Eu acredito que a necessidade de adorar dos seres humanos é parte da nossa natureza. É como fomos criados. As pessoas têm a necessidade de adorar algo ou alguém.
Elas adoram a si mesmos. Adoram os seus heróis. Talvez os seus líderes políticos ou até mesmo seus ditadores Ou elas adoram vários tipos de deuses e deidades.
Encontramos pessoas adorando no mundo todo. Em certo sentido, existe realmente alguém que não adora? A filosofia grega começa com um período chamado de pré-socrático, onde eles se perguntam sobre a origem.
A criação, a origem do mundo chamada de arché (arqué). De onde vem tudo. Então este é o período pré-socrático.
Depois haveria um período clássico com Platão e Aristóteles, que são os dois autores clássicos. E depois, quando tudo entra em crise, quando tudo começa a falhar, é quando aparece este período chamado de helenístico, que é onde aparecem pequenas escolas que tentam explicar como viver melhor. Como ter uma boa vida.
E aqui está o epicurismo, que é a procura do prazer. Aqui estariam por exemplo os cínicos, que são pessoas que vivem como cães na rua. Existe uma crise, e essa crise é tão grande Que faz com que se quebre um pouco essa razão Essa razão que iria nos orientar, que iria nos fazer descobrir o mundo.
Que iria permitir, definir e entender o mundo, isso é quebrado. E surge essa espécie de busca pelo prazer. Essa espécie de viver sem nada, de viver sem bens como os cínicos.
Ou a ideia dos estóicos de que o que acontece não pode ser mudado, então mudemos a nossa reação diante do que acontece. Então é um período onde entra em crise a filosofia clássica e começa essa busca pela experiência, pelo prazer. Busca um pouco uma forma de reagir às crises.
Justo no final disso vem a idade média. E na idade média, como você disse muito bem, é novamente uma rigidez. Novamente o senhor feudal é quase um deus.
Então um deus justiceiro e um senhor feudal que domina, que impõe, que obriga que os servos plebeus trabalhem para ele. Então na verdade é um período onde novamente volta a rigidez, voltam as crenças absolutas, seguras e é onde volta um pouco uma certa forma de opressão. Esse Deus da idade média é um deus que castiga o homem.
É um deus justiceiro. Nessa época em que o homem rejeita completamente esse Deus justiceiro A reação será colocar ao homem no centro. "Ah, Você é o Deus que me oprime?
Você é o Deus que tenta me sufocar? Pois agora eu vou reagir. Agora eu sou o centro.
Agora eu sou deus. " Porque o Deus da idade média acabou com o homem. Ele o afundou e o humilhou.
Então onde o homem será recuperado? Na grécia. O humanismo é uma reação.
Uma reação ainda não consolidada. Não há uma ruptura definitiva. O humanismo não vai se romper definitivamente E não criará realmente uma crítica da religião e da cultura quase até o século 19, com Nitzsche, com Freud, com a teoria da evolução de Darwin e tudo isso.
Então o humanismo começa uma linha que tem uma segunda fase, que seria o iluminismo do século 18, e se consolida no século 19 com os chamados de mestres da suspeita, que seriam Freud, Nitzsche e Marx. O que acontece é que essa ideia que começa com o humanismo do renascimento no século 16 e chega até o iluminismo do século 18, no século 19 e sobretudo no século 20 essa ideia é destruída. Por que é destruída?
É destruída pelos campos de concentração. É destruída pelas guerras mundiais. Se o homem é Deus, se o homem com a sua razão vai fazer com que o mundo progrida, que o mundo avance, que o mundo seja melhor o que trouxe o homem e o seu antropocentrismo são os campos de concentração, são as guerras mundiais São os conflitos que percorrem toda a Europa.
Então aí aparece a pós-modernidade. A pós-modernidade é dizer: "Eu não acredito mais na promessa de que o homem vai construir um mundo melhor" Esse mundo melhor não pode ser construído pelo homem como se ele fosse Prometeu. Esse mundo melhor de progresso, de igualdade, de liberdade não será trazido pelo homem.
O homem que se coloca no lugar de Deus, o que ele provoca são os campos de concentração, o nazismo A réplica do comunismo e os grandes desastres do século 20. Então esse antropocentrismo, esse homem que diz: "eu vou substituir a Deus. Eu sou como Deus", o que ele provoca é o fracasso total da modernidade, das ideias iluministas e o surgimento da pós-modernidade.
É um pouco como dizer "não creio mais no homem. Não creio mais em nada. Não há verdades seguras.
Não há um fundamento indubitável".