Meu nome é Ricardo Oliveira, tenho 42 anos, e até pouco tempo atrás, trabalhava como engenheiro civil em uma construtora de médio porte em Belo Horizonte. Digo "até pouco tempo atrás" porque minha vida deu uma guinada de 180º nos últimos meses, e não posso dizer que foi para melhor. Mas vamos começar do início: há 15 anos, me casei com Fernanda, uma advogada brilhante de 40 anos.
Nos conhecemos na faculdade, eu cursando Engenharia e ela, Direito. Foi amor à primeira vista, pelo menos para mim. Fernanda sempre foi mais reservada, mais pragmática.
Talvez esse tenha sido o primeiro sinal de que éramos diferentes demais, mas, na época, eu estava cego de amor e achava que podíamos superar qualquer obstáculo. Logo após o casamento, tivemos nossa filha única, Mariana, que hoje tem 14 anos. Mari, como a chamamos carinhosamente, sempre foi o ponto de equilíbrio entre Fernanda e eu.
Quando discutíamos, bastava um olhar preocupado de Mari para nos fazer reconsiderar nossas palavras. Nossa vida em Belo Horizonte era relativamente tranquila. Morávamos em um apartamento confortável no bairro da Savass, não muito grande, mas suficiente para nós três.
Fernanda fazia carreira em um escritório de advocacia renomado, especializado em Direito Empresarial; eu trabalhava na construtora Horizonte Novo, uma empresa que vinha crescendo bastante nos últimos anos. Mas, para ser sincero, eu nunca me senti completamente realizado no meu trabalho. Sempre tive o sonho de abrir meu próprio negócio, de ser meu próprio chefe.
Conversava sobre isso com Fernanda de vez em quando, mas ela sempre foi mais conservadora em relação a riscos financeiros. "Ricardo, temos uma filha para criar, contas para pagar. Não podemos arriscar tudo em um negócio incerto", ela dizia.
E bem, ela não estava errada. Mas isso não impedia meu coração de acelerar toda vez que eu via uma reportagem sobre algum empreendedor de sucesso ou quando passava em frente a uma loja com o aviso "Aluga-se". Mesmo assim, nosso relacionamento era estável.
Tínhamos nossos problemas, como qualquer casal, mas nada que ameaçasse seriamente nossa união. Eu me considerava um bom marido e pai. Ajudava nas tarefas de casa, levava Mari para a escola sempre que podia, participava das reuniões de pais e mestres.
Nos fins de semana, gostávamos de fazer churrascos com os amigos ou passear no parque municipal. Tudo mudou quando o pai de Fernanda, senhor Antônio, faleceu repentinamente. Ele era um empresário bem-sucedido do ramo imobiliário, dono de uma rede de imobiliárias em Minas Gerais.
Sempre foi um homem forte, cheio de vida. Ver ele partir tão subitamente, vítima de um infarto fulminante, foi um choque para todos nós. Fernanda ficou arrasada; ela e o pai sempre foram muito próximos.
Foi ele quem a incentivou a seguir a carreira jurídica, dizendo que ela tinha a lábia de um advogado nato. Nas semanas seguintes ao funeral, Fernanda ficou quieta, introspectiva. Eu tentava consolá-la como podia, mas nunca fui muito bom com palavras.
Em momentos assim, confesso que, em meio à tristeza, uma parte de mim viu uma oportunidade. O senhor Antônio era rico; todos sabíamos disso, e Fernanda era filha única. Não demorou muito para que minha mente começasse a fazer contas, a imaginar possibilidades.
Eu me sentia culpado por pensar nisso tão cedo após a morte do sogro, mas não conseguia evitar. Nas semanas seguintes ao funeral, comecei a fazer planos. Pesquisei sobre franquias, conversei com amigos empreendedores e até comecei a participar de seminários sobre gestão de negócios.
Estava animado com as possibilidades que a herança de Fernanda poderia nos proporcionar. Foi em um desses seminários que conheci Juliano, um corretor de imóveis carismático, alto, bem vestido, com um sorriso fácil e uma conversa envolvente. Juliano parecia encarnar tudo o que eu queria ser como empreendedor.
"Ricardo, meu amigo", ele me disse um dia após uma palestra sobre investimentos imobiliários, "você tem que pensar grande! Com o capital que vocês vão ter, podem revolucionar suas vidas". Foi Juliano quem me apresentou a ideia de construir uma casa duplex.
"É o seguinte", ele explicou, desenhando num guardanapo, "vocês constroem uma casa de dois andares independentes. Você e sua família ficam embaixo, seus pais em cima. É um investimento sólido e uma forma de manter a família unida".
A ideia me fascinou; imaginei meus pais, seu Carlos e dona Zilda, morando conosco. Eles sempre reclamavam da solidão lá em Divinópolis, a cidadezinha do interior onde moravam. Com a casa duplex estaríamos todos juntos, mas cada um com seu espaço.
Meus pais ficaram empolgados quando contei a ideia por telefone. Eles sempre foram muito práticos em relação a dinheiro e viram a herança como uma chance de melhorar a vida de toda a família. "Filho, isso é que é usar a cabeça", meu pai exclamou.
"Sua mãe e eu já estamos velhos para cuidar dessa casa grande sozinhos. Morar perto de vocês seria um sonho". Paralelamente, fiz amizade com Patrícia, uma consultora financeira que frequentava os mesmos seminários.
Patrícia era o oposto de Juliano: pequena, energética, sempre falando rápido e gesticulando muito, mas tinha o mesmo brilho nos olhos quando falava de negócios. "Ricardo, você tem potencial para ser muito mais que um funcionário", ela me disse um dia, tomando um café após uma palestra. "Com o capital que você vai ter, pode montar um negócio próprio, ser dono do seu nariz.
É agora ou nunca! ". As palavras de Patrícia ecoavam na minha cabeça.
Ela me incentivou a pedir demissão do meu emprego e investir todo o dinheiro da herança em um negócio próprio. Sugeriu várias ideias: uma construtora focada em casas sustentáveis, uma empresa de consultoria em engenharia, até mesmo uma rede de lojas de materiais de construção. Enquanto isso, Fernanda parecia alheia a todos esses planos.
Ela ainda estava de luto, claro, e eu respeitava isso, mas confesso que sua falta de interesse em discutir o futuro me frustrava. Tentei abordar o assunto algumas vezes, mas ela sempre desviava a conversa. "Agora não, Ricardo", ela dizia.
Com um olhar cansado, ainda é cedo para pensar nisso, mas para mim nunca é cedo demais para planejar o futuro. E quanto mais eu conversava com Juliano e Patrícia, mais eu me convencia de que precisava agir. Rápido.
Foi então que tomei uma decisão que mudaria nossas vidas para sempre: sem consultar Fernanda, dei entrada na compra do terreno para a casa duplex. Era um lote grande em um bairro em ascensão, Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. Juliano me garantiu que era um excelente negócio.
"Daqui a 5 anos esse terreno vai valer o dobro", ele me assegurou, dando tapinhas nas minhas costas enquanto assinávamos o contrato. Não parei por aí. Encorajado por Patrícia, decidi que era hora de dar o grande salto.
Numa sexta-feira, entrei na sala do meu chefe e pedi demissão. "Mas Ricardo! " ele disse, genuinamente surpreso.
"Você é um dos nossos melhores engenheiros! Estávamos até pensando em te promover a gerente de projetos! " Por um momento, hesitei.
Uma promoção era tentadora. Mas então me lembrei das palavras de Patrícia: "É agora ou nunca. " Agradeci a oferta, mas mantive minha decisão.
Saí da empresa naquele dia, me sentindo leve, como se um peso tivesse sido tirado dos meus ombros. Mal podia esperar para contar a Fernanda; tinha certeza de que ela ficaria orgulhosa da minha iniciativa. Cheguei em casa naquela noite com um buquê de flores e uma garrafa de vinho.
Mariana estava na casa de uma amiga, então teríamos a noite só para nós. Perfeito para comemorar, pensei. "Fernanda, tenho novidades!
", anunciei assim que entrei. Ela estava sentada no sofá folheando alguns papéis. Quando me viu com as flores e o vinho, franziu a testa.
"O que é isso, Ricardo? Alguma ocasião especial? " "Sim," respondi animado.
"Vamos comemorar nosso futuro. " Senti-me ao lado dela e comecei a contar tudo: o terreno, a casa duplex, minha demissão, os planos para abrir um negócio próprio. Falei sem parar por uns 10 minutos, empolgado, gesticulando, descrevendo o futuro brilhante que nos aguardava.
Quando terminei, ofegante e sorridente, esperava ver o mesmo entusiasmo nos olhos dela, mas o que vi foi algo completamente diferente. Fernanda estava pálida, seus olhos arregalados em uma expressão que misturava choque e raiva. "Você fez o quê?
", ela perguntou, sua voz baixa e controlada, mas carregada de uma fúria que eu nunca tinha visto antes. "Eu. .
. eu planejei nosso futuro," respondi, meu sorriso começando a vacilar. "Planejou?
" Ela se levantou, jogando os papéis no chão. "Você tomou decisões que afetam toda a nossa família sem sequer me consultar! Isso não é planejar, Ricardo, isso é.
. . é.
. . " Ela parecia buscar a palavra certa, suas mãos tremendo.
"É loucura! " Ela finalmente gritou. "Você pediu demissão?
Comprou um terreno? Com que dinheiro? " "Bem, eu usei nossas economias para a entrada do terreno," admiti, começando a perceber que talvez tivesse cometido um erro.
"Mas Fernanda, pense bem, quando recebermos a herança do seu pai. . .
" Foi a coisa errada a se dizer. O rosto de Fernanda ficou vermelho de raiva. "A herança do meu pai?
É nisso que você está pensando? Meu pai mal esfriou no túmulo, e você já está contando o dinheiro dele! " Tentei argumentar, explicar meus motivos, falar sobre os planos para o futuro, mas Fernanda não queria ouvir.
Nossa discussão escalou rapidamente, com acusações de ambos os lados. Eu a acusava de ser medrosa, de não querer arriscar por um futuro melhor; ela me chamava de irresponsável, impulsivo, egoísta. No meio da discussão, ouvimos a porta se abrir.
Mariana tinha voltado mais cedo da casa da amiga. Ela ficou parada na porta da sala, olhando de um para o outro, seus olhos cheios de lágrimas. "Por que vocês estão brigando?
", ela perguntou, sua voz pequena e assustada. Fernanda e eu paramos imediatamente, envergonhados por termos deixado a situação chegar àquele ponto. Tentamos acalmar Mariana, dizendo que era apenas uma discussão de adultos, que não era nada sério, mas o estrago já estava feito.
Nos dias que se seguiram, a tensão em casa era palpável. Fernanda mal falava comigo, respondendo apenas o necessário com monossílabos. Mariana estava quieta, seus olhos sempre atentos, como se esperasse que a qualquer momento outra briga explodisse.
Para piorar a situação, meus pais decidiram fazer uma visita surpresa. Eles estavam tão empolgados com a ideia da casa duplex que não conseguiram esperar. Chegaram numa quarta-feira à tarde, carregados de malas.
"Viemos ajudar com a mudança," meu pai anunciou alegremente assim que abri a porta. Fernanda, que estava passando pelo corredor naquele momento, congelou. Seu olhar passou de mim para meus pais e, depois, de volta para mim, uma expressão de incredulidade em seu rosto.
"Que mudança? " ela perguntou, sua voz perigosamente calma. Tentei explicar rapidamente a situação para meus pais, mas eles já estavam empolgados demais.
Minha mãe começou a falar sobre os móveis que poderíamos usar na nova casa, enquanto meu pai discutia as vantagens de morar em Nova Lima. Foi a gota d'água para Fernanda. Ela explodiu, acusando a todos nós de sermos gananciosos e insensíveis, gritando que a herança era dela, que era a memória do pai dela, que estávamos desrespeitando.
Meus pais ficaram chocados com a reação, tentaram se defender, dizendo que só queriam o melhor para a família, mas Fernanda não queria ouvir. Ela pegou sua bolsa e saiu, batendo a porta com força. Fiquei ali parado entre meus pais, confusos, e uma Mariana assustada, sem saber o que fazer.
Foi Mariana quem quebrou o silêncio. "Pai," ela disse, sua voz tremendo, "o que você fez? " Aquela pergunta, vinda da minha filha, me atingiu como um soco no estômago.
Pela primeira vez desde que comecei com todos esses planos, realmente parei para pensar nas consequências das minhas ações. Nos dias que se seguiram, tentei consertar as coisas. Pedi aos meus pais que voltassem para Divinópolis.
Prometi a Fernanda que cancelaria a compra do terreno, mas o estrago já estava feito. A confiança tinha sido quebrada. Fernanda passou a dormir no quarto de.
. . Hóspedes, nossas conversas limitavam-se ao essencial, sempre na presença de Mariana, nossa filha, que antes era alegre e falante.
Agora, passava a maior parte do tempo trancada no quarto. Foi numa dessas noites tensas que Fernanda finalmente falou sobre a herança. Estávamos na cozinha, eu lavando a louça e ela guardando as sobras do jantar.
"Recebi uma ligação do Dr Mendes hoje," ela disse, referindo-se ao advogado de seu pai. Parei de lavar os pratos, esperando que ela continuasse. "A herança.
. . " Ela continuou, sem olhar para mim.
"Não é tão grande quanto você imagina. " Senti meu coração acelerar. "O que você quer dizer?
" Fernanda suspirou, finalmente me encarando. "Papai tinha dívidas, Ricardo, muitas dívidas. A empresa não estava indo tão bem nos últimos anos.
" Fiquei em silêncio, processando a informação. Todos os meus planos, todos os meus sonhos, pareciam derreter diante dos meus olhos. Ainda assim, ela continuou: "Há uma quantia considerável.
Não é uma fortuna, mas é o suficiente para nos dar alguma estabilidade. . .
ou era, antes de você começar a gastar dinheiro que nem temos ainda. " Suas palavras me atingiram como um tapa. Tentei me defender, explicar que tudo o que fiz foi pensando no nosso futuro.
Mas Fernanda ergueu a mão, interrompendo: "Não quero ouvir, Ricardo. Você traiu minha confiança, tomou decisões enormes sem me consultar. Isso não é uma parceria, é uma ditadura.
" Ela fez uma pausa, respirando fundo, antes de continuar: "Eu quero o divórcio. " Aqueles palavras me atingiram como um raio. "Divórcio?
Depois de 15 anos juntos, por causa de um erro de julgamento? Fernanda, por favor," implorei. "Podemos conversar sobre isso, podemos consertar as coisas.
" Mas ela já estava saindo da cozinha. "Não há o que consertar, Ricardo. " Nos dias que se seguiram, vivi em um estado de torpor.
Tentei voltar para meu antigo emprego, mas a vaga já havia sido preenchida. Acabei aceitando um cargo inferior em uma construtora menor, com um salário bem abaixo do que eu ganhava antes. Fernanda começou a preparar os papéis do divórcio com uma eficiência fria que me assustou.
Ela contratou um dos melhores advogados da cidade, deixando claro que não estava disposta a negociar. Mariana, nossa filha, parecia cada vez mais distante. Quando tentei explicar a situação para ela, esperando que ela entendesse meu lado, fiquei chocado com sua resposta.
"Pai," ela disse, com uma maturidade além de seus 14 anos, "desde que o vovô morreu, você só fala de dinheiro. Você nem perguntou como a mamãe estava se sentindo, você nem perguntou como eu estava me sentindo. " Suas palavras me atingiram como um soco no estômago.
Ela estava certa. Na minha obsessão por garantir nosso futuro, eu tinha negligenciado o presente, as pessoas que mais importavam. A situação piorou quando Juliano, o corretor que me vendera a ideia da casa duplex, começou a me pressionar sobre o terreno.
Eu tinha dado um cheque como entrada, contando com a herança que ainda não tinha recebido. Agora, com o divórcio iminente e a herança comprometida, eu não tinha como honrar o compromisso. Patrícia, a consultora financeira que tanto me incentivou a largar meu emprego, sumiu completamente.
Suas últimas palavras para mim, por telefone, foram: "Sinto muito, Ricardo, mas negócios são negócios. Você devia ter sido mais cauteloso. " Meus pais, quando souberam da situação, ficaram devastados, não apenas pelo divórcio, mas porque eles também tinham feito planos baseados na herança que eu prometera.
Meu pai, em particular, ficou furioso. "Como você pode ser tão irresponsável, Ricardo? " ele gritou durante uma ligação.
"Nós confiamos em você! " Tentei explicar, dizer que tinha sido um erro de julgamento, mas era tarde demais. O estrago estava feito.
O processo de divórcio foi brutal. Fernanda não cedeu em nenhum ponto. Ela exigiu a casa, a maior parte dos bens e a guarda total de Mariana.
Seu advogado argumentou que eu era financeiramente irresponsável e emocionalmente instável, usando minhas decisões recentes como prova. Tentei lutar, mas estava em desvantagem; meu novo salário mal cobria as despesas básicas, quanto mais um bom advogado. No final, aceitei um acordo desfavorável apenas para acabar com aquele pesadelo.
Mudei-me para um pequeno apartamento alugado na periferia da cidade; era tudo que eu podia pagar com meu novo salário. As paredes finas não conseguiam abafar as brigas dos vizinhos, e o cheiro de mofo era constante, não importava quanto eu limpasse. Mariana decidiu ficar com a mãe.
Nos primeiros meses após o divórcio, ela se recusou a me ver. Quando finalmente concordou em um encontro, foi frio e desconfortável. Ela mal falou, respondendo minhas perguntas com monossílabos.
No trabalho, as coisas não iam muito melhor; meus colegas tinham ouvido rumores sobre minha saída dramática do emprego anterior e meu divórcio conturbado. As fofocas corriam soltas e eu podia sentir os olhares de julgamento me seguindo pelos corredores. Juliano, o corretor, acabou me processando pelo cheque sem fundos; tive que fazer um acordo para pagar em prestações, o que comprometeu ainda mais meu já apertado orçamento.
Patrícia, a consultora financeira, reapareceu meses depois, não para se desculpar ou oferecer ajuda, mas para me convidar para um seminário exclusivo sobre recuperação financeira. O preço da inscrição era astronômico. Quando disse que não podia pagar, ela riu e disse: "Bem, acho que você realmente precisa desse seminário, hein?
" Meus pais, envergonhados com toda a situação, começaram a evitar minhas ligações. Quando finalmente consegui falar com eles, foi para ouvir uma série de recriminações: "Eu te avisei! " Os meses se arrastavam; cada dia parecia uma luta para simplesmente continuar existindo.
Acordava, ia para um trabalho que odiava, voltava para um apartamento que desprezava e passava as noites olhando para o teto, repassando todos os erros que tinha cometido. Tentei algumas vezes reconquistar Fernanda, mas ela foi inflexível. "Você mostrou quem realmente é, Ricardo," ela disse em nossa última conversa.
"Não há volta. " Mariana, aos poucos, começou a aceitar me ver com mais frequência, mas nossas conversas eram superficiais, cheias de silêncios. Ela falava sobre a.
. . Escola sobre seus amigos, mas nunca sobre seus sentimentos ou sobre nossa situação familiar.
Um ano se passou; eu continuava no mesmo emprego medíocre, no mesmo apartamento deprimente. Fernanda, por outro lado, tinha sido promovida em seu escritório de advocacia. Através de Mariana, fiquei sabendo que ela estava namorando um juiz bem-sucedido.
Foi durante uma visita de fim de semana com Mariana que tive uma epifania dolorosa. Estávamos em um shopping, comendo um lanche rápido na praça de alimentação. Mariana estava falando sobre seus planos para a faculdade, sobre como queria estudar direito como a mãe.
"Seu pai", ela disse, brincando com o canudo de seu refrigerante. "Às vezes eu penso: se você não tivesse ficado tão obcecado com o dinheiro, se não tivesse tentado mudar tudo, talvez ainda estaríamos todos juntos. " Suas palavras me atingiram como um soco; ela estava certa, é claro.
Minha ganância, minha obsessão por um futuro melhor, tinha destruído o presente que já era bom. Naquele momento, olhando para minha filha adolescente, que parecia mais madura do que eu jamais fui, percebi a verdadeira extensão do que tinha perdido. Não era apenas o dinheiro, a casa, o emprego; era a confiança da minha esposa, o respeito da minha filha, a estabilidade da nossa família.
Hoje, aos 45 anos, continuo trabalhando no mesmo emprego medíocre, moro no mesmo apartamento pequeno e mal conservado. Vejo Mariana a cada duas semanas; nossas conversas ainda são tensas e artificiais. Fernanda se casou com o juiz e parece mais feliz do que nunca.
Às vezes, quando estou deitado sozinho à noite, penso em como as coisas poderiam ter sido diferentes se eu tivesse sido mais paciente, mais grato pelo que já tinha, se eu tivesse valorizado minha família mais do que a promessa de riqueza. Juliano e Patrícia, ouvi dizer que eles se envolveram em um esquema de pirâmide financeira e acabaram sendo processados. Às vezes penso que poderia ter sido eu no lugar deles se não tivesse perdido tudo antes.
A herança que tanto me obcecou, no final, mal cobriu as dívidas do pai de Fernanda. Todo aquele sonho de riqueza e grandeza era baseado em uma ilusão. Aprendi da maneira mais difícil que a ganância tem um preço alto; perdi tudo que realmente importava perseguindo um sonho vazio.
E agora, tudo que me resta são arrependimentos e a dura realidade de uma vida que poderia ter sido muito diferente. Se pudesse voltar atrás, faria tudo diferente. Mas a vida não oferece segundas chances.
Tudo que posso fazer agora é viver com as consequências das minhas escolhas e esperar que, um dia, talvez minha filha possa me perdoar. Mas, por enquanto, continuo aqui, preso em uma vida que eu mesmo criei, lembrando-me todos os dias do alto preço da ambição. Ei, pessoal!
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