Alguns ensinamentos espirituais dizem que todo sofrimento é, em última análise, uma ilusão, e isso é verdade. A questão é se isso é uma verdade para você. Acreditar simplesmente não transforma nada em verdade.
Você quer sofrer para o resto da vida e permanecer dizendo que é uma ilusão? Será que essa atitude livra você do sofrimento? O que nos interessa aqui é o que podemos fazer para vivenciar essa verdade, ou seja, torná-la real em nossas vidas.
Como Superar o Sofrimento? Eckhart Tolle. Seja o observador de seus pensamentos.
Concentre a atenção no sentimento dentro de você. Não julgue nem analise. Não se identifique com o sentimento.
Esteja presente e observe o que está acontecendo dentro de você. Perceba também a presença “de alguém que observa”, o observador silencioso. Esse é o poder do Agora, o poder da sua própria presença consciente.
Preste atenção a qualquer sinal de infelicidade em você, qualquer que seja a forma, pois talvez seja o despertar do sofrimento. Ele pode se manifestar como uma irritação, um sinal de impaciência, um ar sombrio, um desejo de ferir, sentimentos de raiva, ira, depressão ou uma necessidade de criar algum tipo de problema em seus relacionamentos. Agarre o sinal no momento em que ele despertar de seu estado inativo.
O sofrimento deseja sobreviver, mas, para isso, precisa conseguir que nos identifiquemos inconscientemente com ele. Quando o sofrimento nos domina, faz com que desejemos ter mais sofrimento. É claro que não temos consciência disso e afirmamos que não queremos sofrer.
Mas, preste bem atenção e verá que o seu pensamento e o seu comportamento estão programados para continuar com o sofrimento, tanto para você quanto para os outros. Se você estivesse consciente disso, o padrão iria se desfazer, porque desejar mais sofrimento é uma insanidade, e ninguém é insano conscientemente. O sofrimento sobrevive graças à nossa identificação inconsciente com ele, assim como do medo inconsciente de enfrentarmos o sofrimento que vive dentro de nós.
Mas se não o enfrentarmos, se não direcionarmos a luz da nossa consciência sobre o sofrimento, seremos forçados a revivê-lo. O sofrimento pode nos parecer um monstro perigoso, mas eu lhe garanto que se trata de um fantasma frágil. Ele não pode prevalecer sobre o poder da nossa presença.
A inconsciência cria o sofrimento. O que acontece ao sofrimento quando nos tornamos conscientes o bastante para romper a nossa identificação com ele? A consciência transforma o sofrimento nela mesma.
São Paulo expressa esse princípio universal de uma forma linda ao dizer: “Tudo será revelado ao ser exposto à luz, e o que exposto à própria luz, torna-se luz”. Assim como não se pode lutar contra a escuridão, não se pode lutar contra o sofrimento. Tentar fazer isso poderia gerar um conflito interior e um sofrimento adicional.
Observar o sofrimento já é o bastante. Observá-lo implica aceitá-lo como parte do que existe naquele momento. Manter-se em um estado de alerta consciente destrói a ligação entre o sofrimento e o mecanismo do pensamento, e aciona o processo de transformação.
É como se o sofrimento se tornasse o combustível para a chamada da consciência, resultando em um brilho de mais intensidade. Esse é o significado esotérico da antiga arte da alquimia: a transformação do metal não-precioso em ouro, do sofrimento em consciência. A separação interior cicatriza, e você se torna inteiro outra vez.
Cabe a você, então, não criar um sofrimento adicional. Não nego que podemos encontrar uma forte resistência interna tentando nos impedir de pôr um fim à identificação com o sofrimento. Isso acontecerá particularmente se tivermos vivido intimamente identificados com o sofrimento emocional durante a maior parte da vida e se tivermos investido nele uma grande parte ou mesmo todo o nosso sentido de eu interior.
Isso significa que construímos um eu interior infeliz por conta do nosso sofrimento e acreditamos que somos essa ficção fabricada pela mente. Nesse caso, nosso medo inconsciente de perder a identidade vai criar uma forte resistência a qualquer forma de não-identificação. Em outras palavras, você preferiria viver com o sofrimento – ser o sofrimento – a saltar para o desconhecido, correndo o risco de perder o seu infeliz, mas familiar eu interior.
Se esse é o seu caso, observe a resistência dentro de você. Observe o seu apego ao sofrimento. Esteja muito alerta.
Observe como é estranho ter prazer em ser infeliz. Observe a compulsão de falar ou pensar a esse respeito. A resistência deixará de existir se você torná-la consciente.
Poderá então dar atenção ao sofrimento, estar presente como testemunha e iniciar a transformação. O importante é que você seja capaz de estar alerta e presente quando o sofrimento aparecer e de observar o sentimento em vez de se deixar dominar por ele. Essas atitudes proporcionam uma oportunidade para a mais poderosa das práticas espirituais e tornam possível uma rápida transformação de todo o passado.
O processo que acabei de descrever, embora simples, é extremamente poderoso. Uma vez entendido o princípio básico do que significa estar presente observando o que acontece dentro de nós, teremos à nossa disposição a mais poderosa ferramenta de transformação. Esteja presente, fique consciente.
Vigie o seu espaço interior. Você vai precisar estar presente e alerta para ser capaz de observar o sofrimento de um modo direto e sentir a energia que emana dele. Agindo assim, o sofrimento não terá força para controlar o seu pensamento.
Aqui está nossa mais profunda força interior, o poder do Agora.