a onde é que dói na minha vida para que eu me sinta tão mal quem foi que me deixou ferida di ferimento tão mortal O Café Filosófico de hoje vai falar sobre o sofrimento psíquico um sentimento por vezes tão difícil de se entender mas que sempre esteve presente na vida do ser humano ao longo dos tempos ele foi reconhecido e tratado de diferentes maneiras neste primeiro bloco do programa o psiquiatra fala sobre as transformações do sofrimento psíquico traçando um Panorama histórico dos últimos 100 anos que a a Primeira ideia que eu queria trazer é eh
pra gente tentar relativizar a ideia de que a gente sempre sofre da mesma maneira né de que o sofrimento humano ele ele seria assim eh idêntico ao longo do tempo igual para todas as culturas ele seria vamos dizer assim um ponto onde todos nós nos reconhecemos né quando a gente vê alguém sofrendo a é movido por uma impulso por uma uma disposição de se reconhecer e de se colocar na posição do outro né Isso é muito forte né Isso é uma um traço né que muitos autores já insistiram como um traço tipicamente humano né a
gente ser capaz de se reconhecer no sofrimento do outro né mas eh a ideia que eu gostaria de pôr em circulação hoje é de que esse sofrimento ele se transforma né que ele se altera né E que ele tem para começar a conversa uma história né Por Exemplo né se a gente pensar no no grande paradigma que foi a a a a histeria né um paradigma que fundou a psicanálise uma forma de sofrer né que eh revelou procidente pelo menos que existia essa autonomia do sofrimento psíquico né E essa descoberta ele ela é uma descoberta
muito interessante porque ela acontece em primeiro lugar em torno de certas mulheres né Tudo bem Freud provou que a isteria também acometia os homens mas ele se concentrou principalmente no início do do seu desenvolvimento da sua pesquisa e mulheres mulheres que sofriam com dores no corpo mulheres que sofriam com anomalias né vividas no corpo mas que o Freud foi descobrindo que essas anomalias no corpo eram o quê eram frases eram falas eram palavras que estavam assim amordaçadas até Freud a gente pode dizer assim boa parte do sofrimento ele era interpretado segundo duas grandes Chaves né
ou ele era um problema médico ele era uma dificuldade que acometia o corpo né ou ele era um problema moral né que requeria então uma intervenção educativa transformativa né e eh o psíquico né tal qual a gente entende ele ainda hoje não não possuí assim uma uma dimensão de dignidade própria pra gente poder dizer assim não esta pessoa ela está sofrendo mas ela está sofrendo ã mente Ela tá sofrendo com algo que diz respeito à sua subjetividade né então quando o freed inventa a psicanálise ele não tá só inventando um método de tratamento ele não
tá só inventando uma uma teoria sobre o inconsciente né ele tá validando ele tá pondo em relevo essa experiência Universal né que seria o sofrimento psíquico Fred então pode ser o nosso vamos dizer assim a abertura E dos nossos trabalhos em termos de um autor que fundou o o sofrimento enquanto sofrimento psíquico mas eu queria lembrar que ele não era o único né a história vamos di assim relegou outros paradigmas outras propostas de Sofrimento que eram contemporâneas do Freud por exemplo por volta de 1890 havia um psiquiatra americano chamado George beard né que descreveu uma
síndrome né chamada de neurastenia caracterizada pelo seguinte o sujeito Estava sempre assim irritado n sempre assim reativo falava uma coisa ele respondia sempre assim sensível a barulhos mudanças no ambiente irrito né e o beard chamou essa síndrome ou seja um conjunto de signos que nem sempre acontecem da mesma maneira em todos os casos mas que tem uma certa regularidade ele chamou ess esse conjunto de signos de neur e Vejam Só 1890 ele tinha uma causa para neurastenia ele dizia estes esses casos de pacientes neurastênicos estão assim aumentando Por quê a vida moderna a vida assim
muito atribulada As pessoas saindo da vida pacífica no no ambiente rural indo pra cidade na cidade então se trabalha demais e as pessoas estão trabalhando demais estão sofrendo porque estão trabalhando demais ão criando essa nova forma de sofrer que era a neurastenia Vejam Só gente nós estamos falando de 1890 Estados Unidos mais de um século atrás né e eu dou esse exemplo pra gente relativizar um pouco ã vamos dizer assim a nossa forma de vida como um modelo universal para todas as formas de Sofrimento né Há 100 anos já se discutia que o trabalho né
Ele é fonte de um tipo específico de sofrimento nos anos 40 né Eh sucedeu-se uma uma grande vamos dizer assim e eh preocupação com os clínicos em torno de um tipo de neurose que era diferente da neurose descrita pelo Freud ou seja Histeria da qual falamos um pouco fobia né medo de de um objeto né e neurose obsessiva caracterizada por ideias fixas ideias que a gente não consegue se separar que tomam conta da gente às vezes ideias de purificação de limpeza ou de perigo né essas três formas de neurose eram também as três formas primeiras
de sofrimento na época do Freud 1890 1930 já no pré-guerra pós-guerra surgiu uma outra forma de sofrer chamada neuroses de caráter e as neuroses de caráter tinham uma uma compleição clínica muito curiosa por quê Porque elas se caracterizavam por uma falta de eh implicação ou de reconhecimento do sofrimento pela própria pessoa né então é aquele tipo de neurose em que todo mundo sofre menos o próprio sujeito porque para ele ele é o meu jeito de ser né ele tem que sei lá e sistemático as coisas TM que ser assim e eu aprendi desse jeito é
a minha forma ameo ou deixo quer dizer essa esse tipo vamos dizer assim de personalidade que sou eu eh não tem nenhum problema né agora Pergunte pra esposa pergunte paraos filhos Pergunte pro patrão dizer você todo mundo em volta sofrendo e o sujeito ali dizendo não comigo tá tudo bem né Eh por exemplo o alcoolismo nessa época era considerado um um dosos subtipos da neurose de caráter passemos sei lá para os anos eh 50 eh 60 ou pós-guerra né surge uma outra forma dominante de sofrer que são as chamadas eh neuroses narcísicas né que também
Quando apareceram os clínicos diziam Puxa mas eu eu não sei lidar com isso porque eu sei curar ou histerias e neuroses obsessivas ou neuroses de caráter agora mais ou menos mas isso que tá acontecendo aqui eu não não sei direito por quê porque eram pessoas né que em vez de dizer tenho uma dor que não passa primeiro nas costas depois nas juntas e e vem junto com outro outros tipos de de dificuldades em vez de dizer não eu tô bem eu não não sofro Quem sofre quem mora comigo os personalidades narcísicas tinham um sofrimento caracterizado
pelo seguinte uma sensação estranha e persistente de inadequação de que tudo que eu faço não não tá direito um sentimento de vazio um sentimento de falta de sentido nisso tudo um sentimento de exílio em relação ao mundo né quer dizer como se eu tivesse vendo um filme tá tudo no seu lugar Tá tudo funcionando tá tudo normal só que eu não me sinto pertencendo a esse cenário a esse filme né E isso levantou uma transformações dentro das diferentes formas de psicoterapia dentro da psicanálise quer dizer como você lida com alguém que não tem propriamente um
sintoma no sentido clássico Que também está Qual que é o problema desse sujeito ele não consegue bem nomear do que que ele tá sofrendo né ele ele é sua queixa é assim difusa é é é oscilante como é que a gente cura alguém que por exemplo perdeu a crença na vida né como é que a gente trata alguém que não tem mais sentido para continuar andando claro que daqui a pouco você pode chamar isso de depressão mas os pacientes com dificuldades narcísicas não eram deprimidos eram pacientes que a história começava assim não tem mais sentido
na minha vida quer dizer o o o o terapeuta tinha que eu fornecer esse sentido ele tinha que recompor o sentido ele tinha que funcionar mais ou menos como uma como uma promessa de que é possível a felicidade problema problema que ocupou aí eh clínico e teóricos sociais né Foi em cima desse tipo de sofrimento que autores como Christopher les disseram não mas essa forma de sofrer não é um caso patológico particular isso é a forma primeira como a gente está vivendo né e a partir disso propôs um modelo né um conceito chamado cultura do
narcisismo né Essa forma de Sofrimento que aparecia condensada em alguns era vamos dizer assim a expressão maior do nosso laço social né e o Lash iniciou uma uma série de vamos dizer assim autores que usaram o mesmo procedimento né guide debor Sociedade do espetáculo Né lipovetsky né para usar um autor mais recente bman né os líquidos né todos esses críticos sociais inspirados pela psicanálise usaram essa estratégia ou seja ver no sofrimento não só algo que precisa de acolhimento precisa de tratamento mas algo que fala de todos nós que fala de como nós estamos vivendo né
nos anos ã 80 a coisa de novo muda de figura né não há mais uma concentração eh em torno das personalidades narcísicas mas surge um outro tipo Clínico que assola os consultórios bibliotecas se publicam sobre isso desafia o senso Clínico que são os pacientes Alguns chamam limítrofes outros borderlines outros franceses chamam de pacientes em Estados limites né ou seja sinteticamente né pessoas que desafiam e se perturbam estão sempre fora de aceitação com relação ao laço com o outro né então Toda a forma de la que eu consigo estabelecer com outro se torna um problema porque
é um laço então tem expectativas tem demandas tem tempos tem e daí eu começo a atacar esse laço né E daí posso ser agressivo com o outro não pelo que o outro fez de fato mas porque eu tô tendo um laço com o outro e há uma bom problemática fundamental com essa articulação de relações com o outro na nos anos 2000 né A esse essas formas de sofrer se catalisar em torno das depressões do Pânico da anorexia né Isso serve espero para mostrar a vocês que a gente tem no mesmo tempo várias formas paradigmáticas de
sofrer e ao longo do tempo transformações né que vão exprimindo o quê que não estão no ar que não depende da água que a gente que a gente bebe mas que diz respeito às transformações nos nossos laços sociais de trabalho de relação familiar de relação consigo mesmo e assim por diante com Freud e a psicanálise ao reconhecimento do sofrimento psíquico à medida que o mundo se transforma novos olhares são lançados sobre este tipo de sofrimento a cada época o seu sofrer mas será que o sofrimento psíquico pode ser visto como doença mental segunda nota introdutória
né a gente poderia dizer assim então que eh nós estamos falando de doenças mentais né e a história das doenças mentais a variedade das doenças mentais a a responsividade cultural das doenças mentais né e aqui eu vou vou chamar um autor que é o Jacques Lacan um psiqui psiquiatra neurologista e psicanalista que que reformulou muitos fundamentos da psicanálise e entre outr reformulações foi um forte crítico da ideia de doença mental né e um autor que inspira muito a gente a pensar a noção de sintoma e a noção de Sofrimento que é o nosso objeto hoje
aqui né seja l tem uma crítica da das doenças mentais na qual ele diz assim primeiro lugar não são doenças não são doenças doença tem começo um meio e um fim doença tem uma você pode ou não agir sobre ela mas tem que ser mais ou menos conhecida n a doença ela é um processo que é independente do sujeito n quer você queira ou não tuberculose vai marchar dessa forma quer você queira ou não a lepra vai ren vai marchar segundo padrões conhecidos você tem isso PR doença mental não tem não tem por isso até
hoje nenhuma gosto sempre repe nenhuma doença mental tem um exame que prova que ela tá lá um raio X que prova que ela tá lá uma neuroimagem que prova que ela lá um teste nos seus neurônios na sua química mental que prova que bom Aqui tem uma depressão sei lá ou uma psicastenia ou uma exteria ou que seja né portanto Lacan objeta fortemente de que as doenças mentais são doenças né O que não quer dizer que elas não sejam formas de Sofrimento porque essa é a reversão perigosa você dizer assim Ah então se não é
uma doença então é frescura né falta de vontade é um tipo de enfim tá miguelando o cara tá assim inventando um negócio é psicológico Sabe aquele psicológico quer dizer não é nada como se o psicológico não fosse alguma coisa mas então cuidado n uma doença não é uma doença mas isso não quer dizer que não seja uma forma de o quê de Sofrimento né é muito importante não recusar isso né mas o segundo ponto é extremamente interessante para um psicanalista porque ele dizia assim nem são doenças e nem são mentais né nem São ã vamos
dizer assim uma patologia uma deformação da vamos dizer assim a personalidade essencial da pessoa né quer dizer o seu jeito de ser né a sua sua mente então a sua mente tem uma mente que seria assim a mente Normal e tem a mente que vai assim se deprav se degenerando se desviando né dessa desse modelo de funcionamento mental que seria o de todos nós e que então as doenças mentais mesmo que elas não sejam muito doenças elas são mentais LC dizia não tem nada de mentais nem de doenças né ã bom aí vocês vão dizer
o que que sobrou né é uma das duas né Aqui tem uma consideração muito simples a fazer né como é que a gente descobre que uma coisa é um sintoma a gente recebe um paciente ele começa a falar da vida e e e e sim vai pedir para que alguma coisa se transforme como é que nós vamos caracterizá-lo se ele não é nem uma doença e nem uma uma uma uma coisa que Brota na mente né né clinicamente é relativamente simples né Um Sintoma aparece toda vez que a gente tem algo que precisa ser feito
que tem que ser feito que imperativamente se coloca para um sujeito né que ele por exemplo um neurótico obsessivo que tem medo que quando ele vai sair de casa ele vai deixar a porta da casa aberta e vão virão ladrões né ele tem que conferir 5 10 12 vezes que ele fechou a porta né Ele sabe que ele fechou ele sabe que ela está fechada mas existe uma coisa né uma uma força maior vamos dizer assim que o coage né O que o impele a fazer assim né e assim com todos os sintomas eh dessa
dessa família né quer dizer Sei que se eu disser isso vai dar tudo errado mas eu não consigo impedir de falar aquela bobagem de novo no almoço de domingo e a família de novo pega fogo por quê Porque é uma coisa maior do que eu mesmo né é uma força impelente né segundo grupo dos dos formas de de de sintoma eh eu não posso fazer eu não consigo né eu eu me impeço de né então ã de repente a rua começou a ficar um lugar muito turbulento cheio de coisas eu eu eu eu não não
me deixo sair de casa ou eu não me deixo ir para aquela prova ou eu não me deixo dizer o que eu sinto por uma pessoa ou eu não me deixo estar numa festa eu eu não me permito bom E aí vocês podem ter os exemplos que vocês e imaginam né bom então qual é o critério se não é nem a doença nemum mental Qual é o critério o que que faz com que o sofrimento seja um sofrimento eu posso dizer ah então isso aqui que nós podemos tratar pode melhorar vai tem tem algo que
fazer né Qual é o critério do sofrimento não sei se vocês concordam mas o que tá posto aqui como critério é a liberdade né O que o sujeito perde quando ele tem que e o que ele perde quando ele não pode é um fragmento da sua liberdade ou um fragmento ã da Liberdade daqueles com quem ele vive né ou um fragmento da Liberdade da sua possibilidade de desejar Ou de sonhar ou de querer e assim por diante né Isso muda muito ã maneira de pensar o sofrimento por quê Porque se o que está em jogo
em toda a forma de sofrimento é um fragmento de liberdade que foi perdido perdido pelas mais variadas razões porque o outro perdeu porque o sujeito mão porque bom aí tem motivos e mais motivos mas se em todo caso de Sofrimento há um fragmento de liberdade que que aspira alguma coisa o sofrimento e a gente reencontra aquela ideia Inicial O sofrimento é um experiência Universal né em toda e qualquer pessoa na qual eu diga Puxa tá havendo aqui um sofrimento eu não tô diante de um caso particular como é o caso da doença doença é sempre
um particular né esse pegou essa doença pegar pegou outra doença o sofrimento é diferente sofrimento por essa característica da sua ligação com a liberdade ele convoca uma dimensão que nos toca a todos né e em cada uma das formas de de de Sofrimento há portanto um pedaço né de de de liberdade a ser reinventado se vocês quiserem bom objeção que vocês colocam é o seguinte mas os normais Os Normais aqueles que não sofrem sei lá estão bem na vida enfim ou ou os bem-sucedidos sei lá que eles fizeram tudo certo né Eh resposta no quadro
dessa teoria é o seguinte Os Normais no fundo são normal opatas né são sujeitos lembra da de caráter não sofre tá ele tá bem o mundo tá caindo forma de de de de de patia Patos né quer dizer sofrimento e passividade é uma vida um pouco assim sem aventura sem intensidade sem desencontro sem uma vida chata no fundo normal pata seria aquele sujeito que tem uma altíssima disposição à adaptabilidade né ele está excessivamente adaptado n isso que a gente chama de de normal é adaptado o sofrimento psíquico está relacionado também ao nosso modo de expressão
a maneira como conseguimos falar sobre ele mas e quando não conseguimos a ideia que eu estava querendo apresentar minha do Freud la é de que todo o sofrimento Depende de uma do seu modo de expressão né Ou seja a como a gente fala do que a gente sofre muda o que a gente sofre ideia tremendamente assim mágica e muito interessante a forma como alguém que sofre com tuberculose fala da tuberculose muda não não muda o cara vai continuar levra doença vai continuar Daquele mesmo jeito agora com relação ao sofrimento não o sofrimento ele ele se
transforma em função da maneira como a gente fala e a gente é falado e a gente é reconhecido e a gente compartilha ele daí uma ideia então que vem do Lacan que a neurose seria um mito individual né mito é uma expressão falada né que Versa sobre a origem de algo que é um articulador de Laços sociais que passa o que de geração em geração que que que está numa cultura o patrimônio de uma cultura né qu a ideia do la na verdade ele tirou isso aí do lev trou né de que o neurótico é
como se ele fosse alguém que que tem um mito só que em vez do mito servir para ele fazer trocas encontrar mulheres lidar com situações difíceis filiar-se em vez do mito servir para fazer tudo isso ele vira um mito individual por definição mito é coletivo função do mito é permitir que a gente vive uma experiência coletiva por isso ele passa de pai para filho por isso ele é contado né narrado né que que a redefinição lacaniana não a gente tem uma forma de sofrer que é a neurose e o que que ela faz ela torna
pega um mito e torna ele um mito individualizado o mito individualizado ele perdeu sua função né ele não serve mais como mediador de trocas sociais né mas isso é só um exemplo por exemplo a gente também poderia recuperar a ideia lacaniana de que ah psicanálise Ela traz uma nova ética ou Ela implica uma uma uma maneira muito peculiar de se colocar em relação ao que a gente faz né e o que a gente fala que ética seria essa Ah seria uma ética trágica né como a de antígona como a de edb né não quero discutir
aqui a a noção de tragédia mas mostrar a vocês como que que é a tragédia é um gênero literário né é uma forma de expressão né É um tipo de discurso como o mito também é né ã Freud falava em romance familiar do neurótico romance é o quê balzac flor be é uma forma de expressão um discurso uma narrativa e é algo que tem que ver o quê com a maneira como a gente fala uma forma bastante codificada tem uma forma de sofrer que é equivalente do romance outra que é equivalente do mito outra que
é equivalente da tragédia outra que é equivalente da teoria sexual infantil para usar uma expressão do fride então ã espero ter sido minimamente persuasivo nessa ideia de que o sofrimento tem que ver com reconhecimento sofrimento tem que ver com coletivo individual desse reconhecimento tem que ver com liberdade e universalização e eh tem que ver ainda com ã apesar de tudo uma certa permanência ou seja as formas discursivas variam mas parece que se transformam mas há a retenção de alguma coisa né Há a permanência de alguma coisa nessa experiência só que a gente não consegue nomear
direito o que que é isso que fica né no sofrimento de um grego do século I antes de Cristo para nós que permite que a gente se reconheça nele mas ao mesmo tempo não consiga nomear exatamente o que que é isso que se repete o fre tem uma um conceito para designar isso né chama malestar e esta coisa que em cada época e talvez em todas não tem lugar e nem tem nome Cada vez que a gente dá um nome para o malar El vira outra coisa vira sofrimento né Cada vez que a gente articula
o sofrimento em em narrativas eles vira outra coisa vira sintoma o primeiro dessas dessas essas novas formas de Sofrimento que na verdade não são tão novas assim mas que são novas porque começam a se expandir foi descrita pela primeira vez por um Pensador né crítico da escola de Frankfurt chamado Walter benjam tamb Ele viveu a Primeira Guerra Mundial e ele acompanhou Então os soldados que iam pro Fronte e que depois em 1918 voltaram né do Fronte até então a história do ocidente e também do oriente ir a uma guerra era uma grande aventura você podia
morrer nessa história você podia se dar mal mas se você voltasse você tinha algo a dizer você tinha adquirido uma autoridade experiencial você tinha visto a morte de frente você tinha visto os limites e do humano né E você podia contar essa história e contar essa história que a história do sofrimento tornava a comunidade mais rica que que o Walter Benjamin viu com esses soldados que voltavam na primeira guerra mundial em vez de contar uma história eles ficavam em silêncio perguntava para el Ei conta que que aconteceu é não foi difícil silêncio e ele começou
a pensar por que que primeiro novidade da coisa de repente tem uma forma de Sofrimento que não que não inspira mais uma narrativa não inspira mais um palavras mas inspira uma Talvez uma outra forma de dizer que é o silêncio né e Catarin malab né agora voltando para uma autora contemporânea tem descrito uma nova forma de Sofrimento que ela chama de subjetividade pós-traumática subjetividades que não conseguem mais se queixar como os soldados lá do Walter Benjamin não conseguem se dar conta que eles estão sofrendo Ou melhor não conseguem articular o seu sofrimento ao modo de
uma tragédia um romance uma teoria ou bom todas as formas que eu elenquei aqui para eh consubstancial a experiência de sofrimento isso é um sofrimento completamente novo e bem maluco então o que que está acontecendo com as subjetividades pós traumáticas né talvez elas não estejam sofrendo porque porque a verdade não encaixa né porque o sofrimento pede por por dizer uma verdade que não não tem destinatário que não tem forma de linguística ou discursiva para se dar né talvez ess subjetividades estejam numa de proximidade ou de confronto mais agudo com o real né e como que
a gente poderia encontrar vamos dizer assim um exemplo narrativo né claro que não não é exatamente produzido por por esses próprios sujeitos já que a definição da coisa é que não conseguem nomear não conseguem articular narrativamente o seu sofrer né onde que está isso na cultura posto que toda forma ascendente de sofrimento é também uma forma de laço social que que pede por uma reorganização proponho a vocês uma uma narrativa que extremamente cativante eu acho que não sim tô vendo para nós mas para um público um pouquinho mais jovem tratam-se de coisas como zumbis e
mortos vivos né ouviram entraram nessa história tem um filme que é um Marco né né da da da A Volta dos Mortos Vivos né que que é um Zumbi um zumbi é uma figura que geralmente da morreu já morreu mas ele não sabe que já morreu né então ele volta e permanece num movimento assim automático né despersonalizado coisificado em que ele vai fazendo uma coisa do tipo correndo atrás de uma jovem Bela mocinha para comê-la no sentido de comê-la né de devorá-la né os zumbis Justamente não se queixam eles só andam né e vão tentar
comer uma outra pessoa né metáfora linda para perdi minha alma né e minha alma é bom é as narrativas que eu consigo inventar sobre ela e eu vou recuperá-la né como me apossando do outro né me apossando de algo que eu nem sei bem que que tá no outro mas se eu se eu ingeri-lo talvez eu me salve ou sei lá daí vou ingerir outro e outro e outro que que a gente faz com sujeitos que que perderam a sua capacidade de de sofrer não não é que não estejam sofrendo hein espero que tenha ficado
claro isso perdeu sua articulação narrativa do sofrimento vocês que vivem Seguros em suas cálidas casas vocês que voltando à noite encontram comida quente e rostos amigos pensem bem se isto é um homem que trabalha no meio do Barro que não conhece a paz que luta por um pedaço de pão que morre por um sim ou por um não pense bem se isto é uma Muler sem cabelos e sem nome sem mais força para lar vazios os olos o ventre como um sapo No inverno pensem que isto aconte eues mando estemas em seus corações est em
andando naa ao deitar ao levantar repitam a seus filhos ou sen não desmorone a sua casa a doença os torna Inválidos os seus filhos virem o rosto para não vê-los acho que é um exemplo brutal dessa da da da força que há quando quando o sofrimento não é reconhecido na experiência de um sobrevivente de um campo de concentração que é o o o Levi né E que escreveu um livro primo Levi né escreveu um livro obrig né não não vai atender ninguém quem não tenha lido que é isto um homem né que narra Justamente esse
processo ele se perguntando num campo de concentração Por que uns sobrevivem outros morrem né Por que que e e e como foi possível que isso acontecesse né quer dizer como foi possível que a vida fosse tratada como algo que não tem valor está para lado valor e etc bom primo leve escapa de campo de concentração ele chega à conclusão de que não é porque ele é o sujeito é melhor pior Virtuoso maléfico que ele escapa é um imponderável né mas ele sai do campo de concentração e ele tem até se matar né imagina alguém que
escapou de um campo de concentração e que termina por ser matar eh não queria ser assim causalista mas era uma pessoa que tinha um mesmo sonho repetitivo né todo dia sonhava que ele estava chegando de novo em casa né Depois de escapar dos Campos e ele tava comendo com a sua família e daí ele começa a contar que que tinha acontecido e ele começa a pôr em palavras e e testemunhar e dizer olha Vocês precisam saber que tava acontecendo que isso aconteceu que isso não foi uma invenção E no sonho dele o que acontece as
pessoas começam a bocejar levantar da mesa se preguiçar P ou seja não reconhecer o que ela tinha para dizer tudo bem vejam aí Espero que o exemplo sirva para mostrar a radicalidade o que que é experiência de Sofrimento isso é ligação com o reconhecimento se o outro não reconhece o meu sofrimento meu sofrimento é entra numa espécie de de Patologia de si mesmo né de Eh vamos dizer assim de de perda do seu nome de perda da sua história de bom estou chamando aqui de Sofrimento zumbi ou de Sofrimento morto vivo segundo caso e aí
é um caso oposto ao primeiro né eu vou trazer para para consubstanciar essa situação algumas reflexões de um filósofo chamados lav gek né que tem eh falado e discorrido profundamente sobre uma outra forma de sofrer né ele disse nós estamos cada vez mais sofrendo Como como o quê como zumbis tudo bem de katarin malab Mas também como frankensteins né O Grande Herói o nosso grande pro né o nosso grande ídolo né em termos de de de narrativas de Sofrimento aquela que funciona melhor PR nossa época e é Frankenstein né Frankstein é alguém que vive uma
experiência constante do quê de desmembramento entre Real simbólico e imaginário no seu corpo seu corpo é feito por partes costuradas de pessoas diferentes que ele nem sabe quem é né mas Vejam Só ele está como um bom jornalista à procura de uma boa história Ele quer saber Quem o criou que que ele está fazendo aqui ele ele ele vai procurar o seu Criador Ele tem ele tem uma errância como zumbis né ela tá andando mas ele sabe que ele está procurando alguma coisa né e o sofrimento dele é de um outro tipo é um sofrimento
com a insuficiência das palavras é um sofrimento com toda a maneira que eu encontro para dizer eu estou sofrendo por causa disso me parece insuficiente me parece postiço me parece impostura me parece uma uma um apequenamento do meu sofrimento né e mais o Frankenstein é aquele cara que sofre de um sintoma que o o Roger calois psiquiatra aí do século começo do século passado né chamava de psicastenia legendária né que é o seguinte é aquela pessoa que ela se sente fora do lugar onde ela está né eu eu às vezes sinto isso eh eh Você
sabe que você está ali por exemplo numa festa numa aula e etc mas começa a ver uma experiência de que você não pertence ao lugar onde você está né você está fora de lugar né não sei se vocês viram um filme de Wood Allen chamado desconstruindo Harry né Tem uma hora nesse filme em que o personagem ele olha lindo né a metáfora ele sai fora de focos ele ele perde o foco sabe essa coisa a vida tem que ter um foco medas e objetivos a pessoa que sabe o que quer e o Pobre Harry de
repente fica unfocus ele perde o foco só que como o Allen retrata isso ele desfoca o personagem ele mexe na câmera e daí o sujeito fica nublado você vê que é um Car comoesse mal FM Mud o ajuste da câmera ele fica metaforicamente n realmente duas formas de sofrio Lig qu a experiência do Real com nomes diferentes pro real no primeiro real aquilo que eu não consigo nomear n o zumbi n no segundo caso o Real ele deixa de ser uma ordem ele passa a ser uma anomia ele passa a ser uma indeterminação ele passa
a ser uma experiência de desordem duas formas de sofrer ligadas vamos dizer assim a experiência com o Real vamos agora ver formas de sofrimento agora ligadas à experiência com a verdade né Eh o nome que eu escolhi assim Podia ter tomado outra referência mas que me parece que fundamental que tenha sido esse autor né que é o baudel né um teórico um poeta teórico da da da patologia do Social no fundo né um poeta que como tantos outros olhava para o quê para o mundo e paraas suas formas de sofrimento procurava tirar das formas de
sofrimento um fragmento de verdade e de liberdade que não podia ser reconhecido ainda né É isso que os poetas fazem por isso eles vão na frente dos psicanalistas Budel tinha uma recuperou Na verdade uma palavra de um poeta Latino chamado Terêncio né Para dar um nome a um poema que é Eon Timo rumenos Eon Timo rumenos é o sujeito que adora se torturar Sabe aquela cara que tá se o barco tá tranquilo indo ele gosta de chacoalhar né se o pilha de Dominos está perfeita ele gosta de de de tirar um pedaço e ver a
circo pegar fogo por quê Porque a vida se ela não tiver assim sendo atormentada né não é verdadeiramente vida ela fica murcha fica parece filme B assim que não não vai né bé escreveu esse tipo Clínico né aqueles que se comprazem em se atormentar e é uma forma de Sofrimento muito interessante muito assim para nosso momento né para para o Brasil por exemplo né Tem um autor brasileiro muito importante que acho que a gente precisa ser dedicar mais chama Gessé de Souza é um cara que estuda a emergência da nova classe trabalhadora Como ele como
ele designa né da da classe que saiu da miséria foi para a pobreza e agora saiu da pobreza e deu um passo a mais o seguinte o sujeito assim conseguiu chegou lá saiu de uma condição muito adversa e conseguiu se estabelecer num novo lugar só que ele conseguiu fazer isso graças a um extremo senso de comunidade né ela não é o individual self Man americano da década de 50 ele é alguém que tem um profunda relação com com a sua pequena comunidade família e grande comunidade só que ele se salvou os outros não e Ele
conseguiu os outros não ele sente assim ele fala assim ele conta uma história assim né o que eu faço agora com o passado e com na verdade aquela forma de vida que me fez chegar onde eu estou percebem que há uma dívida tremenda em jogo hein percebem que há uma divisão subjetiva é um sentimento que um pacto foi quebrado são às vezes pessoas que por exemplo poderiam fazer coisas consumir viajar e que se interditam que digam não não posso fazer isso porque toda forma de satisfação que euer dói dói por quê Porque eu penso naqueles
que não estão comigo eu penso naqueles que foram Ficaram para trás eu penso naqueles que estão sofrendo enquanto eu estou aqui no bem bom ou seja se cria uma divisão subjetiva um sentimento de que um pacto não pacto social mas pacto subjetivo está sendo permanentemente violado a gente tem um um outro personagem em jogo aqui esse mais clássico acho que vocês poderiam até adivinhar né Como sofre esse sujeito sofre como Hamlet sofre como os Fantasmas os Fantasmas eles tipicamente vê para quê ajustar as contas você deixou algo para trás e eu vim cobrar a minha
dívida né é assim História de Fantasma vê aqui História de Fantasma não é história de zumbi história de Zombi não é história de Frankenstein né História de Fantasma e o quê uma narrativa que contém um grão da verdade verdade arqueológica verdade genealógica verdade sobre sobre o desejo de de um sujeito na sua relação com uma comunidade e que e que produz uma narrativa e que produz relações de pertinência e de fidelidade né E que no fundo precisa ser produzida como que ela é produzida Auto atormento eu Tom Tom TIM morro menos por que que o
sujeito se atormenta só atormentação é uma espécie de pesquisa com a verdade de Eh vamos dizer assim inquietação com a que que aconteceu com a sua história né Por ela não o outro né Como dizia bom de novo aí o lacam né Eh a verdade do sofrimento neurótico é ter a verdade como causa né Agora tô introduzindo uma outra ideia né O que que caracteriza um sofrimento agora vocês estão vendo Tem vários tipos mas tem alguns que são neuróticos né uma característica do sofrimento neurótico é ver no sofrimento um grão de verdade e tentar tirá-lo
né daí que também os neuróticos se metem em crencas terríveis uma atrás da outra por quê Porque eu não posso silenciar a verdade a verdade tem que ser Dita e eu vou dizê-la toda e vou dizer agora para o meu chefe para você bom E aí começam as catástrofes e hecatombes mas notem o traço de exagero de hubris né como diziam os gregos né de de ultrapasso de de uma verdade que tá em demasia clinicamente esse tipo de sofrimento a gente poderia chamar assim dele é um é um neom masoquismo né é uma nova forma
de engendrar uma satisfação e uma dor e um atormento que produzem uma experiência de verdade o sofrimento psíquico é real e faz parte da história humana é importante entender a origem de cada dor ser capaz de construir uma narrativa sobre ela e sentir que ela foi reconhecida essa e outras palestras você encontra no site da CPFL Cultura uma paranoia que aflora na vida em forma de condomínio SA o condomínio muros finalmente a Barb ficou para fora estamos então num ambiente artificial onde tudo foi pacificado Y