C a diversidade humana sempre existiu e a história revela os percalços da difícil convivência entre os diferentes hoje numa sociedade democrática que pressupõe liberdade e igualdade de direitos existe efetivamente interação e integração na diversidade o que nos leva a classificar pessoas produzir hierarquias e diferentes atribuições de valor esta série do Café Filosófico traz reflexões sobre discriminação e preconceitos ainda muito arraigados seja nas Relações raciais Nas questões de identidade de gênero ou no descaso coletivo em relação às pessoas com deficiência e nos leva a rever as noções de normal e patológico de certo e de errado
na busca do valor das Diferenças em um mundo compartilhado a história da humanidade está repleta de atos de discriminação e violência na grç antiga pessoas eram marcadas com um corte ou fogo para ficar Evidente algo de negativo naquele ser que deveria ser desprezado pela sociedade como um escravo ou um criminoso essa marca corporal era um estigma este feito foi recuperado nos estudos de um dos mais influentes sociólogos norte--americanos do século XX Irvin goffman Na tentativa de compreender o estigma do mundo moderno que não é mais necessariamente uma marca física ou visível mas um estigma social
com a depreciação do estigmatizado e toda uma série de prejuízos que ele acarreta neste programa o psicanalista e psiquiatra benilton Bezerra Júnior curador dessa série nos ajuda a refletir sobre como nossa sociedade e cultura ainda hoje mantém velhos estigmas e gera novos ele nos convida a rever nossas dificuldades em lidar com a diversidade humana os seres humanos são a única espécie talvez com certeza cujo destino e na verdade cuja Essência mesma não está contida nas determinações da ordem Vital fato de de que nós temos um cérebro que é talvez o objeto mais Fantástico do Cosmos
e que é aberto a tudo que acontece ao seu redor de modo que nós temos uma natureza que é por definição incompleta e que se completa ao longo da vida o que é ser um humano é uma pergunta que sempre se recoloca e as respostas a essa pergunta também estão sempre sendo recolocadas nós temos a capacidade de incorporar a nossa própria natureza aquilo que nos define aquilo que nós enxergamos no espelho como sendo nós tudo que nós produzimos as tecnologias os valores os hábitos as regras de convivência as leis tudo isso que a gente constrói
de alguma maneira se volta e nos modifica num processo que é permanente e hoje em dia nós vivemos num momento particularmente importante em que aquilo que produzimos modifica fundamental ente a nossa autoimagem a nossa ontologia aquilo que nós somos e o nosso destino não há ninguém nessa sala aqui que não deva estar perplexo e atônito com o mundo de problemas que a gente vive de eh violência o movimento das migrações forçadas a dificuldade daquele que foi o canto do planeta mais receptivo a Europa a dificuldade de aceitar esses novos excluídos as tensões que isso provoca
mostra que nós estamos no momento em que discutir a questão da diversidade é fundamental é uma questão civilizatória e isso faz parte da nossa natureza discutirmos Quais são as identidades e diferenças que nos caracterizam nós estamos num processo sempre de redescrição dessas identidades que define o que somos define aquilo que não somos os outros definem aquilo que são as fronteiras entre o que é normal e O que é patológico entre o que é legítimo e o que é ilegítimo o que é natural antinatural o que devemos aceitar e o que devemos combater então dando um
passo atrás na própria noção de identidade e de diferença eh de uma maneira mais espontânea a gente pode achar que identidade e diferença são coisas que já existem são naturalizadas e a tendência digamos espontânea do pensamento é essencializar naturalizá-los que queer significa que a gente quando identifica alguma coisa uma forma de vida um tipo de pessoa um tipo de ser é como se nós estivéssemos simplesmente enxergando aquilo que ele contém como uma identidade dada natural se a gente pensa a linguagem como meramente a representação do mundo externo na nossa mente nós somos levados a achar
que é isso e quando eu falo por exemplo homossexual eu posso ter a espontânea ilusão de achar que eu estou identificando algo que já estava lá a palavra apenas ilumina uma realidade que já estava ali mas essa é uma ideia que a gente precisa colocar de lado por quê Porque essa maneira de entender o papel da linguagem é apenas uma ela é opcional Há outras maneiras de entender Qual é a relação entre a linguagem e as palavras com que nós nomeamos os outros a nós mesmos o mundo as nossas relações nas quais a linguagem não
só representa mas a própria ideia de representação contém algo de criação a linguagem entendida na Perspectiva estrutural por exemplo o que é um conjunto de significantes um conjunto um sistema de significações que são eh provocadas pela diferença entre os significantes de modo que cada significante engendra o o seu significado na relação com os outros e faz com que então esse movimento permanente de identificação crie ao mesmo tempo a identidade e a não identidade aquilo que eu sou aquilo que o outro é aquilo que eu não sou aquilo que o outro não é por exemplo quando
se inventou a palavra homossexual Porque ela foi inventada não havia vocês podem ler qualquer texto do até o século XVI final do século XVI até metade do século XIX vocês não vão encontrar a palavra homos sexual ela foi criada na metade do século XIX e a gente começa a entender que a o surgimento da ideia de que existe um tipo de gente não um tipo de prática sexo com pessoas do mesmo sexo biológico isso sempre existiu desde que o homem anda paraa frente mas a ideia de que quando você tem desejos ou práticas com pessoas
do mesmo sexo biológico você é um tipo de pessoa especial você tem uma ident idade que lhe particulariza a identidade homossexual essa foi uma invenção ocidental na metade do século XIX da qual participaram vários fatores inclusive de maneira especial a medicina e a Psiquiatria e o que é homossexual no dicionário Qual é a resposta outras palavras que dizem aquilo que o homossexual não é ser homossexual É não ser heterossexual por exemplo ser homossexual É não ser bissexual e qualquer outra palavra que nos des é assim o que é ser honesto É não ser desonesto o
que é ser corrupto É não ser impoluto o que é ser alto É não ser baixo vejam que nessa perspectiva a ideia da identidade Ela implica necessariamente a não identidade Ela implica alguma coisa que não é aquilo que a palavra designa identidade e diferença são irmãs gêmeas são faces de uma mesma moeda um outro aspecto importante do papel da linguagem na produção das entidades e das Diferenças é a maneira de perceber a linguagem como uma ação uma teoria da linguagem que é diferente da estrutural e que mais ou menos preconiza o seguinte o que que
é uma linguagem é um modo de nós agirmos em relação ao ambiente a evolução das espécies criou uma espécie a nossa com o cérebro dotado de um potencial Fantástico que entre outras coisas criou Essa maneira de esses seres se relacionarem com o mundo à sua volta usando sons e rabiscos que produzem coisas as quais significados são agregados ou seja eh usar uma linguagem é mais do que representar é agir no mundo criando sentidos criando significados e cada um desses sentidos e significados engendra uma maneira particular de ver aquele objeto ver os objetos que são diferentes
daquele de vermos a nós mesmos vermos o outro eh vermos aquilo que a gente considera bom mau feio bonito natural antinatural legítimo ilegítimo normal patológico diferente mas não patológico e assim por diante Então essa característica que as teorias pragmáticas da linguagem apontam no centro da sua concepção de linguagem que a ideia de performatividade o que que é essa ideia é de que as palavras elas não apenas representam elas não apenas servem para comunicar as palavras criam realidades elas moldam a nossa percepção a maneira como eu organizo o meu vocabulário a maneira como digamos essa palavra
essa expressão não é muito adequada Porque nós não organizamos cada um de nós o nosso vocabulário um Psicótico pode fazer isso mas nós heles neuróticos normais nós absorvemos os vocabulários das culturas nas quais nós emergimos esses vocabulários nunca são neutros eles quando identificam a identidade geralmente positivam essa identidade e negativiza a identidade contrária ou a não identidade numa cultura racista branco é positivo negro é negativo há uma cena no filme de Spike Lee que é o Malcolm X Malcolm X é uma cena que ele tá preso ele encontra um líder muçulmano que o converte ao
Islamismo ele queria ser de certa maneira Branco queria emular o branco pintava o o cabelo e ele diz você está querendo ser o que você não é e você quer ser um branco porque você entrado uma cultura que ensina você que ser negro é ser inferior Não não é isso É sou eu que quero etc e tal vamos à biblioteca v a biblioteca e o o líder religioso diz abre aí o dicionário na palavra Branco ele abre leia aí ele diz Branco luminoso puro imaculado por aí vai agora pega preto preto sujo imundo obscuro eh
E por aí vai essa cena resume tudo que eu tô dizendo aqui nós somos atravessados por isso a despeito da nossa intenção crítica nós somos atravessados por isso o preconceito reside naquilo onde a gente não enxerga o preconceito explícito ele é fácil de reconhecer o preconceito que nós que estamos aqui discutindo isso é mais difícil mas essa esse exercício de tentar entender como é que eh nós eh produzimos diferenças e produzimos hierarquias nas quais geralmente aquilo que a não identidade hegemônica É negativada é um exercício fundamental o preconceito complicado não é o dos que você
feram contra a ideia de que a família não seja só definida como união de homem e mulher Essa é fácil de identificar o problema tá em a gente identificar as os limites e as barreiras a que a gente Vença as nossas limitações e os nossos mecanismos de Exclusão o Brasil tem no mínimo metade ou 60% da população não branca certo acho que todo mundo vai concordar com isso em quantos lugares que vocês que estão aqui presentes circulam essa representatividade aparece é aí que mora o alvo do que nós devemos combater essa essa discriminação invisível Porque
escamada como sendo natural é assim palavras nunca são neutras palavras traduzem significados e vão além do ato de simplesmente comunicar elas podem criar realidades e determinar a nossa percepção das coisas elas nomeiam refletem ideias valores hierarquias o vocabulário que incorporamos é resultado do meio que vivemos da nossa Cultura a linguagem é também uma forma de agir no mundo seja para reafirmar preconceitos ou para transformá-los a ideia de que a linguagem performativa ela vale também no sentido oposto quando os homossexuais americanos resolveram utilizar a palavra gay como forma de autodefinição eles estavam apostando numa positivação da
da da da palavra e da categoria A qual a palavra estava referida e funcionou historicamente assim como o black is beautiful o o o lema dos panteras negras foi na época uma coisa completamente insólita por qu porque ninguém associava be a black precisaria entender o racismo inerente a essa classifica para poder entender que a associação de black beautiful era insólita pegou o mundo de surpresa comu muita gente incitou o ódio de muita gente tudo isso que eu dizendo aponta para os aspectos de produção da identidade e da diferença Associados à linguagem mas Vocês poderiam dizer
com toda a razão que essas diferenças de identidades elas não são apenas fruto de efeitos do discurso discursivos por quê Porque os discursos não circulam no vácuo eles circulam em situações concretas o poder de definir não é da linguagem porque a linguagem em si não define nada quem define são os usuários da linguagem então o poder social de definir que identidade é positiva que identidade é negativa não é da própria linguagem é da luta política que caracteriza uma determinada cultura não sei se todos vocês sabem Thomas Jefferson foi um dos que escreveu a declaração da
independência Americana a constituição Americana e que tem no seu preâmbulo a ideia de que todos os homens foram criados iguais pelo criador Thomas Jefferson que escreveu do próprio punho isso tinha escravos a escravidão foi naturalizada durante a maioria da história a maior parte da história humana José de Alencar que escreveu eh histórias eh que engrandecia o índio escreveu cartas ao Imperador nas quais no final do século XIX ele escrevia Dom Pedro I defendendo a escravidão como um bom cristão falando do mérito civil atório da escravidão para aquela massa de pessoas abandonadas pela sorte os africanos
que vinham para Brasil Jé Alencar Thomas Jefferson não eram idiotas não eram pessoas que você facilmente identifica como preconceituosos mas eram homens do seu tempo eram homens entranhados pela visão de que a escravidão sempre existiu de que havia naturalmente seres que eram escravize aconteceu não só com africanos né os romanos escravizavam os gregos escravizavam e não achavam que escravos eram iguais aos cidadãos Livres obviamente que não assim como não achavam que as mulheres fossem igual aos homens A Hierarquia entre os humanos sempre foi a regra essa invenção meio maluca do século XIX pelos iluministas e
depois pelos românticos eh e séculos Antes pelo cristianismo todos somos iguais porque feitos à imagem de um mesmo criador todos os membros Dessa espécie somos iguais essa é uma novidade completamente antinatural Demorou muitos séculos para que apenas no século XVII virasse lema social político etc e tal e até hoje não vingou porque nós vivemos no mundo onde de fato Nem todos são iguais e quando a gente produz as diferenças inevitavelmente a gente produz uma hierarquia Freud tem uma expressão conhecida de todos os psis o narcisismo das pequenas diferenças que alude a esse movimento quase espontâneo
do psiquismo quando eu eu eu identifico alguma coisa como sendo eu quando sendo nós aquilo que é ante eu ante nós tende necessariamente a ser colocado num plano hierarquicamente inferior é é da natureza do nosso funcionamento é claro a cultura e os nossos ideais são contrapontos a nossa a nossa inspiração e o nosso movimento espontâneo é isso que nos faz ser capaz de inventar democracia e não convivermos eternamente com a barbárie com a lei da selva então quando eu digo nós podemos Construir Um Mundo Melhor não estou de modo nenhum admitindo a possibilidade que algum
dia esse movimento chegue ao seu final jamais toda a sociedade produz excluídos toda a sociedade produz novas formas de opressão daqui a 30 anos pode ser que aqui no Café Filosófico nós estejamos discutindo a as as desigualdades entre humanos de carbono e humanos meio sib a desigualdade sempre pode encontrar novas formas de ancoragem no mundo a ambição de construir uma sociedade aberta democrática tolerante justa é construir é digamos mirar num Horizonte o horizonte a gente identifica mas a gente por definição nunca chega nele o horizonte é um lugar para o qual a gente caminha e
uma sociedade verdadeiramente democrática se vê assim como sempre caminhando para um aperfeiçoamento como sempre para usar a expressão de um de um filósofo americano Richard rorty sempre tentando ampliar aquela faixa do nós o que que é nós todos aqueles cuja dor física ou moral nos concerne ir tentando ampliar aquilo que é o nós vejam bem isso significa manter de pé a fronteira nem toda a diferença é admissível a linguagem define identidades ao mesmo tempo que as diferencia através dela também exercemos o poder social de classificar manter hierarquias e até produzir Exclusão o rótulo que é
dado a esta ou aquela identidade pode estar carregado de preconceito será que temos clareza do quanto isto afeta a vida de uma pessoa é que se constrói um eu um sujeito alguém que se identifica como sendo alguém todos nós quando nascemos tivemos a sorte de ter um olhar materno acolhedor esse olhar materno ele é decisivo daí a importância das relações primárias as relações no primeiro ano de vida todo mundo sabe são fundamentais do ponto de vista psíquico é isso que vai permitir se bem-sucedido que bebê Comece a ter de si próprio uma imagem de um
corpo íntegro e sobretudo de um corpo Alvo do desejo de um outro Alvo do reconhecimento de um outro e que exige digamos o terceiro momento o pai aquele que de alguma maneira representa a lei aquilo que diz a essa fusão momentânea fundamental para dar início precisa ampliar-se abrir-se para as relações com outros humanos a presença do pai depois a presença dos pares todos nós é nesse momento em que digamos a a a a Biologia se encontra plenamente com a cultura e É nesse momento em que aquela criança vai mergulhar no mundo dos significados linguísticos que
aquela cultura lhe oferece para construir uma imagem do corpo próprio para construir uma imagem da sua identidade sua pessoal sua do seu grupo do grupo ao qual ele pertence por laços de variados de variadas naturezas a construção do eu é a construção de um processo permanente de identificações com traços com ideias com palavras com significados que vão compondo aquilo que depois quando me perguntam o que é você quem é você eu começo a produzir uma narrativa sobre mim mesmo essa narrativa pode ser tranquila ou pode ser dramática se eu for de qualquer tipo de identidade
entendida como uma diferença a ser eh excluída negativada tolerada tratada eu já tenho que fazer um esforço psíquico permanente para tentar tornar-me aquilo que eu sou e vocês podem imaginar isso eh se reflete muito frequentemente em eh Sofrimentos que não raro atravessa a fronteira dos conflitos normais ingressam naquilo que a gente pode chamar de psicopat olias me lembro de um livro escrito por uma caríssima amiga Neusa Santos Souza psiquiatra baiana Negra escreveu um livro sua tese sua dissertação de Mestrado chamada tornar-se negro quando você lê os documentos você lê o que é o esforço permanente
de se impor de impor aquilo que você deveria espontaneamente ser sem nenhum constrangimento quem é branco no Brasil não sabe o que é isso quem é branco nos Estados Unidos não sabe SA o que é isso quem é heterossexual no Brasil não sabe o que é isso quem tem um corpo sem nenhum tipo de deficiência não sabe o que é isso porque a nossa percepção de normais nos impede de ver aquilo que tá na nossa cara é aí que mora digamos esse tipo de limite de obstáculo que a gente precisa ter olhos para ver para
poder eh superar esse esse esse processo de Constituição do eu então deve guardar reservar um um lugar simbolicamente reconhecido para os seus membros é isso que faz com que cada um de nós se sinta participante de uma coletividade maior do que o próprio eu do que a própria família do que o próprio grupo de vician é isso que faz nos sentirmos brasileiros humanos Democratas eh eh membros de uma coletividade que nos reconhece como Tais de novo isso depende de que a diversidade que caracteriz a espécie humana eh seja contemplada na sociedade que ofereça a eles
lugares simbólicos de reconhecimento uma pessoa quando tem esse reconhecimento simbólico ela é capaz de vivenciar se próprio seu próprio corpo como predominantemente uma fonte de vida e de prazer reconhecer como legítimas diferenças que são colocadas como negativas é um passo crucial pra gente conseguir inventar uma sociedade menos injusta menos desigual menos intolerante eh do que aquela que nós temos é claro que no centro disso tudo existe um conceito que eu vou mencionar rapidamente que é o conceito de normal eh o conceito do corpo normal não deficiente da sexualidade natural não antinatural não aberrante não anômala
da pele branca que representa aquilo que é que são os valores eh mais positivamente avaliados sobretudo na nossa cultura ocidental essa ideia de normal a gente pode imaginar ela sempre existiu não não existiu sempre a própria palavra normal normalidade ingressou muito tardiamente no vocabulário ocidental e de novo ela tem a ver com a construção da modernidade a construção do Estado nação não vamos entrar em detalhes sobre sobre isso mas eh é é de é de sublinhar o fato de que a ideia de normal como aquilo a qual nós devemos nos referir quase como ideal ela
é uma construção recente do século XIX da metade mais ou menos do século XIX eh quando vocês veem por exemplo manifestações artísticas do século x 1600 e pouco pensem nas pinturas renascentistas pensem naquelas imagens idealizadas da Beleza Vênus as várias figurações de Vênus as várias figurações dos heróis é claro que ali você vê ideais modelos mas são modelos ideais são modelos que digamos eh ilustram O que seria uma espécie de perfeição a qual todos os humanos estão impedidos de alcançar a ideia de que nós podemos alcançar a perfeição comuníssimo entre nós ela é muito recente
tem 150 e poucos anos e ela surgiu na medida em que essa dicotomia entre o ideal e os humanos o ideal sendo os Deuses os Sem Deuses as figuras mitológicas sendo substituídas pela ideia de o homem normal a natureza do corpo normal foi um processo longo que durou um Séc pelo menos no século X para se constituir se organizar em ideias Teorias Sobre a Natureza teorias sobre o ser humano leis eh que se entranham e que depois criadas parecem ser naturais parecem ter sempre estado aí a invenção por exemplo da figura do homossexual ela é
participante do processo de Constituição da ideia de que existe uma sexualidade natural e portanto uma sexualidade normal daí você tem junto ao mesmo tempo homossexual heterossexual e as perversões sexuais todas essas ideias Elas são fruto de um processo que é coletivo que impregna o Imaginário porque tem referentes simbólicos que se instalam de uma maneira que se torna muito difícil combater a ideia de normalidade ela é contingente Ela é dependente de acordos contextuais Convenções que pode ição são Oria do dsm no dsm 3 por conta do Lobby da luta política dos interessados dos gays organizados em
movimentos que contestaram o Saber psiquiátrico apontando para aquilo que parecia uma um saber científico a designação como patologia de uma certa conduta nada mais era do que o tributo pago à ideologia ao imaginário de uma época se há uma questão fundamental hoje em dia pra gente discutir é a própria ideia de normalidade vejam que eu não tô eu não estou sugerindo que a gente Deva abolir quaisquer fronteiras entre identidades e diferenças porque eu acho que elas sempre vão existir e nós temos que ter critérios para definir o que é por exemplo uma sexualidade aceitável e
não aceitável O que é uma sexualidade legítima e uma outra que a gente diz não não é legítima e criamos leis para combater criamos mecanismos para poder fazer com que as crianças não incidam nessas práticas nessas e nessas experiências porque a gente considera que não são legítimas agora a discussão toda é que critérios são esses a lição que a gente tem nas últimas décadas é de que o critério da mera descrição de práticas não é suficiente assim como o critério do que é um corpo normal pleno não ter um membro rompe com isso não ter
um sentido ser surdo ser cego rompe com isso ter algum tipo de deficiência que impeça a performance que a maioria de nós é capaz de ter rompe com a ideia de corpo normal durante praticamente toda a história da humanidade a resposta seria sim Óbvio a vantagem de nós vivermos hoje é que isso não é mais Óbvio por quê Porque quando a gente coloca em questão a própria ideia do que é que é ser ter um corpo normal a gente começa a poder ver as coisas de uma maneira que antes a gente não via e eu
falo por mim eu só comecei a enxergar a falta de rampas Eu só comecei a enxergar o absurdo das maçanetas quando eu comecei a estudar junto com meus colegas o campo das deficiências Há mil maneiras de você contemplar a diversidade dos corpos humanos elas só não são contempladas porque o mundo ainda é feito para aqueles que não tem essas particularidades biológicas essa ideia da da diferença e o combate ao preconceito apontam para a necessidade que nós temos hoje de entender e de construir Qual é a nossa estratégia aqui no Brasil nós queremos construir um Brasil
melhor nós queremos construir um Brasil do qual a gente tem orgulho cidades das quais a gente tem orgulho eu acho essa é uma questão Fundamental e uma maneira de compreender essa que eu já adianto a gente deve superar é a ideia de que falar de identidade diferença é simplesmente você olhar e reconhecer as diferenças que já estão dadas aí compreender que a natureza humana é diversa Nós não somos iguais nós somos diferentes e as diferenças que não são hegemônicas nós devemos tolerar nós devemos ter aquela atitude complacente de errado por quê Porque essas diferenças elas
não são reconhecidas como apenas existentes elas foram criadas tal como são num processo que a gente precisa desvendar elas não são apenas preconceitos no sentido de um fenômeno psíquico que dá nos indivíduos por conta de razões idiossincráticas e que fazem com que o narcisismo das pequenas diferenças reconheça um corpo hígido como sendo bom e um corpo com alguma deficiência como sendo mau não essa diferença ela se apoia no narcisismo das pequenas diferenças freudiano mas ela é produto de um processo cultural político e social e se a gente não entende como constrói isso a gente não
vai conseguir desconstruir isso não vai conseguir construir outra coisa no lugar são vários os grupos de pessoas que foram historicamente desfavorecidos e estigmatizados e continuam sendo combater a discriminação Depende de um processo social cultural e político a história traz uma série de movimentos nesse sentido mas ainda há muito a fazer o preconceito o maior problema dele é que ele é invisível o ódio é visível o ódio do Branco pelo negro o ódio do heterossexual pelo homossexual o ódio eh do sunita pelo shiita ele é ele é visível O que é mais difícil da gente perceber
é esse preconceito que aparece pela simples naturalização das Diferenças hierárquicas ou a parte do problema que essas lutas contra o preconceito provocam é porque elas são incômodas porque para poder você afirmar algo que é negado pelo silêncio você precisa fazer barulho por quê Porque a construção de uma identidade positiva onde antes só há uma identidade negativa é um passo fundamental as mulheres precisaram fazer barulho nos anos 60 para construir o movimento feminista a a mudança do lugar das mulheres na sociedade é talvez a mudança mais radical do século XX Mas elas precisavam fazer barulho queimar
sutiã em praça pública os negros precisaram criar o orgulho negro é curioso lembrar que todos esses movimentos movimento em relação à raça em relação à desabilidade deficiência em relação à sexualidade nasceram num momento histórico em que o mundo estava querendo desmontar sistemas antigos e criar mundos novos os anos 60 70 foram fermento para todas essas mudanças era um momento em que tudo poderia ser mudado no Imaginário cultural havia a ideia de revolução a ideia de que tudo pode ser diferente do que é essa ideia ela é hoje em dia quase inexistente e nós precisamos recuperar
não para poder recuperar o ideário da revolução tal como ele foi vivido até o final do século XX mas a ideia de que o mundo do jeito que é é o mundo como ele vai ser sempre nós precisamos desconstruir a ideia de que nós somos iguais é uma invenção na natureza nós somos todos diferentes na na cultura subjetivamente todos somos seres singulares a ideia de que nós somos iguais ou porque criados a imagem do Deus Criador ou porque somos parte de uma sociedade democrática é uma invenção do Espírito talvez a mais fantástica criação humana tenha
sido essa ideia de que embora diferentes nós devemos nos eh pensar como sendo iguais em direitos diferentes de fato iguais em direitos no horizonte porque como eu disse essa igualdade de direitos jamais existirá enquanto a gente for uma sociedade Humana o que de melhor a gente pode fazer é reconhecer isso e tentar fazer valer esse processo de politização porque é isso que faz com que aqueles que são alvo do preconceito possam tomar aquela designação positivar em aquela designação voltarem se contra a maneira como são definidos e tendo muitas vezes sucesso com isso as décadas recentes
são cheias de exemplos disso os transexuais São exemplo disso os autistas são exemplo disso o autismo mudou radicalmente o seu lugar na sociedade nos útimos os 30 40 anos e isso por conta sobretudo da do engajamento das pessoas que tem essa condição e dos seus familiares numa luta contra a discriminação e contra as concepções científicas estreitas que determinavam o espectro daquela daquele conceito rígido e que moldavam destinos os autistas tomaram para si esse rótulo começaram a positivar e dizerem Muitos dizem o autismo é um modo de ser humano complicado difícil mas é um modo de
ser humano não é para ser exterminado é para ser compreendido e ajudado como aconteceu com os gays os gays positivaram a sua condição e mudaram completamente as classificações psiquiátricas As definições legais aquilo que eles tinham acesso etc e tal pensem na coisa fantástica que tá acontecendo com os portadores de síndrome Dal nos últimos 20 anos do ponto de vista genético biológico nada mudou é a mesma coisa dos anos 80 no entanto o lugar simbólico o destino social das pessoas com essa condição vem mudando de maneira drástica o que é que mudou a percepção social sobre
essa condição Agora você tem no Brasil pessoas com síndrome de down fazendo faculdade você tem pessoas fazendo filmes ganhando prêmios coisa impensável nos anos 80 e quem é o ator disso os próprios os próprios e aqueles que tiveram a sensibilidade de ampliar o raio de ação deles nós estamos agora mudando e nós olhamos para essas pessoas de maneira diferente Ô Aninha Acho que fiquei bonitão nessa foto eu não acho a ideia da homossexualidade como uma aberração ela fez todo mundo deve ter visto o filme sobre Alan turing um das pessoas responsáveis pela vitória dos aliados
e que ser castrado os anos 50 na inglater você homexual você que escoler ou você é castrado quimicamente ou você vai prisão Então essa mudança é muito recente e ela veio acompanhada de outro elemento que é um elemento mais mais contemporâneo que é a ideia de que nós podemos hoje a ideia não o fato de que nós podemos hoje moldar nossos corpos de uma maneira impensável nos anos 50 60 biotecnologias capazes de fazer com que a frase de Freud anatomia é destino tenha ficado completamente fora de propósito a anatomia não é mais destino e a
possibilidade de nós eh adequarmos os corpos em função das identidades de gênero que se constituem na trajetória de alguém ela mudou radicalmente a maneira como a gente pensa esses três aspectos que constituem digamos o universo da sexualidade o sexo biológico aquele com o qual você nasce você nasce de um determinado jeito a identidade de gênero que é o gênero com o qual você se identifica ao longo do seu processo de Constituição pessoal e a escolha de objeto com que tipo de objeto sexual Para que tipo de objeto sexual seu desejo se dirige e se antes
tudo era assim você é mulher biologicamente a sua identidade de gênero é feminina mulher e seu objeto sexual é homem o que sai disso é aberração é pecado é doença etc e tal esse esquema acabou e o que hoje nós temos é uma combinação fantástica de possibilidades eh de equacionamento dessas três dimensões acrescidas daquilo que são as consequências da vida sexual e da das parcerias amorosas na vida cultural ou seja organizações constelações familiares qualquer diferença é aceitável não mas o que eu estou afirmando e junto com todas as pessoas que eh militam explicit E que
nos faz enxergar a realidade de outra maneira é que os critérios que a gente sempre utilizou até pouco tempo atrás não são os adequados e é preciso repensar aquilo que durante muito tempo foi tão cristalizado que a gente naturalizou que a gente achou que era absolutamente assim desde sempre para sempre o que é ser homem o que é ser mulher o que é ser pai o que é ser mãe o que é uma família o que é eh O que são digamos as fronteiras do aceitável e inaceitável no campo da sexualidade precisam ser pens o
objetivo desse módulo é o de incitar todos nós a parar para pensar naquilo que são as regras de diferenciação que tão funcionando na nossa cabeça sem que a gente pare muitas vezes para pensar que fundamento tem que valores sustentam e para poder ter explícitos na nossa mente que valores nós defendemos eh Que tipo de Fronteira nós devemos eh eh construir entre aquilo O que é aceitável e in aceitável o que deve ser prescrito e o que deve ser proscrito porque é esse processo que permitirá que a gente avance na construção de um país mais interessante
mais tolerante mais plural e o mais rico mais capaz de fazer valer aquilo que nós temos eh de mais fundamental essa abertura ontológica do que eu falava no início que foi a responsável pelo horror que nós já produzimos na história o nazismo o preconceito a escravidão mas também foi responsável pelo de mais Sublime que nós produzimos a poesia a ideia de igualdade a ideia de justiça que não estão na natureza são criações da nossa experiência humana sobretudo daqueles dentre nós que foram capazes de ousar pensar num mundo que ainda não tá realizado às vezes ousar
pensar no mundo que era inimaginável quando Paulo de Tarso disse todos somos iguais isso era um absurdo isso era ide é ridícula patética sem nenhum cabimento ela hoje governa os corações e mentes de todo mundo que pensa no mundo melhor 2000 anos e ainda não é hegemônica preconceito discriminação violência são atitudes que podem estar incorporadas em nosso comportamento e também em nossa linguagem se vivemos uma democracia e na era do mundo compartilhado é de se esperar que diferentes convivam melhor a aprendendo a ver na diversidade uma oportunidade de troca e enriquecimento construindo não apenas no
discurso mas na prática cotidiana a igualdade de direitos mais reflexões sobre este tema no site do Instituto CPFL a gente não pode imaginar que a escravidão tenha desaparecido do Horizonte do mundo apenas porque ela legalmente é proscrita toda essa estratégia que eu tô dizendo ela tem um limite e às vezes o limite é o do confronto n