Você sabe qual é o seu tipo sanguíneo? A, B, AB ou O? Comenta aqui embaixo.
E se eu te disser que o seu tipo sanguíneo pode influenciar na sua saúde? Um estudo americano viu que pessoas com sangue do tipo O parecem ter um risco 12% menor de desenvolver doenças cardiovasculares, por exemplo. E existem vários outros estudos mostrando uma relação entre os diferentes tipos sanguíneos e o risco de problemas que vão desde doenças infecciosas até câncer.
Será que isso é verdade? O seu tipo sanguíneo pode te colocar em risco ou, quem sabe, te proteger de alguma doença? No vídeo de hoje eu vou te contar o que realmente são os tipos sanguíneos e a relação deles com a sua saúde.
E se você se preocupa com ela e acha que esse é um tema importante, você veio no lugar certo. Não perde tempo e já se inscreve aqui no canal. E agora, vamos descobrir como era viver na época em que ninguém conhecia os tipos sanguíneos.
Em meados do século 17, um homem francês chamado Antoine Mauroy, que sofria com um distúrbio mental, foi levado ao médico porque estava bem agitado. Ele foi atendido pelo médico Jean-Baptiste Denis, que resolveu fazer um tratamento bem inovador: transferir o sangue de um bezerro para o corpo do Antuán. Isso é o que nós chamamos hoje de transfusão e o Antuán foi um dos primeiros humanos da história a receber esse tratamento.
Existem variações dessa mesma história, com um cordeiro ou uma ovelha sendo os “doadores” do sangue. Mas o que importa é que depois de receber duas transfusões, o Antuán pareceu ficar bem mais calmo. E vendo essa melhora, a esposa dele insistiu para que ele fizesse uma terceira transfusão.
Mas, o que ninguém esperava era que o procedimento seria interrompido na metade porque o Antuán teve uma série de convulsões. Na manhã seguinte, ele já estava morto. Mas por quê?
Quer dizer que receber sangue de um bezerro é perigoso? A transfusão era, e ainda é, a melhor solução para repor o sangue perdido por causa de um ferimento grave e para tratar doenças do sangue, como a hemofilia ou a anemia. Mas as hemácias de um bezerro não são exatamente compatíveis com as nossas.
O nosso corpo as reconhece como estranhas e dispara uma reação que pode levar até a convulsões. O jeito mais seguro seria então pegar sangue humano, claro. É… Em alguns casos, se uma mulher perdia muito sangue durante um parto difícil, por exemplo, e se o médico fosse bem ousado, ela poderia receber uma transfusão… com o sangue do marido.
Com certeza essa era uma medida mais segura que receber o sangue de um bezerro. E eu tô rindo porque hoje, gente, a gente sabe, graças à ciência, que mesmo receber o sangue de um outro ser humano assim aleatoriamente é, na verdade, uma roleta russa bizarra em que o paciente poderia se salvar da hemorragia ou morrer por causa da transfusão. Mesmo pessoas que recebiam sangue humano, morriam em um processo aparentemente aleatório.
E ninguém entendia ao certo o porquê. Até chegar em 1901, quando o pesquisador austríaco Karl Landsteiner fez uma descoberta que mudou a ciência para sempre. Ele descobriu os tipos sanguíneos.
O nosso sangue é uma mistura de células e moléculas que circulam pelo corpo dentro dos vasos sanguíneos. Dentre as células do sangue, tem um tipo que merece a nossa atenção por causa da quantidade, as hemácias, conhecidas também como células vermelhas. Em uma única gota de sangue, você tem cerca de 200 milhões de células vermelhas.
Cada uma das hemácias do sangue carregam moléculas na sua superfície, como se fossem uma espécie de decoração. Existem dois tipos principais de moléculas, A e B. Elas podem ser produzidas ou não, dependendo da genética de cada pessoa e isso gera 4 possibilidades.
Se as hemácias contêm moléculas tipo A, a pessoa tem o sangue do tipo A. Se elas contêm moléculas tipo B, a pessoa tem o sangue do tipo B. Em um pouco mais de 5% das pessoas, as hemácias produzem os dois tipos de moléculas ao mesmo tempo e a pessoa tem um sangue do tipo AB.
Só que 45% da população mundial não produz nenhuma das duas moléculas. Por isso, o sangue delas é chamado de tipo O. Esse é o meu caso e acredito que o da maioria aqui embaixo.
Saber o tipo sanguíneo é essencial antes de qualquer transfusão porque o nosso sistema imune produz naturalmente anticorpos contra as moléculas que nós não temos no corpo. Nos primeiros 6 meses de vida, um bebê com sangue A começa a produzir anticorpos contra moléculas B ou vice-versa. E um bebê com sangue O produz anticorpos contra as duas moléculas.
Os únicos que não produzem esses anticorpos são os bebês com sangue AB, já que eles têm as duas moléculas em suas hemácias. O problema é que esses anticorpos naturais são muito potentes e ninguém nem sabia da existência deles até o início do século 20. Imagina se eu precisasse de uma transfusão nessa época.
Eu sou tipo O e tenho naturalmente anticorpos contra as moléculas A e B. Se eu recebesse uma transfusão com um desses dois tipos sanguíneos, os meus anticorpos iriam imediatamente se ligar nas hemácias recebidas. As células de defesa entendem essa ligação como um sinal de perigo e começam um ataque coordenado para destruir e eliminar essas células o quanto antes.
Rapidamente pedaços das hemácias destruídas começam a chegar nos rins, causando danos graves ou até falência renal. Enquanto isso, as células de defesa continuam o ataque, liberando uma chuva de substâncias inflamatórias que podem ativar a coagulação do sangue no corpo inteiro. É uma reação tão violenta, que 200 mL do sangue errado podem levar a pessoa à morte em algumas horas.
Para evitar essa reação, a transfusão só pode acontecer com um sangue que seja compatível com o da pessoa. No meu caso, por exemplo, como eu produzo anticorpos contra as moléculas A e B, eu só posso receber hemácias iguais às minhas, do tipo O. Mas, como as minhas hemácias não tem proteína A ou B, outras pessoas de qualquer tipo sanguíneo poderiam receber meu sangue sem nenhum problema.
Por isso o sangue do tipo O é considerado doador universal. Para dificultar ainda mais as possibilidades de transfusões, as nossas células vermelhas também podem carregar outros tipos de moléculas na superfície, além das moléculas A e B. Vou te dar um exemplo.
Você já reparou que geralmente o tipo sanguíneo vem com um símbolo de mais ou de menos na frente? alguém pode dizer que tem sangue O positivo, ou A negativo. Esse positivo ou negativo tem a ver com um outro tipo de molécula que as hemácias carregam, o fator Rh.
Se as suas células produzem o fator Rh, seu sangue é positivo. Se elas não produzem o fator Rh, o que acontece com menos de 10% da população, aí o sangue é negativo. E aqui, a gente usa a mesma lógica de antes.
Se você não tem fator Rh e recebe um sangue positivo, isso também pode ativar o ataque das células de defesa e gerar uma reação imune grave. Essa reação é uma das razões que mães Rh negativo têm que ficar bem atentas se o pai for Rh positivo. Esse tema é um pouco complexo pra esse vídeo aqui, mas de qualquer forma se você está pensando em engravidar, é bom consultar um médico.
A verdade, pessoal, é que existem mais de 600 tipos de moléculas nas hemácias e a cada dia os cientistas descobrem mais uma. Então teoricamente você não é só O positivo. Você é O positivo, Kidd, Duff, mas isso não vem ao caso agora.
Normalmente a gente só fala das moléculas A e B e do fator Rh porque esses são os que mais geram reações graves que podem levar à morte. Felizmente, a medicina já avançou e, graças aos conhecimentos que nós temos hoje, os profissionais de saúde conseguem reduzir o risco de reações como essas. Com um simples exame de sangue já dá para saber que tipo de moléculas e de anticorpos você tem no sangue.
A transfusão só vai acontecer se tiver algum sangue compatível como o seu. E tudo graças à ciência. Se você gostou de saber da importância do tipo sanguíneo, já deixa o seu like aqui embaixo, porque agora a gente falar da função do tipo sanguíneo.
Porque a seleção natural não selecionou os tipos sanguíneos para que o ser humano fosse capaz de fazer transfusões. Então, para que servem os tipos sanguíneos? Olha, essa resposta eu não consigo te dar.
Nós ainda não sabemos ao certo para que servem os tipos sanguíneos. Em pleno 2022 Mas sabemos que eles são importantes porque estão em todos os animais. Pelo menos em todos os animais que tem sangue.
Cachorros, por exemplo, podem ter 13 tipos sanguíneos. Mas de onde vêm esses tipos sanguíneos? Por que eles existem?
Os nossos próprios tipos sanguíneos não são exatamente nossos. Na verdade, essas moléculas vieram de um ancestral comum entre humanos e outros primatas, que viveu há 20 milhões de anos. Só que ao longo da evolução uma coisa aconteceu.
Por acaso, alguns humanos primitivos perderam a capacidade de produzir as moléculas A e B, gerando o sangue tipo O. E apesar de ter surgido por último, hoje, o sangue O é o tipo sanguíneo mais comum na população. O que explica esse domínio do sangue O ao longo dos milênios é que ele deve ter trazido alguma vantagem para a nossa sobrevivência.
E uma dessas vantagens parece estar ligada com uma doença que acompanha a humanidade desde sempre, a malária. A malária é uma doença causada pelo parasita Plasmodium. Eu já falei sobre ela no vídeo dos superimunes ein.
Ele infecta exatamente as células vermelhas do sangue e depende dos nutrientes que estão dentro delas para se multiplicar. O problema é que a infecção modifica as células, fazendo elas grudarem umas nas outras e formando aglomerados que podem bloquear a passagem do sangue e levar à morte. Mas quando a pessoa tem sangue do tipo O, a história é um pouco diferente.
Células vermelhas tipo O, que não têm as moléculas A ou B, não grudam tão facilmente umas nas outras. Mesmo infectada com o parasita da malária, a pessoa tem menos risco de desenvolver essas complicações perigosas e morrer. E tem mais.
Cientistas da Universidade de Toronto descobriram que células de defesa parecem ter mais facilidade em reconhecer e atacar as hemácias infectadas com o parasita quando elas são do tipo O. Ou seja, milênios atrás, quando os humanos não tinham nada além do próprio sistema imune para combater a malária, o sangue O oferecia uma maior chance de sobrevivência. E agora nos resta saber se o sangue O ainda é uma vantagem nos dias de hoje.
Ou melhor, vamos ver se o seu tipo sanguíneo pode te colocar em risco de desenvolver alguma doença ou quem sabe até te proteger. Desde a década de 70 os cientistas começaram a perceber os primeiros indícios de que o risco de desenvolver algumas doenças variava de acordo com o tipo sanguíneo. Pessoas com sangue O parecem ter um risco menor de desenvolver doenças cardiovasculares e, consequentemente, de sofrer com problemas como trombose, infarto ou derrame.
Já as pessoas com sangue A parecem ter um risco maior de desenvolver câncer no estômago e no pâncreas. E pessoas com sangue B ou AB parecem ser mais susceptíveis a infecções causadas por bactérias como a E. coli e a Salmonella.
É, nisso aí parece que eu dei sorte. Mas não é bem assim. Se você é do tipo A ou B não precisa se desesperar.
Para fazer esses estudos que eu falei aqui, os cientistas procuram, dentro da população, quantas pessoas de cada tipo sanguíneo desenvolveram a doença que eles estão estudando. Até pode ser que uma maior proporção de pessoas com sangue A tiveram câncer no estômago, por exemplo. Mas isso não significa que o seu tipo sanguíneo é um atestado de que você vai desenvolver uma doença ou que nunca vai desenvolver outras.
Até porque grande parte das doenças são causadas por inúmeros fatores em conjunto, que envolvem genética, alimentação, estilo de vida, uso de álcool e cigarro… tudo isso tem um impacto muito maior na sua saúde do que o seu tipo sanguíneo. Então não precisa se preocupar com o seu sangue porque ele não é melhor nem pior que o dos outros. Mas uma coisa que precisamos nos preocupar é com o avanço do desenvolvimento de vacinas que vão acabar com a COVID, como eu explico nesse vídeo aqui.
Ou, então, se você estiver interessado em outro assunto diferente, assiste esse vídeo aqui. Um grande abraço! Eu vejo vocês no próximo vídeo.
Tchau.