Munduruku | Condenados pelo mercúrio

Tapajós [Música] um rio de contrastes Belo em cada curva em cada praia ao ponto de ser conhecido como Caribe brasileiro em Alter do Chão em Santarém no Oeste do Pará [Música] morto ao ser devorado pelo garimpo ilegal no território mundo do corpo a bacia do Tapajós agoniza vendo a busca predatória por ouro ameaçar a vida dos rios da Floresta e de sua gente [Música] a nossa Floresta né está doente pedindo socorro e todo mundo né É culpado pela destruição quem consome carne quem consome soja quem usa Neo quem tem ouro no pescoço quem é vizinho

as palavras de Alessandra curapi munduruku encontra um ecos na ciência os números divulgados pelos pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz impressionam 100% dos indígenas da etnia munduruku estão contaminados por Mercúrio todas as amostras de pescado coletadas pelos cientistas também continha um metal pesado Mercúrio é um metal pesado que tem longa permanência tanto no ambiente quanto no corpo humano né E essas populações pelo fato de terem como hábito alimentar no consumo regular de pescado elas Estão ingerindo né a cada nova refeição um produto contaminado e esse contaminante o mercúrio ele vai se acumulando no corpo da pessoa

A medida que o tempo vai passando quando ele tá no solo ele é parecido com aquilo que tá ali no termômetro aquela coisa meio prateada né quando ele enfrenta condições de baixa de oxigênio por exemplo no fundo dos rios ele se transforma em meter o mercúrio que o mercúrio venenoso Por que que ele se torna venenoso Porque nessa forma ele atravessa Barreiras de proteção do nosso organismo Ele atravessa a barreira da mãe para o feto da placenta que a barreira placentária também vai para o feto a barreira da retina ele também atravessa e vai para

o sistema visual para os olhos então ele se difunde pelo organismo como a facilidade incrível e como ele é um metal pesado ele começa a alterar esses vários sistemas Então ele pode dar alteração endócrino na alteração cardiovascular alteração visual e principalmente alteração do sistema nervoso [Música] gerações do povo munduruku já nascem contaminadas por Mercúrio e crescem sofrendo as consequências 16% das Crianças apresentam distúrbios de coordenação motora e na fala sete em cada 10 adolescentes têm níveis de mercúrio Acima da Média um problema do presente que ameaça O futuro quem tem maior índice de mercúrio no

sangue são crianças e jovens e as mulheres em idade fértil essas crianças podem ter alterações no cérebro elas podem ter podem até nascer com cérebro normal mas depois terem alterações cognitivas da memória da atenção do raciocínio alteração visual então mais com Mercúrio é levado no organismo é levar um transmitir aos seus filhos um dia antes havia Fartura de alimento hoje a fome e famílias inteiras adoecidas pelo desastre ambiental instalado pela mineração clandestina se o territórios se as matas são derrubadas a gente vai ter menos menos comigo não tem menos de escassez um dos treinos é

isso acaba obviamente gerando uma situação também de fome e dependente inclusive de Socorro de outros de outros lugares né E às vezes da própria cidade nos órgãos do governo no passado os indígenas da etnia munduruku ficaram conhecidos como grandes guerreiros do Tapajós se espalham do Amazonas ao Mato Grosso mas a maior parte da população finca raízes no Pará na Calha do Tapajós nos municípios de Santarém Itaituba e Jacarecanga [Música] uma quantidade maior que são mais ou menos aí umas 13.000 pessoas e que vivem num território Já demarcado devidamente demarcado e sobretudo ali no Pará que

é que existe toda essa dificuldade justamente por conta das invasões permanentes desse território a área demarcada do Pará relativamente grande são dois milhões e meio de hectares é portanto um território difícil de acompanhar toda essa extensão E é claro que há ali confrontos permanentes entre trilheiros garimpeiros [Música] batizados pelos maiores rivais o povo Parintins munduruku significa formiga vermelha alusão aos guerreiros que atacavam em massa Os territórios inimigos [Música] entre a mata e as águas eles sobrevivem e resistem através são séculos em harmonia com a natureza na terra indígena sauremo e burra em Itaituba no Pará

eles ainda lutam pela demarcação do 178 mil hectares do território ancestral a portaria de identificação feita pela Funai foi publicada em 2016 mas a terra ainda não foi demarcada enquanto esperam a oficialização os indígenas veem a fronteira entre a fartura e a escassez ser demarcada diariamente pelas invasões e pelo garimpo legal Qual é o futuro que nós queremos né é o futuro que a gente quer é água limpa futuro que a gente quer é floresta em pé é os animais vivos é os povos Resistindo isso é o futuro mas enquanto houver a destruição do nosso

Rio contaminado pelo né pelo ouro né pelo Mercúrio a nossa água suja a nossas crianças tomando banho água suja não é o futuro né Vocês da cidade que em São Paulo outras cidades capitais grande vocês tem como comprar uma água vocês consumir enquanto nós estamos bebendo água suja quanto o nosso povo está consumindo água suja enquanto nosso povo tá bebendo água suja mas nem sempre foi assim em 1997 a equipe da TV Cultura visitou o povo munduruku viu uma gente que fala e vive sua cultura [Música] Boa tarde da floresta e do Rio o que

se vê hoje é um rio doente e que causa doenças resultado de décadas de contaminação já perdemos crianças já teve relato das mulheres que chega perto de mim fala olha a gente a minha filha engravidou teve neném mais o neném era horrível a gente não sabe porque que a criança nasceu daquele jeito então muitas vezes as crianças acabam não sobrevivendo acaba morrendo e as mulheres também estão doentes as mulheres estão até com medo de engravidar como é que vai ser o futuro das suas mulheres as cenas vistas na terra indígena saurei no ibu confirmam o

mercúrio espalhado pelo garimpo ilegal roubou a saúde de mulheres homens e crianças ele tem uma ampla de fusão em todos os jogos do sistemas Mas ele tem uma preferência pelo sistema nervoso central pelo sistema cardiovascular sistema renal enfim e pode afetar principalmente né mulheres em idade fértil gestantes sua mãe come o pescado contaminado esse Mercúrio é absorvido na corrente sanguínea e vai atingir o feto que tem informação e vai ser depositar no cérebro da criança são os sinais da doença de minamata a síndrome foi registrada pela primeira vez na cidade de minamata no Japão entre

as décadas de 1930 e 1950 na época uma fábrica de produtos plásticos derramava Mercúrio diretamente no mar milhares de pessoas e animais foram envenenados agora os mesmos sintomas assolam o povo munduruku na Amazônia o que está acontecendo é que outras doenças que são atribuídas algum diagnóstico na verdade elas têm um fundo causado por intoxicação Mercurial por exemplo depressão um nível elevado e Mercúrio no organismo tá relacionado a doença depressiva alterações endocrinológicas hipertensão arterial às vezes dificuldade de concentração de memória alteração no campo visual coisas mais sutis que são atribuídas as outras doenças mas na verdade

o fundo é pode estar sendo um nível elevado maior de mercúrio no organismo no meu monitoramento Clínico a gente percebeu que pessoas com maior nível de mercúrio no organismo tem maior queixa neurológica de dor de cabeça dormência tontura e etc quanto mais mercúrio no ambiente mais doença ameaça a vida do povo munduruku é o que mostra o filme do cineasta Jorge bodanski Amazônia a nova minamata o razão do nosso filme é justamente comparar o que está começando a aparecer hoje com aquilo que aconteceu em minamata no Japão 50 anos atrás Então como são sintomas que

demoram muito para aparecer mas quando aparece são irreversíveis então a gente pode prever o que está acontecendo a partir daquilo que já aconteceu no Japão Então a gente tem um retrato do futuro se a gente não fizer nada vai se repetir vai se repetir minamata na Amazônia por conta do desastre no Japão a Organização das Nações Unidas criou em 2013 a convenção de minamata sobre o mercúrio um instrumento já foi ratificado por cerca de 140 países mesmo sendo signatário desta convenção desde 2018 o Brasil fechou os olhos para tragédia que destrói a saúde e ameaça

à Vida Dos Povos tradicionais é hoje a gente vê a situação cozinhando mami e fica chocado pelo que tá acontecendo mas isso vem acontecendo nos últimos anos até mesmo outros povos dessa mesma região que se não foram afetadas diretamente nesse momento indiretamente já faz chegar até eles porque o mercúrio na água ele se expande não pode haver invasores indígena não pode ter garimpeiros trabalhando de maneira ilegal dentro da terra mas enquanto isso não acontece né a gente precisa ter algumas ações emergenciais focadas nas pessoas que estão hoje afetadas né então a gente pensa num plano

num programa de manejo das populações cronicamente expostas ao Mercúrio só no nosso grupo de pesquisa na Fiocruz tem aproximadamente 500 casos diagnosticados com exames laboratoriais com confirmatórios e esses 500 casos não aparecem nas estatísticas oficiais porque os casos não são notificados a gente precisa estabelecer prioridades para dar atenção as pessoas que têm sintomas mais graves as crianças as mulheres idade fértil gestantes e poder criar um protocolo de atendimento as pessoas afetadas e esse protocolo sem incorporado na rede SUS quanto mais a gente desmata mas a gente tem malária quanto mais a gente faz derrubada mais

a gente tem leishmaniose então quando a gente lesa o meio ambiente a resposta vem diretamente para para o ser humano e isso a gente precisa entender bem documentar e ajudar essas pessoas que estão sofrendo essas consequências que nós estamos Resistindo e que vamos continuar Resistindo que toda a água que existe a gente vai proteger todos os locais sagrados que existe a gente vai continuar resistir a floresta que teve [Música] que hidrata que a briga desaparece em cicatrizes abertas no meio da Mata [Música] a Amazônia teve 167 km quadrados desmatados em janeiro de 2023 segundo dados

do Instituto Nacional de Pesquisas espaciais o número representa uma queda de 61% em relação a Janeiro de 2022 quando foram desmatados 430 km² do bioma de agosto de 2021 a julho de 2022 foram derrubados 3858 km quadrados de florestas só no Pará O que representa 36% do total devastado na Maior floresta tropical do mundo o equivalente a quatro vezes o tamanho da cidade de Belém segundo o levantamento do Instituto do homem em meio ambiente da Amazônia parte do que é desmatado da lugar ao garimpo ilegal de ouro a extração clandestina do minério rasga a mata

polui os rios adoeste os peixes e o povo munduruku a gente sempre tá alertando que o mercúrio é uma coisa muito séria é saúde porque não tá afetando só povos indígenas até mesmo que mora na cidade até mesmo os garimpeiro até mesmo pescadores que consome peixe o mercúrio jogado nas águas se alastra viaja para bem longe dos garimpos uma contaminação que vai um quilômetros a distância não só pelos Rios mas como pelos Rios voadores que são as nuvens então é um problema que não é só das populações indígenas é um problema das populações urbanas de

todas as populações da Amazônia eu inclusive trabalho com a hipótese de que mesmo populações que estão longe de áreas de degradação ambiental Elas também já estão expostas existe um impacto para biodiversidade enorme e que inclusive pela própria característica do mercúrio né Ele é um tipo de substância que ele é absorvido pela pela pelos níveis mais baixos da cadeias pelas plantas por exemplo né depois para os animais menores e que são consumidos pelos maiores até chegar por exemplo um peixe né e com concentrações cada vez maiores e ele não sai do sistema né E com isso

todo o mercúrio que está sendo que tá gerando poluição nesses Rios desde a década de 70 80 ele continua circulando naquela região até chegar por exemplo ao consumo humano né e com consequências inclusive até agora Muitas delas é conhecida para se produzir um quilo de ouro nos garimpos é necessário em média o uso de um quilo 320g de mercúrio despejado sobre o meu ambiente uma das principais teorias nesse sentido é para entrada de grandes quantidades de mercúrio em território nacional é através das Fronteiras traficadas né mas principalmente da Fronteira norte né Nós estamos falando aí

né das guianas Suriname né da própria Venezuela e já é conhecido pela pelas autoridades a existência de organizações criminosas internacionais né onde ouro minerado de maneira ilegal algumas vezes inclusive com envolvimento das partes e de Milícias na Venezuela e na Bolívia traficam e tem relações próximas com clima organizado no Brasil né Nós estamos falando aí por exemplo de Rondônia e esse ouro e esse material e esse Mercúrio depois é levado também para para região de tempo então afetando diretamente os mundurucus e depois o grosso dele é exportado né muitas vezes inclusive exportado para países como

Canadá como Estados Unidos Suíça né sem os devidos controles né para vender o ouro ilegal os garimpeiros ou empresários precisam Obrigatoriamente repassar o minério a uma instituição que faz parte do sistema financeiro as distribuidoras de títulos e valores Imobiliários a pessoa vendendo ouro ela precisa simplesmente preencher um formulário papel e a caneta dizendo em tese da onde que vem esse ouro O problema é que a gente sabe que a pessoa não vai dizer que veio de uma terra indígena ou de imunidade de conservação que é ilegal vai colocar qualquer número de Lavra e se a

distribuidora de títulos e valores mobiliários guardar esse papel a lei também vai dizer que essa operação é feita de boa fé e é assim que tanto ouro que sai de terra indígena que sai de unidade de conservação na Amazônia ele é esquentado né Ele é lavado para entrar nesse mercado formal com uma aparência de legal quando o de legal ele não tem nada mas justamente porque esse processo é tão fácil é tão rudimentar que as fraudes acontecem nesse montante enorme né de acordo com dados do Instituto escolhas organização que investiga as operações Ilegais de Ouro

no país em 2021 53 toneladas de ouro com indícios de ilegalidade foram comercializadas aqui no Brasil a mineração clandestina em área indígena e unidades de conservação entre 2015 e 2020 corresponde a metade do Mercado de Ouro brasileiro no mesmo período a mineração ilegal foi responsável pelo desmatamento de 21 mil hectares na Amazônia prejuízo socioambiental de quase 10 de reais o garimpo traz riqueza só que não é para a população que está lá você tem uma concentração muito grande de riqueza na mão dos donos nos garimpos nos Donos das instituições financeiras são as refinarias eles que

ficam com grande parte do valor agregado o Ministério Público Federal já recomendou a órgãos estatais e instituições públicas medidas que impeçam a entrada do Ouro ilegal na cadeia brasileira pediu também o bloqueio das exportações do minério em 2021 o Supremo Tribunal Federal e a Organização das Nações Unidas determinaram que a mineração em terras indígenas seja combatida ainda assim o garimpo ilegal continua destruindo a floresta e a vida dos povos tradicionais o próprio estado não ajuda aquele povo porque aquele que mora na cidade não tem emprego não tem uma educação não tem uma saúde única forma

de ele de viver bem para ter o teu próprio recurso seu próprio dinheiro eles vão para o garimpo no final de outubro de 2022 o MPF reforçou a justiça o período para que a união o Ibama e a Funai fossem obrigados a realizar a ação emergencial para conter novas frentes do crime no território indígena Mas em Novembro os garimpeiros continuavam atuando e poluindo os rios por isso a professora e ativista Alessandra se tornou uma incansável porta-voz da etnia deixou a sala de aula para gritar em defesa de seu povo em Brasília no Brasil e no

mundo a voz dela é também uma lição as terra é para grilagem eles estão comprando terra para mim fazendo terra e a nossa terra não é demarcado porque nós não queremos o peixe contaminado para os nossos filhos nós queremos um futuro limpo não precisa destruir a Amazônia não precisa destruir o rio não precisa destruir nosso povo para que o povo mundurucu possa cumprir sua vocação de viver e proteger a floresta o garimpo e o desmatamento tem que ser combatidos é possível e necessário né porque senão os nossos filhos e netos vão nos perguntar né já

que nós sabíamos quais seriam as consequências Porque nós não fizemos nada a Amazônia preservada é garantia da Saúde dessa gente de sua língua única considerada pelo Unesco em perigo de extinção de sua cultura eternizada nos livros do escritor Daniel munduruku tudo que foi feito agora daqui para frente vai sentindo aqui a 10 20 anos porque o que nós estamos vivendo agora é repercussão do que foi feito 10 20 anos atrás ou do que não foi feito então nós corremos o risco sim de reproduzir isso tudo daqui a 10 anos quando nós conversarmos notar o crescimento

das crianças com problemas físicos com problemas mentais aí a gente vai querer Minimizar isso vai querer resolver isso né um novo proselitismo por nova novos novos juízos de valor que que vão ser colocados para a sociedade brasileira as novas políticas públicas não é agora a gente tem que romper com isso agora que é um ciclo vicioso que daqui a um tempo vai fazer vai fazer couro ou incompetência que hoje nós vivemos a floresta em pé é a água que a riqueza maior está na Floresta em pé que você dá fruto da cura e serve tanto

alimento para os animais [Música]