AULA ABERTA | Ori Como Uma Divindade com Bàbá Márcio de Jagun @eadubuntu

3.06k views6469 WordsCopy TextShare
Umbanda EAD
Bate papo com o Bàbá Márcio de Jagun sobre Orí. É um Orixá? É uma Divindade? Entenda nesta aula. 📚...
Video Transcript:
saravá Xé mojubá eu sou Rodrigo Queiroz estamos aqui iniciando mais um encontro uma aula incrível com os nossos Mestres da pós-graduação em Teologia cosmologia e cultura afro brasileiro da pós Ubunto e hoje pra gente dar continuidade esse ciclo de aulas abertas eu recebo o pai Márcio de jagun que é um principal autoridade no nosso país quando o tema é ori ori O que é ori Tem muita gente que fica nessa dúvida ori é orixá é uma divindade el tá dentro tá fora quem é ori e como ele é tão importante e se a gente não
tem tanta clareza bem disseminada pois é foi isso que pai Márcio se dedicou para poder esclarecer e trazer através de uma pesquisa primorosa uma reflexão sobre esse tema mas antes de chamá-lo pra tela eu quero pedir licença para uma breve apresentação tá pesando aqui a o meu papel Mas você vai adorar saber que o pai Márcio dejun ele é escritor Professor eh de filosofia cultura e idioma yorubá membro titular da cadeira 41 da Academia pan-americana de Letras e artes e Babalorixá do Ilê axa ou balua desde 2002 autor de nove livros publicados sobre cultura brasileira
como ori a cabeça como divindade que tá aqui yorubá vocabulário temático do canom blé eu a chave do Portal A sala de aula não cabe no mundo Inc iorubá aprendendo e ensinando iorubá abaio nascido da Alegria Aquim e a visita de arum pai Márcio é um dos fundadores da Associação Nacional de mídia afro no ano de 2013 e contribuiu significativamente para as discussões de elaboração do plano curricular de ensino afro-religioso da rede Municipal do Rio de Janeiro atualmente é também coordenador da diversidade religiosa do Rio de Janeiro e fundador do Instituto ori tá bom para
vocês senhoras e senhores então seja muito bem-vindo má deum motumbá motumbá Rodrigo meus respeitos minha saudação a você e a todas e todos que nos acompanham para mim é uma enorme satisfação est aqui com vocês participar desse grupo e sobretudo desse projeto eu como disse a você tô muito empolgado muito eh envolvido com essa com essa proposta da gente propor reflexões da gente debater da gente descolonizar o nosso espaço de saber de e de praticar as nossas religiões afro-brasileiras falar sobre descolonizar né pai já é algo que vem diretamente ao conceito de ori né dentro
do conceito de ori Inclusive tem um um um aforismo né que é cossi ori cossi orixá né Sem eh ori sem orixá sem a cabeça sem orixá E aí eu quero isso quando a gente ouve isso solto já dá para ter uma noção da dimensão que é a importância dessa ideia né Desse dessa coisa que desse tal de orig eu tô falando aqui de uma forma eh solta que é para que o Lego também entenda Eh pai como que você entra em contato com a ideia de ori e por isso se torna algo importante pro
senhor dedicar tempo de estudo e escrita e educação bom Rodrigo há muitos anos atrás eu me deparei com uma frase um poema urubá aparentemente simplório inofensivo que causou uma reverberação enorme dentro de mim esse versinho diz assim versinho entre aspas né esse versão diz assim o que a cabeça não quer nem orixá pode eu vou repetir o que a cabeça não quer nem orixá pode e diante dessa colocação eu imediatamente me pus em confrontação com tudo aquilo que eu acreditava com tudo aquilo que me foi trazido que me foi dito dentro de muitos dos espaços
afro-brasileiros que o orixá pode tudo que o orixá que determina que atua na nossa vida que determina eh os nossos percursos e quando alguém milenarmente chama atenção para um elemento chamado cabeça como aquele que é o verdadeiro divisor de águas Eu fiquei em choque alguns dias fiquei Dormindo e acordando com essas reflexões Eu costumo dizer que esse para mim foi um momento maía o meu mundo caiu e obviamente comecei a me dedicar comecei a pesquisar a ouvir a perguntar aos mais velhos as mais velhas a fazer reflexões e chegar nisso que você falou no início
né Eh Existem algumas frases muito emblemáticas nos espaços de terreiro como por exemplo cociu CCI orixá sem folha não tem orixá e diante disso tudo algumas pessoas começaram a usar esse essa mesma expressão para a cabeça porque faz todo sentido sem cabeça né sem a dimensão da da da aut centralidade sem o a capacidade de discernimento orixá sequer pode nos ajudar na nossa trajetória de vida então todo esse percurso lá se vão mais de 40 anos de Candomblé agora em 2020 24 são 44 anos vividos nisso eh eu eu só consigo perceber o quanto esses
ancestrais o quanto essa matriz africana é rica em filosofia é rica em capacidade de oferecer ao ser humano a gestão do seu próprio destino São filosofias teologias religiões que libertam um indivíduo então todo o trabalho de pesquisa todo o trabalho de de reflexões foi exatamente nessa pegada redescobrindo a chamada ontologia yorubá a origem do ser yorubá quem é o ser da cultura ubar o que somos Qual é a noção de pessoa nós somos matéria espírito somos matéria e per espírito somos o quê quais são as nossas pretensões existenciais as nossas buscas transcendentais e Oria é
uma figura Central que vai nos colocando em contato conosco com o Divino com a natureza que nos cerca com a natureza que nos habita e evidentemente vai na sua Regência nos conduzindo por esse trajeto existencial eh Oria é uma dimensão Extra é uma dimensão acima do pens Mas por que que eh O senhor ficou impactado o que que acontecia na sua perspectiva na sua cosmovisão antes de ter contato com esse poema E por que que isso te reverberou assim derrubando você no chão né o mundo caindo sobre sua cabeça literalmente o que que ocorre ali
o que que era antes a sua ideia a minha formação 40 anos atrás eh as coisas que a gente ouvia as coisas que a gente notava era eram no sentido de de orixa interventores nas nossas vidas deixais que nos manipulavam de certa forma né tenho que ir por aqui tenho que por ali não me permite isso não me permite aquilo e a dimensão de ori não inutiliza a força dos orixa não reduz a potência desses entes extraordinários dessas potências não não não mas nos coloca enquanto seres como responsáveis pelas nossas escolhas não dá para botar
culpa nos orixa não dá para botar culpa em Deus no no companheiro na companheira no vizinho no patrão nós precisamos aprender a partir desse conceito de ori a termos responsabilidade consciência sobre o nosso trajeto as nossas boas e más escolhas eh a nossa capacidade de superação eh a nossa limitação No que diz respeito à perfeição idealizada outro conceito teológico uma outra Matriz então o impacto Rodrigo foi muito nesse sentido de que existe uma aut centralidade nessa cultura africana existe um um entendimento diferente da pessoa Nós não somos marionetes nas mãos dos orixa Nós somos coautores
da nossa vida da nossa história do nosso legado E é exatamente Isso que dá a importância a dimensão do nosso trabalho das nossas vidas porque se nós fôssemos apenas e tão somente dominados determinados pelas divindades pelos ancestrais que mérito nós teríamos todas as nossas conquistas ou todas as vezes que nós fôssemos retirados da nossa zona de erro o mérito não seria nosso seria desses Deuses então entender ori é entender como essa pessoa humana se interrelaciona consigo com os deuses com o destino com os ancestrais num setor de liberdade de autonomia e não simplesmente de uma
subordinação no aspecto colonizado muito interessante agora então eh não é unânime esse entendimento Claro precisa ser unânime Ninguém é dono da verdade né somos todos seres Em Busca das nossas verdades das verdades dos nossos ancestrais do nosso sentimento de de consciência eh não tem que ser unânime mas o que foi me descortinando a partir desse contato com os mais velhos com as mais velas nas pesquisas dessas Fontes eh não só brasileiras como africanas foi nos mostrando que ori é uma divindade pessoal é um orixá pessoal se ogum tem muitos filhos muitas filhas se Xangô também
se é manjar é pop né ori só tem a nós Você só tem o seu ori seu ori só tem a você o meur só tem a mim então é um culto individualizado é um culto que ao mesmo tempo que promove a autonomia do ser não torna esse ser egoístico egocêntrico cultuar ori é entender a responsabilidade que eu tenho sobre mim mesmo sobre a minha condução pelo meu próprio destino mas é também uma noção muito profunda de capilaridade das vidas da sociedade tudo que eu penso paraa minha vida na verdade não se resume a mim
há uma certa confrontação confrontação não confluência de destinos coletivos note se eu estou aqui é porque os Oris dos meus pais decidiram que eu seria filho deles e eu decidi também nascer por eles da mesma forma como as nossas relações mais próximas de companheirismo de de relações afetivas de filhos são escolhas que se encontram então pensar ori é pensar a regência do meu próprio destino mas não um um destino não um trajeto de vida eh Solitário nós só podemos pensar ori a partir do entrecruzamento do macramê de trajetos de vida vida em que se há
ou deve haver solidariedade caridade humildade bom caráter justiça e por aí a fora o senhor comentou agora assim brevemente sobre a questão do destino né que é algo que se entrelaça e ori eh é você tendo autonomia se eu tô entendendo bem Como que fica então o conceito de liberdade de livre arbítrio dentro dessa perspectiva Africana e o que que isso difere pai dos paradigmas ocidentais como algo do destino é uma coisa bem pré-determinada né Pois é e eu eu penso sempre sabe Rodrigo o quanto é importante a gente estudar a a a nossa ou
as nossas línguas eh matriciais africanas né as línguas banto as línguas chamadas línguas G o idioma idoma idioma porque quando a gente traduz pur e simplesmente a palavra odu como destino a semântica o significado desta deste vocábulo em português não dá conta de como osis pensam o em português destino nos leva uma compreensão de algo pré-estabelecido PR por Deus sobre a minha vontade os Ubis não pensam definitivamente odu dessa maneira pelo contrário eles entendem que o do trajeto de vida melhor seria traduzido PR nossa língua portuguesa como caminho como Estrada como percurso existencial que eu
escolho diante do Criador não me é imposto eu colho e olorum o criador chancela então só por aí já dá pra gente perceber que nós estamos falando de um um um percurso existencial de liberdade de autonomia se Oxum é a deusa da Maternidade do Ouro eh da da da da da gestação das Águas Doces se xango é o Deus da Justiça do Fogo ori é a divindade que tem uma Regência conduzir o ser humano pelo seu próprio destino é disso que a gente tá falando portanto eh o que nós entendemos como livre arbítrio os yoru
bais entendem algo muito parecido mas não igual eles chamam de ié atinar que literalmente pode ser entendido como desejo agradável ou seja as nossas escolhas perdão autônomas autocentradas or centradas elas vão nos propiciar Sensações indicativos de contentamento então Toda vez que você tomar uma decisão que seja coadunado com o destino que você escolheu você poderá ter esse marcador que eles chamam de pé atinar um desejo agradável algo que não te corrompe algo que não te afronta algo que não te machuca mas algo te dá uma sensação agradável de contentamento Isso é o que nós poderíamos
entender não exatamente uma similaridade mas uma uma inspiração como essa essa autoc condução essa autop permissão muito mais portanto e f muito mais amplo do que um livre arbítrio dentro de uma ideia e judaico cristã de destino pré-estabelecido Olha o senhor comentou estudar a língua e é por isso que a gente tem que estudar toda essa cosmovisão o tempo todo né e ver e rever também né os entendimentos sobre isso e é eu quero aproveitar para poder fazer aqui esse convite aos nossos espectadores a especialização em Teologia cosmologia e cultura afro--brasileira é uma pós-graduação que
vai te inserir na diversidade religiosa que existe no Brasil Quais são suas origens e como elas moldam nossa sociedade espiritualidades indígenas africanas e europeias se cruzam nesse solo e o objetivo do nosso curso é fazer uma viagem histórica onde o ponto de partida dessas narrativas não são mais a dos livros de escola Qual é a história das religiosidades que surgem no Brasil fora da perspectiva eurocêntrica o que o passado pode nos contar sobre o nosso futuro essa é uma pós-graduação para todos aqueles que necessitam recontar suas próprias histórias a partir de sua ancestralidade e também
para professores e profissionais que promovem práticas pedagógicas baseada na lei 10639 que discorre sobre a obrigatoriedade do ensino da história afro-brasileira e indígenas para faz parte da próxima turma clique no link que tá na descrição ou aponte o seu celular para o QR Code que você Verê na tela e aí você vai ser direcionado à página de mais informações e por fim a oportunidade de fazer a sua matrícula vai nesse sentido dando continuidade aqui essa nossa reflexão ori é a essa divindade que tem como função garantir o encaminhamento do sujeito para o seu destino isso
me leva a uma outra reflexão comparativa e que é muito comum Hoje em dia a gente V isso ori seria o anjo da guarda Pois é Rodrigo eu tenho muito respeito pela pela pela Umbanda ou pelas umbandas muito respeito e entendo que existam teólogos especializados nisso eu não sou um teólogo da Umbanda eu não tenho a pretensão não tenho a ousadia de querer eh definir ou apresentar sequer o meu entendimento a respeito no entanto é importante observar como essa troca né de experiências que que muitas vezes os antigos se referiam ao chamado anjo de guarda
muito no sentido de eh eh eh um um um ente acima do nosso pensamento um inspirador de decisões um inspirador de boas emoções e muitas vezes eu ouvia desde pequeno nos terreiros de Candomblé eh oferendas a um anjo de guarda muito similares àquelas que nós fazemos a ori Ah isso é é novo para mim essa informação muito muito quantas vezes eu escutei mais velhos e prescreverem a consulentes bota uma canjica pro seu anjo de guarda bota uma canjica pro seu anjo de guarda eh eh eh Reze para o seu anjo de guarda sendo uma vela
pro seu anjo de guarda peça serenidade peça Harmonia é uma uma relação muito parecida com aquela que na matriz africana se recomenda ter com ori então repetindo eu não tenho a pretensão de estabelecer regras e que Dirá muito menos e e eh teologar sobre a umbanda mas me parece que pelo pelas experiências que eu vivi no candomblé pode-se dizer ou poderia entender que muitas vezes havia um sincretismo entre anjo de guarda ori que interessante né agora eh afinal de contas pai fica uma uma confusão assim e ori é orixá veja só a gente existe no
panteão yorubá orixá que é uma classe de divindade posso dizer assim existe divindades que não são orixás tá correto então per ori é um orixá ou é uma divindade pois é vamos lá da mesma forma que em português a gente tem vários sinônimos para divindade divindade deidade e espíritos sagrados enfim em orubá existem variantes muitas variantes idiomáticas de uma forma muito genérica né pode se chamar de imolé espíritos sagrados espíritos e elev pode se chamar de orich agora Entre esses espíritos sagrados não vou dizer que há uma hierarquia mas há digamos especificidades de uma forma
genérica a palavra egum em orubá quer dizer espírito então todo mundo que nasceu morreu é egum inclusive orais que nasceram morreram e tornaram divindades coletivas isso também óbvio não tem a menor pretensão de ser uma verdade absoluta H aqueles que rejeitam essa ideia que criaram um preconceito com o vocábulo egum como se egum fosse fantasma fosse alguma coisa ruim necessariamente mas não é dessa forma né então a gente tem culto ao egum culto EG um que são cultos a espíritos familiares pai mãe pai tio avô enfim são espíritos familiares que são importantes para aquele clã
para aquele grupo temos o que nós chamamos de essar que são também espíritos que conviveram com o determinado grupo mas entenda-se talvez um grupo Mais amplo mais ampliado uma noção de comunidade não necessariamente biológica eu vou citar exemplos por exemplo por hipótese na casa de Oxumarê na Casa Branca do Engenho Velho no gantar no opor FJ existem espíritos de ancestrais que foram fundadores fundadoras importantes referências Naquele grupo que são cultuados não apenas naquele terreiro geograficamente localizado na cidade de Salvador Bahia mas são cultuados nas casas filiadas são á são portanto espíritos que são cultuados por
grupos comunidades maiores não apenas com uma uma conexão biológica mas biesp existem também os chamados orixá esse sim né e eh divindades que são reconhecidas com pelas suas Grandes Virtudes não de um um clã uma família não de apenas um grupo uma comunidade uma egb mas de um mundo inteiro de um de um universo inteiro a noção de de orixá ela não é restrita ao nosso mundo ao a é uma dimensão maior eh e sem medo de errar é uma dimensão Extra mundo ultramundo metafísica e se você reconhecer por exemplo a identidade dos orixa com
determinados Elementos da natureza como o vento dear o vento não é um elemento natural o da natureza apenas exclusiva do planeta terra o vento sopra no universo inteiro então é disso que a gente tá falando de uma mega dimensão e uma mega atuação orixá orri orix perdão orixá orri portanto é uma divindade pessoal autônoma eh unipessoal tanto assim é que o culto a orri ele é introspectivo ele é intimista porque a busca é de mim para comigo é o meu Recomeço é como muitos dizem oo de relembrar a minha cabeça Qual é o meu percurso
porque em alguns momentos da nossa existência nós nos perdemos nós nos tumu nós duvidamos de nós mesmos então cultuar ori é centrar me recolocar nos trilhos que eu escolhi Deixa eu entender se a gente pode dizer que ori é a uma uma divinização que o sujeito faz a respeito de sua própria consciência ou ainda não é isso é mesmo uma uma inteligência a parte de mim Eh veja só no nosso nível biológico e emocional o nosso cérebro produz uma um montão de coisas a partir dos neurônios eh a partir eh da da das das enzimas
etc a gente sente a gente sente dor a gente sente prazer a gente sente medo né o nosso corpo reage a isso a gente sente alegria a gente pode sentir depressão conforme as as condições físicas biológicas do nosso cérebro e emocionais também mas em algum momento numa outra Instância a gente pode decidir o que faz com essa depressão eu posso numa outra Instância dizer sim Eu Estou depressivo eu estou deprimido eu estou necessitando de ajuda e decidi me cuidar isso é eu posso sentir alegria eu posso sentir contentamento e decidir como eu vou gerir a
minha alegria como eu vou gerir o meu prazer o que eu faço os caminhos que então eu diria que ori sou eu mas um eu que ocupa uma Instância que é superior ao biológico é exatamente por essa razão que os Ubis pensam ori em duas dimensões a dimensão física material que eles chamam de ori od a parte da minha cabeça que morre com o meu corpo e a parte metafísica extrafísica que eles chamam de ori inu o imo o centro a parte imaterial intocável de quem eu sou É exatamente essa parte que sobrevive a morte
e que futuramente poderá ocupar um outro corpo num outro plano até mesmo aqui na terra né os Ubis acreditam em ciclos reencarn não necessariamente como os espíritas kardecistas não necessariamente como os gregos ou como os hindus Mas pensa-se a vida a existência como uma linha ininterrupta e ciclos de vida isso que os uais entendem como atuar Então seria como cérebro e mente essa distinção Eu não eu não eu não sei se vale a pena a gente descer a esse nível de de especificidade porque pode confundir com outros conceitos e com outras polêmicas mas eu acho
que é importante a gente pensar a nossa cabeça em mais de uma dimensão né E mais uma dimensão poria o seu pensamento desperto presente que é um é quando o senhor fala numa Instância superior né amplificada né né Essa Ideia de ori esse conceito de ori Ele É Tão Profundo e tão descolonizado que ele ele quebra M paradigmas muitos paradigmas que a gente às vezes não tá acostumado a lidar não Isso incomoda com uma noção de de atemporalidade dos Ubis né de um tempo sincrônico eh isso isso dá tilte issoo mexe com a cabeça da
gente você veja só desde Platão desde Platão se fala eh se propõe uma uma separação do espírito e do corpo do Sagrado e do profano e na linha de Platão Santo Agostinho Paulo São Tomás de Aquino todos eles vão reforçando a ideia da do apartamento dos da Separação do Sagrado e o profano e o que a gente tem a partir da cultura urubá é exatamente o oposto um corpo que é sagrado e que é profan ao mesmo tempo sem que uma coisa não se choque com a outra sem que um não desmereça o outro o
nosso corpo ele é um altar e se ori é um orich o corpo é o habitate de algo Divino o mesmo corpo que anda que chora que ri que tem prazer que erra e acerta sem que haja uma confrontação eterna de de de sagrado e profano sem que eu viva a a incongruência da minha própria imperfeição na abertura Desse nosso papo o senhor fala sobre a importância de decolonizar o pensamento e talvez essa minha insistência em achar um comparativo é o pensamento colonizado né pai essa e eu tô querendo trazer um comparativo para aquilo que
é a colonização né pras ideias que são vigentes aqui no ocidente euroc Centralizado mesmo e e acho que essa esse é o momento de reflexão para quem nos acompanha ver como é difícil eh não basta acho que a gente entender a importância de descolonizar o pensamento aprender a pensar como o outro lá em África como o pensamento afrocentrado é outro completamente outro como sujeito coletividade cosm visão eh E é difícil mesmo é desafiador porque a gente está dentro de uma premissa que é outra né que impede mesmo essa liberdade de interação e unificação do sujeito
humano e o sagrado bailando em com tudo isso aqui entre nós dentro do da das das dinâmicas litúrgicas do candomblé tem um ritual muito eh específico para a cabeça que é o Bori o que que é o Bori pai explica para nós o Bori essa palavra em orubá Bori ela pode decorrer de duas assimilações né como a gente diz gramaticalmente duas elisões possíveis o verbo Bó ele pode ser cultuar Portanto o verbo Bó conjugado com o o substantivo ori Bori pode significar culto à cabeça culto a ori Como pode e muitas pessoas assim o descrevem
e Bori que poderia ser a a Elisão de dois vocábulos é b oferenda ori cabeça portanto é b ori oferenda cabeça ambos fazem sentido a Rigor a Rigor o ritual do Bori ou é Bori tem como finalidade relembrar a nossa cabeça quem nós somos o que nós podemos e a partir daí a nossa cabeça poderá nos reconduzir melhor pelo nosso trânsito de vida Observe que em geral o bor é prescrito previsto exatamente nos momentos de de maior conflito de maior incerteza instabilidade desarmonia dor em qualquer sentido então Eh relembrar a minha cabeça quem eu sou
onde estou o que desejo o que não quero para minha vida que também é uma questão muito relevante é de fundamental importância e note como a comunidade ajuda nesse momento aquele indivíduo como a ancestralidade eh as divindades ajudam e são conamad nesse momento no entanto por mais que haja toda essa Gama de conexões é a mim mesmo que eu preciso resolver é a mim mesmo que eu preciso me encontrar e Óbvio vão mudar as tradições vão mudar as formas de fazer e não tem certo não tem errado tem possibilidades de de de realização mas em
muitas talvez na maioria das tradições comparando ao culto feito aos Orixás coletivos né o Xirê é uma celebração coletiva aos Deuses coletivos todo mundo se junta canta alto Saúda dança confraterniza né de uma forma muito efusiva e o culto Aia um culto intimista geralmente com com poucos ou nenhum instrumento de percussão com pouca incidência de luz com poucas pessoas né É sempre a busca na direção oposta na direção não para fora mas para dentro agora o senhor acabou de explicar para nós o Por que essa introspecção e a reflexão ela se faz para compreender o
ori e isso é é tornar mais o sujeito conectado consigo né acho que simplificando assim assim Rodrigo quando a gente pensa o conceito de or a gente não tá falando única e exclusivamente de um culto que não é pouca coisa talvez seja um dos mais importantes senão mais importante senão mais importante no candom o conceito de ori enquanto autonomia enquanto Instância de discernimento é reorganizar por exemplo a consulta oracular porque se eu for para uma consulta oracular esperando que alguém decida por mim eu tô tendo ainda uma visão colonizada de ori eu não tenho que
esperar que o sacerdote que a sacerdotisa que a divindade que a ancestralidade intervenho na minha vida e digo faça isso não faça aquilo Case separe se mude não a consulta oracular é uma consulta em que o meu ori Faz parte dessa análise e tem que fazer é um exame em que alguém me ajuda a tomar decisão mas meu não pode ser manipulado o meu uin não pode ser conduzido porque quem me conduz é a minha autonomia é isso que os uruba trazem nessa riqueza nessa contemporaneidade nessa modernidade extraordinárias porque se isso fosse falado pelo americano
era a maior invenção do século sim agora eh nesse sentido é é muito especial porque a gente vê muitas propostas de consultas oraculares sendo isso a o adivinhação a resposta definitiva para você ou coisa parecida ah C entre nós a gente sabe o quanto isso tá equivocado Então o senhor faz a o senhor pratica a consulta né o senhor faz a consulta oracular para pessoas né que se interessem a isso nesse sentido como é então o que o senhor pode dizer sobre isso como é a consulta ao oráculo por pai Márcio de jagun nesse sentido
já que ainda que eu le com com a intenção de querer trazer uma revelação para mim como que o pai Márcio vai conduzir isso daí bom primeiro que eu não sou exemplo de nada não sou exemplo não sou dono da verdade e nem tenho a pretensão de encontrar botar o ovo em pé de inventar nada diferente né o Candomblé não me pertence eu que pertenço a Candomblé e dentro daquilo que me me é possível proponho reflexões proponho na minha limitação né Eu sou um sacerdote do can nobl eu não sou dono da religião mas acho
que a nossa função é essa é repensar e propor reflexões não não Inventar nada mas eu eu começo sempre eh eh propondo o seguinte é óbvio que todos nós inclusive Eu muitas vezes me refiro a essa atividade como jogo o jogo de buz Vamos jogar marca o jogo né Isso é corriqueira uma expressão corriqueira Eu Eu Mesmo repito isso mas acho sempre importante que a gente Observe que a palavra jogo ela indica recreação jogo é o War é jogo da velha é Banco Imobiliário jogo é recreação a gente não vai ou não deve ir para
uma consulta oracular esperando dela uma recreação uma mera e egoística satisfação das minhas dúvidas das minhas curiosidades sobre essa questão exótica dos africanos por isso Rodrigo respondendo objetivamente à tua pergunta eu começo a a atendendo as pessoas logo que sentam diante da mesa explicando como eu entendo essa consulta explicando que a finalidade não é adivinhatória é divinatória se ela fosse adivinhatória eu juro que eu mesmo já tinha procurado o número da cena eu eu não vou mentir eu teria buscado ela não é divinatória ela é divinatória exatamente por isso porque nessa triangulação entre divindade olhador
e consulente os três precisam estar envolvidos esses Oris essas forças essas autonomias precisam tá AD donadas então o consulente é parte sim dessa análise essa consulta divinatória tem uma uma inspiração metafísica para que nós possamos analisar bem o momento dessa pessoa e essa consulta oracular funciona como um exame eh diferente do um exame convencional num Raio X por exemplo que vai mostrar como o meu pulso está quebrado neste momento ele vai mostrar isso tá quebrado aqui agora mas a consultora pode me mostrar talvez numa dimensão do momento passado quando eu machuquei como eu machuquei meu
pulso e pode me espelhar me projetar um futuro de como poderá ficar curado com meu pulso se eu seguir determinadas prescrições se eu me reentender nesse momento Então essa consulta ela tem uma dinâmica diferente se alguém senta Depois disso tudo que eu falo Diante de Mim esperando uma solução vertical unilateral ela entendeu que ela tá no lugar errado não é essa a proposta a gente precisa analisar o momento ler esse exame discutir esse exame questionar esse exame encontrar soluções e eventualmente orientações eventualmente prescrições mas é o entendimento do consulente o momento mais importante quando o
URI desse consulente se reconhece se entende não só como sujeito de problemas mas como sujeito de soluções entendi o senhor comentou várias vezes ao longo desse papo nosso a importância de buscar a compreensão da tradução e também o sentido semântico da no vocábulo yorubá e é algo pelo qual o senhor também produz muito se dedicou e se dedica muito a ao estudo então eu queria saber qual que é a importância de fato do ensino do yorubá e outras outros dialetos e línguas africanas relacionad às tradições religiosas africanas é interessante Rodrigo eh eu não acho que
eh o idioma seja indispensável Mas ele é muito útil muito útil muito útil porque falando português falando alemão fal fando chinês se eu conclamar se eu me conectar com o meu sagrado o meu sagrado fala todas as línguas e fala todas as línguas ele vai me entender e vai me atender ISO eu não tenho dúvida nenhuma no entanto acho sempre útil e muito valioso quando a gente quer mergulhar nesse universo nesse outro sistema Cultural de uma forma colonizada a gente precisa buscar Fontes a gente precisa buscar entendimentos filosóficos quando eu escrevi aquele dicionário vocabulário temático
do candonble com mais de 1600 páginas quer dizer o que eu tava tentando trazer ali não eram apenas eh transcrições semânticas mas conceitos filosóficos por isso o livro ficou tão grande então eu não posso falar que ori é cabeça porque a semântica de cabeça é pouco para entender tudo isso eu não posso chamar o Du de destino tão somente porque odu cruzeir Bis é muito mais do que isso então isso é descolonizar quando a gente escreve o livro o artigo e usa a grafia em orubá eu não tô apenas sendo perfeccionista chatinho metidinho ah ele
quer dizer que sabe escrever direitinho com aqueles Pingos de acento não eu tô tentando chamar o meu leitor para um um outro lugar Olha isso que eu tô escrevendo te remete nos remete a um outro ambiente é uma outra Matriz é um outro grupo cultural essa pontuação é importante essa pontuação é reterritorialização silenciar tentaram apagar tentaram proibir tentaram prender tentaram quebrar então quando a gente escreve em urubá a gente tá reterritorialização mente o meu corpo individual quando eu começo a entender que a semântica de Ará ela é individual e ela é coletiva da mesma forma
que eu uso o vocábulo Ará para definir o meu corpo eu também chamo de Ará o meu grupo o meu povo daí Ará quetu o povo de quetu Isso muda minha dimensão isso não é só semântica isso é filosofia isso é teologia isso é descolonizar porque opa pera aí então eu não sou sozinho eu sou um grupo eu sou um contexto sem perder a minha individualidade a minha personalidade mas a minha personalidade sozinha é nada percebe quando a gente quando a gente observa que a dimensão da palavra numa cultura oral ela tem um impacto muito
maior a palavra é mais forte Exatamente porque ela diz um uma infinidade de coisas ela provoca uma infinidade de coisas note por exemplo um dos verbos para mim mais bonitos em orubá qu qu qu essa palavrinha Pequena monossilábica quer dizer ao mesmo tempo ensinar e aprender rapaz só isso já dá uma uma uma uma pós--graduação inteira olha enquanto a gente tá aqui debatendo educação ocidental a sala de aula como é que fica o professor a professora o currículo o Enem os caras dizem qu uma só palavra uma só palavra quer dizer ao mesmo tempo ensinar
e aprender Então inr olha é por aí pai a gente sabe que as tradições religiosas africanas e indígenas são propostas né eh de um uma civilização muito mais possível do que tá aí né dentro do do processo colonizador a gente entende que ainda assim existe alguns conflitos talvez por conta de entendimento das regionalidades da das personalidades né particularidades entre as próprias múltiplas regões afro-indígenas em território brasileiro nós após Ubunto temos como propósito eh criar Pontes estabelecer diálogos porque acreditamos que isso acontecendo no nosso universo interno vai reverberar no externo com a sociedade melhorada né nesse
nível de crença que a gente trabalha aqui e aí eu eu sei que também esse é uma percep do senhor né como que esse diálogo interreligioso eh com as religiões afr centradas eh na sua perspectiva pode impactar para uma sociedade melhor Rodrigo as culturas africanas E aí eu peço licença para falar sempre a partir daquela que eu me dedico mais a estudar pesquisar que a cultura Ubá ela elas oferecem as sociedades ocidentais uma relação muito mais honesta de viver em comum as sociedades Africanas a cultura yorubá por exemplo ela tem como busca existencial de cada
ser humano a virtude ou as virtudes or a bondade sururu a paciência ibur a verdade e o ar o caráter E como eu gosto de ressaltar essas virtudes não se esgotam em mim é importante eu ser Generoso comigo mesmo eu ser honesto eu ser paciente comigo mas essas virtudes só se consolidam quando eu as pratico com o outro então você imagina uma sociedade em que todos estão buscando essas mesmas virtudes em que a troca na interlocução humana e entre os humanos e os ditos inumanos é sempre com o objetivo de que esse ser se torne
um homolo abi um filho de bom caráter então óbvio que essas sociedades estão nos proporcionando nos ensinando a conviver melhor no grupo não sendo competitivo não não sendo egoísta não sendo egocêntrico não sendo palco das minhas próprias vaidades são exercícios são contribuições Profundas eficazes necessárias para uma sociedade que se torna mais harmônica e mais equilibrada perfeito e para quem ficou interessado em estudar com o pai Márcio de jagun fica aqui a minha super recomendação da pós teologia cosmologia cultura brasileira E olha importante você saber que os 50 primeiros inscritos no curso receberão o kit umuntu
que é exclusivo para nossos alunos vem muita coisa nesse kit é um super presente e se você quiser entender mais sobre o nosso programa do curso e outros detalhes faz o seguinte clica no link que tá aqui na descrição do vídeo e também no número do WhatsApp que tá disponível para você fazer contato Então se quiser toma nota 14 99615 6830 Pai a gente tá chegando ao final então da nossa e aula aberta nosso papo aqui com a comunidade e eu quero saber se tem alguma pergunta que você gostaria de ter respondido que eu não
trouxe aqui algum tema que eu não abordei que você acha importante pra gente finalizar esse nosso encontro eu acho que você trouxe aqui questões muito importantes antes acho que a gente pode bater um papo eh instigante reflexivo eu penso sabe Rodrigo que o mais importante mais importante de tudo isso que a gente faz escrever dar cursos eh participar de de debates de fóruns seminários não é apresentar verdades prontas soluções encaixotadas não é não é botar o ovo em pé não é nada disso é exatamente o que a gente tá fazendo agora propor reflexões propor reflexões
se cada dia um de nós ou cada um de nós puder refletir melhor sobre si sobre a a a espiritualidade certamente a nossa sociedade ganha com isso e que a gente possa contribuir de uma maneira para fazer esse mundo esse nosso a um ambiente melhor para todos e todas nós perfeito pai muito grato sua bênção e que a gente possa encontrar muito mais vezes aqui quero dizer que isso foi só um pequeno fragmento que você que nos acompanhou até aqui vai encontrar do Convívio com o pai Márcio de jagun dentro da nossa e formação pós
Ubunto a pó pós-graduação em Teologia cosmologia e cultura afro-brasileira fica aqui então minha gratidão à sua audiência su participação e te encontro do lado de cá até a próximo encontro até a nossa próxima aula acompanha que essa semana tá recheada de encontros poderosos para poder transcender o nosso ori aqui né pai poder iluminar o nosso ori gratidão pai Axé motumbá motumbá Aché um grande abraço n
Copyright © 2025. Made with ♥ in London by YTScribe.com