[Música] bem O que vem a ser o conceito de precariado né do ponto de vista da definição teórica precariado consiste a meu juízo naquela fração da classe trabalhadora em permanente trânsito entre por um lado o aprofundamento da chamada exploração econômica que se dá a sobretudo evidentemente nas empresas né e por outro lado o risco sempre premente de esses grupos de trabalhadores subalternos né eles serem apropriados politicamente então o pecariado ele transita de uma forma mais ou menos pendular entre por um lado o aprofundamento da exploração econômica e por outro lado o risco ameaça da expropriação
política isso cidades diferentes maneiras né do ponto de vista da exploração econômica básicamente a intensificação do trabalho a desqualificação do trabalho a fragmentação do trabalho mas também o advento por exemplo de novas tecnologias mais recentemente a gente tem observado muito né esse processo de plataformização do trabalho que envolve a presença por assim dizer né de tecnologias informacionais ligadas a inteligência artificial enfim e hoje em dia a gente tem um leque grande amplo né de novas tecnologias que estão se desenvolvendo no âmbito da manufatura como por exemplo manufatura complexa mas também temos enfim formas de automação
que são bastante mais importantes e discutivas eu diria relativamente aquilo que a gente verificou no passado o processamento massivo de dados né enfim isso tudo faz com que o nível grau deficiência propriamente né do trabalho e ao mesmo tempo o processo correto a esse né de compressão daquele tempo que o trabalhador trabalha para si enfim para liberar um tempo que o trabalhador trabalha de graça para empresa né para as empresas isso é algo que por exemplo em muitos contextos e muitas situações produz né a precarização daqueles trabalhadores que estão envolvidos na produção e consequentemente isso
aumenta a exploração né a gente tem verificado isso com estratégias né empresariais como por exemplo achatamento de hierarquias como por exemplo a própria terceirização Empresarial a externalização de contratação de força de trabalho isso tudo viabilizada essas formas né viabilizadas Por tecnologias né pelo desenvolvimento tecnológico mas também acopladas aí a intensificação do Ritmo de trabalho Enfim uma espécie de aproveitamento melhor né daquilo que antigamente se chamava de produtividade geral dos fatores isso tudo gera né Por exemplo processos de desindustrialização de enxugamento das fábricas enfim fazendo com que aqueles que ficam inseridos nas fábricas né eles se
vejam condições mais exploradas né E ao mesmo tempo com menos gente ou seja comendo gente disponível menos trabalho vivo disponível para enfim realizar as tarefas né e por outro lado a esse propriação política né E essa apropriação política também se dá por diferentes estratégias né mais grosso modo a gente pode associar essas propriação política a eliminação por exemplo de direitos direitos trabalhistas direitos sociais a diminuição da proteção do trabalho né dos trabalhadores enfim isso tudo que nós vimos recentemente no Brasil né A partir por exemplo das contra-reformas né Trabalhista de novembro de 2017 e logo
após né a contra-reforma a previdenciária aprovada em 2000 2019 né o fato é que essa essa dinâmica né de ampliação da insegurança laboral associada a compressão a diminuição eliminação de direitos trabalhistas e de direitos sociais é por assim dizer a forma típica né de você verificar em que medida o precariado se submete a dinâmicas de expropriação política né então eu diria que do ponto de vista conceitual né o precariado é essa fração que pendula né permanentemente na história do capitalismo né de um lado temos a exploração econômica de outro lado temos a expropriação política e
exatamente por ocupar esse esse espaço por assim dizer né no âmbito da recomposição enfim das relações de exploração de expropriação é que o precariado é tão importante tão central para que a gente entenda de fato as dinâmicas políticas derivadas daí né e a dinâmicas políticas que entre outras coisas por exemplo tem a ver com a desde manifestações de mobilização de trabalhadores precários no caso brasileiro mais recentemente nós tivemos os diferentes breques dos apps dos Trabalhadores de aplicativo mas nós temos também dinâmicas que tem a ver por exemplo com mobilização de trabalhadores jovens precários enfim que
não conseguem propriamente recompor reconstituir aquela trajetória só ocupacional dos seus pais e vem na iminência por assim dizer de enfim de serem expulsos propriamente do mercado formal de trabalho enfim o aumento exponencial do trabalho informal consequentemente menos protegido né o afastamento em relação por exemplo aos direitos protetivos em especial aposentadoria né os direitos previdenciários e assim por diante o seguro-desemprego e tudo aquilo relacionado né a Previdência Social os direitos trabalhistas isso tudo faz com que o vamos dizer assim o precariado ele se coloque eu diria no coração das crises capitalistas e da reconfiguração das identidades
coletivas em particular dos grupos sociais sobre modernos quando do desenvolvimento e vamos dizer assim das crises né do processo de desenvolvimento das crises capitalistas né eu pessoalmente tive oportunidade de desenvolver essa agenda né já tem um pouquinho mais de 10 anos né 11 anos em que eu me dediquei por assim dizer né Há uma análise do processo que eu costumo chamar de refazer-se das identidades coletivas desses grupos de trabalhadores subalternos né que grosso modo se identificam né com essa fração do chamado precariado em diferentes sociedades nacionais né enfim um pouco meu esforço a minha contribuição
né para o campo de estudos do Trabalho em especial campo de estudo do trabalho Global se deu mais ou menos nessa direção né na medida em que eu tentei pensar a recomposição dessas identidades desse refazer-se né coletivo desses grupos né é a partir fundamentalmente da desconstrução do desmanche daquelas identidades fordistas né mas assentadas grosso modo falando nas identidades sindicais não exclusivamente Mas mais associadas mais próximas né A aquelas identidades coletivas ligadas né ao sindicalismo ao desenvolvimento das formas de luta dos trabalhadores mais mais associadas aos locais de trabalho enfim no Brasil e posteriormente o ampliei
né para outros países da semi Periferia capitalista como é o caso notoriamente da África do Sul e também de Portugal né perseguindo um pouco uma agenda que me pareceu interessante em especial na primeira metade dos anos 2010 né que era aquela agenda de mobilização de trabalhadores precários que impulsionou uma onda Explosiva né de Protestos sociais mundo afora né nós tivemos desde o pai ao Street passando pelo por Junho de 2013 no Brasil a grande rebelião dos pobres na África do Sul os indignados portugueses espanhóis enfim todo o processo de mobilização dos trabalhadores jovens né contra
as políticas ostericidas por exemplo na Grécia enfim e evidentemente a primavera árabe também fazia parte desse contexto e eu tive oportunidade de analisar propriamente a recomposição dessas identidades realmente falando daqueles setores mais jovens não é do do jovens dos trabalhadores né aqueles setores de trabalhadores mais jovens que entraram propriamente no mercado de trabalho a partir de 2008 com a crise da globalização capitalista né com advento da grande recessão mundial e eu tentei perseguir um pouco essa agenda pensando fundamentalmente analisando fundamentalmente né as trajetórias né desse desse grupo desses grupos de jovens trabalhadores precários né E
como eles se comportavam politicamente né então isso me fez analisar por exemplo o comportamento sindical né no caso brasileiro do dos Trabalhadores em especial as trabalhadoras mulheres jovens né a maior parte delas negras e mestiças né da indústria do call center na época o call center me parecia né o principal representante dessa dessa desse tipo de emprego né dessa indústria de trabalho precarizado que se espalhava que enfim crescia no país mas em escala Global como também a partir da minha do meu estudo né na África do Sul em Portugal eu passei a observar como né
a prática política as agências as mobilizações aproximação ou afastamento em relação ao sindicatos problematizar ou seja tornava o quadro né do comportamento político do precário em especial desse jovem precariado bastante complexo mas convergia grosso modo para uma vamos dizer assim para uma eu diria uma postura política crítica que estava vertebrada né Por um uma defesa do Polo protetivo do trabalho por uma expectativa de alcançar direitos né que eles eram negados né pela dinâmica da expropriação política e essa essa postura né que se inclinava na direção da defesa dos direitos trabalhistas e consequentemente digamos assim da
Defesa do Polo protetivo do trabalho também estava se aproximando estava se mesclando né algumas dinâmicas sindicais muito importantes produzindo aquilo que eu chamei de novas colisões entre trabalhadores precários e trabalhadores organizados na trabalhadores precários ligados a movimentos sociais em especial de luta por moradia luta por direito protetivos e por outro lado os trabalhadores organizados em Sindicatos no sentido mais tradicional o que pressionava O Sindicatos a modificar suas práticas muitas vezes práticas muito burocráticas ou reagir essas práticas de forma violenta Como foi o caso notoriamente da África do Sul mas que eu finalizei no livro né
A Rebelde do precariado mas de qualquer maneira eu percebia né que esse que essa agenda ela estava incompleta né porque na verdade eu estava analisando a partir enfim especial nesse período né da primeira metade dos anos 2010 países que eram da Periferia ou da semiperia capitalista né país grosso modo associados ao suma baú África do Sul Brasil Portugal é um pouco mais polêmico colocar o nosso Global mas seguramente a da Periferia do sul da Europa e da sem Periferia capitalista e faltava né seu se eu quisesse de fato analisar aquilo que eu chamei de formação
do pré-carreado Global né a parte em especial da crise de 2008 para cá né Ou seja a crise da globalização neoliberal e as características né do comportamento político dessas frações em especial as frações mais jovens e precárias né do da trabalhadora eu eu sentia falta de observar de analisar o capitalismo avançado né ou seja o norte global e foi com essa disposição com essa intenção que eu acabei morando 15 meses mais recentemente na Pensilvânia né para fazer um pouco uma pesquisa de campo que pudesse me embasar né que pudesse me autorizar a um estudo a
produção de um estudo mais bem bem desenvolvido mais bem acabado desse processo de formação do pecado global e tive oportunidade de fazê-lo né enfim Tô publicando agora um livro pela boitempo se tudo der certo deve sair no mês de setembro né chamada angústia do pré-careado no qual eu analiso essas transformações esse processo do refazer das identidades coletivas daqueles trabalhadores que são os trabalhadores precários americanos e que grosso modo né até muito recentemente se identificavam com grupos sociais subalternos racializados em especial os trabalhadores negros os trabalhadores latinos né mas que por conta da dinâmica da crise
em especial do aprofundamento da crise social decorrente né da própria crise da globalização a crise de 2008 também passou a absorver a integrar setores de trabalhadores brancos né mas moradores de pequenas cidades rurais enfim atingidas por processos de industrialização né então eu acabei analisando essas recomposições de identidades a partir de um olhar crítico né sobre a fronteira racial enfim que divide Trabalhadores racializados de um lado trabalhadores brancos de outro e tentei como essa Fronteira ela estava sendo ao mesmo tempo né recomposta reinventada mas seguramente modificada pela crise da globalização pela grande recessão e pela crise
da globalização a partir de 2008 né Então esse foi um pouco o esforço que eu fiz de tentar pensar essa essas dinâmicas né também no norte o que me autorizou a testar né numa escala Global aquilo que seria a hipótese né que eu chamo de hipótese tão soniana no livro né que eu chamava antes mas enfim a hipótese tão soniana né que o padrão segundo a qual né o padrão de agitação trabalhista a partir de 2008 né ele não seria nem tanto um padrão marcado né Por greves ou vamos dizer assim defesas de condições salariais
mais ligadas a luta Sindical de um lado né no sentido de serem conflitos que se dão nos locais de trabalho que por exemplo a Beverly Silva notoriamente chamou né de padrão Marcial de formação de classe mas também não seria aquele padrão que ela também chamou padrão poloniano né de desmanche de transformação enfim de classe social é ligado a grupos né que protestam contra a perda de direitos né então o que eu tava observando tanto nos casos brasileiros sul-africano português e agora mais recentemente no caso americano é uma espécie de sobreposição dessas lutas que são lutas
mais associadas à formação né de novas classes em especial ligadas aos locais de trabalho conflitos locais de trabalho que tem a ver com a reinvenção de Sindicatos e assim por diante e por outro lado o protesto social em defesa das condições de subsistência desses grupos ameaçados pela expropriação política e pelo aprofundamento da crise econômica que acaba produzindo uma crise social né uma crise sócio reprodutiva né e a partir daí é que eu tenho pensado né já já havia apresentado essa hipótese antes o próprio estudo né que eu fiz em Portugal África do Sul e Brasil
também indicava nessa direção eu eu procuro né mostrar como as comunidades onde vivem e se reproduzem os trabalhadores são de fato o locos né Elas configuram o Locus da recomposição do processo de refazer da recomposição dessas identidades coletivas que se vem efetivamente ameaçadas tanto pela crise quanto pelo desmanche das formas pretéritas de solidariedade classista em especial as formas fordistas né então quando o que eu procuro demonstrar nessa agenda para tia da publicação desses três livros a política do precariado a Rebelde do precariado agora mais recentemente angústia do pré-carreado consiste exatamente em mostrar né em revelar
como o estudo dessa fração né de trabalhadores precários em especial os mais jovens né grosso modo racializados né constitui configura a chave para que a gente consiga entender fenômenos políticos de grande monta e que tem desafiado e que tem transformado né a cena política e a vida social de diferentes países