A República da Inglaterra

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Paulo Rezzutti
Eu aposto que quando você pensa na Inglaterra, a primeira coisa que vem na sua cabeça são eventos li...
Video Transcript:
[Música] Oi pessoal, tudo bem? Bem-vindo a mais um vídeo aqui no meu canal. Eu aposto que, quando você pensa na Inglaterra, a primeira coisa que vem na sua cabeça são os eventos ligados à monarquia.
Não é à toa que o nome oficial do país é Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. Os menores gestos dos seus reis, rainhas e príncipes viram notícias no mundo inteiro. Tanta gente viaja para vê-los que eles podem ser considerados uma atração turística mais importante do que a Torre de Londres.
A estimativa é que a família real britânica renda quase 15 bilhões de libras por ano para a economia do país. Mas você sabia que houve uma época em que a Inglaterra foi uma república? Pois é, mais de 100 anos antes da Revolução Francesa, uma guerra civil derrubou a monarquia britânica, executou o rei e instituiu um governo que não era lá muito democrático.
E é sobre esse período esquecido da história britânica que eu vou falar no vídeo de hoje. A queda da monarquia britânica aconteceu durante a Guerra Civil Inglesa, que fez parte de uma série de conflitos conhecidos como Guerra dos Três Reinos. Isso porque, no século X, a Inglaterra, a Escócia e a Irlanda eram considerados reinos diferentes que só compartilhavam o mesmo monarca.
Foi bem mais tarde que eles passaram a formar uma unidade, o Reino Unido. Antes do começo desses conflitos, a Inglaterra estava passando bem longe das guerras que dominavam boa parte da Europa, especialmente a Guerra dos Trinta Anos. Mas internamente, havia várias questões que causavam insatisfação e que poderiam transbordar a qualquer momento.
A primeira era política. Logo que o rei Carlos I subiu ao poder em 1625, ele começou a brigar com o Parlamento. Essa instituição existia desde o século XI e tinha a função de autorizar questões fiscais e resolver conflitos dos cidadãos com as autoridades locais.
Mas, ao longo do tempo, o Parlamento foi ganhando mais poderes, inclusive o de fazer leis, o que acabou limitando o poder real. Essa limitação fazia sentido no feudalismo, quando então o poder era fragmentado entre senhores e vassalos, mas começou a criar problemas com o surgimento dos Estados modernos, onde o poder era centralizado na figura do rei. Carlos acreditava que os reis tinham o poder divino de governar; portanto, esse poder não podia ser dividido.
Esse absolutismo batia de frente com o Parlamento. Por isso, em 1629, o rei deixou de convocá-lo e passou a governar sozinho. A outra briga foi no campo religioso.
Isso porque, como eu expliquei no episódio sobre Ana Bolena, a Inglaterra tem, ainda hoje, uma religião oficial diferente de todos os outros países: o anglicanismo, cuja autoridade máxima é o rei. Embora o anglicanismo seja considerado protestante, ele manteve algumas características do catolicismo, como o reconhecimento de santos. Na Escócia, a religião oficial era o presbiterianismo, influenciado pelo calvinismo e mais próximo das outras denominações protestantes.
Já na Irlanda, predominava o catolicismo, que era visto com desprezo tanto pelos ingleses quanto pelos escoceses. Mesmo dentro da Igreja Anglicana, havia um movimento, o dos puritanos, que buscava remover os resquícios católicos e tornar a religião mais pura. Eu falei um pouco sobre eles no episódio sobre a caça às bruxas.
Carlos I concordou que a religião anglicana tinha que sofrer reformas, mas do jeito dele e não dos puritanos. Ele buscou unificar a organização interna da igreja, estabelecendo um ritual único descrito no chamado Livro de Oração Comum. Quem discordava era considerado dissidente e se arriscava a sofrer sanções.
A confusão começou em 1637, quando Carlos tentou impor essas determinações também à Igreja da Escócia, exigindo que eles adotassem os rituais da Igreja da Inglaterra. No primeiro domingo que as novas regras entraram em vigor, as pessoas começaram uma revolta que logo se espalhou. Os revoltosos assinaram um pacto jurando resistir às reformas.
Carlos considerou o movimento como uma contestação à sua autoridade e começou a lutar contra os revoltosos. Só que ele tomou uma surra, e o dinheiro para financiar a guerra foi acabando. Para conseguir continuar com a luta, Carlos precisava aumentar os impostos, mas só o Parlamento podia autorizar isso.
Por isso, ele então precisou convocar a assembleia, depois de 11 anos governando sozinho. O novo Parlamento se reuniu em 13 de abril de 1640 e imediatamente começou a discutir. Só que, ao invés de eles tratarem da questão dos impostos (afinal, para isso que eles tinham sido convocados), eles começaram a tratar de tudo que tinham contra o rei.
Carlos ainda tentou negociar, mas não teve jeito, então decidiu dissolver a assembleia depois de apenas três semanas. Daí o apelido de "Parlamento Curto". Carlos então resolveu atacar a Escócia, usando dinheiro levantado na Irlanda com a promessa de concessões para os católicos.
Mas não adiantou; não só ele acabou derrotado de novo, como os escoceses conseguiram ocupar uma parte do norte da Inglaterra e começaram a cobrar uma taxa para não destruir as cidades. A situação financeira ficou tão desesperadora que Carlos não teve outra alternativa a não ser chamar o Parlamento novamente. Os novos representantes estavam ainda mais irritados com o rei, suspeitando até que ele simpatizasse com os papistas, como os católicos eram chamados.
Afinal, ele até era casado com uma católica, Henriqueta Maria, que era irmã do rei da França. A assembleia então começou a aprovar várias leis restringindo os poderes reais. Por exemplo, o rei passou a ser obrigado a convocar o Parlamento a cada três anos e não podia dissolvê-lo sem que os membros consentissem.
Carlos foi cedendo, achando que com isso evitaria um conflito, mas esse veio de qualquer maneira. Isso porque os irlandeses ficaram com receio de que os católicos fossem ainda mais discriminados e, em 1641, começaram uma rebelião. Eles tomaram boa parte do país e formaram um governo conhecido como Confederação Irlandesa.
O que favoreceu os rebeldes foi o fato de que o rei e o Parlamento estavam mais ocupados. Em brigar entre si do que fazerem alguma coisa na mesma época em que a rebelião estourou na Irlanda, o parlamento aprovou um documento com todas as suas reivindicações. O rei não aceitou e tentou prender cinco parlamentares por alta traição.
Mas eles conseguiram fugir, e o episódio acirrou ainda mais o ânimo. Carlos saiu de Londres e recusou todas as propostas que envolvessem compartilhar o seu poder. Os dois lados começaram a formar exércitos, enquanto os nobres e os governos de cidade começaram a se decidir ou a favor do rei ou do Parlamento.
Muitos lugares se declararam neutros, estabelecendo milícias para lutar contra ambos. No verão, o rei tentou tomar posse de armas que estavam depositadas numa cidade no norte da Inglaterra, mas ele não conseguiu. Então, ele levou o seu exército para Nottingham, onde ergueu o estandarte Real em 22 de agosto de 1642.
Essa data é considerada como o início da Primeira Guerra Civil inglesa. Os parlamentares indicaram como Comandante o Conde de Essex, que começou a marcha em direção às Forças realistas. Carlos decidiu forçar o inimigo ao seu encontro, e o primeiro choque entre as forças ocorreu em 23 de outubro na batalha de Edgehill, que terminou num empate.
Três semanas mais tarde, eles voltaram a combater e, embora não tenham sido derrotados, os realistas foram obrigados a se retirar para a cidade de Oxford, onde Carlos fez a sua base. No começo, a guerra foi bem equilibrada, mas a maré mudou no segundo semestre, quando as tropas parlamentares forçaram os realistas mais para o norte. Carlos então negociou um acordo com os confederados irlandeses para conseguir levar os seus soldados de volta para a Inglaterra e, assim, reforçar o seu exército.
Enquanto isso, os parlamentares conseguiram o apoio dos revoltosos escoceses com a promessa de reformar a igreja anglicana nos moldes do presbiterianismo, além de, claro, oferecerem muito dinheiro para eles. O reforço dos escoceses acabou ajudando a causa do Parlamento, que conseguiu esmagar o exército realista na batalha de Marston Moor em 2 de julho de 1644. O comandante da cavalaria nessa batalha foi um membro da Baixa Nobreza chamado Oliver Cromwell.
Cromwell nasceu em 1599 e teve uma vida sem muito destaque até ser eleito para o Parlamento em 1640. Ali, ele se uniu a um grupo de membros ligados pela fé religiosa. Cromwell era um independente, como eram chamadas as pessoas contrárias a qualquer interferência do Estado sobre a religião.
Mas foi como comandante da cavalaria que ele se destacou, infringindo várias derrotas aos realistas. Ele até permaneceu no posto quando o Parlamento decidiu reorganizar a força no chamado Novo Exército Modelo, um exército permanente e profissional que obedeceria diretamente ao Parlamento. Os comandantes militares não podiam ser membros do Parlamento, mas foi feita uma exceção para Cromwell.
Com essa nova força, ficou muito mais fácil lidar com os realistas, que foram dizimados na batalha de Naseby em 14 de junho de 1645. Sem alternativa, Carlos acabou se entregando para o exército escocês em maio de 1646, terminando com a Primeira Guerra Civil. Os escoceses negociaram com o Parlamento para entregar Carlos, que ficou como prisioneiro deles.
Só que começou uma disputa na Inglaterra entre as várias forças políticas que haviam se formado. A maior de todas era entre o Parlamento e o Novo Exército Modelo, que começou a agir como um poder separado. O Parlamento tentou dissolver o exército, que se recusou.
Afinal de contas, eram eles que tinham as armas, mas a Assembleia tinha o dinheiro, então cortaram os pagamentos dos soldados e começaram a montar uma outra força separada, tudo isso em meio a muita briga de ideias cada vez mais ousadas. Os mais radicais eram os chamados niveladores, um grupo político que defendia o fim da monarquia e a criação de uma república onde todos fossem iguais, com direitos a voto para todos os homens e tolerância religiosa completa. Tudo isso quase 150 anos antes da Revolução Francesa propor essas mesmas coisas, como eu falei neste outro episódio.
Enquanto isso, o rei Carlos estava torcendo para a briga. Afinal, enquanto os parlamentares se desentendiam, ele conseguiu um acordo secreto com os escoceses, prometendo fazer o que os parlamentares não tinham feito, que era reformar a igreja anglicana. Em troca, os escoceses invadiriam a Inglaterra e restaurariam o rei no trono.
Enquanto eles se preparavam, em maio de 1648, várias rebeliões realistas começaram a estourar em toda a Inglaterra, dando início à Segunda Guerra Civil. Era para ser uma distração que facilitasse a chegada dos escoceses, mas os exércitos parlamentaristas não tiveram muito problema em pôr fim às revoltas e se concentrar contra a invasão de julho. Antes do fim de agosto, os parlamentares já tinham vencido.
Claro que os oponentes de Carlos ficaram muito irritados, principalmente os membros do Novo Exército Modelo, que eram os mais radicais, mas ainda havia muitos moderados no Parlamento que, apesar de desconfiarem do rei, acharam possível chegar a um acordo com ele. Já o exército não queria nem ouvir falar nisso. Eles até sugeriram que, em vez de Carlos ser restaurado ao trono, ele fosse substituído por um novo monarca, e esse monarca seria eleito.
Mais ou menos nessa época, o exército interceptou mensagens em que o rei afirmava que só estava fazendo concessões para conseguir escapar. Por isso, eles decidiram acabar com todas as negociações. Eles conseguiram transferir o rei para um castelo sob o seu controle e, em 6 de dezembro, uma força militar cercou o Parlamento, proibindo a entrada dos deputados que eram considerados inimigos do exército.
Mais de 200 membros foram removidos, incluindo todos os que tinham votado para continuar as negociações com o rei, e 45 foram presos. O Parlamento, constituído pelos membros que restavam, ficou conhecido como Parlamento da Sobra. A primeira medida deles foi levar Carlos para Londres, para que ele fosse julgado por traição por uma corte especialmente estabelecida.
Ele foi considerado culpado em 29 de janeiro de 1649 e executado por decapitação no dia. Seguindo, no pátio do Palácio de WH Hall, no centro de Londres, foi a primeira vez na Europa que um monarca foi executado por uma revolução, e isso foi visto com horror, porque regicídio, na época, era considerado como um dos piores crimes possíveis. No mesmo dia, entrou em vigor uma lei aprovada pelo Parlamento da Cobra, proibindo a proclamação de qualquer pessoa como rei da Inglaterra ou da Irlanda, ou de outros domínios.
Isso visava impedir que o filho de Carlos, também chamado Carlos, futuro Carlos I, passasse a ser considerado como o novo monarca. A monarquia foi abolida oficialmente em março, e a Inglaterra ficou sem nenhum regime político. Só em 19 de maio, o Parlamento declarou que o país passava a ser uma comunidade e um estado livre, governado diretamente pela Assembleia, que teria o poder de escolher os ministros, sem nenhum rei ou câmara dos Lordes.
E foi assim que a Inglaterra virou uma república em 1649. Se eles achavam que isso ia acabar com a resistência dos realistas, eles estavam muito enganados. O príncipe herdeiro Carlos tinha fugido alguns anos antes para a ilha de Cile, o último reduto monarquista.
Como eu contei no episódio sobre as guerras mais bizarras da história, de lá ele foi para a França e depois para os Países Baixos. Quando o pai foi executado, Carlos começou a negociar com os escoceses para ser reconhecido por eles como rei. Enquanto isso, na Irlanda, os rebeldes confederados tinham voltado a lutar contra o exército inglês que apoiava o rei.
Quando a notícia da execução do monarca chegou ao comandante, o marquês de Ormond, ele decidiu que tinha mais em comum com os confederados e se juntou a eles contra o Parlamento. Só que o novo governo tinha pressa em resolver essa situação, porque queria vender as propriedades confiscadas dos rebeldes irlandeses para conseguir pagar suas dívidas. A missão foi dada a Oliver Cromwell, que partiu para a Irlanda em agosto de 1649, à frente de um grande exército.
Ele desembarcou em Dublin, o último lugar onde os parlamentares ainda resistiam, e decidiu que precisava de outros portos para garantir a chegada de mais soldados. Primeiro, ele foi para o norte, sitiando a cidade de Drgheda, que caiu depois de uma semana. Esse seria só um rodapé na página da história se não fosse a maneira como Cromwell tratou os vencidos.
Ele ordenou um massacre que incluiu prisioneiros que tinham se rendido, pessoas refugiadas na igreja, padres e crianças; só foram poupados os protestantes. Acredita-se que mais de 2. 800 soldados e 3.
000 civis foram chacinados, um horror que até hoje é como um exemplo da brutalidade contra os católicos. O mesmo tratamento aconteceu em Wexford, onde estava sendo negociada a rendição, quando as tropas de Cromwell entraram na cidade saqueando, matando e colocando fogo nos edifícios. Por causa disso, muitos lugares de maioria católica decidiram resistir a qualquer custo, já que iam ser mortos de qualquer maneira.
Isso prolongou a campanha, mas não impediu que Cromwell continuasse avançando. Enquanto isso, o príncipe Carlos assinou um tratado com os escoceses prometendo, adivinhem o que, reformar a Igreja Anglicana nos moldes presbiterianos. Como todo mundo tinha prometido até então, essa foi uma péssima notícia para os irlandeses, porque Carlos repudiou a aliança com eles, fazendo com que as tropas inglesas na Irlanda abandonassem a luta.
Mas para os realistas, foi ótimo, porque agora eles tinham um monarca de novo. Cromwell já tinha controlado quase toda a Irlanda e deixou seus subordinados para terminarem o serviço, que incluía se livrar de tantos católicos quanto fosse possível. Entre queima de plantações, confisco de terras e remoção forçada de grupos inteiros, as tropas promoveram um verdadeiro genocídio.
Estima-se que cerca de 40% da população irlandesa foi dizimada, sem contar os que foram obrigados a ir para as colônias americanas como servos. Ao retornar para a Inglaterra, Cromwell marchou para o norte e não teve dificuldade em derrotar os exércitos escoceses em meados de setembro, na Batalha de Dunbar. Isso não impediu que, em primeiro de janeiro de 1651, Carlos I fosse coroado como rei da Escócia.
Em seguida, suas tropas marcharam para a Inglaterra, mas não conseguiram o apoio que esperavam dos realistas ingleses e acabaram derrotadas em 3 de setembro, na Batalha de Worcester. Carlos conseguiu escapar, se escondendo dentro de um Carvalho que ainda hoje existe, e depois ele fugiu para a França, onde passou a viver no exílio. Os exércitos de Cromwell continuaram na Escócia até eliminarem toda a resistência realista, o que incluiu um massacre similar ao que ocorreu na Irlanda.
A partir daí, o país perdeu a independência e passou a ser governado diretamente por Londres, com a inclusão de 30 representantes no Parlamento para os escoceses. E só para dar aquela garantida, Cromwell colocou a Escócia sob ocupação militar. Quando Cromwell finalmente voltou para Londres, ele descobriu que o Parlamento da sombra estava uma confusão, com uns brigando contra os outros.
Pouco tinha sido decidido, além de algumas reformas muito tímidas, por exemplo, estabelecendo alguns princípios de liberdade de consciência. Por outro lado, eles fecharam os teatros e proibiram a comemoração do Natal. Não havia acordo nem sobre o tipo de governo; enquanto alguns sonhavam com uma monarquia constitucional, outros não aceitavam nada menos que uma república.
Não havia decisão que bastasse para satisfazer os radicais, mas até o que tinha sido aprovado era demais para as classes altas, que só toleravam o Parlamento porque a alternativa era a anarquia. Cromwell tentou colocar ordem nessa balburdia, pegando os poderes para si e buscando organizar eleições, mas não teve sucesso. Ele acabou se irritando e exigindo que o Parlamento da sombra organizasse um governo compartilhado com o exército e se dissolvesse, mas foi ignorado.
Então, em 20 de abril de 1653, Cromwell entrou no Parlamento com uma força militar e botou todo mundo para fora. Esse golpe, obviamente, deixou todo o poder nas mãos de Cromwell, que convocou uma assembleia para discutir. Uma constituição, com todos os membros nomeados por ele e pelo exército, acontece que os novos parlamentares eram um bando de amadores que não entendiam nada de leis e que tinham ainda mais dificuldade de entrar em acordo do que os parlamentares anteriores.
Quando os mais radicais começaram a querer tirar a religião do controle do Estado, os conservadores desistiram, e Cromwell dissolveu novamente a assembleia. Com isso, ele concluiu de vez que o negócio da democracia não estava funcionando muito bem. Três dias mais tarde, em 16 de dezembro de 1656, Cromwell adotou uma constituição chamada Instrumento de Governo.
Ela é considerada a primeira constituição escrita da Inglaterra e estabelecia que o governo deveria ser exercido por um Lord Protetor, eleito por um conselho de Estado, para mandato vitalício. E é claro que esse Lord Protetor era o próprio Cromwell. Óbvio, esse período ficou conhecido como Protetorado e, na prática, funcionou como uma ditadura militar, embora os poderes do Lord Protetor não fossem ilimitados; para muitas ações, ele precisava da autorização da maioria do Conselho, que tinha mais civis do que militares.
Então, havia um certo equilíbrio. Além disso, havia um Parlamento que podia aprovar leis sujeitas ao Lord Protetor. Mesmo assim, nas palavras do próprio Cromwell, era um governo de um homem e um Parlamento, com ele tendo o poder de tomar a maioria das decisões.
Não demorou muito para que as pessoas começassem a se dirigir a ele como Sua Alteza. Cromwell acreditava que o governo liderado pelo Parlamento não era eficiente e estabeleceu uma administração militar direta. A Inglaterra foi separada em divisões, cada uma comandada por um Major General com amplos poderes.
Eles eram auxiliados por Comissários, também nomeados pelo Lord Protetor, que eram geralmente puritanos, muito religiosos e encarregados de manter os padrões morais. Lógico que as pessoas odiaram essa interferência e o Parlamento começou a questionar todo o sistema. Cromwell reagiu dissolvendo a assembleia mais uma vez e convocando outra, com os membros mais rebeldes sendo vetados por ele.
Não adiantou nada, e o novo Parlamento que se reuniu em 1656 acabou com o regime dos Majores Generais e propôs uma grande reforma que estabeleceu que o Parlamento não poderia mais ser dissolvido. Por outro lado, ofereceram a coroa a Cromwell, mas ele recusou. Em vez disso, o cargo de Lord Protetor ganhou poderes ainda maiores, e ele agora podia indicar o próprio sucessor.
Cromwell foi investido numa cerimônia muito parecida com uma coroação, na Abadia de Westminster, usando o mesmo trono e muitos dos símbolos da realeza. Apesar de todo o seu autoritarismo, uma coisa que Cromwell conseguiu avançar um pouco foi na liberdade religiosa. Ele acabou com a perseguição aos dissidentes que seguiam outros ramos do protestantismo, além do anglicanismo, e também os católicos, que ele odiava, puderam praticar a sua religião em paz.
Mesmo os judeus puderam voltar a se instalar no país depois de mais de 300 anos longe. Esse leve clima de tolerância religiosa, embora muito limitada, era uma exceção na Europa na época. O Protetorado nunca foi popular e enfrentou várias revoltas.
Ele também sofreu com problemas financeiros, até porque enfrentou guerras externas contra os Países Baixos e depois contra a Espanha, que consumiram muito dinheiro. Foi só pela força das armas que Cromwell se manteve no poder. Seu regime também foi ficando cada vez mais parecido com uma monarquia, e ele chegou até a conceder novos títulos de nobreza.
Em 1658, Cromwell caiu de cama com um ataque de malária. Na época, existia um bom tratamento para essa doença, o quinino, um remédio ancestral usado pelos povos originários da América do Sul, mas ele recusou o tratamento porque tinha sido introduzido por missionários católicos. Como se isso não bastasse, ele desenvolveu uma infecção urinária causada por pedras nos rins e começou a piorar rapidamente.
Oliver Cromwell faleceu em Londres em 13 de setembro de 1658, e com ele morreu qualquer esperança de reformas mais profundas. Ele foi sucedido pelo seu filho mais velho, Richard Cromwell. O problema é que Richard não tinha feito carreira no exército como o pai e não contava com o respeito dos soldados.
Richard também não contava com nenhuma base política, a não ser o fato de ser o príncipe, quer dizer, o herdeiro do pai, né, de Cromwell, e por isso ele herdou o poder. Ele nunca tinha sido membro do Parlamento; ele só se envolveu com a administração menos de um ano antes, quando o pai o nomeou de sucessor. As tentativas de Richard de contentar o exército e o Parlamento ao mesmo tempo fracassaram.
Um começou a ficar contra o outro e ambos contra ele. Em abril de 1659, o Parlamento tentou limitar o poder político do exército, que exigiu que Richard dissolvesse a assembleia. Quando eles reiteraram o pedido, reunindo tropas contra o Lord Protetor, Richard decidiu aceitar e reconvocar.
Vocês vão acreditar o que? O Parlamento da sobra, aquele mesmo que o pai dele tinha dissolvido em 1651! O que restava do poder de Richard sumiu com essa atitude.
Em 25 de maio, Richard Cromwell conseguiu que o Parlamento aprovasse uma pensão para ele e, logo em seguida, apresentou a sua renúncia, pondo um fim ao Protetorado. O governo foi delegado para um conselho de segurança, mas logo voltou o caos, já que ninguém obedecia a ninguém. Até o exército começou a se dividir em torno de alguns oficiais mais importantes.
O mais influente desses grupos estava na Escócia e era liderado pelo General George Monk, que, apesar de simpatizar com os realistas, tinha servido a ambos os Cromwell e continuou declarando lealdade ao novo regime. Quando ele descobriu que um grupo de radicais estava tentando dissolver o Parlamento, ele marchou com suas tropas para o sul e dispersou os rebeldes. Pelo caminho, Monk chegou a Londres em fevereiro de 1660 e concluiu que não havia meios para esse Parlamento governar o país.
Ele mandou chamar os membros que tinham. . .
Sido removidos lá em 1649, recriou-se essa Assembleia. Tecnicamente, ela estava em sessão. Desde aquela época, esse grupo ficou conhecido como Parlamento Longo, mas a única tarefa que restava para eles era convocar novas eleições.
Enquanto isso, Monk concluiu que só a restauração da monarquia poderia pôr um fim ao caos político e entrou em contato com o príncipe Carlos, que estava ainda no exílio. Carlos, então, promulgou a declaração de Breda, na qual ele prometia perdão geral a todos os envolvidos na experiência republicana, desde que jurassem lealdade a ele. A declaração foi aceita pelo novo Parlamento e Carlos I foi proclamado rei.
Ele desembarcou na Inglaterra, chegando a Londres em 29 de maio de 1660, dia do seu aniversário. Carlos cumpriu a sua palavra e, como um dos seus primeiros atos, declarou o perdão a todos os apoiadores da República, menos a 50 que tinham participado do regicídio do seu pai. Desse total, nove foram executados.
Carlos também mandou desenterrar os corpos de outros três, inclusive de Oliver Cromwell, e eles foram condenados à morte, apesar de já estarem mortos, sendo os seus cadáveres decapitados. Carlos se casou com a infanta Catarina de Bragança, filha do Rei Dom João V de Portugal, primeiro rei da dinastia de Bragança a tomar o poder. O casal inglês não teve filhos e ele foi sucedido pelo seu irmão Jaime II, que acabou sendo deposto, mas isso já fica para uma outra história.
Bom, pessoal, vocês sabiam que a Inglaterra já tinha sido uma república? Eu sabia, mas quis contar essa história do mesmo jeito. Quem sabe alguém aí não conhece a história?
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