[Acorde de violão] [Buzina de carro] Começa agora Inédita Pamonha, por instantes felizes virginais e irrepetíveis. Era o começo do ensino médio. O professor de matemática anunciou o primeiro tema do ano Logaritmo.
E aí ele logo colocou no quadro-negro com o giz de antigamente o famoso L-O-G, log. E aí então ele disse que poderíamos entender que log de A na base B é igual a X E como é que nós sairíamos desse enrosco incompreensível sabendo que B elevado a X é igual a A. Nós tínhamos então saído do logaritmo para potenciação e isso já não era mais familiar e, portanto, alegria.
Alegria porque tínhamos evitado um imenso enrosco com um outro um pouco menor. Eu me lembro então de ter levantado a mão e ter pedido ao professor que relacionasse aquela coisa de logaritmo com algo do nosso cotidiano. Com alguma coisa que tivesse a ver com a nossa vida.
Que relacionasse logaritmo com as experiências do dia a dia. Com o mundo que encontrávamos a cada segundo. E o professor olhou para mim e disse "e para que você quer isso?
" Eu então argumentei que se eu entendesse a relação da aquele log de A na base B = X com alguma outra coisa que fizesse parte da minha vida aquilo poderia se tornar mais interessante para mim. Me fazer melhor, me proporcionar uma sensação mais agradável e quando eu tivesse aqui fazer a imensa lista de exercícios de operações de logaritmo, tudo seria menos árido se eu pudesse relacionar aquilo com alguma coisa que eu já conhecesse. O professor então disse que tudo que eu tinha argumentado era uma imensa frescura.
Que na verdade eu tinha que aprender a realizar a operação por ela mesma. E tinha que aprender a acertar os exercícios por eles mesmos. E que logaritmo poderia bem ficar no meu repertório como uma espécie de ilha.
Uma ilha cercada de ignorância por todos os lados, uma ilha cercada de vazio por todos os lados, uma ilha sem nenhuma relação com o resto do mundo que povoava a minha mente. E aí então eu disse que aquilo condenaria o estudo a uma espécie de tristeza. Tristeza típica da falta de sentido, quando não entendemos muito bem o porque de estarmos fazendo aquilo.
O professor então me respondeu que o porque era passar de ano. O porque era tirar nota na prova. O porque era continuar adiante, o resto era absolutamente irrelevante.
[Fundo musical] Então, algumas quatro ou cinco décadas se passaram desse diálogo, e aqui eu gostaria de me manifestar a este professor cuja a sobrevivência eu sinceramente ignoro. Não sei se ainda é vivo, mas alguém que como ele pensa poderá ainda me escutar, quem sabe me entender, quem sabe considerar a minha argumentação, e deixar claro que quando nos sentimos bem estudando a chance de uma compreensão maior do que estamos aprendendo é aumentada significativamente. Cada um de nós já deve ter percebido nas próprias vidas ser titular de uma certa potência, de uma certa quantidade de energia para viver.
Essa potência ela sobe e desce ao longo das experiências no mundo, então é claro se vamos a escola estamos com um mundo escolar diante de nós constituído por professores, constituídos agora por alguma tecnologia, por mensagens informatizadas, também constituído por colegas ali com o mesmo objetivo que o nosso, constituído, enfim, por serventes, empregados, os coordenadores, tudo que constitui o mundo escolar. E cada um desses flagrantes, cada um desses encontros poderá afetar a nossa potência. Quer subindo-a, fazendo-a emergir, decolar, tornando-os mais vivazes com os olhos mais abertos, arregalados e argutos.
Com as células mais dispostas para aprender. Ou então um mundo que nos apequene nos entendie, nos broche e nos aproxime de uma espécie de letargia, de uma falta de vontade de continuar ali. Então eu queria lembrar que às vezes o papel do professor é decisivo nesse processo.
Porque é claro, temos mesmo que aprender a somar logarítimos, temos que aprender a diminuir logarítimos, temos que aprender a dividir logarítimos, temos que conhecer logaritmo, porque isso nos será cobrado em algum momento. Porém, há 1 milhão de maneiras para que isso aconteça. 1 milhão de maneiras.
E é claro caberá ao professor tornar esse aprendizado mais apetecível, mais potencializador, mais alegrador e isto ele poderá fazê-lo se relacionar e souber relacionar aquilo que está ensinando com um repertório presumido do seu aluno. Com o repertório presumido calcado nas suas experiências de vida, no seu cotidiano e nas coisas que ele aluno considera interessantes para ele. O professor que tiver esse selo tornará logaritmo uma espécie de parceiro de coisas boas, parceiro de mensagens alegradoras.
E aí então, por uma espécie de simbiose, fará com que logaritmo tenha todo sentido e todo o valor no aprendizado daquele aluno. Ou então poderá fazer como fez o meu professor, condenar-me ao desinteresse. Impor-me goela abaixo uma tarefa sem saberá relacioná-la com nada que eu pudesse considerar potencializador, interessante e alvissareiro.
E aí, é claro, a existência na escola tende a se tornar uma súplica para o seu término. Uma súplica para o fim da aula. Uma súplica para um retorno à casa.
E neste caso cada retorno à escola será sempre penoso, arduo e complicado. [Fundo musical] E agora vamos fazer um pequeno intervalo só para os nossos agradecimentos. O podcast Inédita Pamonha é um oferecimento de Eastman Chemical do Brasil.
De BNP Paríbas Asset Management E finalmente de Profuse Aché. Aos amigos patrocinadores um carinhoso abraço. O papel do professor, ele pode ser claramente visto quando mais tarde eu, depois de largar a escola, fui completar meus estudos preparatórios para o vestibular num desses cursos preparatórios chamados de cursinho.
E aí um outro docente, um outro professor, este também foi ensinar logaritmo. No fundo a sua preocupação era revisar os logaritmos e suas principais operações com vistas ao vestibular, mas esse outro professor, esse tentou de todas as formas mostrar o quanto o logaritmo tinha a ver com coisas fascinantes da vida. Com operações incríveis da minha consciência.
Eu então que, até aquele momento, tinha visto o logaritmo como um fardo sem o menor sentido, passei a considerá-lo algo de conhecimento mais do que auspicioso para o futuro da minha existência. De tal maneira que eu agradeço imensamente a este segundo docente, que é professor tanto quanto o primeiro, que é docente tanto quanto aquele dos bancos escolares, mas que, por alguma, razão viu o interesse e a necessidade de tornar o seu assunto um assunto bacana de estudar, legal de aprender e super transado de dominar na hora de viver. Eu poderia dizer que com a filosofia pode acontecer parecido.
E é claro, os conceitos filosóficos eles poderão ser apresentados por eles mesmos sem nenhuma preocupação em vincula-los com o resto da vida, mas é possível que algum docente, olhando para você e encantado com a sua disciplina, a filosofia, queira que o aluno se solidarize com ele, queira que o aluno como ele goste daquilo que estão ensinando e aprendendo. E aí então é possível que ele pegando o aluno pela mão mostre o quanto a filosofia é inseparável da vida e está a serviço de tornar a vida mais feliz, mais apetecível, mais merecedora de uma vontade imensa de prossegui-la, de mantê-la, de rete-la perto de nós, porque é, no final, das contas disso que se trata a pensar para viver melhor. Um conceito para exemplificar o que estou dizendo é o conceito de amor.
O amor é um conceito típico do cotidiano, mas que encontra na filosofia imensa importância. Poderíamos então encontrar em Espinosa uma definição de amor: alegria acompanhada da ideia da sua causa. Admita, você que está me ouvindo.
Eu vou repetir para você a definição, alegria, amor é alegria acompanhada da ideia da sua causa. Nossa o amor é a alegria, até aí bem bacana, mas aí vem um acompanhado da ideia da sua causa que vem junto e tem todo o ar de uma pomposidade lógica e retórica já meio entristecedora. Mas aí o professor que olha para sua brochada ele resolve pegar você pela mão e mostrar o quanto a definição é linda.
Vamos imaginar que você tenha ido passar uns dias na cidade de Buenos Aires E lá você tenha encontrado alguém por quem você tenha se encantado e com ele tenha passado bons momentos. Momentos de potência em alta, momentos alegres momentos que você gostaria que não tivessem acabado. O que acontece, tendemos a querer repeti-los, afinal de contas quando a vida é boa, e ela nem sempre é boa diriam até alguns que ela quase nunca é boa, mas quando ela é boa é normal que queiramos repeti-la.
E aí o que você faz, manda pelo seu WhatsApp um convite para que aquele que tanto te alegrou, aquela que tanto te alegrou venha a São Paulo conhecer a sua casa, conhecer a gente, conhecer o seu mundo e a sua cidade. Você então, gentil que é, vai buscar no aeroporto de Guarulhos aquela pessoa. Você a recebe, você a abraça, você a beija e você carrega as suas malas empurra o carrinho e coloca no porta-malas do seu carro, pronto a encarar o trânsito da Marginal.
E aí, antes de chegar em são Paulo, você se dá conta de um erro que cometeu. Não podia ser aquela pessoa causa da sua alegria. Ela se mostrou de certa maneira, aborrecedora, ela se mostrou pouco gentil com as coisas que ia observando, ela detonou simplesmente tudo que viu, ela não gostou de ter ficado parado no trânsito, ela aparentemente não curtiu muito te encontrar.
E tudo isso antes de chegar na tua casa. Você já pode perceber, trata-se de uma pessoa aborrecedora. E aí você fica com esse abacaxi na mão, não pode se livrar porque a passagem está marcada só para daqui uma semana, de retorno, e você se vê ante a necessidade de ter que ciceronear por uma semana uma pessoa que por ela mesma é profundamente incomodativa.
No final das contas o que tinha te alegrado em Buenos Aires não era aquela pessoa. Era a Buenos Aires, eram as férias, era não ter que trabalhar, era uma vida nova numa cidade diferente com outro idioma super charmoso quando falado pelos argentinos, eram atividades culturais nunca vividas antes, eram os cinemas que você pode todos os dias da viagem, em suma tanta coisa pôde te alegrar e você, que apostou naquela pessoa como causa da tua alegria, você se equivocou. Portanto, para amar direito é preciso ser capaz de diagnosticar no mundo aquilo que realmente nos alegra.
Aquilo que de verdade determina em nós um ganho de potência. Cuidado para não comprar gato por lebre, cuidado para não se equivocar, cuidado porque essa competência para observar no mundo aquilo que é genuinamente alegrador, nos dará a possibilidade de repetir experiências, de convidar a causa certa para vir para cá e como não é possível, quem sabe, voltar a Buenos Aires. Aí sim o lugar certo para mais um momento de alegria.
Este podcast Inédita Pamonha é um oferecimento da revista INSPIRE-C. INSPIRE-C com C no final, de vitamina c ou de Clóvis, como você preferir. INSPIRE-C.
E aí você acessará este podcast Inédita Pamonha pelo site da revista INSPIRE-C www. revistainspirec. com.
br É por aí mesmo o caminho e não esqueça de se deliciar com o resto da revista, que é maravilhoso. Era o que tínhamos a dizer por hoje, para hoje, caso você tenha se encantado com esta mensagem, volte! Volte para nós, daqui uma semana voltamos a conversar é o Inédita Pamonha, porque a vida é assim, cada instante inédito e irrepetível na sua radical virgindade.
Um beijão e valeu! Você ouviu o Inédita da Pamonha por Clóvis de Barros Filho. Trazido até você pela revista em INSPIRE-C, acesse www.
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Este podcast foi editado por Rádiofobia Podcast e Multimídia.