso antes de Gutenberg. - Certo Aí colocamos metal derretido aqui - chumbo, estanho ou antimônio. Exatamente aqui. Sim. E ele enrijece instantaneamente... Já está pronto. - Sério? - Sim. Vamos destravar a mola. E liberar a matriz pressionando aqui. - Sim. Espiamos o conteúdo do molde. - E aí está o tipo. - Oh, meu Deus! - Não é fantástico? - Então, qual parte é a letra? - Aqui está a face que formamos. E é uma réplica exata... - Aqui está o E. E se você comparar com o
punção que temos aqui... - Sim! Veja que o punção está replicado na face... - Sim, é idêntico pois voltou à sua... - Voltou à sua forma. Não é bacana? "É mais que 'bacana' - "é revolucionário. Pois desse modo pode-se produzir quantos 'Es' quisermos," "rapidamente e a um baixo custo." "Quantas serão necessárias para imprimir uma Bíblia completa?" - Veja o que eu fiz! Um 'E'! É difícil de acreditar que estes são os componentes básicos da maior revolução vivida pela humanidade desde a invenção do fogo, sem a menor dúvida, e a razão para isto é que eles
são idênticos. É uma pecinha extraordinária, uma jóia da técnica. Usando técnicas e métodos conhecidos há centenas de anos mas adicionando isto, esta minúscula pecinha, que possibilitou às prensas em toda a Europa a começar a informar o mundo. "Fui informado que Alan está obtendo grandes progressos com sua prensa," "então retornei à base para ajudá-lo a montar o protótipo final." "Se você já teve algum trauma montando um armário ou prateleira," "agora é a hora certa de ir buscar um café." É como aqueles quebra-cabeças de caixinhas de cereal. Encaixe A no encaixe B, ou algo assim. Exatamente. É
só acertar o encaixe e dar uma empurradinha. - Me sinto como um Atlas. - Vou pegar um taco... Eu poderia trabalhar numa chanchada. - Traga a caixa toda. - Ah, assim é mais fácil. - Certo então. Use a marreta. - Sério? - Para encaixar. - Não faça isso, Stephen! - Eu seguro isso, você bate. - Belo efeito sonoro, não? - Estamos produzindo estalos. - Imagino que ninguém tenha feito algo como isso nos últimos 500 anos. Com certeza, pelo menos no que tange a esse tipo de prensa. Ok, está bom. Para ser honesto, eu jamais seria
um bom escoteiro. Sem chance. - O que amo nisso é que, de um lado é absolutamente simples, e, por outro, há esses pequenos detalhes, que eu jamais conseguiria conceber em nem 100 anos. E eu amo... "Quando Alan mostrou-me que estava produzindo essa espiral dupla, pensei, 'vou testar com o dedo por aqui.'" "Vou fazer a volta e ele vai estar nesse ponto aqui." "Mas, não, ele aparece aqui. Porque, yo, é uma espiral dupla." E a outra segue em paralelo, uma coisa complicada. Embatuca minha cabeça, literalmente. "Ele não tem certeza da aparência exata de uma prensa Gutenberg,
mas essa parece bastante boa." E geralmente esse é o segredo desse tipo de design. Se parece certo, então está certo. É um resultado bastante satisfatório. Além de todo o resto, não seria divertido ter um desses no quarto? Daria para convertê-lo em uma lavatório ou algo no estilo. Talvez um pequeno espelho aqui com a altura ajustável. Estou falando bobagens, mas é porque estou orgulhoso dela. Não posso esperar para ver como ela imprime realmente. "Começo a compartilhar da excitação" "que Gutenberg deve ter sentido quando finalmente estava pronto para imprimir." "No final dos anos 1440, ele mudou-se de
Estrasburgo," "que fora recentemente aterrorizada" "por um bando de bandidos mercenários franceses chamados 'os Armagnacs'" "Foi esta, talvez, a razão para que ele retornasse a Mainz." "Apertado de dinheiro, como sempre, tomou um empréstimo de um parente." "Esta casa foi dada como garantia do empréstimo," "e iniciou uma sociedade com um novo investidor chamado Johann Fust." "Um negócio que, posteriormente, ele iria lamentar," "mas que lhe deu o impulso necessário para que a prensa fosse finalizada." "Não iniciou pela Bíblia - ainda um projeto muito ambicioso." "Mas deu a partida nos testes imprimindo coisas mais modestas, como essa Gramática Latina"
- Amabo, amabis, amabit, amabimus, amabitis, amabunt. Lembro disso. "Para mostrar à Igreja que sua invenção representava uma oportunidade e não uma ameaça," "ele também imprimiu documentos como essa indulgência papal." - Indulgências eram essa maravilhosa maneira Católica de ganhar uns trocados. - Sim, isso. - Lembra um pouco essa moda de, se você viaja muito de avião ou algo assim, ou tem um carro muito poluidor, você pode abater seus créditos de carbono, não é isso? - Pagar para uma companhia limpar seus rastros de carbono. - Uma absolvição de seus pecados de carbono. - Era mais ou menos
a mesma coisa." - Um esquema de créditos de pecados, não? - Deve ter sido magnífico para eles contar com a nova tecnologia de Gutenberg. - Pois antes disso, cada uma das indulgências exigia uma cópia manuscrita. E elas não são recibinhos, não, eram bastante elaboradas. - Então era uma maneira bastante apropriada de demonstrar as vantagens da nova tecnologia. - Sim, sim. E parece, também, que a Igreja estava muito interessada em impressão. - Ela não a considerava como algo pernicioso como dizemos em alemão, mas estavam interessados pois viam todos os benefícios que essa técnica permitia. "Com o
apoio da Igreja para sua obra-prima, havia apenas mais um detalhe a resolver." "A maioria dos bons livros daquela época eram produzidos em algo chamado pergaminho velino." "E do que era feito esse pergaminho?" "De um desses pobres amigos. Esses belos, marrons e de olhos amendoados bezerros." "Eles proporcionavam as peles, assim como todo o resto," que virava iguarias nas mesas dos poderosos." "Gutenberg, que estava determinado a fazer a melhor Bíblia de todas" "queria imprimir todas as suas Bíblias no mais fino velino." "Mas, ou ele ou seus sócios cometeram um sério erro matemático," "como diríamos hoje em dia,
e rapidamente eles se deram conta que só poderiam imprimir umas poucas em velino." "Pois um pequeno rebanho como esse, bem, não chegaria nem para o Velho Testamento." - Chamemos aquele carinha de Êxodo. - Ali está o Deuteronômio e ali o Levítico. "Seriam necessários 140 bezerros para imprimir apenas uma cópia completa da Bíblia." "Para uma tiragem inicial de 180 cópias, como inicialmente planejado," "seriam necessários inacreditáveis 25 mil dessas pobres criaturas. "É um número impressionante de peles de bezerro para qualquer livro." - Ainda assim há algumas poucas bíblias de Gutenberg espalhadas pelo mundo que foram impressas em
pergaminho velino, mas a maioria foi impressa em papel. "Sem um sistema de produção em massa de papel," "a invenção de Gutenberg teria nascido natimorta." "Embora os chineses tivessem inventado esse material há mais de 1200 anos" "o papel ainda era uma novidade no Ocidente." "Essa fábrica em Bäsel, na Suíça, começou a funcionar" "quase na mesma época em que Gutenberg estava trabalhando em sua máquina," "e continua funcionando até os dias de hoje da mesma maneira tradicional," "usando como matéria prima retalhos de tecido." - Ohh. Muito bom. "Os retalhos são macerados até formar uma fina polpa." "Um moinho
d'água provê a força necessária para movimentar esses enormes marretas." "Quando a polpa atinge a consistência ideal," "ela é transferida para um grande tonel" "onde a parte divertida acontece." - Isso vai ser o nosso papel. - É extraordinário que essas minúsculas partículas de tecido, estraçalhadas, tenham se transformado nessa polpa. - Ok, é preciso continuar mexendo. - Sim, é isso. - Extraordinário. - Sente-se o calor, a água está morna. - Pois isso é matéria orgânica que precisa ser quebrada? - Não, porque é mais fácil de trabalhá-la assim. - Ah, entendi! - E a água morna escorre mais
rápido da... - Da peneira? - Peneira. - Então este é o processo. Ok? - Certo. Então vamos fazer papel. - Mova a peneira assim, e então, assim. - Levante-a. - Agite um pouco. - Para que a água escorra. - E as fibras permaneçam. - Estou vendo. Jesus amado. - E podemos passar à próxima. - Eu poderia tentar uma vez? - Sim, claro. - Você terá de assumir meu posto. - Podemos trocar de lugar? - Sim. - Isso é fascinante. - Melhor remangar a camisa, não? - Estou sentindo a horrível sensação... de estar de volta ao
atelier de artes da escola onde eu era sempre o zero à esquerda. - Então é só colocar a peneira? - Do outro lado. - Assim? - Não, assim. - Ah, entendi. Assim? Eu, na primeira já... - Eu mostro. - Desculpe. - Assim. - Ah! Mas já ficou algo nela. - Tiro isso? - Não, tudo bem. Ok. - Pronto para mergulhar. - Para baixo, girando, levante. - Oh, oh, oh. - Um pouco para este lado. - Ok? Tem alguns pedaços brancos, mas não parece mau. - Pode parar. - Papel para você, René. - Impressionante. - E
está pronto para tirar o quadro? - Aí está. É sempre o segundo que dá problema. - E agora... - É um processo mágico. - É quase como bateiar ouro, não? - Talvez essa não seja uma analogia despropositada. - Papel valia ouro na Idade Média. Era incrivelmente valioso. - E ainda que seja um processo demorado, é muito mais rápido que produzir pergaminho velino de bezerros. - Devo dizer que realmente gosto disso. - Sinto-me conectado a Gutenberg de alguma forma ao fazer isto. - Como se sabe quando está pronto? Quando as ondas param? - Sim. Já está
pronto. - Esse não ficou bom. Vamos ver. - Não ficou muito bom este aqui. - Não. Hum, bem. - Ponho de volta? Viro de volta? - Sim, só devolva. - Viro assim? - Não. - Pensei que fosse apenas assim. Assim? - Sim. - Oh, Deus, estraguei o molde. - Ah, entendi. - Melhor. - Pisei no tomate. "Fabricar papel para impressão é uma arte refinada." "As matérias primas têm de ser misturadas com perfeição para produzir a textura e porosidade certas. "Para Gutenberg, esse era o último ingrediente crucial" "com que transformaria a impressão de Bíblias num negócio
viável." - Oh, posso pegar? - Sim. - Que magnífico. - Meu primeiro pedaço de papel. - Mas é preciso secá-lo, não? - Sim. "Espero que Alan fique contente com este." "E porque ele não ficaria?" - É um trabalho digno das mais finas imprensas. - Chegou o grande dia. - Já se passaram 5 meses desde que Alan começou a trabalhar em sua prensa. - E agora está pronta. - O papel foi produzido em Bäsel. Eu fundi pessoalmente o tipo. - Nada nos impedirá de imprimir uma página de texto como Gutenberg o fez. - Assim o grande
homem deve ter se sentido. "Antes de começar a imprimir, eu tenho uma pequena confissão a fazer." "Eu e Stan levamos quase um dia inteiro para produzir apenas uma simples letra 'E'." "Para produzir todos os tipos necessários para imprimir uma Bíblia completa provavelmente exigiu um ano da equipe de Gutenberg." "E, sinceramente, eu não tenho nem tempo, nem paciência." "Então eu trapaceei." "Esse pacote veio dos Estados Unidos." "É uma réplica dos tipos originais de Gutenberg." "E, graças a Deus, nada foi avariado durante o transporte." - Então isso é... - É perfeito, não? Podemos imprimir com eles? -
Claro. "Bem, quase." "É claro que há espaço para o meu pequeno 'E' em algum lugar da página." - Oh, agora sim. É tão maravilhoso. - E agora? O que é isto? Consegue ler? Leges. L E G E S. - Feito! - Maravilha. - Sabe, eu tenho de confessar que tinha minhas dúvidas se Alan conseguiria ou não concluir a construção de uma prensa móvel. no tempo combinado. E se havia know-how suficiente sobre o assunto para possibilitar a produção de algo que funcionasse de verdade e gerar um facsimile aceitável de algo feito por Gutenberg. - Tenho de
dizer que minhas dúvidas foram dissipadas pela maestria do trabalho executado. E todos os três experts estão sorrindo como crianças felizes maravilhadas com o que criaram em conjunto. Vejamos agora se é possível imprimir de verdade. - Certo, essa é a hora da verdade. Vejamos como se comporta. - Não está mal, hein. - Acho que está quase OK. Ok? - Pronto. Lá vamos nós. - Oh, meu Deus. - Espere o estalo. - Oh, ho ho ho. - Boa sorte, pessoal. E vamos lá. - Está impresso, Martin. - Sim, está. - Está tudo no papel. Sim. - Uau.
- Oh, meu Deus. - É formidável. - É extraordinário. - Parabéns, pessoal. - A impressão é SOBERBA, Martin. - E o alinhamento é fantástico. - E aqui está o seu 'E', bem aqui. - E esse 'E' em particular se destaca suntuosamente... - É o melhor 'E' do lote. - Excelente façanha. Bravo. - Estou muito, muito contente com o resultado. - E deve ficar mesmo. - Considerando que essa é a primeira página, creio que está realmente muito boa. - Fenomenal. - Vamos imprimir mais. - É a prova de fogo de uma prensa móvel, ser capaz de
fazer muitas cópias. - Ao imprimir, o procedimento normal seria... - Você é o carregador, ok? - Ok. - O carregador tira a página, dá uma conferida rápida, - E se prepara para a próxima impressão. Certo? - Enquanto o tinteiro, longe da prensa, se prepara aplicar as tintas de novo. - Então é uma verdadeira linha de montagem? - E quando termina a aplicação da tinta, ele checa a qualidade da impressão recém concluída. - Exato. Mas ele não vai revisar a cópia, não? - Não, apenas checar a qualidade da impressão. - Certo. Verificar se não ficaram áreas
mal impressas. - Exatamente. Ok. - Baixo o protetor. - Sim. - Fixamos a guarnição. - Guarnição fixada. - Morta a coruja. - Agora todos a seus postos na prensa. - Certo. E... - Feito. - Está pronto, não? Super. - Soberba. - E aí estamos. Muito boa. Realmente, melhor que a primeira. - Está, não? - Estamos chegando lá. "A primeira edição da Bíblia de Gutenberg teve 180 cópias, cada uma contendo" "mais de 1200 páginas, que foram configuradas, tintadas e impressas." - Muito bonita. "E essa era só a parte mais simples." - Depois de sair da prensa,
cada página tinha de ser decorada à mão por um ilustrador," "antes que o conjunto todo fosse costurado em um único volume." - Esse é o milagre. Elas são idênticas. - Cada uma dessas páginas maravilhosas. - Nunca antes vistas na História da Humanidade. "Nosso experimento está quase concluído, mas para Gutenberg," "este foi apenas o começo de um trabalho monumental de dois anos." "Mas que começo magnífico!" "As primeiras cópias da Bíblia de Gutenberg foram apresentadas pela primeira vez "na Feira de Comércio de Frankfurt, em 1454," "e causou sensação." "Hoje em dia, menos de 50 desses livros ainda
resistem." "Um dos mais bem conservados está em Göttingen, Alemanha." - É verdade, eu estou genuinamente comovido e nervoso por chegar tão perto de uma Bíblia de Gutenberg, tendo visto uma delas apenas através de vidros. Tendo pesquisado tão a fundo o modo como foi produzida, descoberto o quão importante foi, e o quanto de simbolismo ela encerra para a era moderna, para mim, a idéia de tocar de verdade em uma, ainda que através de luvas de algodão, está me dando... arrepios. - Não consigo acreditar. - Já disse, eu as vi através de vidros e li a seu
respeito. - Mas estar tão perto de uma é uma sensação extraordinária. - Quer dar uma olhada? - Por favor. - Esta é uma anotação de Jacob Grimm. - Um dos Irmãos Grimm? - Sim, de quando ele era bibliotecário em Göttingen. - "Eine Guttenbergische bibel. " - Uma Bíblia de Gutenberg. E ele diz... - "Da maior raridade". - Sim. - E essa é a primeira página do primiro volume. Céus. - Sabe o que é espantoso? - Ainda que as ilustrações e decorações... - Chama-se rúbricas, não? - Exatamente. - As "letras vermelhas", literalmente. - Ainda que sejam
muito bonitas, é a fonte o que realmente enche os olhos, não? - Sim. Diz-se que mesmo no início desta nova tecnologia é também onde se chegou à perfeição. - Sim. - A opinião é de que é muito mais bela do que necessitaria ser, para a época. - É verdade. - O sujeito era simplesmente um perfeccionista. - Sim. - Ele usa técnicas que os copistas nos monastérios também usavam, usa abreviações. - É a única maneira de criar essa justificação tão fluida e perfeita. - Há um pequeno buraco. O que está havendo? Alguém deve ter... - Um
VÂNDALO! - Não sei quando isso aconteceu. - Talvez alguém tenha precisado de um modelo de ilustração para outro trabalho. - Então recortou daqui e pôs próximo a outro manuscrito e copiou a partir do modelo. - O que é uma judiaria. - Naturalmente, me sinto muito privilegiado de ser capaz de folhear esse indescritivelmente raro e importante objeto. Uma Bíblia de Gutenberg em minhas mãos. Estou vestindo luvas brancas, estou apavorado de respirar e umedecê-la com meu hálito, e ainda assim, sinto a sensação estranha de que não estou manuseando algo que se esfarelará em pó ao virar uma
página muito rápido. Ela dá a sensação de ser muito sólida e robusta. Além do mais, ela foi feita para uso diário. Se foi comprada por um monastério, suponho que fosse manipulada por muita gente todos os dias. E era, realmente, um objeto sólido. Uma Bíblia era algo que as pessoas consultavam freqüentemente. E não é uma coisinha frágil... um ornamento, mas, sim, um objeto útil. E o mais extraordinário é que, apesar de terem sido impressas pouco mais de 100 destas, apenas 12 dessas em pergaminho velino, você sabe que, fora as ilustrações, todas as páginas são iguais. E
este é o fato mais admirável disto, não? Que alguém em um monastério na Alemanha, alguém num palácio em Florença ou alguém numa casa em Amsterdam pudesse olhar o mesmo número de página e a mesma palavra estaria no início e no final desta página. - E eles estavam admirando um objeto produzido em massa pela primeira vez. Ainda que apenas os muito ricos, os que podiam pagar por isto, não eram tão ricos quanto os que podiam pagar por manuscritos, produzidos por copistas. - Ainda não acredito que estou aqui. "Eu gostaria de contar um final feliz para a
história do sujeito que produziu este livro maravilhoso, mas infelizmente, não foi o que aconteceu. "Você lembra do Senhor Fust, o dragão que financiou a impressão da Bíblia?" "Logo após as impressoras começarem a trabalhar, ele exigiu que Gutenberg devolvesse o empréstimo." "Gutenberg não tinha o dinheiro," "e foi forçado a entregar todas as prensas em pagamento." "Ele levara quase uma vida para construir seu invento." "E agora, tão logo estava funcionando, fora arrancado das mãos de Gutenberg." "Minha jornada termina aqui, no vilarejo de Eltville, a poucos quilômetros de distância de Mainz." Gutenberg tinha parentes aqui, e seus amigos
o ajudaram a se reerguer e até a construir uma nova oficina tipográfica. Mas ele nunca desfrutou das riquezas que sua invenção rendeu ao seu antigo sócio, Fust. Bem, Gutenberg enfim recebeu o reconhecimento que lhe é devido. Acima, no castelo, o bispo consagrou-o cavaleiro e garantiu-lhe uma pensão, e, quando ele morreu, o mundo sabia que ele era o fundador da moderna arte da impressão. Mas não foi exatamente isso o que me trouxe até aqui. É o pensamento do que aconteceu depois da morte de Gutenberg. A replicação das técnicas de impressão pela Europa a uma velocidade, uma
velocidade inimaginável para a época, de zero a 20 milhões de livros em apenas 50 anos. - A tecnologia de Gutenberg alastrou-se pela Europa como um vírus benigno. Deu às novas idéias um veículo e o pontapé inicial à Renascença. Pelos 500 anos seguintes, seu método de impressão foi usado para produzir livros em todo o mundo. É dele a máquina que nos fez o que somos. E essa arte, a arte da impressão com tipos móveis, nos define. É a nossa civilização mais que qualquer outra coisa. Posso imaginar o mundo moderno sem carros. Posso imaginar um mundo sem
telefones ou computadores. Mas não posso imaginar uma sociedade nem remotamente semelhante à nossa que não tenha a palavra impressa. Tradução pt-BR por Rico Ferrari.
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