A história NÃO CONTADA de EUNICE PAIVA de "AINDA ESTOU AQUI"

seja pelo filme ainda estou aqui ou pelo livro de Marcelo Rubens Paiva a imagem de eonice Paiva está gravada na memória de quem viu essa cena uma mulher forte sorrindo Ao Erguer o atestado de óbito do marido Rubens Paiva após 25 anos de busca incansável Por Justiça Só que essa cena esconde muito mais do que você imagina e a história de unice Paiva vai muito além do que o filme chega a nos contar por trás do papel protagonizado por Fernanda Torres há uma mulher que ajudou a evitar a extinção de vários dos povos indígenas quase

foi suplente de um dos presidentes mais conhecidos do Brasil e que articulou a criação da comissão que pela primeira vez na história investigou os crimes cometidos na ditadura militar inclusive contra ela e sua família hoje a politi conta a história de Eunice Paiva e tudo aquilo que o filme não te contou essa moça aí da foto é Maria Lucrécia Eunice fachola no auge dos seus 30 e poucos anos nascida em São Paulo em 1929 e criada em cima de um um armazém de cereais no bairro do Brás Eunice descendia de uma família italiana bem tradicional

mas foi na escola que ela se tornou a melhor aluna da turma no colégio Sion passou perrengue por ser canhota se apaixonou pela leitura e por acaso ou destino conheceu o irmão mais velho de uma colega ele que anos depois se tornaria seu marido Rubens beiro piv com ensino escolar completo mas em uma família onde as filhas fachola eram criadas apenas para casar Eunice brigou com o pai pelo Direito de fazer uma faculdade ele cedeu e a 18 anos em 1947 ela passou em primeiro lugar vestibular de letras na tradicional Universidade maquens faculdade onde Rubens

também entrou dois anos depois para cursar engenharia civil e dali começaram a namorar eice descrita pelos filhos como uma mulher cheia de beleza ideias feministas e classe se formou e não exerceu profissão mas mesmo assim foi conhecido por falar fluentemente em inglês e francês pelo domínio da Norma culta da Língua Portuguesa e por seu vasto repertório literário os anos se passaram em 30 de maio de 1900 52 a família que você viu nas telonas do cinema como se fosse formar eice ganharia o Paiva no nome após casar com Rubens e a família crescia ainda mais

em 53 veio a primogênita Vera do anos depois Maria Eliana em 1957 Ana Lúcia com mais do anos único menino Marcelo e por fim em 60 a caçula Maria Beatriz em outubro de 1962 Rubens virou deputado federal e adquiriu um apartamento pra família visitá-la de vez em quando na capital federal as coisas estavam tudo bem pelo menos até o fatídico primeiro de abril de 1964 quando o golpe militar aconteceu eice não estava no Brasil ela viajava a Moscou com o marido para conferir as novas tecnologias do momento ao retornar o casal encontrou o país sobre

o ato institucional Número Um de Abril de 1964 que caçava mandatos de deputados e suspendia direitos políticos por 10 anos sobre o argumento de segurança nacional afetando diretamente Rubens spiva após a cassação Rubens spiva refugiou oue na embaixada da yugoslávia em Brasília por 3S meses eice mudou a família para apartamento funcional do deputado na capital visitando o marido diariamente em junho de 1964 Rubens Partiu para o exílio na yugoslávia e França mas 5 meses depois deu Adeus a Paris tropical e a Brigite Bardot e retornou clandestinamente ao Brasil em uma tarde comum e assustando eice

que estava na sala com os filhos e não esperava a volta do marido tão cedo alguns anos depois com a censura e a perseguição política se intensificando a família se mudou mais uma vez agora pra Avenida Delfim Moreira no Leblon da cidade maravilhosa na famosa casa de frente pra praia que você bem conheceu nos cinemas e por um bom tempo eice e Rubens Paiva levaram uma vida tranquila ele como Engenheiro e ela cuidando da casa e uma rotina simples estável e com a casa cheia de amigos mas em Passos discretos seu marido que sempre foi

uma voz importante do movimento trabalhista passou a atuar na resistência ao regime mesmo que nos Bastidores ele mantinha contato com guerrilheiros e exilados políticos repassava cartas A famílias ajudava a divulgar informações sobre a repressão e participava de discussões sobre a redemocratização no país O que como você deve imaginar fez com que ele se tornasse um alvo dos militares E daqui pra frente bom acho que essa parte da história quem assistiu o filme conhece bem né a arte imitou a vida até nos detalhes mais minuciosos no dia 20 de janeiro de 1971 assim como você viu

Nessa cena aqui no cinema alguns homens que se diziam da Aeronáutica Entraram na casa da família Paiva e sem mandato judicial levaram Rubens para o quartel do Comando da Terceira zona aérea no Rio de Janeiro em seu próprio carro após que você lembra que pouco tempo depois Eunice também foi levada para o interrogatório encapuzada pelos militares junto com sua filha Eliana na época com 15 anos que passou 24 horas por lá já unice passou 12 dias sendo interrogado no livro infância roubada crianças atingidas pela ditadura militar no Brasil heliana conta que a mãe não foi

diretamente torturada como muitos outros nas celas ao lado mas que durante seu caminho por quase duas semanas entre revista na sela apertada e a cadeira de madeira na sala do interrogatório eice Ficou dois dias completos sem se mexer imóvel sem comer estendida no colchão depois das quase duas semanas que pareceram uma eternidade eice saiu da prisão no dia 2 de Fevereiro com 20 Kg a menos e nenhuma resposta sobre o paradeiro do seu marido entrevista ao estado de São Paulo em 4 de fevereiro daquele ano declarou fui solta mas falta uma peça na minha família

evidentemente eu tentei saber primeiro a razão daquilo tudo a prisão do Rubens a minha prisão que era para mim é verdadeiro absurdo Finalmente eu consegui saber que naquela altura eles estavam interessadíssimo em resolver um sequestro de um dos embaixadores eu acho que é do embaixador suíço do qual eles não tinham Ainda nenhuma pista e tinham chegada a uma teoria que deveria existir uma pessoa extremamente competente inteligente corajosa preparada etc rica e que essa seria a pessoa que do Brasil daria todas as ordens e estaria organizando todo esse movimento a unice Saiu Mas Rubens nunca mais

voltou PR casa dali em diante a luta por respostas seria longa um texto publicado por um amigo Antônio Calado na Folha de São Paulo alguns anos depois conta que na época conversou com Eunice em buos e ela se disse confiante após ouvir do Ministro da Justiça ou da Aeronáutica que Rubens já for interrogado estava bem e em dois dias voltaria para casa em cartas éo General mic então Presidente e ao deputado Pedro warta ela detalhou a prisão de Rubens em 20 de janeiro de 1971 testemunhada por ela e pelos filhos e mencionou ter visto sua

foto no livro de registros da polícia do exército Mas como você bem acompanhou na cadeira do cinema nenhuma resposta foi dada apesar das garantias do Ministro da Justiça de que Rubens estaria Vivo e bem tratado ele nunca mais foi visto Marcelo conta no livro ainda estou aqui em 1973 ela se mudou com a família para Santos ingressou na Faculdade de Direito da Presbiteriana maquens dividia-se entre a criação dos cinco filhos e a rotina de estudante formou-se em 1976 aos 47 anos de idade e se tornou anos depois uma advogada respeitada em todo o país elici

Paiva atuou como revisora contadora advogada não apenas para seus cinco filhos mas também para uma dezena de primos amigos e até conhecidos mais distantes ela lidou com divórcios de casais amigos inventários de famílias próximas e representou também fábricas e empresas mas o grande salto da sua carreira ainda estava por vir nos anos 1970 o zoró uma aeia indígena no centro-oeste do Brasil enfrentava Um Destino dramático uma contagem feita em 1977 mostrava que sua população chimada entre 800 e 1000 pessoas caiu pela metade em apenas um ano nas décadas seguintes Invasões de seiros e madeireiras agravaram

a situação trazendo epidemias e uma luta desesperada pela sobrevivência em suas terras nos anos 80 o povoado se encontrava à beira do desaparecimento mas uma mulher entrou para jogo e foi peça essencial para que a comunidade se recuperasse no começo da vida como advogada Eunice começou a ver Paralelos Claros entre o desaparecimento de opositores políticos durante o regime militar e a expropriação violenta de terras indígenas segundo seu filho Marcelo para ela ambas as situações representavam a ação de direitos fundamentais e a violência do Estado contra grupos vulneráveis o que a motivou a lutar pela causa

indígena Elice Paiva atuou tanto em Pequenas Causas quanto em consultorias para o governo federal o Banco Mundial e a ONU em outubro de 1983 ao lado de Manuela Carneiro da Cunha publicou o artigo defendam os patachos na Folha de São Paulo que se tornou Marco na Luta pelos direitos indígenas no Brasil e no mundo em 1985 eice co-escreveu a obra o estado contra o índio com a antropóloga Carmen juquira o livro foi um Marco inspirou a demarcação de terras indígenas que aconteceria no Brasil na redemocratização anos depois mas seu caso mais emblemático foi o dos

zó em 1976 eí foi responsável por elaborar um parecer jurídico defendendo a demarcação de suas terras argumentando que os direitos indígenas são intransponíveis e intransferíveis foi graças ao seu trabalho que a terra indígenas zoró foi finalmente homologada em 1987 evitando a extinção do povo a a demarcação permitiu a expulsão dos invasores e a recuperação da comunidade que existe até os dias de hoje no Estado do Mato Grosso a paixão de eice pela causa indígena cresceu levando a representar populações indígenas em disputas por terras muitas vezes sem qualquer retorno financeiro em 1977 ela fundou o Instituto

de antropologia e meio ambiente uma ONG que atuou até 2001 na defesa da Autonomia indígena no dia 27 de outubro de 1995 foi fundada a comissão de mortos e desaparecidos políticos pela primeira vez investigou os crimes cometidos na ditadura militar dentre os primeiros membros da comissão estava ela unicipal só que o que pouca a gente sabe é que essa comissão que foi responsável pela emissão da certidão de óbito de Rubens Na verdade só saiu do papel por causa de Onice mesmo sob censura militar e monitorada desde 1971 como revelaram documentos em 2013 eice nunca desistiu

de buscar justiça por seu marido e de se engajar pela redemocratização do Brasil ela participou do movimento das diretas já e foi uma das primeiras vozes a criticar a Lei da Anistia de 1979 participou de debates em jornais revistas televisão e escolas Além disso ela chegou a participar de algumas reuniões de fundação do PT e Manteve proximidade com líderes como Lula que ela havia conhecido lá nos anos 70 quando então Metalúrgico visitou sua casa após o desaparecimento de Rubens em 1988 eice integrou a assembleia nacional constituinte como consultora contribuindo paraa inclusão dos direitos indígenas na

Constituição Federal promulgada em 5 de outubro Daquele mesmo ano já na democracia ela continuou buscando justiça por seu marido mas ainda sem grandes respostas Até que em 1994 Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente o sociólogo eraa amigo íntimo de Rubens Paiva mas evitou se posicionar sobre os desaparecidos políticos quando questionado pela anicha internacional a omissão gerou indignação Marcelo que morava nos Estados Unidos ligou para e unice que também estava revoltada minutos depois ela enviou um fax com um texto de FHC escrito por ele nos anos 1980 quando era sociólogo e colunista da folha no qual

ele citava rubben spiva e cobrava o governo Sarney por uma posição sobre os desaparecidos políticos Marcelo então contatou Paulo Moreira Leite redator-chefe da revista Veja e escreveu um artigo destacando a contradição entre FHC crítico da ditadura e o presidente que agora escalava o texto publicado em duas páginas teve grande repercussão Então veio a resposta de FHC o presidente deu sinal verde paraa criação da comissão que Pass passaria a investigar os mortos desaparecidos no regime projeto de lei que dispõe sobre o reconhecimento oficial das mortes dos desaparecidos políticos e o rear cimo aos seus familiares e

uní então integrou a comissão e o ministro da justiça José Gregory elaborou a minuta da lei número 9140 que reconhecia as vítimas da ditadura A lei foi aprovada após intensos debates no Congresso Marcelo relata no livro ainda estou aqui que durante a cerimônia de promulgação no palácio do planal eice sentou-se ao lado do presidente e afinal abraçou Fernando Henrique Cardoso involuntariamente o General Alberto Cardoso chefe da casa militar a foto do abraço publicada em jornais tornou-se um símbolo do processo de redemocratização no Brasil Eunice confessou ao filho todos se levantaram abracei Fernando Henrique virei tinha

um militar eu não sabia o que fazer acabei abraçando também impressionado com seu equilíbrio e falta de rancor o filho destacou que o gesto representava a reconciliação entre lados opostos que se tornou uma Marco no processo de superação das divisões da ditadura Mas o mais importante foi outro momento depois o Artigo terceiro da lei permitia que cônjuges companheiros descendentes ascendentes ou colaterais de até quarto grau de desaparecidos políticos solicitassem a lavratura do registro de óbito no registro civil apresentando a publicação da Lei e seus anexos foi assim que oice conseguiu aquele papel pela qual lutou

tantos anos a certidão de óbito de seu marido posso até dizer que eu fico até grata com essa solução que que foi dada e acho que é um capítulo encerrado na nossa vida né Agora realmente encerrado embora claro que a memória do rubes a saudade dele O a importância que ele teve para nós a gente mantém mas num outro plano no plano da afetividade da Saudade Marcelo Rubens Paiva diz que foi ali que ele percebeu que unice era a verdadeira heroína da família e sobre quem ele deveria escrever ela tinha ensinado a eles que a

família vítima da ditadura era Na verdade uma das muitas famílias vítimas de muitas ditaduras não eram só eles as vítimas o país era o crime foi contra a humanidade após 25 anos eice pode finalmente se considerar viúva acessar bens e resolver questões financeiras de Rubens graças à lei número 9140 promulgada após ação direta dela mesma no dia 24 de fevereiro de 1996 em entrevista à imprensa ela diria a frase imortalizada por Fernanda Torres no filme é uma sensação esquisita né senti alívio com um atestado de óbito mas o que pouca gente sabe é que talvez

não tivesse sido possível você ter ido ao cinema assistir esse filme e conhecer toda essa história sem esse momento aqui a comissão nacional da verdade entregou a presidente Dilma Roussef o relatório final em que afirma que a violação dos Direitos Humanos foi uma política de estado da ditadura militar com a instauração da comissão nacional da verdade em 2012 durante o governo Dilma a busca por justiça e memória do Brasil investigou as violações de direitos humanos durante a ditadura militar eice não integrou diretamente a comissão na verdade naquela época ela já estava com Alzheimer em estado

mais avançado mas sua atuação incansável na comissão de mortos desaparecidos e sua pressão constante por respostas foram fundamentais para que a comissão se tornasse a realidade quando o relatório foi divulgado em 2014 confirmando a responsabilidade do estado no desaparecimento de Rubens e de outras vítimas Eunice viu parte de sua batalha ser reconhecida a comissão não apenas trouxe à tona a verdade sobre o que aconteceu com Ruben mas também recomendou a responsabilização dos agentes envolvidos e vimos no cinema aquela cena inesquecível em que Fernanda Montenegro representando Eunice mais velha assiste o resultado da comissão e sem

nenhuma palavra nos conta tudo o que ela estava sentindo a realidade foi até parecida mas o livro e seus filhos contam que tudo isso aconteceu em um momento em que ela parecia não lembrar de mais nada ela chamou todo mundo quando Rubens apareceu na TV e lamentando disse tadinho como se naquele ponto ela já não reconhecesse mas Rubens enice Piva faleceu no dia 3 de dezembro de 2018 em São Paulo aos 86 anos após 14 anos de convivência com Alzheimer sua morte coincidiu com 50 anos do A5 um Marco Sombrio da ditadura militar durante sua

vida Eunice lutou não apenas contra o esquecimento pela doença mas também contra o esquecimento histórico daqueles que ainda defendem a ditadura buscando incansavelmente a verdade sobre o desaparecimento de rubben Spark essa luta passaria de geração em geração seu neto Neto Chico lembraria anos depois que sua trajetória de resistência transformou a família deixando um Marco de coragem e dignidade mas como a gente já comentou Eunice foi apenas uma das muitas pessoas que lutaram contra a ditadura no Brasil e a sua história conta uma perspectiva sobre o regime que acredite ou não não é consenso por aí

Pois é tem quem diga que na ditadura as coisas eram muito melhores do que hoje mas até que ponto isso pode ou não ser verdade para entender melhor como foi o período e conferir os maiores segredos de uma das épocas mais sombrias da política brasileira confer nosso vídeo sobre a ditadura militar no Brasil Esse foi o vídeo de hoje pessoal até a próxima [Música]