Depressão e redes sociais - Fernanda Young

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Marília Gabi Gabriela
Marília Gabriela e Fernanda Young falam sobre comportamento, maternidade, depressão e redes sociais....
Video Transcript:
Fernanda Young nasceu em Niterói no primeiro dia de maio de 1970. - Data forte, né? - De lá para cá, essa multidão que está aqui do meu lado já escreveu 12 livros, participou de 11 programas de televisão como atriz ou apresentadora, criou junto com seu marido, o escritor e roteirista Alexandre Machado 14 séries e mais quatro roteiros para cinema, cursou Letras e Jornalismo no Rio e não completou os cursos, mudou-se para São Paulo, foi fazer Rádio e Televisão na Faap, também não terminou a formação.
E agora, essas inquietas criaturas ao meu lado estão de volta à Faap onde cursa Artes Plásticas. ♫ ♫ ♫ Agora eu quero saber de você Fernanda Young, é definitivo dessa vez ou você já está de olho em outro assunto, você vai abandonar essa. .
. Você sabe que a culpa é do meu ascendente que é em Gêmeos, né? E você como geminiana deve entender bem.
- A culpa é minha, é isso? - É, eu tenho muito Gêmeos no meu mapa. Tenho Marte, Vênus em Gêmeos, enfim.
Eu acho que dessa vez eu consigo. Por que é que você voltou depois de tantas conquistas? E olha que eu fui embora e falei para o Rubens Fernandes, que é o diretor de comunicação lá da Faap que eu iria embora porque só valeria a pena se não houvesse a morte.
Olha a empáfia da pessoa. E 20 anos depois retorno. Mas o fato é que eu tava muito chata.
Eu já estou no terceiro período, ou seja, já tem um ano que eu estou cursando a Faap e eu tava reclamona demais. E aí eu tava "nhénhénhénhé" e eu falei: "sabe de uma coisa? Vou levantar a minha bunda e vou fazer alguma coisa que exija".
Não que as coisas outras que eu faça não tenham um. . .
Não te apresentem um grau de exigência. Entretanto, tive que voltar a estudar, fazer aula particular, de português, de história, de geografia. Eu tenho aprendido muito, né?
Então, de certa forma, o meu raciocínio. . .
O raciocínio é um elástico, né? Então eu acho que estou escrevendo melhor. .
. Tem sido muito importante para mim, justo para não ficar naquela sensação que eu tava meio que, tipo, hum, o tem po tá chato. Fernanda, pular daqui para ali é uma insatisfação por não se sentir completamente a vontade em nenhuma dessas escolhas ou você está apenas tratando, alimentando diferentes personas?
Eu acho que pessoas que experimentam, que se comunicam de várias formas, às vezes elas são muito mal interpretadas no Brasil. Então parece assim, acho que de certa forma, por fazer muitas coisas, eu sou um pouco não compreendida na literatura, por exemplo. Entretanto, eu, de fato, acho que sou uma escritora.
Eu me defino única e exclusivamente como escritora. Se eu perguntar, sua profissão? Escritora?
Escritora! Mas, eu me comunico. Então assim, se eu tiver que.
. . Cantar, eu acho que muito improvável porque eu sou muito desafinada, mas assim, eu quero experimentar o contar histórias de várias formas e por exemplo, eu sempre desenhei, nunca tive a menor auto-estima com meu desenho, nunca mostrei.
Entretanto, acho que o desenho é anterior, é claro, a palavra escrita, porque nós primeiro aprendemos a desenhar e. . .
- Primeira expressão. - E esquecemos de desenhar. Então, assim, a minha imagem, o desenho, sempre esteve ligado à minha literatura.
Eu sempre desenhei os meus personagens, as roupas dos meus personagens, tenho muita ligação com roupa. Então, assim, eu entendo que agora eu estou me auto afirmando como escritora mostrando as imagens dessa criação. Eu queria saber se você faz isso também, se você vende diferentes mulheres, tentando um público alvo ou vários públicos alvo.
Eu acho que eu realmente sou péssima, inclusive, eu tenho a impressão que eu tenho uma minoria muito grande que me deixa viver bem com a minha obra e como eu sou. Mas eu realmente não. .
. Se eu tivesse me comportado um pouco melhor eu poderia ter lucrado um pouco mais com entretenimento. Eu acho que eu comprometi algumas possibilidades profissionais justo por ter essas personas todas, eu acho que na verdade eu não me saí muito bem.
A minha mãe sempre falou para mim: "se tatuou, se furou inteira, não vai. . .
". Porque hoje em dia, na altura do campeonato, com um país cafona, porque nós somos um país que a cafonice está sendo alimentada como um bem de consumo, eu me sinto muito prejudicada. Eu já trabalhei bem mais.
Você diria que houve um fator determinante na sua vida para que você tivesse se transformado na mulher que você é hoje? Eu tenho uma certa sensação de inadequação constante. A realidade, ela me incomoda.
Provavelmente isso tem alguma coisa a ver com uma certa melancolia constante que eu sinto, enfim. A gente estava conversando que eu sou uma pessoa atlética. O fazer ginástica para mim, com certeza, é um antidepressivo.
E eu acho que eu sou uma sobrevivente de um diagnóstico que ele poderia ser muito ruim, que para mim ele funcionou. Eu acho que a depressão é um estímulo para mim. Eu sou disciplinada por cauda da depressão, eu sou uma pessoa atlética por causa da depressão.
Então assim, eu acho que. . .
- Você é medicada? - Eu tomo 5mg de Lexapro, porque eu acho que é um feito placebo. Você está no seu momento calmo com esse remédio, é isso?
Eu já tomei muito mais do que isso, porque obviamente eu tive crises. A minha última crise depressiva grave foi em 2003, ou seja, tem 13 anos que eu não tenho uma crise, agora o que significa. .
. - Depressiva em que nível? - Depressiva de não querer.
. . Depressiva de pensar em morte.
O saudável não é aquele que não tem o diagnóstico. É aquele que lida com o diagnóstico. E eu me sinto extremamente saudável, porque eu tenho uma vida que ela é extremamente organizada em um sentido, diante do fato de eu ter um diagnóstico.
- Que papel tem a maternidade na sua vida? - Fundamental! A maternidade ela me organizou completamente.
Então, eu fui mãe aos 30 anos de idade pela primeira vez, e eu tenho a obrigação de criar quatro pessoas. Eu tenho uma função cármica. Você foi a primeira mulher honesta em relação a maternidade, que agora estão fazendo um barulho e aí dizendo que alguém admitiu, "olha, é terrível ser mãe, independente do amor".
- Você em 2000. . .
- 2000! Eu tive elas em 2000! 2000, você me procurou e falou assim: "é horrível esse negócio de amamentar, deu um bode desgraçado".
Eu vi uma carta, eu me lembro que eu escrevia para a Cláudia, escrevi uma carta para um leite, agradecendo um leite em pó. Eu falei "obrigada, por esse leite em pó". Eu queria tomar nescau e não podia, eu queria beber e não podia, sabe?
eu pensava "pelo amor de Deus". Mas o fato é, a maternidade ela vem com essas injunções é um bônus e um ônus. Mas aí, você sentiu um peso da maternidade, que naquele momento, perturbou você.
. . - Perturbou muito!
- E você repetiu isso. Eis a questão. Em 2003, eu estava falando que eu tive uma grande crise depressiva, eu acho que veio muito da rebarba do pós-parto, que foi terrível, eu acho o pós-parto uma coisa.
. . Toda mulher que eu vejo que está grávida e tem filho eu pergunto "Você tá bem?
" Eu fico muito preocupada com o pós-parto das mulheres, porque acho que é uma coisa que não tem como aquilo ali funcionar exatamente, mas assim, quando em 2003, eu quebrei de fato porque eu acho que a maternidade é uma sisão que ela não gruda nunca mais. Você pode estar assim, fazendo uma orgia na Grécia e tem uma hora que você fala "Ops. Como é que estão as crianças?
", no meio da orgia, entendeu? Porque não dá, é uma sisão. Você consegue se gostar, se olhar e se gostar inteira?
Olha, eu demorei, infelizmente, isso é uma coisa que eu falo muito, é. . .
As pessoas me agradecem muito pela honestidade, porque as pessoas não ensinam a gente a ter auto estima, né? A mulher, ela é ensinada a ser algo se o outro legitimar ela, se o cara gostar dela. Então eu acho que eu, infelizmente, perdi muito tempo na minha vida achando que eu era legal se alguém gostasse de mim, então eu.
. . Hoje em dia.
. . Foi muito tardio entender que eu era uma mulher bonita e que deveria gostar de mim sem precisar ser.
. . - Recursos externos.
- Então assim, é uma pena. Acho que a frase da minha vida hoje em dia é "a sorrir eu pretendo levar a vida, pois chorando eu vi a mocidade perdida". O tempo te caiu bem e aí você resolveu posar nua pela segunda vez.
E sem ganhar nada, isso que é muito doido. Aliás as fotos são lindas, do Bob Wolfenson. Você posou para a TOP Magazine.
TOP Magazine! O que foi? Foi uma necessidade de.
. . Eu gosto muito da nudez.
A nudez é uma comunicação política e artística muito forte para mim, mas ao mesmo tempo foi uma provocação sim, porque eu posei nua com 39 anos e agora aos 46. E eu queria. .
. Eu acho que as coisas estão muito doidas, porque assim. .
. Com o mundo virtual, com a internet, a sexualidade, ela está muito pervertida em um sentido e ao mesmo tempo muito escondida e muito banalizada e ao mesmo tempo se pode tudo e não se mostra mais nada. Ou seja, você compra uma Playboy e não tem mais o púbis, entendeu?
Eu fico meio impressionada com isso. O que é que aconteceu? No Instagram você não pode postar um mamilo.
Eu não entendo muito bem isso, entendeu? Eu acho assim, é incrível porque a gente tinha uma capa de um disco da Gal que ela estava vestida de índia, a gente tinha o Caetano nu, a gente tinha o John Lennon e a Yoko nus e hoje em dia está todo mundo escondendo tudo e está todo mundo cada vez mais pervertido nessa mentirosa. .
. - Todo mundo se escondendo. - E providenciando perversão com isso, entendeu?
Aí, no meio disso, disso, você voltou a escrever poesia. Sim, dez anos depois. Eu sou realmente.
. . Eu não posso ser levada em consideração, não.
Porque eu falei tanto: "nunca mais eu publicarei um livro de poesia", mas enfim, a poesia é minha origem na literatura, eu comecei escrevendo poesia. Lindo esse livro. Esse livro é lindo.
É todo lindo. Eu já gravei um dos poemas. É, eu vi querida.
. . Eu não parei de escrever poesia.
Eu continuei escrevendo poesia, mas obviamente é um processo muito mais lento porque fui me dedicando a escrever romances, que é a estrutura que eu mais amo enquanto leitora. Então. .
. - Porque é mais fácil? - E eu fui crescendo na literatura em direção ao romance.
Então, por exemplo, não que eu tenha abandonado a poesia, mas acho que a poesia é a estrutura mais complexa bem da verdade, porque um poema mal escrito é horrível. Então, assim, entretanto eu acho que esse meu livro de poesia ele é bem melhor do que o que eu publiquei há dez anos porque eu fui melhorando. E tem essa delícia que é você acompanhar o processo criativo com essas imagens todas, porque como eu lhe disse, eu escrevo com imagens, então tem poemas escritos na parede é uma coisa.
. . Venha cá!
Vamos falar de brigas. Vira e mexe, até hoje, eu vejo você brigando com a opinião dos outros. Por que você escolheu ler e brigar?
Eu não, por exemplo, vamos falar sobre o Instagram. O meu Instagram é aberto. Então, bem vindo!
Você está na minha casa. É uma casa, né? Eu posto as minhas coisinhas, os meus filhos, eu me divirto com o Instagram.
Eu não tenho Facebook. Eu me divirto. Ai entra uma entidade qualquer e fala assim: "você tá feia, você tá velha, você tá não sei o que, não gostei".
Psiu! Eu paro algum tempo do meu dia e leio aquilo ali e eu respondo às pessoas: "obrigada, você mudou a minha vida, eu li alguma coisa, você disse não sei o que. .
. " Eu respondo obrigada, tudo que me postam, eu tento, obviamente eu não consigo ter toda a delicadeza com todas as pessoas queridas que me dizem coisas lindas. Agora, entra aquele elemento, tem uma pessoa que eu estou processando, inclusive porque entrou no meu Instagram e em um dado momento ele falou: "eu entrei no Instagram achando que ia ver uma lésbica para bater uma punheta e eu vejo só bordado e você com seus amigos bichas e eu vou sair como entrei, de pau mole".
Eu falei: "ãh? " Pare! Não!
eu não vou permitir, entendeu? E eu acho que a gente tem que ter um comportamento sim, tem que ter um entendimento. Eu não entro no Instagram de Madonna, que eu sigo, e falo: "Ai, Madonna!
Errou aí. Errou nesse botox". Não!
Eu entro no Instagram de uma amiga minha e digo "não gostei do corte do seu cabelo, não, querida! ". Eu posso falar pessoalmente: "pô gata, meio que vacilou no corte".
Então, assim, se comportem. Eu acho que isso é um comportamento e que diminuiu muito as agressividades desde que eu comecei - a peitar essas circunstâncias. - Foi?
Muito! A gente assim, ai vem um otário e fala: "ah, se você não quisesse escutar não fosse uma pessoa pública". Ei, alto lá!
Isso é uma coisa que eu contesto desde sempre. É o preço a pagar. Não!
O preço a pagar eu acho que é o resultado do trabalho. É o trabalho. Você pode criticar por isso ou por aquilo, racionalmente, o resultado do trabalho de alguém que está na mídia.
Agora, atacar pessoalmente dizendo, fazendo comentários pessoais dizendo "é o preço", não é preço. Não, não é o preço. Não é o preço.
Agora, por exemplo. Todo mundo que me para na rua e vem falar comigo eu paro e falo, porque eu penso essas pessoas, elas tem a ver com a vida que eu levo. Elas me providenciam ter a vida que eu levo em um país que é bem ingrato com o artista.
Entretanto, eu vivo de arte, sem abrir muitas concessões. Eu sou uma pessoa que, eu sou muito idealista, porque tem esse público que eu estava dizendo. Pode não ser um público enorme, mas é uma minoria enorme que me cabe.
O que quer Fernanda Young? Olha, eu quero. .
. Você estava perguntando se eu tomo algum remédio. De fato eu tomo 5mg de Lexapro e eu lembro que o neurologista que tirou os remédios todos que eu tive que tomar na minha crise de 2003, ele falou: "eu vou deixar esse daqui para você lembrar de ser humilde".
É porque é um efeito placebo, não é nada de mais. Eu não tomo Rivotril, eu não estou medicada. O que eu quero é justo isso.
Eu quero é ter lucidez e eu tenho tido para reconhecer que algumas coisas são só sensação. Algumas coisas fazem tipo, fazem assim, é sensação, vai passar. Porque a criança é que acha que a sensação é acontecimento, né?
Então assim, o que eu tenho tido e essa humildade de olhar para as coisas e não me desesperar mais, isso não vai, eu não vou ser abandonada, eu não vou morrer. É só sensação. - Querida!
Você está um luxo! - Ah, obrigada! Não me lembro dos dez quilos a mais, mas agora você está maravilhosa.
Toda, toda. E eu me ajeitando? Bate-bola, jogo rápido com.
. . Brincadeira!
Isso não é agora, isso é depois! Agora é só um aviso ou um pedido. Assina o canal aqui ó.
. . É aqui!
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