Queridos irmãos e irmãs, chegamos ao primeiro domingo da Quaresma, que tradicionalmente nos apresenta esta cena das Tentações de Jesus. Portanto, nós, como dissemos na oração de entrada da missa da Quarta-Feira de Cinzas, entramos nesses 40 dias de jejum que o Senhor fez no deserto como meio de se preparar para sua missão, que começaria logo na sequência. Acontece que o grande treinamento é exatamente o cenário que nos apresenta São Lucas: Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e, no deserto, ele era guiado pelo Espírito e tentado pelo diabo.
Durante 40 dias, não comeu naqueles dias e, depois disso, sentiu fome. Na descrição de São Lucas, enquanto Jesus é guiado pelo deserto, ele é tentado pelo diabo porque o Espírito Santo, do qual ele estava cheio, o levava para a luta, para o treinamento. O deserto é um lugar em que nós nos equipamos da graça divina, nos enchemos dos dons e das fortalezas de Deus para podermos resistir às artimanhas do diabo.
O deserto representa também o nosso eu interior, onde nós estamos inteiramente sozinhos. O deserto fala da nossa mente, que é o campo de batalha onde acontece essa guerra. É exatamente assim que podemos entender melhor as tentações.
O diabo, primeiro, diz a Jesus: "Se és Filho de Deus", colocando em dúvida a sua identidade. E isso é muito importante, porque na base das tentações está uma crise em que o diabo nos quer colocar, que é a crise de identidade. Quem você é?
Você é cristão? Você é católico? Você é Filho de Deus?
Por que as coisas estão acontecendo com você desse jeito? Exatamente como acontece no Livro de Jó, logo no começo, o diabo se apresenta diante de Deus, e Deus lhe diz: "Olha, meu servo Jó, como é íntegro". E o diabo disse: "Bom, mas é fácil; o Senhor colocou uma cerca ao redor dele.
Ele tem tudo. Tira a cerca, vamos ver se ele permanece fiel". Num dia, ele perdeu tudo: perdeu a família, perdeu as propriedades, perdeu tudo.
A única coisa que o diabo deixou foi a mulher, que ficava lhe atormentando a cabeça. O resto, nada mais. Aí o diabo volta para um segundo ataque.
Ele diz: "Olha, pele por pele, é fácil isso daí. Agora eu quero ver quando tocar na carne dele. " E aí, Deus permite.
Ele toca na carne. E aí vêm os três amigos de Jó, que o confrontam durante todo o livro sobre quem ele é, sobre a sua identidade: "Você pecou? Você fez algo contra Deus?
Você se julga santo? Você se julga bom? Quem você acha que você é?
" E todas essas informações malignas com as quais eles afrontavam a mente de Jó perduraram até o fim do livro. É assim que começa a tentação. Que adianta você ficar indo à missa e as coisas na sua vida darem errado?
Que adianta você rezar o terço e os problemas continuarem vindo? Os boletos vão chegando. Este é o nervo que puxa o diabo.
O diabo é real; não é uma metáfora, não é um mito, como muitos pensam. Não, ele é real, e as suas ações podem ser perfeitamente vistas se nós prestarmos bem atenção. Ele é uma pessoa, mas é invisível, tem inteligência e vontade, odeia a Deus, mas não apenas a Deus; ele te odeia.
Ele quer te destruir. A primeira coisa que ele oferece a Jesus é: "Manda que esta pedra se mude em pão. " Veja, o diabo não chega e te faz uma proposta ruim; ele chega com um papinho muito bonitinho: "Você tem fome?
Transforme essa pedra em pão. " Você não é o Filho de Deus? Quantas pessoas me dizem: "Não, mas eu fui ali, mas é tudo tão inocente, só fala coisas boas.
" Não, não, não fala coisas boas; fala aquilo que você quer ouvir, e fala o que você quer ouvir justamente para te manipular. O Evangelho não diz o que você quer ouvir; ele diz o que você precisa ouvir. O Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.
Mas não há nada que te tire mais da sua zona de conforto. Não há solução fácil com o Evangelho. Não tem mágica, não tem feitiço.
Você não vai transformar pedra em pão. Pedra é pedra, pão é pão. Se você quer sair de uma situação, você tem que trabalhar com aquilo.
O Evangelho é concreto. A graça de Deus nos impulsiona, nos leva, nos conduz, realiza em nós coisas maravilhosas. Nós vemos a desproporção que existe entre o que nós fazemos e o que nós colhemos, porque a graça de Deus opera aí.
Porém, se eu não colher, eu não vou recolher. Se eu não plantar, eu não vou colher. A segunda tentação é a tentação da vanglória.
É a tentação que coloca diante de você todos os reinos do mundo e te faz desejar aquilo. Se você quer dinheiro, ele vai te falar docemente ao ouvido: "Nossa, olha, tenho aqui grana para te dar, facilidades. Faz esse caminho, você vai conseguir chegar longe.
Vem para cá, faz assim, faz desse modo, faz daquele outro modo. " Ou seja, ele vai te oferecer aquilo que o Evangelho não te oferece, porque o Evangelho, se tem uma coisa que Jesus nunca fez, foi transformar pobres em ricos. Ele curou surdos, expulsou demônios, ressuscitou mortos, limpou leprosos, curou cegos e paralíticos, mas não transformou um pobre em rico.
Isto ele não fez. O Evangelho não está preocupado com isso; ele quer te levar para aquilo que é transcendental, porque por debaixo de toda essa matéria há uma alma que é imortal. Ela vai perdurar mais do que o mundo inteiro.
O mundo vai acabar, a tua alma não. Só você não sabe disso. Você, que vive correndo atrás do mundo, não percebe o valor que tem a sua alma.
Mas o diabo percebe, e ele a quer para ele. Então, ele está. .
. Disposto porque sabe negociar a te dar o mundo inteiro se você puder lhe dar a sua alma, e tem muita gente que aceita. Os jovens mais famosos deste mundo não são cristãos, filhos de Deus, nascidos de [Música] novo.
Veja o que está acontecendo agora com o Frei Gilson. O Frei sabe rezar, coitado! Aí criam toda uma campanha porque 1 milhão de pessoas estavam rezando de madrugada.
Isso incomoda o diabo! Não há incômodo maior. Se você não sabia disso, aprenda: dessa vez, porque é público, qualquer um pode ver.
A oração é aquilo que destrói todas as bases de ação do inimigo. Nós temos que rezar; nós não queremos um mundo para nós. O que nós queremos é levar Deus para o mundo, ou seja, nós queremos estourar todos os cativeiros do diabo pelo anúncio da palavra de Deus, do evangelho, que traz a completa libertação para todo aquele que crê.
A Última Tentação sugere que Jesus se jogue da parte mais alta do templo, confiando em que Deus o salvaria e usa para isso versículos bíblicos. Vejam, o diabo conhece muito bem a Bíblia. E aí o que acontece?
Jesus não cede à tentação. Ele diz: "não tentarás ao Senhor, teu Deus". Nos três casos, Jesus se vale de três versículos do Deuteronômio.
Este último versículo, em específico, está no contexto em que Moisés diz ao povo: "Vocês vão entrar na terra, mas não se contaminem com as práticas, com as adorações, com as idolatrias desse povo. Adorarás somente ao Senhor, teu Deus. Não tente ao Senhor, teu Deus.
" Hoje, nós temos uma ostentação do mal. Eu fico impressionado, queridos irmãos, porque antigamente as coisas eram mais camufladas. Agora, o diabo tirou as máscaras.
As pessoas dizem: "não, isso aqui é para invocar mesmo; essa batida é para isso. " Ela não está aí posta de maneira inocente. Nós estamos realmente ali, e vamos chamar mesmo.
Se vez, eu estava indo com dois outros clérigos para um encontro de padres, e era segunda-feira de carnaval. Na rua, jovens indo para o bloquinho. Malditos bloquinhos!
Os chifres do diabo. Fantasia com chifres. Por que eles não se dão conta de que isso é uma coisa ruim?
Porque brincam com isso. Porque de fato o diabo não chega te ameaçando. Ele não vem assim com a sua pior face.
Ele chega docemente, parece que ele é o teu amigo, digamos assim. Sabe aquela pessoa que te consegue um pouquinho de droga quando você pede? Que vai com você no boteco para tomar uma cachaça quando você está um pouco estressado?
Que te acompanha para ir numa casa de prostituição quando você deseja isso? Ele chega com essa aparência de camarada. Para quê?
Para que você seja completamente seduzido. No centro das tentações de São Lucas está a adoração: "Eu te darei tudo se prostrado me adorares". Ele deseja ser adorado, e como há católicos imprudentes que dizem: "Olha, eu fui ali por uma curiosidade, porque me falaram, porque me disseram, porque me recomendaram.
Eu estava desesperado e ali [Música]". Saem que é só pela misericórdia de Deus. Queridos irmãos, se aqui já existe tanta luta, para quê você vai se colocar no terreno do inimigo?
Não faça isso! Peça a Deus que te dê luz, esclarecimento, porque tudo é muito simples. Veja que na segunda leitura, São Paulo diz: "se com tua boca confessares Jesus como Senhor e com o teu coração creres que ele ressuscitou dos mortos, serás salvo.
" Por quê? É crendo com o coração que se alcança a justiça, e professando a fé com a boca que se obtém a salvação. Em outras palavras, não é difícil ser salvo, desde que eu realmente me comprometa com Cristo.
Porque se tua boca confessar Jesus como Senhor e no teu coração creres que ressuscitou dos mortos, será salvo. Só que o lado oposto dessa moeda também é verdade. Para você levar uma legião de demônios para sua casa, você não precisa fazer coisas extraordinárias.
Basta você ir ali cantar uma musiquinha, ouvir um batuquezinho, fazer tal visita ou pequeno rito ali. Você [Música] leva um estádio cheio de demônios para dentro da sua casa. É isso que acontece.
O crescimento do ocultismo, inclusive entre cristãos, está alarmante. Quantas pessoas estão se entregando a práticas de ocultismo mesmo dentro da igreja? Esses dias eu fui num podcast de um pastor evangélico que me falou que misturaram as 12 tribos de Israel com os 12 planetas do zodíaco.
E aí vão criando toda uma espécie de astrologia bíblica, toda supersticiosa, sem base na observação, em nada. Na superstição, está cheio disso por aí. Nós precisamos tomar cuidado e não nos expor às armadilhas do demônio.
Peçamos a Deus que nesta Quaresma nós permaneçamos vigilantes! Há um combate sinistro acontecendo, é invisível. Nós não vemos.
De repente, é um parente teu que se levanta e fala: "O que está acontecendo aqui? " Não tem causa. Tem um demônio lá atrás.
Pode rezar que tem. Quantas vezes parece como uma faísca se acende, um fogarel dentro de casa ou dentro de onde a gente tiver. Muitas vezes, olha, eu me refugio no banheiro: "Satanás, sai desse lugar em nome de Jesus Cristo!
" Quando eu saio, está todo mundo tranquilo. Há uma luta real acontecendo. Não é uma brincadeira.
Não pense que nós estamos aqui fazendo um esporte; ah, Igreja, nossa! Não. Não é uma luta real!
Ou você está do lado de Cristo com todo o seu ser ou você está do outro lado. Não tem jeito. Não há lugar para neutralidade.
Aliás, nas coisas espirituais, não há neutralidade. Nas humanas, sim, mas nas espirituais, não. Sejamos precavidos, queridos irmãos.
Que tenhamos o nosso pensamento em ordem. Ter o pensamento em ordem significa descer para aquele lugar de humildade onde nós somos aquela pequena fagulha emprestável. Mas que Deus ama, com todo o Seu ser, essa é a posição de verdade: a posição de filho.
Eu tenho que estar lá; Ele é meu Pai. Eu preciso estar aos Seus pés. Que o Senhor nos conserve aí e que os nossos pensamentos estejam em ordem.
Quando a cabeça tiver um pouco perturbada, deixa tudo e vai rezar. A sua mente está agitada; há uma pressão psicológica sobre você. Deixa tudo, vai rezar.
Não brinca com isso, é muito importante. Protege a tua casa; coloca lá um louvor ou a Bíblia, mesmo falada. Missa, deixa tocando.
Protege o teu ambiente; tem um ambiente asséptico espiritualmente. Proteja o teu lar, proteja a sua casa, proteja o seu ambiente de trabalho. Proteja-se!
Se você tiver uma atitude realmente séria, São Paulo diz na segunda carta aos Coríntios: "Não queremos que o diabo vos seduza como Eva, pois não ignoramos as suas maquinações. " Não ignoremos também nós as maquinações do inimigo; pelo contrário, que nós recebamos espíritos de revelação e saibamos onde ele atua, como ele age, e tenhamos uma atitude firme. Porque é na batalha espiritual que nós encontraremos aquilo que precisamos: a companhia dos anjos, o auxílio da graça e a nossa repulsa a tudo aquilo que é contrário ao Reino de Deus.