Vem no pai, radiação! Tô pronto! Salve, salve senhores!
Esse é o Gazeta Explica e o assunto de hoje é seriamente radiotivo! Na madrugada de 26 de abril de 1986, precisamente à 1 hora, 23 minutos e 45 segundos, aconteceu o maior acidente nuclear da história. A Usina de Chernobyl, na Ucrânia que na época fazia parte da União Soviética, sofreu um pico de energia durante testes de segurança do reator número 4.
Uma série de erros humanos, além de uma falha de projeto do RBMK, causou uma elevação na temperatura do reator. Projetado pra funcionar a no máximo 3. 200 MW, o reator chegou a 33.
000 MW! Dez vezes mais! Aí deu ruim, né?
A pressão dentro do núcleo do reator ficou insustentável, e a primeira explosão acabou destruindo a tampa que pesava mil toneladas! Explosão! Em questão de segundos, quando o oxigênio do ar entrou em contato com o núcleo do reator, uma segunda explosão destruiu o teto da usina.
E lançou na superfície 400 vezes mais material radiotivo do que a bomba de Hiroshima. O oxigênio se combina com o hidrogênio e o grafite superaquecido. A cadeia do desastre agora está completa.
Mas antes da gente falar sobre as terríveis consequências dessa tragédia, duas coisas: primeiro, assiste Chernobyl da HBO! A série que trata com muita fidelidade toda essa história que a gente tá contando. A segunda é explicar como funcionava a usina e porque o contexto da Guerra Fria é tão importante pra gente entender essa tragédia.
Chernobyl tinha quatro reatores que geravam eletricidade por fissão nuclear. O número 4, que explodiu, era o mais novo e tinha 12 hastes de combustível radioativo, no caso, o urânio 235. Esse elemento é naturalmente instável, e os seus átomos liberam nêutrons quando se chocam com outros núcleos de urânio 235.
O nome disso é reação em cadeia. Quando isso acontece, muita energia e calor são liberados! Esse calor é utilizado para transformar água em vapor, que por sua vez, gira uma turbina e produz eletricidade.
Pra regular a reação em cadeia, são usadas hastes de controle. Elas ficam localizadas entre as hastes de combustível e baixam e levantam pra desacelerar ou acelerar o processo. Em Chernobyl, eram 211.
Todas feitas de boro, elemento que é capaz de absorver os nêutrons. Só que na madrugada do acidente, a usina já não estava funcionando de um modo normal. Doze horas antes, eles começaram testes para ver como resfriar o reator, caso as bombas elétricas que o mantinham resfriado parassem de funcionar!
Mas será que as turbinas que estavam em desaceleração iam dar conta de gerar energia elétrica suficiente, até que os geradores a diesel estivessem em pleno funcionamento? Não! Não!
Não! O reator já estava operando com 50% da capacidade, aí veio o turno da noite e vários protocolos de segurança foram quebrados, porque o engenheiro chefe estava pressionando para terminar logo esse teste. A capacidade do reator foi drasticamente reduzida para 200 MW, cerca de 500 MW abaixo do mínimo recomendado.
Quatro minutos antes do colapso, apenas 6 hastes de controle estavam abaixadas, o que resultou em um aumento exponencial da temperatura. O sistema de desligamento automático em caso de baixo nível de água também tava bloqueado pro teste. Nessas condições, o reator estava completamente envenenado.
Estás servido? E tudo isso foi feito sem que os engenheiros soubessem que o RBMK tinha uma falha crucial de projeto. O relógio marcava 1 hora, 23 minutos e 40 segundos quando o botão AZ-5, que deveria parar todo o processo, acabou servindo como detonador.
Ao apertar o botão, as hastes de controle desceram pra brecar o processo, só que como as pontas delas eram de grafite e não totalmente de boro, por pura economia, a temperatura subiu, o restante da água evaporou e o resto você já sabe. Oficialmente, a explosão matou 31 pessoas imediatamente. Mas esse número de mortes é bem maior.
De acordo com a ONU, houve 3. 940 mortes indiretas relacionadas à doenças causadas pela radioatividade. Mas o número exato é incerto.
Alguns estudos apontam até 600 mil pessoas afetadas de alguma forma, o que inclui até mutações genéticas em crianças. O que é certo mesmo, é que o pós acidente também foi desastroso. Pripyat foi lacrada logo nas primeiras horas, e o governo soviético só começou a evacuação 36h depois.
Aliás, a União Soviética tentou minimizar ao máximo o caso, e só comunicou o ocorrido dias depois, quando cientistas da Suécia e da Finlândia já haviam detectado a radiação. Mas essa demora tem uma explicação: durante a Guerra Fria e o mundo polarizado, qualquer sinal de derrota para os soviéticos, era uma vitória para os americanos. Os primeiros a sofrerem os efeitos da radiação foram os bombeiros que foram convocados para deter o "incêndiozinho" no teto da usina.
O fogo, na verdade, só acabou totalmente após 16 dias, depois que helicópteros despejaram toneladas de areia, argila, boro e chumbo no núcleo do reator. Mas essa mistura causou um outro problema: uma espécie de lava radioativa, que exigiu a drenagem da água das piscinas abaixo do reator, sob risco de uma nova explosão. Também foi necessária a construção de um sarcófago de concreto em volta do reator, para minimizar os efeitos da radiação.
Em julho de 2019, uma nova estrutura que custou mais de 1 bilhão e meio de euros foi instalada no local. Cerca de 600 mil pessoas, entre bombeiros, voluntários e soldados participaram de um esforço coletivo de limpeza da área. Ele ficaram conhecidos como liquidadores e trabalharam diretamente expostos à radiação.
Atualmente, o raio de exclusão é de 30km a partir de Chernobyl. Pripyat que abrigava 50 mil pessoas na época, a maioria empregados da usina, parou no tempo e virou uma cidade fantasma. Dá pra visitar Pripyat e Chernobyl, mas tem que ser assim, óh!
Desse jeito! E por sua conta em risco! No fim das contas, o desastre de Chernobyl rendeu apenas 10 anos de prisão pro diretor da usina e o engenheiro chefe.
Mas marcou também o início do fim da União Soviética, que se dissolveu cinco anos depois, em 1991, como confidenciou Mikhail Gorbatchev. [hino nacional da URSS] Esse foi o Gazeta Explica sobre Chernobyl! Curte a gente nas nossas redes sociais, assine a Gazeta do Povo e até a próxima!
Tchau!