ainda estou aqui estreou nos cinemas fazendo R 1 milhão de reais em bilheteria só na noite de estreia e mais de 8 milhões no primeiro fim de semana é um momento de celebração pro cinema brasileiro não só pelos números mas por conseguir esse feito tão lindo contando uma história nossa com uma atuação tão forte como a de Fernanda Torres no papel de Eunice Paiva é maravilhoso trazer essa mulher incrível chamada eice Paiva pro reconhecimento público Eu acho que o filme abre uma janela para essa mulher e quem quiser saber mais eu tenho certeza que esse
filme vai tocar as pessoas humanamente como tem feito Leia o livro veja as entrevistas descubra mais sobre os Paiva e para homenagear esse filme aqui hoje eu vou te contar a história verdadeira por trás do filme Então vem comigo antes deixa só me apresentar eu sou a debs e esse é o Desenrola cinema seu canal de histórias por trás do cinema e da TV toda semana com novos papos pra gente desenrolar sim Fernanda Torres deu uma palavrinha pra gente no tapete vermelho da estreia do filme e eu cubro vários eventos como esse dicas de cinema
brasileiro lá no meu Instagram @ debs Filgueiras Então já segue para conhecer aí um outro lado do Desenrola cinema também e bora pro papo a eice é de uma família de origem italiana e cresceu no bairro do Bras em São Paulo ela não era de uma família assim riquíssima mas teve acesso a uma boa educação num colégio chamado ela gostava muito de estudar e uma amiga chamada Maria Lúcia pediu ajuda para uma prova e ela foi até a casa dessa amiga ajudar e lá ela conheceu Rubens Paiva os dois Começaram a namorar em 1947 com
17 anos e prestaram vestibular o pai de eice era contra ela ir pra faculdade por um pensamento mais tradicional de que a mulher cuidava da casa e tudo mais mas a Eunice queria muito estudar e consegui uma bolsa de estudos depois de passar em primeiro lugar na Faculdade de Letras do Mackenzie em São Paulo o Rubens também cursou uma kense tempo depois no curso de engenharia civil Mas acabou seguindo carreira na política assim como o pai que foi prefeito da cidade de eudorado Eunice e Rubens se casaram em 1952 e tiveram cinco filhos Vera Ana
Lúcia Eliana Marcelo e Beatriz Marcelo é claro Marcelo Rubens Paiva que depois escreveria o livro que deu origem ao filme ainda estou aqui 10 anos depois do casamento e já com a família formada o Rubens se candidata e é eleito deputado federal em 1962 ele se tornou vice-presidente da comissão parlamentar do inquérito que investigava grupos que conspiravam contra o governo da época do João Gular em 64 com ameaça de golpe ele fez um discurso na Rádio Nacional defendendo o presidente e a secretaria de cultura do Estado de São Paulo este momento nacional é o momento
decisivo em que o povo brasileiro pode ter a felicidade de ver realizado toda a sua revolução dentro do processo da legalidade democrática prestigiando o presidente da república e esta legalidade é indispensável entretanto para isto que o presidente e o governo contem com toda a mobilização da opinião pública todos os trabalhadores todos os estudantes os intelectuais e o povo em geral para que pacífica e ordeiramente digam um não e um basta a esses golpistas que pretendem cada vez mais prestigiar a pequena minoria privilegiada alguns dias depois com o presidente João gull deposto o Rubens perde o
cargo e se exila na embaixada da yugoslávia em Brasília durante 3S meses a eice vai paraa Brasília com os filhos mas eles ficam vivendo separados porque o Rubens é exilado na Europa Onde ele fica por outros 5 meses ele volta clandestinamente em 65 e se encontra com a família de novo em São Paulo ele chega de surpresa abre a porta e fala oi cheguei uma das filhas a Vera contou que esse foi um dos maiores sustos da sua mãe da ionice quando de repente surgiu na porta aquele pai de cinco filhos dizendo Oi voltei tô
de volta e de lá a família se mudou toda junta pro Rio de Janeiro e apesar de todo o risco e medo que cercava a vida da família Paiva o Ruben sempre fez questão de deixar tudo mais leve de seguir a vida trazendo alegria paraa casa eles alugaram um sobrado perto da Praia do Leblon onde circulavam políticos militantes companheiros da política e a Vera disse assim não havia espaço para tristeza ou de ão a vida era uma festa naquela casa até o dia em que foi assinado o ato inconstitucional número 5 quando começaram prisões torturas
e mortes meu pai achou que a coisa era séria e começou a ajudar militantes engajados na luta armada uma nova geração constituída em 1971 presos políticos exilados no Chile são trazidos de volta para São Paulo e revistados no aeroporto Entre esses presos tinham duas mulheres uma chamada Cecília Viveiros de Castro e Marilene de Lima Corona e com as duas foram encontradas cartas de exilados para combatentes brasileiros e um dos destinatários era Rubens Paiva no dia 20 de janeiro de 1971 a casa da família Paiva foi invadida por seis homens que se diziam da Aeronáutica e
queriam levar o Rubens para prestar um depoimento ele e a eonice tentaram manter a calma pelas crianças pediram que eles guardassem as armas e o Ruben sai de cabeça erguida e dirigindo o próprio carro com aqueles homens que não tinham nenhum mandato de busca nenhum pedido de Justiça nada a ionice ficou com os filhos sendo vigiada por esses homens dentro da casa dela e no dia seguinte dia 21 de Janeiro ela e a filha Eliana de 15 anos também foram levadas pro interrogatório com capuz Preto cobrindo o rosto elas são levadas pro quartel do primeiro
batalhão da polícia do exército onde funciona o do COD do Rio de Janeiro que foi o destacamento de operações e informações centro de operações de defesa interna criado pelo exército durante a ditadura para combater inimigos que na prática consistia em prender torturar e até matar militantes políticos Eunice e Eliana ficaram a duas celas de distância chegaram a ficar lado a lado num banco de espera encapuzado sem saber que estavam uma tão perto da outra a Eliana relatou que na noite em que ela passou lá foram colocadas pessoas na frente da cela amordaçadas encapuzadas amarradas imobilizadas
não dava para ver quem elas eram e ela só conseguia ouvir a respiração por baixo do capuz que elas usavam Depois de várias sessões de interrogatório a Eliana foi liberada no dia seguinte mas a eice continuou lá por mais 12 dias a minha principal fonte de pesquisa foi um documento escrito pelo jornalista Jason Tércio e sobre o tempo da Eunice na prisão ele escreve assim Eunice permaneceu 12 dias presa sendo interrogada dia e noite na sala havia pau de arara fios desencapados ligados numa tomada sangue no chão queriam saber se ela era comunista se Rubens
era comunista quem eram os amigos dele mas queriam saber principalmente sobre as cartas do Chile com quem Ruben se correspondia só então Eunice ficou sabendo da prisão de Cecília e Marilene mas ela não sabia nada sobre as cartas e eles não acreditavam para pressionar eonice os agentes mentiram que o Rubens ainda estava lá sendo interrogado que também negava tudo mas que ele acabaria confessando mostraram para ela um caderno com fotografias para que ela dissesse o nome de quem ela conhecia ela só identificou Rubens numa foto tirada quando ele chegou uma foto dela mesma da Eliana
e da Cecília deitada no áspero colchão de palha não podia se comunicar com ninguém lá fora de madrugada era acordada pro interrogatório que a impedia de dormir outras noites ela não conseguia dormir por causa dos Gritos e pensava a próxima sou eu ela não sofreu tortura física mas saiu pesando apenas 47 kg depois de 12 dias numa cela pequena sem dormir direito pressionada por interrogatórios diárias sem Alimentação adequada sem escova de dentes sem trocar de roupa e a alma em trans a ionice foi libertada no dia 2 de Fevereiro de 1971 voltou paraa casa e
nunca chorou na frente dos filhos ela tentou seguir com a família do jeito que fosse possível e ela não aceitava que o Rubens continuasse preso e na verdade pior desaparecido ela começou a buscar por respostas e cobrar das autoridades ela se encontrou com o ministro da Justiça Alfredo buzai no dia 20 de Fevereiro e o ministro prometeu que o Ruben estava bem e que ele seria liberado em no máximo 15 dias e tem um depoimento desse momento que mexeu muito comigo que foi de um amigo da família Antônio Calado que falou pra folha em 95
Eunice Andara preocupada Rubens fora detido pela aeronáutica dias antes e nenhuma notícia tinha chegado à família mas agora eice que também fora presa mas em seguida libertada podia respirar podia nadar em bus tomar um drink com os amigos pois acabara de estar com o ministro da Justiça que lhe havia garantido que Ruben já tinha sido interrogado passava bem e dentro de dois dias estaria de volta à sua casa mas não foi isso que aconteceu ela começou a enviar cartas pro Presidente M Pro conselho de defesa dos direitos da pessoa humana Primeiro ela narrou tudo que
aconteceu e que esteve em contato com o ministro e na carta ela diz assim Rubens foi preso na minha presença e na de nossos filhos foi visto por testemunhas ao longo do dia 20 de Janeiro no quartel da terceira zona aérea de onde foi transportado no fim da tarde pro quartel da polícia do exército na Barão de Mesquita sua fotografia no livro de registro de prisioneiros eu mesma vi ao lado da minha própria e de minha filha Eliana sua presença nesse quartel me foi afirmada por oficiais das Forças Armadas que me interrogaram ao longo dos
12 dias em que estive presa Isto é até o dia 2 de Fevereiro seu carro próprio no qual foi conduzido o Prisioneiro vi no pátio do mencionado quartel e me foi devolvido como comprova o recibo anexo não é possível que mais de 60 dias decorridos conserve-se assim desaparecida uma pessoa humana recusamos noos a acreditar no pior sim a eonice viu o carro do rubs no quartel o que provava que ele esteve lá e ela conta em outra carta que o carro foi disponibilizado para ela na hora ela podia levar só que ela tinha acabado de
ser solta não estava em condições e pediu para sua cunhada retirar o carro depois E essa era uma prova muito importante porque logo que ela foi solta um general responsável dizia que o Rubens não se encontrava preso por ordem nem disposição de qualquer organização militar deste exército E pior contaram uma versão da história em que o Rubens teria fugido durante a prisão o General Carlos Alberto Cabral Ribeiro escreveu assim esclareço que segundo informações de que dispõe Este comando o citado paciente o Rubens quando era conduzido por agentes de segurança teve seu veículo interceptado por elementos
desconhecidos Possivelmente terroristas empreendendo fuga para local ignorado O que está sendo objeto de apuração por parte deste exército ou seja na versão do exército enquanto eles levavam o Rubens para ser interrogado o carro foi interceptado por possíveis terroristas que fugiram com o Ruben sabe se lá para onde então nas cartas enviadas a eice diz que não só foi dito para ela enquanto ela tava presa que o Ruben estava no quartel como o carro dele foi encontrado no estacionamento a Cecília que voltou do Chile foi presa por causa das cartas disse ter visto Rubens no quartel
quando ela chegou lá que ficou lado a lado com ele eles se identificaram para oficial ou seja Ela ouviu ele dizer o nome dele e até soletrar o seu nome do Meio porque o oficial tinha dificuldades para entender como se escrevia Ela diz que foi levada para uma cela e que eles abriam uma portinha de vez Enem quando e perguntava o nome de quem tava lá dentro e que por isso ela ouvia em outras celas o Rubens de dizer o seu próprio nome e que também ouviu ele pedir água e um médico às 2 horas
da manhã do dia 21 de Janeiro de 1971 de acordo com o texto do Tércio que eu já citei o médico do exército Amil Car Lobo foi chamado para atender um preso que reclamava de dores no abdômen e quando examinado foi constatada hemorragia interna causada por esp e que se não fosse levado para Hospital ele teria poucas horas de vida ele murmurava pro médico que seu nome era Rubens Paiva mas o Coronel ne Fernandes queria terminar um interrogatório um tempo depois um outro preso Edson Medeiros ouviu uma movimentação na madrugada e dois oficiais carregarem um
corpo e jogarem dentro de uma cela e que o barulho foi como se ele ouvisse um saco de cimento caindo na manhã seguinte quando foi trabalhar o médico soube que o paciente que ele atendeu na madrugada tinha morrido do lado de fora A Eunice fazia de tudo para encontrar o Rubens depois de escrever pro Presidente e não ter retorno ela ia paraa Brasília conversar diretamente com deputados numa carta pro Deputado Pedroso horta ela repete que o ministro da justiça assegurou que o Ruben estava vivo sendo bem tratado o que Não significava que ele não poderia
ter sofrido alguns arranhões afinal ele era um prisioneiro do primeiro exército E com o tempo essa luta deixou de ser só deonice e passou a ser de muitas pessoas que também tiveram parentes presos pelo regime e tidos como desaparecidos e mesmo que a esperança diminuísse a cada dia a eice não deixava de lutar fosse pela vida do marido no início ou por uma confissão do estado com o passar do tempo em 1973 ela entrou na faculdade de direito conciliando os estudos com a vida de uma mãe que criava cinco filhos e lutando para esclarecer o
desaparecimento do marido e a sua militância contra a ditadura não foi só em causa própria ou do Rubens ela se envolveu com a causa indígena e se tornou uma das poucas especialistas em Direito indígena no país naquele momento uma ação que foi explorada e morta pelo regime militar por conta de interesses pelas terras e minérios valiosos que tinham em reservas indígenas em 1987 a eonice participou da criação do Instituto de Antropologia do meio ambiente uma ONG que atuou em defesa dos povos indígenas Além disso ela se engajou no movimento da Jeta já pela redemocratização participou
da promulgação da Constituição de 88 integrou a comissão de mortos e desaparecidos formada no governo Fernando Henrique Cardoso em maio de 95 o filho delo Marcelo Rubens Paiva publicou um texto na revista Veja em que ele pressionava o governo do Fernando Henrique por um Amparo maior a essas famílias de pessoas desaparecidas durante a ditadura depois de muito esforço foi promulgada a lei número 9140 que reconhece como mortas pessoas desaparecidas em razão de participação em atividades políticas durante o regime militar foi criada a comissão especial sobre mortos desaparecidos políticos um órgão responsável por reconhecer essas vítimas
desaparecidas localizar e indenizar as famílias o Marcelo conta no livro ainda estou aqui que a eonice foi convidada pra cerimônia de promulgação da Lei ela ficou sentada ao lado do presidente diante de ministros e militares ao final todos se levantaram e abraçaram-se fotos no dia seguinte vejo na capa dos jornais minha mãe Abraçada ao chefe da casa militar General Alberto Cardoso do exército brasileiro é uma das fotos mais importantes do longo e infindável processo de redemocratização brasileira tempos de reconhecimento um lado sai da trincheira e cumprimenta o outro mas sobre esse abraço a eice contou
pro filho depois assim todos se levantaram abraçaram o Fernando Henrique que tava ao meu lado eu virei tinha um militar eu não sabia o que fazer era o general acabei abraçando-o também em 1996 Eunice Paiva conseguiu que fosse emitido um atestado de óbito do Rubens Paiva 25 anos depois do seu desapare mento e morte pela ditadura e só aí que ela pode fazer um inventário e ter acesso aos bens deixados pelo Rubens 25 anos depois Porque até então ele não era considerado morto e sim desaparecido Então tudo ficou bloqueado 25 anos mas a eonice Paiva
segurou esse atestado de óbito como um troféu que quem não conhece essa história pode olhar e achar estranho ela própria disse pra folha na época é uma sensação esquisita sentir-se aliviada com uma certidão de óbito mas quem sabe o que essa mulher lutou entende a Vitória que é ter nas mãos essa declaração de que o marido não fugiu por aí com terroristas e sim foi morto era o reconhecimento de 25 anos de luta e não não acabou a partir da instauração da Comissão da Verdade é que tiveram a confirmação de que o Rubens foi assassinado
pelos militares em 2014 o General José Antônio Nogueira Bean e o Tenente Antônio rudes de Carvalho que tinha morrido em 2008 foram considerados os autores da Morte e ocultação do corpo do Rubens mas depois do mesmo ano cinco militares foram denunciados pelo caso além do José Antônio Nogueira os outros foram Rubens Pain Sampaio Raimundo Ronaldo Campos Jurandir Souza e Jaci Souza Três deles morreram entre 2017 e 21 os restos mortais do Rubens nunca foram encontrados e nem foi esclarecido tudo o que aconteceu enquanto ele esteve com os militares a eí se apaixonou pela causa indígena
passou a apresentar pessoas que tinham suas terras tomadas e já no período democrático ela atuou para que a Vale do Rio Doce indenizasse povos indígenas que tiveram suas terras privatizadas por conta da construção de linhas de transporte e barragens aos 72 anos a uní foi diagnosticada com Alzheimer e o filho Marcelo Rubens Paiva disse em depoimento para veja que foi muito angustiante ver a mãe desaparecer aos poucos e que ele temia que As Memórias de tantos anos desaparecessem e foi isso que motivou ele a escrever o livro ainda estou aqui num trecho ele diz assim
sobre a mãe jamais sentiria pena de si mesma nem queria que sentíssemos pena dela jamais pediu ajuda recentemente uma nova fala cheia de significados entrou no seu repertório Especialmente quando um turbilhão de emoções a ataca como rever uma filha que mora na Europa ou segurar no colo meu filho o que mostra uma felicidade e um alerta caso alguém não tenha reparado eu ainda estou aqui ainda estou aqui Eunice Paiva faleceu no dia 13 de de 2018 com 86 anos foi homenageada pelo filho no livro e agora pelo cinema brasileiro no filme ainda estou aqui que
retrata não só a luta dessa mulher mas a força e no meio de tudo isso ainda ser uma mãe da forma como ela achava que tinha que ser como ela podia ser e tem uma coisa que eu repito sempre que eu falo sobre a sensação de ver esse filme que é a eice pive é tão forte que num certo momento do filme Até você tá sendo amparado por ela nem a gente que assiste res tanto quanto eice e ninguém faria esse papel tão duro e ao mesmo tempo acolhedor com tanta alma e verdade quanto Fernanda
Torres assistam ainda estou aqui me contem as suas opiniões Leiam sobre Eunice Paiva vamos continuar conversando lá nos comentários a gente se vê no próximo Desenrola cinema fiquem bem e um beijo