Muitas vezes, o líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un, é retratado de uma forma caricata, como um supervilão, e até é motivo de piada. Mas alguns especialistas alertam que, depois do acordo de paz frustrado entre as Coreias, Kim pode realmente estar se preparando para uma guerra. O aumento da tensão é visível.
Soldados norte-coreanos têm arrancado linhas de trem, bombardeando estradas e construindo barreiras. Tudo para cortar as comunicações entre as duas Coreias. Do outro lado, a Coreia do Sul tem intensificado a parceria militar com os Estados Unidos e dado mostras do poderio militar, como este bombardeiro supersônico americano visto nos céus de Seul durante um desfile.
Uma guerra na península da Coreia envolveria também as maiores potências nucleares do mundo. Neste vídeo eu vou te contar como a coisa chegou a este ponto e te falar mais sobre contexto histórico e mundial desta questão. Quando ditadores demonstram um interesse especial sobre mapas e fronteiras, isso é sempre um motivo de preocupação.
Aqui, o Kim Jong-un inspeciona um modelo da capital sul-coreana, Seul, e avisa que seu país está pronto para “aniquilar completamente” o vizinho do sul, caso seja provocado. Mas a fronteira que ele está particularmente de olho é essa aqui: a fronteira marítima entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, conhecida como Linha de Limite Norte. A fronteira terrestre entre os dois países é uma linha reta.
A gente já vai ver por que, mas no mar, olha como a fronteira é traçada aqui, ela vai se curvando sobre essas ilhas. De fato, essas ilhas permaneceram sob controle sul-coreano. Mas a Coreia do Norte reivindica essas águas.
É uma região tensa. As marinhas dos EUA e da Coreia do Sul fazem exercícios constantes ali. Em 2010, a Coreia do Norte atacou uma das ilhas, matando várias pessoas.
Agora, o exército norte-coreano tem feito disparos de artilharia nas águas ao redor das ilhas como uma ameaça. A Coreia do Norte está insatisfeita com essa fronteira há décadas. Oficialmente, eles nunca reconheceram essa linha divisória.
Agora, num tensionamento da situação, Kim chamou a linha de ilegal. Parece que ele quer esse confronto por algum motivo. Ele quer que isso aconteça e está se preparando para isso.
Este é o Robert Carlin. Ele trabalha com esse assunto há mais de 50 anos, inclusive foi agente do serviço de inteligência dos EUA. Carlin acha que o discurso de Kim Jong-un sobre fronteiras ilegais pode ser apenas o primeiro passo para uma ação militar mais ampla.
Kim declarou recentemente que a Coreia do Sul é agora o principal inimigo do Norte. Antes, a reunificação pacífica era o objetivo oficial. Kim estava efetivamente dizendo que a Coreia do Sul não faz mais parte do núcleo tradicional do povo coreano e a implicação é que, portanto, ela é um alvo.
A gente não pode esquecer que Kim tem armas nucleares e está no comando de um dos maiores exércitos do mundo. As tensões entre os dois lados estão presentes no mar, mas também nas fronteiras terrestres. Essa é a zona desmilitarizada mais militarizada do mundo.
É onde a guerra entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul está congelada há 70 anos. Pois é, a península coreana ainda está dividida de acordo com as linhas da antiga Guerra Fria. Mas você deve estar se perguntando, como a gente chegou até esta situação?
Bom, no final da Segunda Guerra Mundial, a península coreana foi libertada da ocupação japonesa. Os vencedores da guerra, a União Soviética e os Estados Unidos, decidiram que cada um ocuparia metade da península. Eles concordaram com esta latitude como a linha divisória.
Em 1950, as tropas norte-coreanas invadiram o Sul - e o Sul revidou. Foi uma guerra brutal. Pelo menos dois milhões e meio de pessoas foram mortas.
O Norte foi apoiado pela União Soviética e, mais tarde, também pela China, ambos países comunistas. O Sul foi apoiado pelas tropas da ONU, lideradas pelos EUA. E repara que as superpotências da Guerra Fria nunca desapareceram de fato dessa região.
Em 1953, um acordo de armistício foi assinado. Ele fixou a linha de frente da guerra - mais ou menos naquela mesma latitude de antes. Isso encerrou os combates e criou a área desmilitarizada entre os dois países, mas deixou muitas coisas em aberto.
Como a fronteira marítima, da qual a gente já falou. Ela não estava no acordo. A ONU, liderada pelos EUA, desenhou mais tarde a tal Linha de Limite Norte, mas sem a permissão oficial da Coreia do Norte.
E como não teve um tratado de paz, a guerra entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul nunca terminou oficialmente. Uma coisa curiosa é que a mesma família que iniciou a guerra ainda está no comando até hoje. A família Kim é atualmente a única dinastia comunista do planeta.
Kim Jong-un é um ditador de um regime totalitário com um forte culto à personalidade. O país tem um dos piores registros de violações dos direitos humanos do mundo, incluindo perseguição política, tortura e assassinatos. Os norte-coreanos não têm nem acesso ao mundo exterior.
Sair do país sem autorização é ilegal. E a própria Coreia do Norte é um país superisolado do resto do mundo. Mas, por outro lado, Kim tem se mostrado aberto a fazer negócios com alguns dos países vizinhos.
A Coreia do Norte compartilha uma fronteira de 1. 400 km com a China. Sem o vizinho, o país não sobreviveria.
Quase todo o comércio é feito com os chineses. Isso nos leva a Rason, uma região norte-coreana bem na fronteira com a China e a Rússia. É uma Zona Econômica Especial.
Este é o lugar onde, desde a década de 1990, o país comunista tem permitido um pouco de capitalismo se desenvolver. Mas agora, algo novo tem acontecido aqui. Vamos ver de perto a região onde ficam as estações de Tumangang, da Coreia do Norte, e Khasan, da Rússia.
Esta imagem de satélite de outubro de 2023, analisada pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), mostra um número fora do comum de vagões na estação de trem norte-coreana. Alguns desses vagões, ao que tudo indica, foram parar na Rússia. As caixas estão cobertas, então não dá pra saber exatamente o que tem dentro delas.
Mas os especialistas do CSIS dizem que provavelmente se trata de munição norte-coreana para a Rússia, que há dois anos está em guerra contra a Ucrânia. Os ucranianos dizem que encontraram projéteis de artilharia e mísseis norte-coreanos no campo de batalha. A ONU, inclusive, confirmou o uso desses mísseis.
Já a Coreia do Norte e a Rússia negam as acusações.