Menos emoção e mais razão | Gabriela Prioli | TEDxSaoPaulo

412.93k views2230 WordsCopy TextShare
TEDx Talks
"Menos emoção e mais razão" é a frase que a Gabi usa no início de todos os vídeos do seu próprio can...
Video Transcript:
oi clara oi gente brigada que felicidade tá aqui eu queria começar a falando para vocês aqui de uma frase que eu tenho repetido quase todos os dias quer menos emoção e mais razão e aí vocês devem estar se perguntando o que que uma pessoa que debate política em 2020 tá querendo falar essa frase ela deve estar fazendo uma piada só pode ser menos emoção pois é de fato as pesquisas mostram que no debate político a emoção tem ocupado o centro do palco as pessoas tendem a concordar ou discordar de uma proposição política mais pela origem
da proposição muito menos pelos méritos ou deméritos daquilo que é proposto é isso significa que as pessoas concordam ou discordam com uma proposta de política pública por exemplo a partir desse esta proposta vem de um político de quem elas gostam se vier de um político de quem eu não gosto eu discordo oi e o mais curioso disso é que as pessoas se posicionam pelos seus afetos mas elas acreditam verdadeiramente que elas estão fazendo uma análise puramente objetiva e eu acho que muitos de vocês se não todos devem estar pensando por eu conheço uma pessoa exatamente
assim do jeitinho que você escreveu é mas a reflexão que eu quero propor hoje vai um pouquinho além qual foi a última vez que vocês mudaram de ideia e qual foi a última vez que vocês ouviram um argumento que ia contra as suas crenças sobre determinado assunto com a mente eo coração abertos e qual foi a última vez que vocês defenderam uma posição considerada em um popular no meio em que vocês frequentam o seu círculo de amizades no ambiente em que vocês estão acostumados a defender os seus posicionamentos eu digo isso porque alguns de vocês
devem saber falaram aqui da minha formação eu sou advogada tem um mestrado em direito e eu sou professora professora de processo penal eu tava dando aula na pós-graduação e a gente tava discutindo uma decisão do supremo tribunal federal que foi muito de batida no brasil inteiro a gente já há algum tempo tem aí as decisões judiciais no centro do debate a gente tava discutindo aquela decisão do stf de possibilitar a execução antecipada da pena e gabriel você vai começar a falar de direito não não vou vocês não precisam entender a discussão propriamente dita só quero
que vocês compreendam a história para discutir a decisão do stf eu propus aos meus alunos que nós olha só que novidade lêssemos a decisão do stf que não era pequena era grande umas 400 páginas e já sabendo que no meio da advocacia criminal a decisão do stf que possibilitou a execução antecipada da pena que não é a posição de hoje a anterior era muito impopular ou seja objeto de muitas críticas fiz essa proposta foi todo mundo para casa não é pô a aula presencial ainda e aí quando a gente chegou na aula seguinte eu perguntei
quem tinha lido a decisão e para minha surpresa ninguém mais um dos meus alunos para me ajudar na tarefa que eu tinha de dar mais quatro horas de aula tomou a dianteira ali dos colegas e falou professora essa decisão é um absurdo e o estef tá errado e o difícil é que a gente não consegue discutir com as pessoas porque elas não ouvem o que a gente tem para dizer o que que ele tava fazendo ele tava criticando exatamente aquilo que ele fez a postura que ele tomou porque ele tava criticando a decisão do supremo
tribunal federal uma decisão da corte constitucional brasileira sem nem ter lido a razão que foi levantada pelos ministros que decidirão ele tava defendendo opinião que era popular no grupo dele não tinha ali um exercício genuíno de crítica de formação de opinião tinha alguém reproduzir indo a opinião que é a popular no meio que ele frequenta talvez vocês não estão me pergunta então mas gabriela se você tá me dizendo que todo mundo e tem influência do afeto para se posicionar se todo mundo eu senti o impacto da emoção por que que você insiste nessa frase menos
emoções mais razão por isso é o chamamento muitas vezes quando eu falo menos emoção e mais razão as pessoas acham que de alguma forma eu tô defendendo que existe um ser humano estritamente racional que não seja impactado pela emoção de maneira nenhuma isso não é verdade é justamente por eu entender a relevância do papel das nossas emoções e no processo de formação de uma opinião ou na defesa de um argumento num debate que eu faço chamado da razão essa é a pressuposição do papel da emoção que faz com que eu tenho a condição de aplicar
razão deliberadamente e eu acredito que a gente pode ser racional que a gente não pudesse a gente não tinha descoberto o papel que a emoção tem o papel que desempenham os vieses cognitivos oi e eu queria contar um pouco da minha trajetória pessoal porque as pessoas que me acompanha nos debates me perguntam gabi como você consegue manter a calma se eu tivesse lado discutindo eu já tinha perdido a estribeira ia ter gritado ia ter falado que a pessoa não sabe o que ela tá falando não dá para você ficar sempre tão serena quando você tá
defendendo seus argumentos isso é curioso porque as pessoas que me conhecem mais intimamente sabe que eu sou uma pessoa bem entusiasmada sem a gente não pode dizer que eu sou uma pessoa estritamente racional fria sempre contida e na minha vida não foi assim também até eu perceber as características da minha personalidade aprender a lidar com elas eu tive que percorrer um processo em algumas pessoas sabem outras saberão agora eu perdi o meu pai quando eu tinha seis anos a minha mãe ficou viúva com 32 anos dois anos menos do que eu tenho hoje eu e
a minha mãe que já era uma mulher acho que com uma personalidade menos emotiva do que a minha como estratégia para lidar com as dores que a vida trouxe ela se sensibilizou de maneira geral bom então pelo exemplo da forma dela de lidar com a própria vida e até por uma comunicação explícita vinda dela para nós para mim e para o meu irmão eu sempre achei que o esperado de mim era que eu fosse uma pessoa racional e eu inclusive falava que eu era uma pessoa racional eu adolescente dizer para todo mundo não gente eu
sou uma pessoa assim super racional eu sou a personificação da racionalidade sou eu e aí um dia porque a gente não consegue inventar uma mentira que dura para sempre né uma hora a panela de pressão explode eu numa discussão entusiasmada com a minha mãe estava muito abalada falei que ela não me compreendia que eu não era racional porcaria nenhuma que eu era uma pessoa extremamente emotiva e passional e ela não é chamada de racionalidade parou criou os ânimos e olhou para mim falou e o gabi eu também não sei se é mãe é a primeira
vez que eu tô saindo e me ajuda vamos juntos e uma discussão que poderia ter consequências muito negativas com essa chamada da racionalidade possibilitou que nós nos conhecêssemos melhor uma outra que nós nos conhecemos melhor ou seja num processo de autoconhecimento que a gente construísse a partir daí então trazer racionalidade para o centro do debate silenciar minimizar um pouco impacto da emoção vai fazer com que nós possamos de fato interpretar o mundo da forma como ele se apresenta não como a gente gostaria que ele fosse e a partir dessa interpretação a gente vai poder pensar
em alternativas e a gente vai poder desenvolver um debate que não fique só no ataque e na defesa mas que eventualmente consiga com um espaço de construção conjunta e quando a gente questiona as nossas certezas sobre o mundo e a gente passa a ter de fato uma visão própria e não uma visão incorporada tem que a gente perceba e saber um pouco lidar com a emoção é também muito relevante para que a gente não fique limitado nas nossas ações e é que eu vou contar uma outra história eu fui gravar um videoclipe com meu marido
que é dj em uma escola de paraquedismo já chegamos lá é lógico que depois de gravar o videoclipe o instrutor chegou para mim e falou e aí vai saltar e eu morro de medo de altura tenho medo quando eu estou dentro do avião ele tá decolando eu pensei bom vamos jogado avião vai ser uma situação de absoluto favor é claro que não e falei para ele que eu não saltaria o que é claro ele tentou me convencer ainda falou para tentar me convencer eu não sei o que passou pela cabeça dele talvez faltasse um pouquinho
de racionalidade não relaxa são aproximadamente 40 segundos de queda livre se nossa no seu argumento alterou a senha funciona exatamente inversa que ele se propunha né porque agora que eu não vou mesmo 40 segundos de queda livre mais os minutos caindo ali com o paraquedas aberto quando o instrutor se afastou e eu pensei o seguinte falei bom eu vou vivenciar alguns minutos de absoluto favor somado tempo da queda livre mais o resto da queda serão alguns minutos mas eu preciso ser capaz de racional e deliberadamente e me submeter a minutos de absoluto favor então conscientemente
sabendo que eu vou viver algo que me apavora eu vou me submeter a isso mesmo assim porque a minha emoção não vai me travar o meu medo não vai me travar e isso é muito a ver por exemplo quando eu venho aqui falar para vocês no palco gabriela como você fica tão calma no debate e eu não sou eu tô sempre tão calma antes de começar o debate né a gente pode depois conversar sobre como um salto em se faz a gente perceber também que no geral a projeção que a gente faz sobre as coisas
é muito pior do que de fato as coisas são quando a gente vivem cia mas o importante daqueles alto de me colocar deliberadamente numa situação de algum descontrole emocional de medo esse é o fato de que eu me vejo hoje muito capacitado para mim colocar em situações de desconforto então a gente vai falar no palco o coração bate mais forte até hoje eu não sou uma pessoa que opera sempre na racionalidade eu falo que eu tenho dois momentos toda vez o primeiro momento é aquele da emoção então falta o a no coração bate mais forte
eu falo que a saliva sabe quando você vai falar saliva fica mais grossa né o coração aquele fogo burro você não consegue controlar e aí eu pego o meu balde de água fria imaginário joga na cabeça respira um pouquinho a calmo e vou enfrentar aquilo que eu me propus da melhor forma que eu consegui bom então falar um menos emoção e mais razão é uma ode a nossa liberdade é para que nós tenhamos mais autonomia para que nós não sejamos escravos as nossas emoções para que elas não possam nos limitar nem quando elas nos causam
medo e para que elas não possam nos limitar no sentido de nós construirmos autonomia do pensamento crítico individual para que elas não nos limitem no sentido de que a gente não vai mais ser um mero repetidor de opiniões prontas a gente vai criar as nossas opiniões mas para isso a gente precisa silenciar um pouco ruídos e questionar as nossas certezas sobre o mundo e talvez vocês me perguntem sobre o processo se ele é tranquilo e indolor não é é desconfortável não é incómodo muitas vezes é dolorido considerava opiniões que balançam os alicerces da tua percepção
do mundo que podem te causar uma sensação de incômodo físico é mas vale a pena e é a nossa chance de encontrar caminhos para que a gente possa construir o amanhã e tem um trechinho do rubem alves escritor brasileiro que eu gosto muito e que inclusive se tem na minha coluna de estreia na folha de são paulo que é ostra feliz não faz pérola ele conta que a ostra para fazer uma pérola parte de um processo de dor é porque um grão de areia entra na concha e incomoda outra causa um desconforto alguma dor que
elas têm poder expulsar o grão de areia o envolvem numa superfície lisa e então ela cria a pérola da dor do incômodo ela cria beleza é a minha proposta do menos emoção e mais razão é para que tendo com um pouco mais de controle sobre nós mesmos a gente consiga construir alternativas para nós vivenciarmos um amanhã melhor e aí se a gente tá falando muito da razão aqui no centro desse debate dessa palestra se a gente precisar trazer emoção para desempenhar algum papel e eu diria que o papel dela hoje é o papel de nos
manter esperançosos e acreditando que de fato a gente tem a possibilidade de viver coisas melhores e aí ó bom obrigada e aí e aí é lindo né e aí
Copyright © 2024. Made with ♥ in London by YTScribe.com