Mário Schenberg foi um dos físicos teóricos mais importantes do Brasil. E ele não se limitou a atuar apenas na ciência. Além de descrever o funcionamento das estrelas e de partículas elementares, ele foi político e crítico de arte.
Mário Schenberg nasceu com o nome de Mayer Schönberg, em uma família judia, de origem alemã que vivia no Recife. Aos 13 anos, descobriu três paixões que levaria consigo pelo resto da vida: a matemática, a arte e a política. Com 17 anos, entrou na Faculdade de Engenharia do Recife e teve como tutor Luís Freire Freire era engenheiro, doutor em matemática e física, e um caçador de talentos na ciência.
Ele estimulou Mario Schenberg e outros promissores alunos a seguir a carreira acadêmica, como o matemático Leopoldo Nachbin e o físico José Leite Lopes. Quando Schenberg estava no terceiro ano da faculdade, Freire o aconselhou a se mudar para São Paulo e a concluir o curso na Escola Politécnica. Em 1935, Schenberg graduou-se engenheiro eletricista pela Poli e, no ano seguinte, matemático, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, embrião do que viria a ser a USP.
Assim que se formou, foi trabalhar na Poli, com física geral e experimental. Um ano depois, foi para a Faculdade de Filosofia ser assistente de física teórica. Aos 25 anos, iniciou uma jornada de estudos pela Europa, que o colocou em contato com os principais físicos da época.
Em Roma, trabalhou com Enrico Fermi, criador do primeiro reator nuclear e Nobel de Física em 1938. Em Zurique, esteve ao lado de Wolfgang Pauli, outro prêmio Nobel de física. E, em Paris, aprendeu com Frédéric Joliot-Curie, que era prêmio Nobel de química.
Depois de um ano intenso, Schenberg voltou ao Brasil e logo em seguida recebeu uma bolsa da Fundação Guggenheim para estudar nos Estados Unidos. E continuou se associando com colegas brilhantes: ele mergulhou na astrofísica com George Gamow. Juntos, eles teorizaram os processos nucleares envolvidos na formação de supernovas.
Schenberg propôs que a formação de uma supernova fosse o resultado da existência de neutrinos – que, até então, não eram partículas observáveis. De acordo com Gamow e Schenberg, os neutrinos, emitidos pelo núcleo, retiram energia do centro de uma gigante vermelha. Isso esfria o núcleo da estrela e diminui a pressão interna.
Dessa forma, o núcleo não suporta o peso das camadas externas e a estrela colapsa, numa explosão. Forma-se uma supernova. A descrição que fizeram foi batizada de processo Urca, homenagem ao cassino que funcionava nesse bairro do Rio.
De acordo com o Schenberg, a energia some no centro da supernova tão rápido quanto o dinheiro some em uma mesa de roleta. Após uma passagem por Princeton, trabalhou no observatório Yerkes ao lado do indiano Subrahmanyan Chandrasekhar, que viria a ser premiado com o Nobel de Física em 1983 por propor modelos teóricos que explicam a estrutura e a evolução das estrelas. A parceria resultou no "Limite Schenberg-Chandrasekhar", que é a maior massa que o núcleo de uma estrela pode ter suportando o peso das camadas mais externas.
De acordo com os físicos, o caroço de hélio pode conter entre 10% a 15% da massa da estrela sem colapsar. Se esse limite for superado, a estrela vira uma gigante vermelha. Quando Schenberg voltou ao Brasil, se interessou também pelo campo cultural.
Ficou amigo do artista plástico Alfredo Volpi. E organizou a primeira exposição individual dele. Em meados dos anos 1940, virou professor de Mecânica Racional e Mecânica Celeste na USP.
Paralelamente, era suplente de deputado estadual, em São Paulo, pelo PCB, o Partido Comunista Brasileiro. Eleito em 1946, assumiu em 1947. No curto mandato, apoiou a inclusão de um artigo na Constituição paulista que destinava recursos públicos para o fomento à ciência e à tecnologia.
Esse artigo foi o embrião da Fapesp a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, um dos mais importantes órgãos de fomento à pesquisa do Brasil de hoje. Em 1948, teve seu mandato cassado junto com outros parlamentares do Partido Comunista e foi para a Bélgica estudar raios cósmicos na Universidade de Bruxelas. De volta ao Brasil, após cinco anos, Schenberg foi diretor do Departamento de Física da USP, função que ocupou por oito anos, até 1961.
Eleito pela segunda vez deputado estadual em 1962, pela legenda do PTB, em um acordo com o PCB, então na clandestinidade, sequer chegou a ser diplomado, impedido pela Justiça Eleitoral. Dois anos depois, Schenberg foi preso no início do golpe militar e passou dois meses no Dops. Em 1965, acusado de liderar atos políticos na USP, foi preso de novo.
Com pressão da comunidade científica internacional, foi liberado. Ainda sob clima de perseguição política, esteve entre os membros fundadores da Sociedade Brasileira de Física. E nas Bienais de arte de 1965, 67 e 69, fez parte do júri nacional de seleção.
Com a promulgação do AI-5 pela ditadura militar, foi aposentado compulsoriamente e proibido de pisar no campus da universidade. Em meados dos anos 1970, foi uma das principais lideranças contra o acordo nuclear entre Brasil e Alemanha, que resultaria na criação das usinas de Angra, na década seguinte Com a abertura política, voltou à USP dez anos depois de ser banido para lecionar a disciplina Evolução dos Conceitos da Física. Quatro anos após voltar à universidade, ganhou o Prêmio do Conselho Nacional de Pesquisas para Ciência e Tecnologia.
Em 76 anos de vida, produziu mais de 100 trabalhos sobre astrofísica, física teórica, física experimental, matemática e geometria – além de mais de 400 críticas de arte. Morreu em São Paulo em 1990.