Como as grandes empresas lucram com a crise global da água

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Secas se espalham por todo o Brasil, assim como o fogo. Até mesmo a Amazônia tem visto alguns rios s...
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Secas se espalham por todo o país, assim como o  fogo. Até mesmo a Amazônia tem visto alguns rios secarem. Em todo o mundo, o Brasil sempre foi  conhecido como o país com a maior concentração de água doce do mundo.
Cerca de 12% de todos os  mananciais estão no Brasil. Mas a Agência Nacional das Águas alerta que 40% da água dos lagos e  rios brasileiros podem desaparecer até 2040. E esse problema não existe só no Brasil.
Seja no  Fórum Econômico Mundial, na ONU ou até na Nasa tem se falado na atual crise da água. Cuidar  melhor desse recurso fundamental para a vida é algo urgente e no mundo existem visões  bem diferentes sobre esse problema. Neste vídeo eu vou te mostrar algumas dessas  perspectivas.
A gente vai até a França, o Chile e os Estados Unidos para ver  como que a coisa tem sido tratada por lá. Algumas estimativas apontam que  metade da população mundial, ou seja, quatro bilhões de pessoas, vive em uma região  onde falta água pelo menos um mês por ano. Na região de Puy de Dôme, na França, existe  uma batalha judicial por recursos hídricos.
A família do Edouard de Feligonde praticava  a piscicultura aqui desde o século 17. Essa fonte está seca desde 2018. E a rede de  piscinas que antes era usada para criar trutas não está mais em operação, devido  a uma grande queda nos níveis de água.
Edouard culpa a empresa francesa de alimentos  e bebidas Danone, que extrai água da bacia da região vulcânica de Puy de Dome e a engarrafa. Todos os dias, um fluxo constante de caminhões carregados com água recém-engarrafada  deixa essa fábrica a caminho das prateleiras de mais de 60 países. Edouard e os moradores locais dizem que a Danone está consumindo água  mais rapidamente do que o lençol freático consegue se reabastecer.
Os hidrólogos que ele contratou para avaliar o futuro da fazenda de  peixes dele preveem que a propriedade vai estar completamente seca em 20 anos. A Danone não quis gravar uma entrevista, mas respondeu às nossas perguntas por  e-mail. Eles dizem que, no ano passado, 1,7 bilhão de litros de água engarrafada  deixaram a fábrica - o equivalente a 680 piscinas olímpicas.
E que a empresa já  reduziu o uso de água em 17% desde 2017. Os moradores argumentam que, para evitar que as  fontes morram, é preciso reduzir ainda mais. Olha como funciona o fluxo das águas nessa  região.
Quando chove, a água é absorvida pelo solo e atravessa as diferentes camadas vulcânicas,  e vai se infiltrando nas falhas da rocha até se acumular em várias bacias subterrâneas. E aqui  tem fontes naturais de onde a água emerge. Uma delas costumava ser a propriedade do Edouard, que  agora está seca.
As outras nascentes também correm o mesmo risco. A Danone tem permissão para  extrair 2 bilhões e meio de litros por ano. Os níveis de água nesta região caíram tanto  que as autoridades impuseram restrições.
Os moradores e as empresas locais  foram informados de que deveriam reduzir o uso de água em 10% até 2025.  Mas as restrições não se aplicaram à Danone. Embora a empresa tenha prometido  reduzir a extração em 5% em caso de seca.
Na França, a água pertence à  nação, é considerada um bem comum. Essa discussão sobre a quem pertence a  água também tem criado muita polêmica no Chile. Um país cuja Constituição  escrita durante a ditadura de Augusto Pinochet diz que a água é uma  propriedade privada e um bem econômico.
O World Resources Institute classifica o  país como um dos com maior estresse hídrico do mundo. A região central do Chile está  passando por uma seca há mais de uma década, e as evidências já são visíveis. Esta é a Laguna de Aculeo, uma lagoa que já foi uma atração turística.
Mas  ela secou em 2018 e ficou assim por anos, apesar de ter sido parcialmente preenchida  novamente pelas chuvas de inverno. Os hidrólogos dizem que a falta de  chuvas até teve uma contribuição, mas que a principal culpada  foi a atividade humana. Na década de 1990, a água dos  rios e aquíferos próximos, que reabasteciam o lago, foi desviada  para outros usos.
O governo vendeu os direitos de uso da água para fazendas de  abacate e cereja, que consomem muita água. E teve também as casas de veraneio dos moradores  mais ricos, que usaram parte da água para cultivar gramados e encher suas piscinas. Os  especialistas dizem que essa venda sem controle dos direitos de uso da água causou a seca.
O caso estimulou algumas pessoas a buscar mais transparência no mercado hídrico do Chile. A Água Circular é uma plataforma que mostra onde os direitos da água estão sendo vendidos e  por quanto. No país onde a água é uma commodity, a solução encontrada foi  vigiar o mercado de perto.
Muitos especialistas apontam a privatização  da água, iniciada em 1981 com Pinochet e aprofundada nas décadas posteriores, como a maior  responsável pela escassez de água no Chile. Assim, foi criado um mercado no qual esses  direitos poderiam ser comprados, vendidos ou alugados sem a intervenção do Estado,  levando a privatização da água ao extremo. Em 2022, o presidente Gabriel Boric  promulgou uma reforma do Código da Água, que reconhece a água como um bem nacional para  uso público.
O Estado se compromete a garantir o acesso à água potável e ao saneamento.  E, pela primeira vez, as funções da água nos ecossistemas estão protegidas. Mas tem um outro país que também tem tratado a água como uma commodity e até especulado  o preço futuro dela: os Estados Unidos.
Lá alguns argumentam que os mercados podem ajudar a  fornecer água para onde se precisa dela. E no mercado, a escassez global de  água tem feito o valor dela disparar. Nesta lei do mercado, enquanto  muitos sofrem com a crise da água, empresas têm tido lucros milionários.
Foi o  que aconteceu no estado americano do Arizona, de acordo com uma reportagem do  jornal britânico The Guardian. Há dez anos, uma empresa chamada Greenstone  Resource Partners comprou um terreno de pouco mais de duzentos hectares na cidadezinha de  Cibolla. Lá moram cerca de 200 habitantes, e a compra foi no valor de 10 milhões de dólares.
A terra veio com os direitos sobre a água do Rio Colorado, que está em declínio  devido à seca e ao uso excessivo. Nos primeiros dois anos, a Greenstone arrendou  a terra para os agricultores da região. Em 2018, eles venderam os direitos da água  vinculados a essa parcela de terra para um condomínio privado de Phoenix, que  fica a mais de trezentos quilômetros dali.
Eles tiveram um lucro de 14 milhões de  dólares nessa negociação, e a água que ia para a agricultura, agora por meio de um sistema  de canais, vai para um condomínio residencial. De acordo com a reportagem, sem água  “os campos de alfafa e algodão da fazenda da Greenstone foram derrubados,  reduzidos a mato seco e terra rachada”. Várias empresas nos Estados Unidos estão  de olho nesse modelo de negócio baseado no mercado da água e já compraram milhares  de hectares ao longo de rios da região.
Já existe até um índice dos EUA que oferece  aos investidores uma referência da evolução do preço da água na Califórnia. O Nasdaq Veles  California Water Index, lançado em 2018. Do outro lado, existe um movimento contra a  especulação desse bem tão precioso.
Por exemplo, a senadora do estado de Massachusetts Elizabeth  Warren, que está tentando acabar com o comércio futuro da água e evitar a comercialização  dos direitos hídricos como uma mercadoria. No mundo, mais de dois bilhões de  pessoas não têm acesso à água potável, e a ideia de que a escassez de água esteja  sendo usada como uma forma de obter lucro preocupa as Nações Unidas. No ano passado, a ONU realizou a primeira conferência com foco  na água em quase cinquenta anos.
A posição da ONU é a seguinte: E é importante lembrar que cerca de 90% de todos os desastres naturais  são relacionados à água. Então, qualquer enfrentamento das mudanças climáticas passa por  buscar um uso mais sustentável desse recurso. A gente vai continuar acompanhando esse assunto. 
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