[Música] olá o psiquiatra e psicanalista Mário Eduardo Costa Pereira é o nosso convidado de hoje do programa Analisa o tema que nós vamos discutir aqui é adolescência e a série da Netflix que narra um episódio de extrema violência envolvendo um adolescente de 13 anos todo mundo pro chão pro chão que isso que que vocês estão procurando estão cometendo um grande erro é só um menino é uma criança eu não fiz nada pai mário Eduardo é professor do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp olá professor bem-vindo obrigada pela presença
obrigada pelo convite professor eh você viu a série duas vezes certo eh conforme a gente havia conversado antes é uma vez com olhar de espectador outra vez com olhar profissional do do profissional de saúde mental eh foram eh foram experiências diferentes foram muito diferentes porque assim eu normalmente não assisto série na verdade não gosto não tenho hábito de assistir mas essa foi tão falada foi tão comentada foi tão discutida que eu fiquei curioso e além de tudo era curta então tinha um fim de semana eu resolvi assistir e eu fui capturado pela série porque eu
que não tenho hábito acabei assistindo os praticamente os quatro episódios de uma única vez uhum tal ponto eu fiquei preso né e foi muito para mim foi uma experiência muito comovente né experiência de eh ele apresenta uma situação familiar que poderia ser de qualquer um de nós né eh de uma maneira extremamente humana né que não é um thriller policial não é um um uma história que tem um um uma coisa muito maniqueísta mas você vê algo que poderia ser da vida de qualquer um mas ao mesmo tempo você vê a nossa própria sociedade seus
grandes problemas suas grandes questões emergindo de uma maneira muito direta trágica daquela daquela expressão cinematográfica essa foi a primeira vez e a segunda teu convite eu reassisti com olhar eh com com a mesma emoção né por um certo lado mas também eh a gente consegue então perceber mais em detalhes né todos as nuances não é de que não é apenas a idossincrasia de uma família ou a loucura de um de um jovem ou de uma família disfuncional não aquilo coloca em questão e faz um grande debate sobre as contradições da nossa sociedade contemporânea professor quem
é esse adolescente da série ele tem um diagnóstico do ponto de vista da psiquiatria ou ele é alguém um jovem uma criança que vive ali uma série de condições e que acaba eh fazendo aquele ato né é como eu falei como num primeiro momento lá ela a série apresenta esse menino J como enfim como quase como uma situação patológica uma situação clínica mas aos poucos a gente vai vendo que o James eh coloca expressão paraas nossas grandes contradições e que nos pega porque aquele menino podia ser nosso filho podia ser alguém e e que extremamente
próximo e que a gente desconhece profundamente muito dos elementos dramáticos da série são os pais e o pai em especial e descobrindo aos poucos o quanto que ele não conhece do próprio filho então me parece que a gente né ganha muito mais a discutir sobre essa perspectiva do que que tá não tá funcionando na sociedade em geral e que se expressa nessa família do que fazer do Jam clínico porque a gente poderia olhar pelo outro ângulo por exemplo como que acontece que a família vai se surpreendero com algo tão profundo né uma criança um um
adolescente com problemas tão devastadores tão angustiantes que levam a um crime que leva a um assassinato um assassinato brutal e que quando você descobre que o filho é um estranho ou questões fundamentais você descobre quando já é irrevogável que vai o que aconteceu então eh acho essa construção é muito importante né muito interessante porque primeiro né você tem um pai presente o que muitas vezes não acontece né em famílias desestruturadas você tem um pai ausente ali não o pai né que é a figura masculina ali é é bastante presente né e o garoto tem aquela
cara angelical assim e assim o tempo inteiro você fica querendo eh de alguma forma eh proteger né aquela aquele aquele menino a primeira cena né quando a polícia entra ali que ele urina na roupa né assim aquilo é muito chocante porque você custa muito acreditar né quer dizer é um pouco uma metáfora do que disso que a gente tá vivendo né dos filhos ali vivendo um universo eh completamente paralelo ali né na nas redes sociais de que um universo que a gente não faz parte que a gente não conhece né então assim é eu acho
que essa construção é muito interessante né e quem é esse desconhecido quem é essa criança quem é esse adolescente que a gente que tá ali exposto nas redes sociais e que a gente não conhece é isso mostra bem né essa questão do título né da adolescência né adolescência um período meio misterioso algo que existe na nossa cultura não existiu sempre não é mas que para nós é bem marcante e que tem essa transição de uma certa configuração de vida em torno de pautas intrafamiliares infantis enfim e que eh num certo momento inclusive pelas transformações do
corpo pelas transformações sociais o essa criança é solicitada se situar na vida adulta e em particular se situar em relação à sexualidade a diferença sexual é o seu próprio lugar no mundo e na relação com os outros agora fora de casa não é então quando a polícia invade a casa e ele fica lá apavorado na cama dele se urina todo a gente vê que tá diante de uma criança durante um certo tempo da história né final do século XIX século XX esses lugares apesar de serem perturbadores nãoé essa mudança que obriga aquilo que era uma
criança começar a ter que se organizar não é que menino sou eu que menina sou eu né esse tipo de transição e a pauta é tinha eh coordenadas muito claras a gente chama coordenadas de uma enfim de uma hegemonia europeia branca patriarcal tradicional não é em que os papéis eh sexuais eram bem claros um menino com uma série de pautas a menina com outra série de características e critérios né e também possibilidades de acesso à aquelas posições que seriam consideradas como dignas respeitáveis valorizáveis a partir de um certo momento nessa passagem do 19 pro 20
e principalmente depois da Segunda Guerra esses essas organizações se eh se destruíram aquilo que eram pautas binárias menino veste azul menino veste rosa não isso se desfez e e se desfez num sentido inclusive de uma vitória da civilização nós podemos ter outras maneiras de existir nós podemos ter outras formas de nos instalar no mundo isso merece o reconhecimento social nós não somos obrigados a nos instalar de uma única forma as nossas referências tradicionais ao papel da tradição ao papel da autoridade ao papel e do paterno da figura paterna das grandes autoridades que eram representantes dessa
figura eh patriarcal viril forte branca ocidental isso tudo foi desmanchado num certo sentido num grande progresso civilizatório ora a medida que nós vamos avançando com isso primeiro essa ampliação do âmbito das possibilidades do âmbito da inclusive éticos né de que a gente pode existir de outras maneiras ao mesmo tempo coloca em desafio tá bom quais são as formas então de nos fazer reconhecer nesse mundo que os ideais agora que eram sempre tão claramente marcados o chegar lá era claramente marcado isso se desfaz se já não essas pautas já não valem mais eh como que pode
ser e paralelamente a isso nós tivemos uma uma reconfiguração política enorme se a gente pega por exemplo com a queda do mundo do muro de Berlim não é no final dos anos 80 até ali né nós tínhamos com a Guerra Fria e também com a composição política a ideia de que nós temos o capitalismo e um outro mundo possível né esse outro mundo possível acabou eh nesse combate desabando como o muro de Berlim quer dizer essa essa ideia de que nós poderíamos construir uma outra pauta política entra como uma como uma espécie de fim da
história né então seremos capitalistas o mundo eh neoliberal e quem pode mais chora menos tem agora é muito mais claro não é nesse ponto de vista quais são os padrões de sucesso quais são os padrões de eh de realização então a gente tem paralelamente esse desabamento por um lado das pautas tradicionais e um retorno brutal nãoé não a gente tem sucesso com pautas do capitalismo é ter acúmulo de de de dinheiro acúmulo de poder o reconhecimento é um reconhecimento que pode ser contabilizado não é eu né os as minhas eh eh maneiras de me mostrar
eh enfim alguém digno alguém amável nesse contexto é tendo sucesso nisso então por um lado a gente tem essa desorganização e a gente tem também o certos critérios que ficam mais explícitos sucesso é ter sucesso é chegar lá né lembra quando tinha a revista Caras né você tem cara quando você tem você é capa na cara quando você tem lá não é sucesso profissional quando você tem sucesso financeiro aquilo te dá reconhecimento público então a gente vê hoje em dia essa desorganização por um lado das pautas identitárias mas ao mesmo tempo continua né um homem
que se realiza é o homem que chegou lá o homem que tem sucesso é o homem poderoso a mulher poderosa então a gente teve todo o desenvolvimento do feminismo né que eh permitiu a mulher eh reivindicar e conquistar lugares de protagonismo social e ao mesmo tempo a gente vê hoje o retorno né do movimento uma espécie de movimento back to the kitchen né de volta pra cozinha né uma mulher que tem que ser boa mãe de família tem que esperar o seu marido porque ele é o provedor porque não é a gente vê essas pautas
simultaneamente então vê o grau de angústia e de confusão para um jovem que tá entrando nesse mundo como é que eu vou me situar em algo que nem os próprios pais nem a própria cultura consegue oferecer modelos claros então isso é um problema importante porque a falta do modelo claro por um certo sentido é libertador não precisa ter um modelo claro posso a gente pode ter soluções que sejam mais locais contingentes pessoais e uma transformação constante da sociedade que possa acolher as diferenças que possa de acolher como um enriquecimento essas novas posições mas ao mesmo
tempo isso é extremamente angustiante porque você se vê lá maciçamente ó ter sucesso é ter sucesso dentro da pauta do neoliberalismo dentro da pauta do capitalismo dentro da pauta eu tenho toda a liberdade perunomútil né quer dizer eu tenho toda a liberdade de ser quem eu quiser de de fazer o que eu quiser só que por outro lado eu tenho ali tem as exigências de que eu tenho que ganhar dinheiro que eu tenho que ter sucesso né é num mundo em que a gente vê uma precarização cada vez maior do trabalho em que a gente
vê cada vez mais no horizonte aonde que a tecnologia inteligência artificial e tudo isso vai substituir o emprego não é aonde que eu não vou mais ter lugar não é não vou ter mais lugar onde me fazer reconhecer não é por essas vias que eram as vias tradicionais de um sucesso profissional de uma pauta política né num lugar num mundo em que eu vou agir na sociedade então a gente tem uma grande desorganização das pautas tradicionais mas ao mesmo tempo no pano de fundo uma exigência de sucesso e as bases para isso não é elas
se apresentam como bases e extremamente liberais não é mas o que a gente vê é essa angústia de que eu não vou encontrar lugar não vou encontrar um novo lugar então esse criança e no caso aqui porque coloca muito em pauta como é que acontece pros meninos né é como o menino se situa nesse mundo numa transformação imensa com uma potencialidade de novas eh organizações tem uma liberdade maior mas ao mesmo tempo essa angústia de não encontrar nenhum lugar de reconhecimento no mundo pois é quem não se situa acaba sendo coptado muitas vezes né por
estes núcleos né essas eh existem grupos né panelas no em redes sociais em plataformas em que eh esses jovens acabam sendo se sentindo reconhecidos né isso também tá nesse bojo então essa palavra que você usou ela é muito importante nesse debate todo que é eh ser reconhecido né uhum questão do reconhecimento porque a questão do na nossa organização cultural e social nós nos fazemos reconhecer em primeiro lugar individualmente é bem claro numa numa sociedade ocidental capitalista né eu vou pro céu individualmente e eu tenho sucesso ou fracasso aqui em primeiro lugar eu respondo como um
indivíduo singular uhum então existir é existir dentro do mundo me fazendo reconhecer como alguém digno de amor digno de de admiração individualmente ora o reconhecimento é uma pauta dialética tem uma tensão ali o reconhecimento é quem é que vai mandar aqui quem é que é o senhor quem é que é o escravo não tá escrito nas estrelas se fazer reconhecer tem uma tem uma dimensão violenta né quem é que manda aqui nesse grupo quem é que é o nãoé ou no caso lá dos dos debates da virilidade quem é que é o o macho alfa
aqui uhum é alguém que se impõe e se faz reconhecer então essa questão do reconhecimento ao mesmo tempo eu me imponho ao outro mas eu preciso de que o outro me reconheça o que que acontece com esses meninos que querem se fazer reconhecer nessa pauta viril precisam por exemplo que as meninas o admirem mas eles ao mesmo tempo v que as meninas têm as suas próprias pautas elas não são necessariamente encantadas pelos mesmos valores elas vêm que elas podem ter outras maneiras de se realizar e ao mesmo tempo né nesse outro tipo de eh forma
de realização no sucesso material no sucesso dentro do capitalismo eles se vem cada vez mais cobrados para esse sucesso e cada vez mais distantes para de fato atingir esse esse lugar por isso que você pode ter um um crime desse tipo eh talvez com muito mais facilmente por eu para eu me fazer reconhecer aquilo que eu acho que aos olhos e da minha comunidade me tornou um poderoso poderoso do que por necessidades de sobrevivência né ou você tem uma sobrevivência emocional que tá mais em jogo então eles têm então nessas células né nessas comunidades você
tem uma espécie e as redes sociais acabam permitindo isso uhum que todo esse lugar do ressentimento da vivência de fracasso da vivência de não se fazer eh amar não se fazer reconhecer você pode reunir esse grupo em que eles podem reelaborar entre eles sem justamente sem a o arejamento que eles poderiam ter de tá circulando na sociedade em geral criar essas coisas aí sim extremamente mórbidas extremamente mente patológicas que fechados nesse nessa pauta que funciona em torno do reconhecimento da raiva da sensação de rejeição criar os inimigos é a mulher que não que não me
reconhece uhum não é é o outro que não que não me dá lugar então eu posso por exemplo como é que nós vamos fazer para nos vingar como é que nós vamos fazer para nos fazer reconhecer não isso é entre esse grupo fechado de crianças que estão tentando chegar à vida adulta essa essa elaboração adolescente que eles estão é nessa panela de pressão que o sujeito pode dizer: "Não tem uma coisa bem viril que eu posso fazer eu posso ir lá e agredir eu posso ir lá e matar e os outros vai lá e faça
isso né?" Sim então no interior dessas redes é interessante você pode ter por exemplo né um um qual é o o grande referência né sei lá o crime de Colombai né eu invado uma sala de aula com armas muito fálicas né com rifles com arminhas com facas no caso do filme ele a menina não permite que ele que ela que ele penetre o corpo dela sexualmente mas ele penetra não violentamente com a faca várias vezes que é o mesmo tempo uma penetração odiosa a força e a força que é não apenas um acerto de contas
dele com ela mas dele com ela a luz dessa comunidade e que ali ele vai ser um herói ali ele pode ser um né nos vingou ali ele nos fez então veja que essa a rede social que ao mesmo tempo parece que é nos colocar em grandes redes ela nos coloca em subcomunidades em clusters que reforçam apenas esse esse maneira de ver as coisas é aquela bolha de pensamento único né bolha de pensamento único agravado né pela situação de que são eh jovens em plena tempestade em busca de reconhecimento que esse reconhecimento depende do outro
depende das pautas que a cultura coloca à disposição dele e mais do que as pautas depende das possibilidades que ele tem quanto menos possibilidade concreta ele vê de se fazer algo que tem algum valor social que ele acha que ele ele possa eh se sentir valorizado com aquilo mais desesperado ele fica então a CN mostra com muito tato com muita o o nível de angústia e de desespero que tá por detrás disso tudo né e o pai vai se dando conta à medida que ele vai vendo não é a extensão do da perturbação do filho
o quanto ele não conhecia o filho o quanto o filho tava preso naquela bolha tava primeiro nessa sensação de não pertencimento que faz com ele busque a turma dele e aquela turma lá que nem o Senhor das Moscas aquele mundinho fechado né de crianças praticamente que vão encontrar lá as coisas mais brutais para se reconhecer então e e é curioso só acrescentando ele fala o menino o tempo inteiro ele fala que ele não fez nada de errado né e em determinada no acho que no terceiro episódio que é a cena com a psicóloga ela pergunta:
"Você sabe o que né você sabe o que é matar uma pessoa?" Quer dizer eh provavelmente eh ele não tem né noção né de que isso é errado ele fica o tempo inteiro falando não não fiz não fiz nada de errado né existe existe esse mecanismo também né de que aquilo que ele tá fazendo é o correto então o essas noções de certo e de errado elas funcionam socialmente a questão é se você vai desenvolver essas funções naquela bolha fechada isso vai ter uma certa conotação e quanto mais desesperado ele fica quanto mais angustiado mais
ele recorre a bolha e menos e o que é certo na bolha o que é certo na bolha não corresponde então não corresponde à realidade então talvez assim essa questão não se coloca assim para mim né na verdade eu nem sei direito como é que é por aí o que que é certo ou errado é tão grave que você pode ter por exemplo algo que ele poderia sei lá criar como ideal nossa tem gente passando fome tem gente na miséria tem situações de guerra tem violência por tudo eu posso dar uma contribuição para isso ele
nem sabe disso uhum como é que é a cabeça de um de um adolescente professora e como é que é a cabeça de um adolescente que sofre bullying o que é que o bullying faz com a cabeça desse adolescente uhum então o bullying é um é um fenômeno é um é uma palavra que põe em evidência algo que tá no coração desse processo né ou que pode estar no coração do processo de adolescência na nas modalidades mórbidas de se fazer reconhecer como eu falei se fazer reconhecer não é uma coisa simplesmente passiva é uma tem
uma dimensão agressiva eu vou usar estratégias de sedução de cootação de outros de imposição para eu ter do outro o seu reconhecimento pronto nessa turbulência adolescente uma das formas de poder me fazer valorizar é desprezando o outro em especial se o outro tem características que em mim mesmo são muito perturbadores então eu ataco no outro aquilo que coloca ali para baixo como é uma coisa dialética eu consigo recrutar todos os que se identificam com esse com essa ridicularização que eu faço em torno de mim olha lá aquele sujeito que ele é um incé ele não
consegue conquistar ninguém nenhuma mulher gosta dele nenhuma menina se interessa por ele ele é feio né e como é o caso no filme né ou ele se sente feio no filme é interessante porque é possível que nenhum dos amigos dele tenha chamado ele de feio feio pode ter sido a conclusão que ele chega por não conseguir se impor eh nesse para as meninas naquele contexto que ele tá só posso ser feio porque tudo isso também se dá ali no nível né dos emojis quer dizer me parece que é isso né toda ele conclui né que
ele tá sendo que ele tá sofrendo essa essa esses ataques né ele conclui por causa da de toda a reação dessa dessa linguagem ali das redes sociais dos emojis né que ele é um incé né que ele não vai conseguir nenhuma mulher na vida né mas então isso é muito importante porque ele só vai se situar no lugar dele no mundo no espelho do outro então e essas redes sociais elas colocam no espelho lá tem lá o dedinho para cima o dedinho para baixo isso não é um detalhe isso não é uma bobagenzinha que você
pode simplesmente tirar isso é fundamental e é interessante de todas as coisas que poderiam colocar a mais fundamental que tá em todas é o like e o dislike o dislike é tão perturbador que já nem aparece mais ele tá lá como possibilidade mas você não consegue acionar na nas redes sociais você não consegue mais não não você na na na maior parte delas ele tá lá mas você não sabe quantos dislikes você teve ah sim sim tá tá certo mas você sabe quantos likes então isso que te Então a rede social é uma rede que
vai parametrar nesse meu imaginário de quem sou eu quem sou eu aos olhos dos outros então tô o quanto eu sou querido ou o quanto eu não sou querido né e e mais ainda o que que eu preciso fazer para ser querido eu posso ser que eu não seja não vou não vá ser querido pelo Jamie mas se eu humilhá-lo bastante na minha turma esse pessoal todo vai me achar: "Nossa como você é né humilhou o outro ele merecia ele." E o Jam tenta responder: "Por que que eu estou nessa posição sou feio sou pobre
sou sou gordo sou né começa então a a construir aquilo que ele vai ter nos indícios sociais né muitas vezes você tem tem processo que o sujeito chega à conclusão: "Meu corpo é feio né meu corpo não tem a forma que o outro reconheceria" então o processo de bullying faz parte desse dessa questão dialética fundamental quando ela começa a ter um um encaminhamento muito mórbido que você pode se utilizar disso para em humilhando o outro em eh colocando outro numa posição de fraqueza não ao mesmo tempo correlativamente me colocar numa posição de superioridade dentro dessa
turma então a gente também teve na nossa cultura um empobrecimento né de maneira de se fazer reconhecer uma cultura cada vez menos enfim eh referida a atos simbólicos enfim referidas a a reconhecimentos simbólicos eh que permitam sem tanta violência eh o ingresso sujeito te sentir reconhecido não tanto aprisionado por um papel às vezes a gente fica aprisionado num papel a maneira que eu me fiz reconhecer nessa turma de adolescentes é ser aquele fortão que intimida todo mundo bom ele viu que aquilo colou aquilo deixa todo mundo encantado coloca como pros outros uma resposta de como
é que eles têm que ser só que ao mesmo tempo coloca ele aprisionado no papel do fortão então cada vez que ele tiver né um momento de insegurança um momento de carência um momento de infantilidade não tem espaço na cabeça dele para aquilo dentro dele uhum então se a gente então veja como isso depende do tipo de laço social que a gente constrói porque se isso consegue ter uma uma circulação mais fluida o sujeito tem menos necessidade de aderir uma identificação maciça para se fazer reconhecer diante dos outros uhum e professora essa identificação ela também
tem relação com os pais porque assim a gente sabe que a adolescência é uma é uma época em que ele eh você se distancia né do dos seus pais né por outro lado eh como tá se mostrando agora né como com todo esse debate é um ã é mais do que necessário é urgente que os pais se interessem né por esse por esse universo dos filhos né e muitas vezes a gente não se interessa mesmo né a gente se interessa muito ali quando é criança que vem mostrar uma coisa mas quando a gente existe a
gente entra numa onda de crítica a gente critica o nosso adolescente o nosso adolescente critica a gente né uhum então assim eh acaba virando uma uma situação muito complicada nas famílias né essa falta de interesse do universo adolescente isso também afasta muito eh esses esses jovens eu diria que is esse é um problema é um problema muito importante muito complexo tem uma dimensão inegável de negligência né negligência em que sentido a gente tava falando início no no início né negligência o quê do dos pais da sociedade da escola é dos pais dos pais da sociedade
da escola por quê como nós estamos numa sociedade cada vez mais individualista a relação social inclusive a relação familiar ela é menos importante do que a realização individual às vezes você pode por exemplo sei lá vai numa praça não vai vai vai num restaurante vai a família inteira no restaurante do domingo eles não conversam entre eles tá cada um no seu no seu celular eles não estão interagindo de fato entre eles eles estão em paralelo porque em primeiro lugar tá o meu próprio interesse tá o meu a gente não tá conectado entre entre si mas
a gente tá conectado no mundo digital né porque cada um tem seus próprios interesses tem suas próprias então isso tem algo de estrutural que me parece que é muito importante tem outras coisas faz parte disso né como você tava falando na adolescência é esse momento que vai se consolidar a passagem pra hexogamia a gente cresce no interior de uma família e é uma exigência que a pessoa vai constituir a sua vida então ele precisa tanto o adolescente quanto os pais tolerarem essa separação mas uma separação que tenha ao mesmo tempo um porque é um processo
nãoé uhum né é um adolescente que pode estar interessado sexualmente por um parceiro uma parceira e tem o ursinho na cama que pode ser lá o que tem coragem de esfaquear uma menina e que quando alguém bate no quarto dele ele se urina todo então é algo que precisa de uma presença da vida adulta uma presença amorosa da vida dos pais então esse esse momento que o criança indo pra adolescência se fecha no quarto ou se fecha na rede social faz parte dessa tentativa dele de poder eh encontrar a solução de exogâmica dele só explica
essa esse termo exogâmico pra gente é uma coisa é é endogamia viver dentro do grupo onde eu nasci que me deu o primeiro aporte me deu a primeira constituição bom nas culturas em geral isso não pode ser uma solução eu não posso passar o resto da minha vida com quem me pôs no mundo quem me deu os primeiros cuidados eu preciso num certo momento poder me desligar encontrar minha maneira de existir no mundo como ser desejante me fazer reconhecer de alguma forma e me situar nesse laço social e atrás do meu desejo né então na
família do filme não era uma família desamorosa os pais eram presentes não era uma família doentia né mas ao mesmo tempo eles não se davam conta da profundidade da extensão da coisa então por isso é muito importante né é muito rápida essa transformação e os pais talvez as famílias não tenham se dado conta da necessidade ainda mais premente da presença deles até porque os pais né nesse isso também é uma em razão do capitalismo né os pais estão sempre assoberbados né né quer dizer você tem famílias que que são constituídas de uma mãe apenas né
que tá ali extremamente exausta né e que não tem tempo sequer para para raciocinar né em casa então você também tem esse componente também né porque é perigoso também a gente individualizar muito a questão né a gente colocar só responsabilidade na família ou só na escola né o que que que você acha disso é mas é é um pouco isso que eu tô tentando dizer né que em se a gente não vê como é que se coloca socialmente como é que isso se coloca historicamente como é que isso se coloca nesse momento do capitalismo que
a gente vive não dá para entender porque senão fica aparecendo apenas maus tratos dos pais ou negligência dos pais e que isso já se inscreve no interior dessa situação toda você pode ter claro nós é uma situação que também aqui é dialética tem um nível daquela família daquela pessoa mas como se insere nessa situação social que é muito profunda não é por exemplo nessa realização eh capitalista neocapitalista o papel do provedor do pai eu sou um bom pai nessa situação desesperadora que tem se eu consigo prover materialmente a minha família trabalho trabalho trabalho trabalho consigo
colocá-lo numa escola consigo e bancar a sobrevivência deles um dia eles vão valorizar isso vão entender porque que eu tava ausente não é bem assim né não é mas assim do ponto de vista dessa organização social da realização do do papel de pai tá tudo certo é mais ou menos perguntar pro menino mas você não sabe que não pode matar é perguntar para esse dizer para esse pai mas você não sabe que se você só fizer provimento material vai faltar algo de fundamental por exemplo ninguém da família saber que seu filho tá lá numa bolha
né radical numa bolha de revoltados em céu de células neonazistas de crianças que sonham invadir uma escola para fazer um ataque né e quando vem aparece como uma surpresa né é tão surpreendente pro filho que alguém diga para ele: "Olha mas não se pode matar uma menina quanto que pro pai né mas não se pode apenas prover a criança porque ela pode estar lá na célula e isso é algo que não é autoevidente né pro pai pra família pro pra escola então e essas realidades elas são cada vez mais consistentes e mais rápidas e isso
exige algo que é contraditório porque ao mesmo tempo num laço capitalista você precisa eh prover trabalhar porque você não passa fome trabalhar e no capitalismo como cada um por si nãoé se você cair no chão você não pode contar com auxílio de mais nada não é e e a gente vê essa desconstrução de todo tipo de segurança que a gente podia ter social ó você não pode contar com nada se você não trabalhar não produzir do seu você não tem nada de solidariedade social que possa contar então tem uma dimensão concreta nisso mas ao mesmo
tempo só isso deixa um buraco imenso não é que aparece no filme posso ser um bom pai posso estar presente pode ser uma escola com todos os defeitos enfim também não é totalmente disfuncional mas sem levar esse aspecto em conta as consequências podem ser gravíssim tem sido então e aí a gente fica com aquela ideia eh é possível criar adolescentes saudáveis hoje como que a gente acolhe essa essa fase essa época da vida e como que a gente consegue eh minimamente ali ter uma relação de diálogo com os filhos né eh eu entrevistei hoje a
professora Telma Vinha ela falou: "Olha adolescente não gosta de palestrinha né né então existe toda uma questão de comunicação também né com os adolescentes queria que você comentasse um pouco isso então eu diria que tem pelo menos dois níveis que são indispensáveis e que se a gente só tomar um desses níveis a gente vai falhar terrivelmente tem esse nível de como é que a gente lida com a situação no aqui agora concreto essa é indispensável ah tá certo uma criança de 12 anos de idade tá numa rede social até antes né exposto né a não
só a pornografia precoce a violência precoce a discursos homofóbicos transfóbicos discursos eh de violência contra a mulher etc ou que apresentem né ser homem tem que ser tem que bater tem que mostrar força tem que mostrar violência uma criança tão Então tem uma série de debates sobre eh em que momento a criança pode ser exposta a isso qual é que é o papel dos pais na monitoração disso né numa de fazer um de estar presente controle parental um controle né e de estar junto de poder colocar dispositivos de conversar escutar ver os efeitos que pode
ter na criança e no adolescente como é que se passa no nível da escola quais são sinais precoces né como é que o estado também eh precisa est atento né programas não é de desmontar por exemplo uma masculinidade tóxica ou programas de fazer conceber eh eh o reconhecimento de de minorias de diferença etc isso é tudo importante nesse nível mas a gente tem o outro nível também a gente acabou de falar né como numa sociedade em que nós somos cada vez mais individualistas e a sobrevivência depende cada vez mais do sucesso material singular como ao
mesmo tempo exigir que agora agora tem tempo para poder dedicar o meu filho e tudo mais se isso numa contradição intrínseca ao próprio eh sistema vigente que a gente tem e que isso é um sintoma disso por isso que tem esse papel do Estado na questão da regulação das bigtecs né do de criar mecanismos eficientes ali por exemplo para você ter um controle de idade né de acesso às redes sociais de acesso a determinados conteúdos né quer dizer tudo isso também eh é muito importante né né não adianta a gente colocar nesse nível individual e
não olhar para esse lado né será que agora né será que essa série traz essa urgência e será que eh a sociedade vai conseguir discutir isso de uma forma mais amadurecida então nesse nível né esse dia que ainda tá no primeiro nível que eu tava falando então a sociedade precisa discutir isso né o que eu quero dizer é assim tem um nível que eu diria reformista a gente não vai mudar não vai fazer revolução uhum a vida é mais ou menos isso que tá aí como é que a gente faz a gestão melhor já que
a vida eu tenho que trabalhar tenho que é só conto comigo mesmo tudo mas como é que eu faço a melhor gestão no nível da família no nível da escola e no nível do estado esse é um nível agora o outro quando coloca isso tudo em questão também né a gente tá num mundo que nós estamos discutindo adolescência mas não é uma pauta só para adolescente eu me lembro por exemplo a gente tava falando de coisa de audiovisual eu me lembro de um filme que eu adoro que é o Magnólia do Paul Thomas Anderson sim
né e que o person Isso concorreu ao Oscar acho que em 1999 sim nãoé e o Tom Cruise ganhou Globo de Ouro pela interpretação do personagem dele que recomendo que era um machista né um era um Red Pill um red pill exatamente é ele ensinava os outros homens adultos não tinha nada a ver com adolescente em crise nem nada como é que mostrava o E era alguém extremamente eh machucado né por uma relação com com o pai né exatamente né profundamente machucado só que isso nunca aparecia né ele tinha uma forma de se fazer reconhecer
de vencer a pauta é ficar rico a pauta é ser o que todo mundo respeita essa aí eu consigo né mas lá onde doía não tinha espaço nãoé uma um menino machucado pelo abandono do pai por um pai que ele também foi cuidado da vida abandonou família a dor mais profunda tinha lugar nenhum né e ele teve muito sucesso nas redes aí porque ele era o cara que ensinava os homens com masculinidade frágil como se impor a dominar as mulheres né você lembra você lembra qual era o o lema dele não lembro ele repetia no
como é que era mesmo respect the cock [Música] [Aplausos] respeite o pênis é para usar uma linguagem uma linguagem mais né né então mas mas você vê então é como algo que da crise da nossa maneira habitual de conceber a masculinidade definida unimicamente pela realização fálica e no capitalismo você tem uma forma bem clara de de realização fálica você tem que ter grana você tem que ter poder você tem que ter sucesso você tem que ser esfregado na cara de todo mundo os outros é uma mistura na na interface entre admiração e inveja se o
outro te acompanha é ao mesmo tempo com uma admiração mas ao mesmo tempo com inveja se você consegue produzir isso no outro você teve sucesso ainda que dentro de você seja um cara que o trauma de ter sido abandonado pelo pai de não de ter sido uma um menino que foi humilhado um menino que não ter que teve que se virar do jeito que pôde sem ninguém orientando porque a mãe tava doente quando o pai abandona é bom professor acho que a gente tem que encerrar esse programa eh mas eu agradeço demais a sua participação
aqui com a gente fica o convite para voltar aqui e falar sobre outros temas quer acrescentar alguma uma fala final é gostaria de de dizer isso né eh realmente a gente tá num momento da história da humanidade muito muito crucial né porque nós temos o desafio de viver a vida como ela é hoje não é nós não vamos esperar a revolução para mudar isso mas isso nos interpela sobre a base mesmo do que a gente tá fazendo né nós estamos vendo aosão dessas coisas na adolescência como a gente tá vendo não é por que que
1/3 das pessoas têm insônia 1/ç dormir né por que que a gente tem um um grau de consumo de drogas como a gente tem como é que a gente tem esse essa extensão né de no de depressão de ansiedade o Brasil né tem taxas de ansiedade que são mais do que o dobro é o país mais ansioso do mundo estatisticamente eh nas prevalências de estados ansiosos de depressão a gente tem quase o dobro das taxas médias do mundo então isso tem um fator social cultural importante então que tipo de sociedade é essa que apesar de
prometer muita realização muito conforto muita o que a gente na prática o que a gente vê é um aumento do mal-estar inclusive nesses níveis explosivos como é o que retratado da adolescência sério tá bom obrigada professor mário Eduardo Costa Pereira participou do programa Analisa de hoje eh aqui com a gente como direção de imagem está o João Ricardo Boi e também imagens de Bruno Piato a edição é de Cléber Casablanca eu sou a Patrícia Laurete jornalista da Secretaria Executiva de Comunicação se você gostou desse programa compartilhe eh com seus amigos com seus colegas se inscreva
no nosso canal e curta a gente nas redes sociais da Unicamp muito obrigada até mais ele ele é um bom menino jamie eu quero que escute com atenção ai gente pelo amor de Deus que que tá acontecendo vou começar te perguntando conhece uma menina chamada Kate Leonard sim diria que são amigos [Música] [Música] então Yeah