Bem vindos ao nosso canal YouTube, com o Falando nIsso de hoje, e a pergunta de Juliana de Oliveira: "professor! ótimo vídeo! como sugestão, você poderia falar sobre a personalidade borderline e em qual estrutura psíquica ela se encontra?
" pergunta muito interessante, Juliana porque ela é exatamente um problema para a tradição lacaniana, há muitos lacanianos que não concordam, que acham que esse é um quadro clínico que que não existe que teria sido assim importado da psiquiatria que é alheio à psicanálise e que no fundo representaria um equívoco diagnóstico. se você não trabalha com um diagnóstico sobre transferências, um diagnóstico estrutural. .
. você se deixa, vamos dizer assim, organizar pelo diagnóstico dos fenômenos então você estaria assim mais próximo de outras clínicas que seriam aquelas que então propõe a existência do quadro então conhecido como transtorno de personalidade borderline. Isso é um tanto quanto falso né a partir da origem desse quadro ele foi descrito por um psicanalista foi um dos poucos quadros né que a psicanálise pode pode acrescentar à grande vasta tradição da psicopatologia, Adolph Stern era um psicanalista austríaco que migra no pós guerra para a os Estados Unidos e lá começa a trabalhar com adolescentes que tinham um conflito com a lei, e ele percebe que a distinção que ele tinha trazido na bagagem né entre neurose psicose ela não ela não se adequava muito bem àquele tipo de paciente, então ele escreve um clássico artigo né introduzindo essa ideia quadro borderline né, isso foi entendido inicialmente como uma o borderline como uma fronteira entre neurose e psicose né, como se existisse assim uma uma zona mista, uma zona cinzenta em que a gente teria assim sinais e sintomas dos dois das duas grandes estruturas clínicas né isso na verdade foi se desenvolvendo dentro da psicanálise, não da psicanálise lacaniana, mas de forma a introduzir esse quadro dentro do manual estatístico diagnóstico DSM que em grande medida é um trabalho que a gente deve ao Otto Kernberg um grande estudioso das personalidades borderline e principalmente da agressividade, da função da agressividade nesse quadro, então a partir daí a partir de então da década de 60 a gente tem isso que foi descrito como uma neurose borderline como um sintoma um grupo de sintomas borderline passa a ser chamado então de transtorno da personalidade borderline, ou seja não está no grupo antigamente chamado grupo 1 né o grupo definido por sintomas, mas não no grupo das dos transtornos de personalidade e isso tem que ver, entre outras coisas, com o fato de que não existe uma medicação assim exata que é indicada para esse quadro e inclusive porque o diagnóstico desse quadro envolve a apreciação das relações muito mais do que do que o uso do eixo número um né, bom mas então vamos caracterizar esse quadro a partir da do que nos diz o DSM-5, primeiro lugar é alguém que tenha um sentimento permanente de que vai ser abandonado e que vai se sentir sozinho de que o outro vai embora, isso pode então está relacionado tanto como circunstâncias reais quanto por uma circunstância imaginaria mas o fato é que a pessoa se sente na eminência de abandono na maior parte do tempo, além disso há uma instabilidade essa palavra chave na nos discursos sobre o borderline, uma instabilidade entre o ideal e o real, entre explicativas e contrariedades é muita idealização e quando algo sai fora assim do caminho a pessoa reage de uma maneira colérica, de uma maneira intempestiva, o terceiro traço é uma instabilidade novamente em relação à imagem de si né, o sujeito se sente ou muito mais ou muito menos do que ele é, e um quarto traço é a impulsividade ou reatividade que se mostra principalmente em práticas como a auto agressão auto-mutilação às vezes né cutting mas também por assim adotar comportamentos de risco né, se colocar em situações de risco objetivo e subjetivo e aquele sujeito que precisa assim balançar o barco sempre que a coisa está muito tranquila, daí que um quinto traço ou muito assinalado assim pela literatura psiquiátrica é a tentativa de suicídio ou enfim de fato levar a cabo o suicídio, instabilidade de afectos e um sentimento crônico de vazio né, é como se estivesse sempre assim faltando alguma coisa e daí isso se liga com a impulsividade leva o sujeito a agir, a se ocupar, a criar confronto a criar confusão é mais ou menos assim que as pessoas que vivem com alguém assim borderline se referem a essa pessoa, uma pessoa que está sempre arrumando confusão , um sintoma mais raro é a ideação paranóide transitória que é aquela pessoa que se sente assim perseguida, às vezes tem complô, as vezes tem uma conspiração e a pessoas que os outros estão contra ela em grande medida isso corrobora essa idéia de bom colocar-se em risco, criar risco e instabilizar as situações, mas além disso haveria então o último traço que é a falta de controle da raiva, então a pessoa parece dominada pela raiva ela é levada a ataques de cólera às vezes desproporcionais aquilo que enfim foi o contexto desencadiante de uma de uma adversidade, bom mas até aqui a gente está falando o descritivamente do quadro e dizendo que uma boa parte da tradição lacaniana não reconhece, bom alguns que dizeem assim a esse conhecimento ele veio de uma forma tardia e com uma categoria assim modificada, são aqueles que lêem na proposta feita pelo Jacques-Alain Miller entre outros né é conhecida como a psicose ordinária dizia olha essa noção na verdade ela encampa, ela absorve, ela colhe tudo aquilo que os psicanalistas não lacanianos ficaram pesquisando durante os anos 70 os anos 80 anos 90 até que bom aparece esse quadro que no fundo representa uma revisão da racionalidade diagnóstica dentro do Lacan e que tem que ver com o projeto de releitura e proposto pela escola no caso escola brasileira de psicanálise, mas talvez esse projeto ele possa ser reentendido à luz de um raro momento no próprio Lacan em que a gente encontra uma afirmação muito importante apesar da sua vamos dizer assim pontualidade né muito importante pra esse para essa conversa que é precisamente a página 86 do seminário sobre a angústia né esse seminário de 1962/1963 diz aqui o seguinte, estão discutindo uma um debate ocorrido numa num encontro realizado naquele final de semana "Extraio meu primeiro exemplo do relatório feito por Jean Bobon no último Congresso de Anver, sobre o fenômeno da expressão.
Vejam esse desenho de uma esquizofrenica" é um desenho onde você tem assim há uma árvore né com com vários galhos e alguns animais nesses galhos, "(. . .
) O que há na ponta dos galhos? para o sujeito em questão o que exerce o papel desempenhado pelos lobos para o Homem dos Lobos são significantes. Para além dos galhos da árvore ela escreveu a formulação de seu segredo, io sono sempre vista" ela fala em italiano e diz eu sou sempre, o que?
olhada mas também eu sou sempre olhar né, mas eu quero chamar atenção de vocês pra um momento em que ela diz né para o sujeito em questão o que exerce o papel desempenhado pelos lobos para o homem dos lobos são significantes, e é assim a frase que a gente tem que a gente estuda em português, mas como é que está esta passagem naquilo que se considera assim a versão mais rigorosa do que o Lacan efetivamente diz em seus seminários que é conhecido como versão Staferla ou Staferla, digitem aí no google se vão ter acesso a todos os seminários do Lacan transcritos uma maneira absolutamente rigorosa em francês né, tanto em pdf como em word, mas então usando esse material como fonte que que a gente vai ler nesta passagem o pnr diz ampla da la no som do bom afeta o dn conquista verso leva o nome da exposição a ver com o bo o cdc bons qual a equipo uma esquizofrenia amplie de rock que lilo jô ck morder laine que se chama do luto e se de significa" quer dizer não há dúvida este caso borderline em francês, entao não venha com essa italianinho o Lacan não queria dizer, em francês ele aplica a expressão inglês borderline, joã o ck nesse caso o borderline que é o Homem dos Lobos, então o que a gente tem aqui nessa declaração é um passan do Lacan é verdade, não desenvolvida não retomada mas é uma declaração cabal, o Homem dos Lobos é um caso borderline, e que de fato a observação de Lacan ela é compatível com o que a gente lê no caso, inclusive a ideação paranoide, o sentimento de abandono ele ficar ligado a psicanalistas por uma boa parte da sua vida, a instabilidade, a reatividade há coisas que passam assim pela hipocondria pela auto agressão ao corpo, crises de ódio, enfim uns sintomas elencados estão aí quase todos no Homem dos Lobos, mas isso não responde à tua pergunta que é saber então do ponto de vista estrutural então, quer dizer é uma neurose ou é uma psicose, talvez a gente tenha que usar esse caso pra tensionar justamente os limites da diagnóstica estrutural no próprio Lacan, eventualmente a idéia da psicose ordinária é uma solução para este problema mas o importante é o reconhecimento do problema, há um outro caminho que me parece também muito produtivo que é pensar que é uma série de outros casos, situações clínicas que eles não reagem muito bem a essa dicotomia neurose ou psicose dentro do Lacan né, por exemplo a idéia da melancolia, seriam todas as formas melancólicas tipos de psicose? tem gente que diz que sim, tem gente que diz que não, pensando mais historicamente é um quadro descrito no final do século 19 chamado loucura histérica, isso é o que é uma histeria mais grave, será que não estava ali então já reconhecido a existência desse funcionamento borderline diria então agora passando pro nosso último tópico né que a personalidade borderline me parece então um agrupamento de sintomas, um enodamento de sintomas e que a podem ser entendidos a partir da confluência de duas problemáticas e aqui eu me apoio no que diz Luís Cláudio Figueiredo no seu excelente livro que eu recomendo a vocês né a psicanálise do contemporâneo onde ele observa o seguinte olha toda toda discussão sobre sobre o borderline ela conflui uma problemática sobre o narcisismo e uma problemática sobre esquisoidia essas duas coisas elas entram em uma espécie de compensação ou equilibração mútua e isso então o que daria explicaria né a apresentação clínica dos pacientes borderline, mas é quero crer tenho uma querida pós doutoranda trabalhando nessa direção a Elizabeth Brose que está tentando mostrar como a partir da leitura precisa de relatos autobiográficos de pacientes foram diagnosticados com borderline como existem fenômenos de linguagens específicos como é possível uma descrição estrutural se você quiser ou discursiva dessa forma de sofrimento. Para receber mais fragmentos erráticos esquizóides e narcísicos do falando nisso clique aqui embaixo no nosso acheronta movebo, é isso gente.
Buli! Cabô cara.