O respeito à autonomia e à dignidade do estudante não é um favor que podemos ou não conceder uns aos outros, mas um imperativo ético da prática docente. O professor que desrespeita a curiosidade dos estudantes, que menospreza os gostos e as preferências estéticas dos alunos, que despreza as linguagens que os estudantes desenvolvem para se expressar. Sabe aquele professor que quer impor um gosto aos alunos?
Que diz que as manifestações culturais que os alunos gostam é "lixo"? Que não entendem o que o rock, o rap, o funk, o heavy metal ou o punk significam para os alunos, e por não entender, menospreza, diz que não é música e impõe que música boa é aquela que ele gosta, é aquela que diz coisas que se relacionam ao seu universo? Sabe aquele professor que ironiza o aluno, que minimiza as suas necessidades, que manda ele calar a boca quando ele manifesta uma opinião diferente, ou quando aponta uma injustiça do professor.
E por outro lado, sabe também quando o professor deixa de estabelecer aquelas regras necessárias que impõem limites para que os alunos assumam a sua responsabilidade e mantenham uma relação respeitosa com os professores e com os colegas? Tanto o professor autoritário que sufoca a liberdade e nega o direito à curiosidade, quanto aquele professor que deixa os alunos fazerem tudo e não liga para nada, ambos transgridem os princípios fundamentais da ética. E é nesse sentido também que aquele diálogo verdadeiro, em que professores e alunos aprendem e crescem na diferença, e justamente por isso respeitam a diferença, esse é o método mais coerente com aquela noção de que somos sujeitos inacabados, condicionados, que nos humanizamos quando assumimos a nossa condição de sujeitos éticos.
É preciso ficar claro que a transgressão da ética jamais pode ser vista como uma virtude. Machistas, racistas ou aqueles que têm preconceito de classe devem se assumir como transgressores da natureza humana. E Paulo Freire chega a alertar para as distorções ideológicas que muitos fazem da genética, da religião, da história ou da filosofia na tentativa de formular uma justificativa para a sua suposta superioridade e assim, confirmar os seus próprios preconceitos.
Qualquer um desses tipos de discriminação é imoral e lutar contra isso é um dever por mais que se reconheça a força dos condicionamentos a se enfrentar. Por isso o respeito à identidade, à cultura e à curiosidade dos estudantes, cuja inteligência deve ser respeitada, é uma prática coerente e indispensável a uma pedagogia da autonomia. No próximo vídeo eu vou explicar porque ensinar exige bom senso.
E agora eu tenho algumas questões. Algum professor já ridicularizou os seus gostos literários ou musicais em sala de aula? E por outro lado, algum professor, respeitando a sua autonomia, já encorajou a sua reflexão sobre os seus próprios gostos?
E você, professor ou professora? Você costuma estigmatizar a cultura que seus alunos vivenciam, dizendo que o que eles gostam não vale nada, é lixo? Ou por outro lado, você traz as experiências que eles já vivenciam para ajudar a pensar questões em sala de aula?
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