Em 2017, a Apple foi criticada e processada depois de admitir que deixou os iPhones antigos mais lentos para resolver problemas de bateria. Essa não foi a primeira nem a última vez que ela enfrentou um processo parecido. Em 2003, ela foi processada por causa da vida útil das baterias do iPod.
A empresa teve que chegar a um acordo com os usuários e, além de oferecer uma compensação financeira para os que processaram, fez um recall das baterias e estendeu a garantia do aparelho. Mais recentemente, em 2023, um promotor francês anunciou uma investigação oficial sob alegações de que a Apple estaria investindo em um modelo de negócios baseado na obsolescência programada, porque seus celulares estão cada vez mais impossíveis e caros de consertar, fazendo com que as pessoas desistam de arrumar e simplesmente comprem um novo. Obsolescência programada é quando o fabricante decide projetar um produto destinado a quebrar, falhar ou se tornar obsoleto em um curto período de tempo.
Isso não aconteceu de uma hora para outra. Ela foi gradual e sutil, tão sutil que talvez você nem tenha percebido. É bastante provável que tudo ou quase tudo na sua casa hoje tenha sido pensado e construído sob esse modelo de negócio.
Mas nem sempre foi assim. E essa conspiração não começou com a Apple, a história é muito mais antiga do que você imagina e ainda tá bem longe de chegar ao fim. Então: Qual o impacto da obsolescência programada na sociedade atual?
Tem alguma chance de vencermos ela? Pra entender isso, temos que entender como surgiu a ideia da obsolescência programada. Em 1924, os fabricantes de lâmpadas se reuniram para criar o que seria um dos maiores complôs de todos os tempos: o cartel Phoebus.
Philips, Osram e General Electric foram alguns dos nomes envolvidos. Esse é considerado o primeiro cartel global de todos os tempos. Um cartel que mudaria para sempre toda a dinâmica de consumo da sociedade.
Na época, a vida útil das lâmpadas era muito longa, então isso começou a afetar o mercado. Afinal de contas, se a sua lâmpada não queima, não tem porque comprar outra E, se você não compra outra e as fabricantes não vendem, consequentemente, elas não lucram. Se a demanda cai e elas não lucram, as pessoas não trabalham.
O principal objetivo do cartel era diminuir a vida útil das lâmpadas para mil horas. Para isso, eles faziam testes e auditorias e multavam os membros que violavam o limite de horas estabelecido. O grupo foi dissolvido nos anos 30, mas o objetivo foi cumprido.
Ou, em outras palavras: o estrago foi feito. Com a produção em massa, as novas máquinas começaram a produzir muito mais produtos e, consequentemente, muito mais baratos. Mas não tinha mercado pra tanta coisa.
Era muita produção para pouco consumidor. As pessoas começaram a comprar por prazer, e não mais porque precisavam. Em 1929, quando os Estados Unidos foram atingidos pela Grande Depressão, o país foi afundado em uma crise gigantesca, e as empresas estavam batendo cabeças para encontrar uma saída.
Comprar já não era a preocupação principal da população, as pessoas queriam empregos e comida. Foi a primeira vez que a obsolescência programada foi apresentada como uma proposta de lei. Bernard London foi quem deu a ideia.
Segundo ele, para que o mercado continuasse girando era necessário construir essa "demanda por obrigação". Afinal, onde tem demanda, tem produção, e onde tem produção, tem trabalho. A ideia obviamente não foi pra frente.
20 anos mais tarde, nos anos 50, a ideia ressurgiu, mas dessa vez de uma forma digamos, mais atraente. Agora, ao invés de serem forçados a comprar, os consumidores seriam seduzidos a fazer isso. Brooks Stevens foi o principal precursor do conceito.
Brooks era um designer industrial. Ele criou de tudo, desde coisas pra casa, como simples torradeiras, até produtos mais robustos, como carros e trens. Sempre com a obsolescência planejada em mente.
Todos os seus projetos eram pensados para transmitir velocidade e modernidade. Os produtos tinham que ter uma mensagem, eles precisavam seduzir o consumidor a comprar eles, mesmo que não precisassem. Por mais que ele seja admirado por muitos de seus trabalhos e por designers do mundo todo, era exatamente isso que ele fazia com seus produtos.
Ele fazia com que os modelos anteriores parecessem velhos, lentos e ultrapassados em comparação com os lançamentos. Você troca se quiser, mas não é obrigado. Brooks não construia produtos pensando em fazê-los falhar, ele não projetava nada para ter defeitos propositais, seus projetos eram pensados para seduzir.
Era o casamento perfeito entre design e marketing. As pessoas não eram obrigadas a comprar o novo, elas compravam porque queriam. Mas isso não quer dizer que a obsolescência "forçada" tenha sido deixada para trás.
Por mais que a gente viva hoje numa sociedade de consumo onde as pessoas são seduzidas a comprar, as coisas ainda não são construídas para serem duráveis, então é uma junção de tudo. Mas por que parece que as coisas são feitas para quebrar hoje em dia? Hoje as coisas inevitavelmente possuem um prazo de validade, seja ele impulsionado pela obsolescência forçada ou não.
Suas roupas, eletrodomésticos e eletrônicos não são feitos para durarem ou serem consertados, mas para serem jogados fora, e normalmente em um período muito curto de tempo. Seu computador, por exemplo, você todos os anos pode se ver seduzido por lançamentos do mercado, com novos designs e utilidades, algumas delas até bem inúteis. Inevitavelmente, as peças do seu computador vão começar a falhar, atualizações de programas não vão rodar como antes e alguns novos softwares não vão funcionar.
. O cerco se fecha até que você não tenha nenhuma opção a não ser trocar uma peça para fazer um upgrade nele, e aí tem outro problema, para atualizar ele, muitas vezes é preciso trocar multiplas peças por conta da compatibilidade, e aí vale mais a pena comprar outro novo. Atualmente, é possível dizer que existem três principais tipos de obsolescência programada: - A sistêmica, que é quando um equipamento eletrônico deixa de ser compatível com um novo sistema operacional ou quando não é possível conectar periféricos mais modernos pelas entradas padrão do aparelho.
Esse é aquele seu celular que já não aceita mais atualizações. - A perceptiva, que é quando os fabricantes lançam novos designs e fazem mudanças no estilo de um novo produto para tornar suas versões antigas ultrapassadas e menos desejáveis. É o carro novo com aquela telinha brilhosa e inútil e pisca-pisca de natal no interior que a fabricante acabou de fazer.
Você quer comprar por que é mais moderno , mesmo tendo um perfeitamente bom na garagem. - E a datada, que é quando algumas coisas simplesmente param de funcionar depois de uma determinada data ou tempo de uso, fazendo com que você precise substituí-las mesmo quando elas ainda aparentam estar em boas condições. É aquela impressora 3 em 1 lazarenta que você comprou na Ricardo Eletro em 12x.
Ela imprimiu 25 folhas em 10 anos de uso e um dia do nada parou de funcionar simplesmente por que ela tem um limite de impressões pré determinado pelo fabricante. A compra desenfreada também foi algo que afetou a qualidade dos produtos com o passar do tempo. Por quererem comprar tudo e a todo momento, algumas pessoas acabam priorizando os produtos de preços mais baixos egeralmente não estão dispostas a pagar muito mais por produtos que já compraram há um tempo.
Porém, com o passar dos anos, alguns custos, como de produção, matéria-prima, novas tecnologias ou até custos trabalhistas, crescem ,, então os fabricantes precisam encontrar um jeito de economizar para manter os preços baixos, ou pelo menos equivalentes, e é claro que o corte escolhido sempre foi e continua sendo na qualidade ou até na quantidade dos produtos. Então não é paranóia sua pensar que nunca conseguirá uma calça igual aquela que você comprou há 20 anos, mesmo que seja da mesma marca e exatamente do mesmo modelo. Um estudo do Instituto de Defesa do Consumidor, apontou que 93% dos brasileiros acreditam que os eletroeletrônicos duram menos hoje em dia, 84% dizem que eles são feitos para quebrar.
A indústria, é claro, não admite. Mas o retrocesso é evidente. Pegue como exemplo TVs.
Antigamente uma TV CRT durava muito tempo e pra substituir era somente pra comprar uma maior. Hoje uma dessas TVs ultraled plus xt turbo 2. 0 não dura 10 anos, seja porque tá ultrapassada, porque começou a aparecer umas listras na tela ou umas luzinhas de fundo.
Eu tenho nada menos do que 3 exemplos em casa e curiosamente são todas TVs da Samsung. E os exemplos não param nas TVs. Em 2012, o STJ decidiu pela indenização de um homem que comprou um trator que deveria durar de 10 a 12 anos e estava sofrendo desgaste natural após apenas três anos de uso.
Ao mesmo tempo que temos esses exemplos de produtos ruins, temos Louis Rossman, que é um ávido defensor do direito de reparo, que basicamente diz que os consumidores devem ter a capacidade e a permissão legal para reparar e modificar seus próprios dispositivos eletrônicos e equipamentos. Isso inclui ter acesso a manuais de reparo, peças de reposição, ferramentas, e software necessários para realizar esses reparos. Ele tem uma empresa de reparos de eletrônicos e luta para que o direito de reparo seja uma realidade e que nós, consumidores, possamos ter acesso e recursos para poder consertar os aparelhos e não depender de uma assistência técnica autorizada que muitas vezes dificulta e cobra um valor absurdo por um conserto, fazendo você repensar e comprar um novo.
Rossmann tem sido uma voz ativa, aparecendo em várias audiências legislativas e plataformas de mídia para discutir a importância do direito de reparo e como as políticas atuais afetam os consumidores e pequenas empresas. Louis não tem um lado e não defende empresa A ou B. Ele taca o pau tanto em Apple quanto Samsung, HP e até John Deere.
Enquanto isso, o consumidor tá cada vez mais com as mãos atadas, e agora com tantos aparelhos eletrônicos e atualizações infinitas, como será o futuro? Hoje, existem diversas ações ao redor do mundo que lutam contra a obsolescência programada. O "direito de reparo" é uma delas, e vem se espalhando mundo afora, principalmente nos Estados Unidos e na Europa.
Muitos fabricantes, como a própria Apple, dificultam o acesso a determinadas peças e até mesmo oprimem reparos independentes, que são feitos por assistências não ligadas às marcas, alegando que apenas os fabricantes podem garantir a qualidade original e que esses reparos violam seu direito à propriedade dos dados. Na França, já existe uma lei que diz que os fabricantes são obrigados a permitir que os consumidores consertem seus aparelhos eletrônicos em qualquer lugar que desejarem. No Reino Unido, desde 2021, existem regras que obrigam os fabricantes a disponibilizarem mais rápido peças necessárias para o reparo de produtos.
Os estados alemães da Baviera e Turíngia oferecem vouchers de 200 euros para as pessoas que optam por consertar seus dispositivos, ao invés de jogar fora. No último ano, a União Europeia entrou com uma proposta para forçar os fabricantes a consertarem os produtos por até 10 anos após a venda, mesmo que a garantia legal não seja mais válida. Nos Estados Unidos, 46 dos 50 estados já têm alguma legislação ligada ao direito de reparar.
No Brasil, o direito de reparar foi tema de debate na décima edição do Seminário Automotivo do Nordeste, que aconteceu em dezembro de 2022, em Fortaleza. Hoje, aqui, cerca de 85% dos reparos em veículos são feitos em oficinas independentes. Acontece que com os novos modelos, cheios de recursos computadorizados e, consequentemente, dados, que acabam sendo de propriedade dos fabricantes, muitos consumidores temem que as montadoras simplesmente parem de fornecer os dados essenciais para o diagnóstico de possíveis problemas.
Com essa invasão de carros elétricos cada vez com mais aparatos eletrônicos, telinhas brilhantes e pisca pisca, poderemos ter muitos problemas de reparos e os mesmos entraves das fabricantes de celulares para fazer os reparos nos elétricos. Historicamente, a indústria automotiva tem utilizado a obsolescência programada, como mostram exemplos de redesenhos contínuos e limitação da disponibilidade de peças no pós-venda. Nos EVs, as preocupações incluem atualizações de software que podem reduzir a eficácia das baterias e a necessidade de substituí-las a um custo elevado As indústrias alimentícias e farmacêuticas são as únicas que precisam definir prazo de validade pros produtos no país e isso não deve mudar, mas a Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor está trabalhando em uma lista de produtos que em caso de defeito deverão ser trocados ou reembolsados imediatamente.
A lista deve sair ainda no primeiro semestre de 2024, deverão ser cinco produtos. Mas essa discussão vem se arrastando desde 2010 e já chegou até a ser alvo de ação judicial pela indústria. Em 2023, a especulação de que celulares e computadores entrariam na lista fez o mercado cair em cima.
Mas será que existe futuro sem essa lógica econômica? Alguns estudiosos apontam que sim. A economia circular é uma alternativa ao modelo que vivemos hoje.
Nela, diferente do que acontece no nosso sistema atual, onde produzimos, compramos, usamos e jogamos fora, as coisas são consertadas, recicladas ou reutilizadas, mudando nossa lógica de consumo. Walter R. Stahel, o arquiteto suíço considerado o pai da economia circular, defende que prolongar a vida útil dos bens de consumo é ideal para começar uma transição para uma economia sustentável.
Os modelos de negócio da economia circular se dividem em dois grupos: um que restaura e estende a vida útil dos produtos, e outro que transforma bens em recursos, para serem usados na fabricação de novos produtos. Um estudo do Clube de Roma concluiu que adotar medidas da economia circular pode resultar em uma redução de 70% na emissão de carbono nos países pesquisados, um aumento de 1,5% no PIB e na geração de quase 800 mil novos empregos. No Brasil, um levantamento feito em 2021 pela CNI Confederação Nacional da Indústria mostrava que 7 em cada 10 empresas já adotavam iniciativas para fazer melhor uso dos recursos naturais.
Apesar disso, Davi Bomtempo, que é gerente executivo de meio ambiente e sustentabilidade da CNI, afirma que ainda existe um longo caminho para que a adoção seja feita de forma efetiva. Então não é algo pra ontem. Mas já é uma luz no fim do túnel.
Claro que também depende do consumidor. Eu, particularmente, não vejo necessidade alguma de trocar de telefone todo o ano ou de dois em dois anos, acho errado defender empresa A ou B quando elas fazem cagada, porque aí sim elas fazem o que querem com o consumidor, e sinto falta quando TVs duravam mais do que alguns meses. E você, lembra de quando as TVs duravam anos?
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