o Ciência suja tem o selo da Rádio guarda-chuva jornalismo para quem gosta de ouvir Oi se você ainda não ouviu os outros quatro episódios da nossa temporada a gente sugere parar aqui e voltar para eles as coisas vão fazer mais sentido se você seguir nessa ordem ah e o cen suja tem um programa de financiamento coletivo que é importante para continuidade nosso projeto são diferentes planos com benefícios exclusivos a partir de r$ 1 mensais para saber mais acesse o nosso site o cencias suja.com PBR e Clique na aba apoie o podcast legal eh na na
sua apresentação lá no no enquanto se peleira você apresentou uma foto ali o nosso editor que você ouviu Aí o Felipe Barbosa matou todo mundo do ciência suja de inveja e em outubro foi por encontro anual do Instituto serrapilheira que esse ano aconteceu na praia de pipa no Rio Grande do Norte era cada foto que ele mandava no grupo de WhatsApp que eu vou te falar viu mas tirando os golfinhos o mar paradisia com a pousada Pé na Areia a brisa fresca o cuscus com queijo coalho o suco de caju o happ hour estendido e
teve as palestras também né claro é tirando muita coisa Outro ponto bacana desses encontros é que eles juntam pesquisadores e comunicadores de diferentes contextos para baterem papo e apresentarem seus trabalhos é uma troca de ideias entre um monte de gente Envolvida com ciência que tem o apoio do serrapilheira que nem a gente e e ela remete um pouco a isso que você acabou te falar queria que você descrevesse a foto O que que tem na foto ali num dos dias em Pipa o Felipe viu a apresentação do trabalho do Vittor Júnior Lima Félix um pesquisador
indígena paraibano do Povo Potiguara que tem mestrado e doutorado em ciência do solo pela Universidade Federal da Paraíba a UFPB e foi aí que ele viu a tal foto a foto eu coloquei justamente porque segu significa muito de minha identidade e de minha pesquisa né Esse aí é o Vitor e a fotografia da apresentação dele é da época que ele estava fazendo o trabalho de conclusão de curso em agroecologia isso lá em 2013 naquele momento estava membro da comunidade um deles era meu avô a foto foi tirada em um ambiente de Mata do território Potiguara
que hoje está restrito ao litoral norte da Paraíba o vctor nasceu na cidade de Bahia da traição que faz parte dessas terras e que tem esse nome por motivos bem colonialistas diz a história que logo que os portugueses chegaram no litoral paraibano ainda no século X o povo Potiguara se defendeu e acabou matando alguns europeus Além disso anos depois o povo Potiguara se aliou aos espanhóis contra os portugueses em uma guerra longa ali na região então Bahia da traição viria dessas supostas traições dos indígenas que na real só estavam tentando preservar o o próprio território
né Isso ficou né Eu particularmente não gosto para para mim a gente mudaria Bahia dos Potiguara essa Bahia é Nossa então seria o nome mais adequado Mas voltando à foto da apresentação do Vitor no Encontro do serrapilheira ela foi tirada em um ambiente de Mata como a Carol falou no primeiro plano tem dois senhores da comunidade indígena Potiguara que nem o Vitor Um tá de shorts e Polo listrada e o outro o vô do Vitor tá sem camisa e com uma calça jeans aí ainda tem uma criança da comunidade no meio do pessoal e no
segundo plano um Vitor uns bons anos mais novo de calça e camiseta o Vitor parece que tá com um olho e um caderninho na mão dele e o outro num buraco na terra bem grande que mostra diferentes camadas do solo ou um perfil do solo como se fala de frente é um perfil de solo onde estava meu orientador né e pedólogo e eu estava justamente anotando pedólogo é é a pessoa que estuda o solo em seu ambiente natural e a pedologia é um ramo da geografia que trabalha com mapas de solo são os mapas mesmo
que delimitam qualidades do solo em determinadas regiões isso é um negócio importante pra agricultura e para mais um monte de outras coisas bom na foto o orientador do Vitor o pedólogo tava dentro desse buraco no chão encurvado com a cara bem perto de uma das camadas do solo é Era exatamente esse momento onde a magia tava acontecendo né onde a gente estava descrevendo Tecnicamente e os conhecedores ali conversando e falando contando experiências e e e detalhes né do que eles sabiam daquele daquele tipo de solo ali e tal os conhecedores que o Vittor falou aí
são os indígenas tá E a foto é genial porque ela registra de um lado os membros da comunidade Potiguara que conhecem aquele solo Ali há séculos e do outro um representante da ciência convencional o no meio deles tá o vor eu tô fazendo esse essa ligação né entre o pedólogo o técnico ali e o membro da comunidade que também sou para mim é uma imagem bem significativa foi a primeira pesquisa que eu fiz né em etnopedologia e aquela imagem aqui é símbolo de como tudo começou para mim não sei se você reparou Mas o Vitor
não falou em pedologia e sim em etnopedologia a etnopedologia un estudos convencionais do solo com a participação direta das Comunidades locais é um negócio novo e que ainda tá sendo construído mas o fato é que mesclando técnicas da pedologia com conhecimento de 25 aldeias do território Potiguara o Vitor conseguiu criar mapas do solo precisos esse mapa convencional foi em grande parte e viabilizado com pouco recurso e com alta eficiência por conta do conhecimento etn pedológico daqui do Povo Potiguara que apontava assim facilmente onde estavam distribuídos os solos algumas características deles Esse é um exemplo de
como aliança entre conhecimentos tradicionais e a ciência convencional pode trazer benefícios pra sociedade o vctor chegou a firmar uma parceria com a Embrapa a empresa brasileira de pesquisa agropecuária justamente porque isso tem o potencial de melhorar o plantil na região neste Episódio a gente vai trazer outros casos de uniões bem-sucedidas mas a gente também vai discutir se essa aliança tem limites E no fim O que é Ciência Então é isso para fechar a nossa Temporada Especial sobre colonialismo e racismo a gente resolveu entrar no vespero do que é e do que não é Ciência da
diferença entre ciência e conhecimento e também de como a pseudociência pode usar essas discussões para se infiltrar na academia e na sociedade Isso parece uma discussão lateral mas na verdade ela é Central para definir os rumos do fazer científico eu sou o t preste eu sou a Carol Marcelino e esse é o Ciência suja o podcast que mostra que em crimes contra a ciência as vítimas Somos Todos [Música] nós acho que principalmente depois da pandemia de covid a palavra ciência caiu na boca do povo Mas você já parou para pensar em como você definiria ciência
bom eu sou membro da rede consciência que é a Rede Brasileira de jornalistas e comunicadores de ciência essa organização reúne pesquisadores interessados em divulgação Científica jornalistas rps e outras pessoas da área e ela tem um grupo de WhatsApp bem ativo o pessoal fala de tudo ali de física quântica abbb aí eu soltei uma mensagem nesse grupo pedindo para esse pessoal que discute ciência todo dia definir em menos de 25 segundos o que eles acham que é ciência ou a essência da ciência e olha só o que apareceu ciência é a melhor maneira que a humanidade
encontrou para conhecer e fazer previsões sobre o mundo em que vivemos é por causa da ciência que nós temos de internet terapia gênica de pista sobre os caminhos que percorreram nossos ancestrais até o que nos espera nos confins do universo ciência para mim é tudo que a gente prende de uma forma mais aprofundada sobre um assunto eh sobre uma temática de uma forma sistematizada e que a gente consiga encontrar soluções que beneficiem as pessoas e a sociedade de uma forma geral então aí o Gabriel Alves que é jornalista matemático e consultor do Hospital Israelita Albert
Einstein e a Fernanda Sartor Mestrando em comunicação com definições que introduzem o assunto e caminham por um lado aspiracional já a Isis Rosa Noble Dinis que é coordenadora de comunicação do Instituto de energia e meio ambiente puxou para um lado mais objetivo e bem interessante que toca na na reprodutibilidade ciência é uma maneira de tentar explicar o mundo e seus fenômenos de forma que o resultado se repetir dessa explicação dê no mínimo semelhante E aí tem a Meg Rodriguez que é jornalista freelancer de ciência e meio ambiente inclusive produziu aquele Episódio nosso sobre negacionismo climático
ela colocou o termo construção social no meio da definição dela e a gente vai falar disso depois ouve aí ciência para mim é uma forma eficaz e interessante de conhecer a realidade e resolver problemas e funciona porque tem um método sólido e um monte de gente para garantir que esse método seja seguido né e é uma construção social que funciona justamente porque não depende da vontade da iluminação de um fulaninho ou de outro e é um sistema que vai se ajustando conforme ele avança então bem legal né tem outras definições ótimas que o pessoal da
Rede consciência mandou mas a gente vai deixar essas para depois do dos créditos no fim do episódio Aliás se você trabalha com comunicação dentro da área da ciência considere virar um membro da rede consciência no www.redecon.org dá para ver todos os benefícios mas o principal é est em contato direto com esse povo super disposto a ajudar valeu viu gente além da turma da rede consciência a gente também leu uns clássicos para ver como os autores enxergam a ciência uma das definições mais poéticas é do Call Sean no livro O Mundo Assombrado pelos demônios ouve aí
no coração da ciência existe um equilíbrio essencial entre duas atitudes aparentemente contraditórias uma abertura para novas ideias por mais bizarras ou contrárias à intuição e o exame cético mais Implacável de todas as ideias antigas e novas o empreendimento coletivo do pensamento criativo e do pensamento cético atuando em conjunto mantém a ciência em andamento no entanto a certa tensão nessas duas atitudes aparentemente contraditórias interessante né Segundo seagan a ciência tá disposta a se embrenhar em quase qualquer pergunta mas por outro lado ela é extremamente crítica antes de aceitar qualquer resposta como minimamente válida mas para se
aprofundar na definição de ciência e para colocar isso no chão também a gente entrou em contato com o Walter e o Ricardo terra o Walter é bioquímico e o Ricardo é filósofo os dois são da USP e lançaram um livro chamado filosofia da ciência fundamentos históricos metod lógicos cognitivos e institucionais e sim eles são irmãos legal gente muito bom aliás primeiro uma uma questão de ordem de curiosidade como pessoa que tem cinco irmãs aqui como é que foi para vocês construir esse projeto junto brigar nunca brigar mas discordamos faz décadas que a gente discorda então
esse livro aí começou meio um gozando um outro que era muito eh pensamentos muito fechados ele me chamava de positivista e eu chamava ele de Idealista e assim foi esse aí é o Walter o bioquímico e quando ele faz essa brincadeira de positivista versus Idealista com o irmão ele tá na verdade tocando num ponto que dói até hoje nesse papo do que é Ciência a gente não vai se alongar sobre os detalhes desse debate mas o positivismo na ciência pode ser enxergado como uma visão em que ela seria a única forma de conhecimento verdadeiro ou
pelo menos o único jeito de testar uma teoria levado ao extremo o positivismo cientí desconsidera qualquer saber tradicional por si tudo precisaria passar pela ciência convencional para ser considerado é um negócio que na academia já caiu por terra tem muitos outros sistemas que podem produzir conhecimento embora não seja o mesmo tipo de conhecimento que o científico só que o debate pega fogo na mesa de bar e também em esferas públicas porque esse positivismo raiz bate de frente com os idealistas que é como Walter Terra tirava sarro do Ricardo o irmão Filó de novo ficando no
Raso a versão mais radical de idealismo diz que tudo que a gente vê ou sente só é resultado das nossas ideias Então essa história de tentar encontrar uma única realidade uma verdade que explique as coisas é besteira porque a realidade estaria só na cabeça de cada um desde Manuel Kant lá em 1700 guaraná com rolha o idealismo não é purista assim tem toda uma linha de mesclar o mundo das ideias com o mundo dos Sentidos mas o ponto é que diferentes versões desse IDE mais puro são usados até hoje de subterfúgio toda vez que evidências
científicas mostram que uma terapia alternativa x não tem evidência de eficácia por exemplo quer ver Pega aquele seu amigo mais graat luz e nada conta de verdade a gente tem vários amigos assim tá gente e esperimenta falar para ele que o heik foi testado pelo método científico e não trouxe resultados positivos para além do Placebo Aliás o rake foi criado em 1922 então a ideia de ser medicina tradicional é um pouco esquisita A não ser que você ache que a Aspirina que é de 1894 seja a medicina tradicional Ah mas são coisas que a ciência
não explica porque energia do reik não é palpável por essa ciência positivista etc etc etc Ok você pode dizer mesmo que algo não é palpável pela ciência normal que não daria para pegar a energia do reik embora energia seja um termo físico mensurável sim acontece que o desfecho desse método o que ele gera de resultado na saúde no bem-estar muitas vezes dá para medir com relativa facilidade para seguir no mesmo exemplo você basicamente aplica o rake um monte de gente aplica também em outras pessoas um método Placebo com instrutor não treinado sei lá e fica
de olho no que acontece isso já foi feito para depressão ansiedade dor recuperação de um AVC e as evidências são sempre insuficientes ou enviesadas por falhas metodológicas então não daria para dizer pela ciência que o rake é um tratamento efetivo para qualquer cição a gente vai tocar nisso por um outro ano ângulo depois mas em resumo a ciência não é a única forma de conhecimento válida só que ela é uma ótima maneira de tentar oferecer respostas objetivas entre aspas para algumas perguntas por mais incômodas que sejam essas respostas por mais que elas balancem nossas crenças
no caso de tratamentos como rake ou do jeito mais seguro de fazer um avião voar ter essa resposta objetiva pode ser muito importante então assim dá para entender porque o Ricardo e o Walter terra monopol avisaram os bons almoços de domingo em famílias com esses papos sobre o que é ciência mas no fim eles conseguiram traçar um caminho do Meio entre o positivismo puro e o idealismo radical que tá escrito naquele livro deles só que como são mais de 350 páginas de texto A gente pediu para eles fazerem um resumo o jeito mais prático de
de definir ciência que nós encontramos é a ciência é uma representação da realidade obtida com vários recursos que é o que que a gente chama de método científico representação da realidade seria o que você consegue pegar ou transformar em dados de alguma forma mas o que é o método científico e passa por esse processo de fazer conjeturas fazer validações e serem consolidadas pela comunidade então é um processo bem rígido do que é o Ciência é isso para eles ciência é um método que tenta captar pedaços da realidade A partir de hipóteses que são seguidas por
elentos rígidos e uma avaliação criteriosa da comunidade científica é uma visão interessante a gente não tá 100% alinhado com ela e logo mais você vai entender o porquê mas né é normal ter discordâncias porque existem vários ângulos de olhar pro assunto só que o Ricardo o filósofo fez uma digressão que acabou puxando a gente para um outro caminho eu não sei se você vai perguntar isso se eu tô adiantando Eu vou tô te atrapalhando ou não mas daí a a visão de conhecimento não é igual a ciência então para nós isso é fundamental nesse ponto
o time aqui concorda integralmente com os Terra ciência não é sinônimo de conhecimento e a gente acha isso porque tem pelo menos dois problemas ao adotar essa concepção O primeiro é que se todo saber é uma ciência essa palavrinha vira só isso uma palavrinha um sinônimo E na verdade a produção de conhecimento da ciência moderna tem características próprias esse conhecimento não é melhor nem pior por essência mas ele é diferente e pode ser melhor ou pior ou bem ou mal aplicado dependendo do contexto eu não sou capaz de dizer se os smartphones melhoraram a vida
das pessoas por exemplo provavelmente eles melhoraram em alguns pontos e pioraram em outros mas eu sei que os celulares e os podcasts só existem por causa da ciência Então essa linha de todo o conhecimento é Ciência pode deixar o debate simplista o segundo problema é que se tudo é Ciência qualquer malandro pode pegar esse termo bonito e usar de linho de qualidade para vender uma picaretagem ou para emplacar uma picaretagem no setor público para pegar exemplos disso é só rolar o nosso Fed e ouvir as temporadas anteriores dito isso o Luís Augusto Campos o nosso
consultor para essa temporada falou que essa coisa de chamar todo o conhecimento de ciência pode ser um jeito legítimo de ativismo escuta aí um trecho da nossa última reunião com ele eu sou é um indígena eu sei que no meu grupo indígena de origem tem conhecimentos que a ciência Tá negando o que que eu faço eu digo assim olha os conhecimentos do meu grupo de origem são científicos Isso é uma reivindicação na verdade então acho que tem um jogo de palavras aí que é totalmente legítimo mas Ele estende ele esgarça o significado do que é
e do que não é Ciência né O que o luí tá falando é que algumas pessoas e populações marginalizadas chamam os próprios conhecimentos de ciência quase como uma forma de sobrevivência da própria cultura meu conhecimento é tão importante quanto o seu e eu não quero que ele seja rejeitado logo é ciência mas o risco de seguir com essa definição é de novo esvaziar o conceito de ciência não sei se vocês lembram da putia saena a geneticista indígena do Povo Baré que participou dos dois primeiros episódios da temporada a ciência ela é colonizador para ela ela
não existe outras ciências ela invisibiliza e silencia outras ciências e aí a gente pensa muito nisso né Será que vale a pena agora a gente lutar pela Nosa essas ciências ou a gente vai deixar sendo engolido por essas pessoas né esse sistema de pessoas é inclusive por frases como essa da Potira que a gente gosta tanto do conceito que o luí trouxe pra gente de ciência como instituição social a definição de ciência que a gente usa aqui tem Pilares claro como a demonstrabilidade e a revisão por pares que o Luís Augusto falou lá no primeiro
episódio então segundo Essa visão uma teoria científica precisa passar por demonstrações estruturadas experimentos por exemplo que indiquem que ela para de pé e que não é só uma impressão de um grupo de pessoas e essas demonstrações são avaliadas e replicadas por outros cientistas para ver se essas evidências sustentam mesmo a teoria apresentada então com parâmetros como esses a gente não corre o risco de falar que todo conhecimento é ciência mas ainda assim a ciência é uma construção social o empreendimento coletivo que tá sujeito aos Ventos de cada época e é aqui que talvez a gente
saia um pouco daquela linha dos terra de pensar n ciência como um método rígido de investigação porque pelo menos pra gente essa linha deles dá uma impressão de que o racismo científico e outros temas abordados nessa temporada Nossa são coisas externas da ciência são erros que algumas pessoas cometeram de sacanagem e tem casos assim mesmo existe fraude na ciência assim como em tudo na vida só que o ponto é que muitos dos problemas que a gente viu nesses episódios correm por dentro da ciência o racismo científico o viés dos algoritmos o roubo de fósseis a
dificuldade do pessoal do Sul Global em publicar artigos isso não é gente fazendo ciência errada isso é resultado de como se fez Ciência por muito tempo Resumindo a ciência não é um instrumento colonialista em Essência mas ela pode ser instrumentalizada para esse fim sim porque ela é uma construção social e nasceu num contexto colonialista então é algo assim muito muito difícil ainda de dialogar ciências a partir ainda desse contexto de racismo e esse racismo todo na verdade ele é acaba também prejudicando o processo de pesquisa e era aqui que a gente queria chegar com esse
papo todo do que é e do que não é ciência porque os nossos mais velhos e mais velhas eles não querem mais repassar alguns conhecimentos eles não eles não são valorizados por esses lugares e vai sair o nome de quem dessas pessoas nome de quem vai sair nos livros nome de quem vai sair nos artigos do nossos doutores e doutores do território não para ciência convencional não perder o seu potencial incrível aliás para ela ficar até mais potente é preciso que os agentes por trás dela respeitem Quem produz outros saberes tem que pensar em receber
mas em dar também e tem que ouvir de verdade às vezes mudar a forma que seria feita a pesquisa às vezes não sempre então depois do intervalo a gente Traz uns exemplos de alianças bem sucedidas entre a ciência e outros conhecimentos com bons resultados pros dois lados e Claro a gente vai trazer uns pepinos [Música] [Música] também a gente já falou mas só para lembrar que o Ciência suja tem um apoio do Instituto serrapilheira que fomenta a ciência e a divulgação Científica no Brasil no www.serpa.ind.br redes sociais deles você conhece os projetos que eles tocam
é bem legal e você que gosta do ciência suja Que tal espalhar a palavra do Podcast nas redes e avaliar a gente no seu tocador de Podcast essa publicidade orgânica ajuda demais a gente a chegar em mais pessoas e é isso que em última instância garante o nosso futuro aproveitando Natal tá aí e você poderia assinar um dos planos do nosso financiamento coletivo na aurelo né presentinho aqui pra gente vai entre os nossos apoiadores fica dessa vez um agradecimento espal para Patrícia Maria Deolindo crivelaro Marcelo Napolitano e Rômulo Neves o cência suja também faz parte
da Rádio guarda-chuva um coletivo de podcasts jornalísticos e hoje a gente queria reforçar o convite para ouvir o excelente pauta pública que é um podcast da agência pública em todo episódio eles trazem entrevistas com jornalistas que falam sobre grandes reportagens que ajudam a explicar o nosso Brasil e vamos combinar que isso não é coisa para amador né Então vale mesmo ouvir e agora de de volta para nosso [Música] Episódio a comunidade wampi fica em uma região Amazônica do estado do Amapá seus membros falam Tupi Guarani e estão espalhados em uma terra indígena de 600.000 hectares
e a população dos zi na verdade devia ter naquela época em torno de 1000 pessoas aquela época era 2005 2006 que foi quando a Joana que você ouviu Aí começou a fazer um levantamento sobre o cultivo de mandioca pelos wampi bom meu nome é Joana Cabral de Oliveira eu sou hoje professora do departamento de Antropologia da Universidade Estadual de Campinas né Unicamp A Joana é filha de biólogos isso fez crescer o interesse nessa intersecção entre a biodiversidade e os conhecimentos tradicionais Aí lá foi ela há quase 20 anos atrás ver a variedade de mandiocas dentro
da comunidade ampi segundo a Joana aqueles mais ou menos 1000 indígenas se dividiam em umas 50 Aldeias são várias aldeias muito pequenininhas né E eles tinham mais de 100 variedades de mandioca a gente tá falando de uma de um campo de variedades muito grande né então assim uma diversidade o que a gente chama de agrobiodiversidade gigantesca uma pausa aqui a mandioca é um cultivo de subsistência importante principalmente em países tropicais porque ela se adapta a solos pobres a chuvas inconstantes e a outras variáveis climáticas e ela também é muito rica em nutrientes mas a agronomia
n cência agrônoma e tem artigos sobre isso Dizem que a que a mandioca é uma planta que perdeu eh a sua capacidade de reprodução sexuada ou seja reprodução por semente na verdade não é que perdeu mas é que a floração seria incipiente ou bem complicada então o plantil da Mandioca geralmente é feito por Estacas Ou seja você corta um pedaço de uma planta de mandioca a estaca e põe no solo e aí você vai fazendo isso várias vezes isso significa que você tá criando Clones de mandioca porque uma planta dá origem a várias outras iguais
e o problema dessa falta de diversidade é que se uma praga se instala ali ela arrasa a plantação toda pega o caso do mosaico africano uma doença que pode afetar o plantil de mandioca um informe antigo da Embrapa de 2002 afirma que o primeiro registro de uma forma devastadora de mosaico em mandioca ocorreu em Uganda em 1989 foi disseminado no Quênia em 95 no sul do Sudão em 97 e na República democrática do Congo e na Tanzânia em 98 de 92 a 97 estima-se que o mosaico africano causou 60 Milhões de Dólares de prejuízo por
ano só em Uganda no Kênia foram mais 10 milhões por ano uma alternativa da ciência é tentar selecionar mandiocas mais resistentes O que é difícil se todo estaque é um clone outra é fazer mudanças genéticas em laboratório que tornem essas plantas imunes às pragas só que o mercado de plantas e sementes transgênicas é problemático para quem não é latifundiário por um monte de razões que a gente não vai entrar aqui mas o fato é que para plantações de subsistência ou de pequeno porte lidar com essa falta de diversidade da Mandioca é Um Desafio aí a
gente volta para aquela biodiversidade absurda de mandiocas que a Joana viu entre as plantações ampi também registrei isso né que Esses povos indígenas eles reconhecem eh plantas de mandioca que são nascidas de semente os o falam Olha tem tem as mandiocas de flor Opa então daria para gerar mandiocas por sementes por reprodução sexuada o que aumenta a diversidade e O que explicaria o tanto de mandioca diferente que tinha ali entre os wampi aí a Joana foi conversando com o pessoal da comunidade sobre as mandiocas de flor e ela viu que essas mandiocas apareciam por causa
do sistema de plantil que os indígenas dali usavam chamado coivara você derruba um pedaço de Floresta queima planta colhe abandona a floresta volta aí depois de uns anos os wampi voltam para essa terra derrubam de novo as árvores e fazem outro plantil é um modelo não necessariamente muito produtivo mas ele é sustentável porque dentro de um perímetro você não fica abrindo terras novas você intercala entre as mesmas e era nessa volta pro lugar onde tinha sido plantada a mandioca pela primeira vez que rolava um negócio interessante e os me contavam isso quando a gente derruba
eh áreas que já tinham sido roça antigamente quando a gente queima e e vem as primeiras chuvas brotam mandioca de semente o lance é que as sementes da Mandioca do primeiro plantil são levadas por formigas para baixo da terra aí ficam dormentes por um bom tempo até que o estress do fogo da queimada pro segundo plantil estimula elas a brotar aí os Wan selecionam as plantas que acham mais bonitas que tem cores ou formatos bacanas e saem clonando elas Pelo modelo de tacas foi isso que gerou aquela diversidade gigantesca que a Joana falou esse fenômeno
já foi descrito por outros pesquisadores em outras comunidades e a jora tá começando a espalhar esse conhecimento É eu tô começando uma pesquisa nova numa outra região que é no médio no médio Jequitinhonha e eu tô trabalhando com um senhor que é um agricultor maravilhoso de origem indígena eh seu Arnaldo em que eu contei a história para ele ele planta uma das coisas que ele planta é mandioca uma das coisas que a Joana falou pro seu Arnaldo foi justamente sobre essas mandiocas que nascem de semente o seu Arnaldo nunca tinha visto aquilo mas ele ficou
intrigado pegou uma dessas sementes e começou a testar ele falou eu resolvi botar cinza porque a senhora me falou que era quando que queimava que dava então resolvi agora tentar plantar semente com cinza e deu certo e ele tá com dois pezinhos assim ó de mandioca e vindos de semente e ele me manda semanalmente vídeos do do desenvolv mento dessas plantas e ele tá E ele tá super assim ficou extasiado e falando pros outros agricultores vocês não sab mandioca ncio de semente então assim é um modelo que vai revolucionar a agricultura convencional provavelmente não o
cultivo por Sementes da Mandioca ainda parece meio complicado de ser aplicado em larguísimo wampi abre as portas para um tipo de plantação de subsistência com menos risco de sofrer com pragas no documentário Margaret Mia Flor da lua de 2012 que fala da relação da ilustradora botânica inglesa Margaret me com a região amazônica essa prática do coivara né esse tipo de plantil é descrita num tom meio de superioridade tanto numa passagem dos Diários da ilustradora quanto na fala de um dos amigos dela e o problema aqui como eu disse é esse você perde centenas de anos
de Floresta para tirar duas roças de mandioca a impressão que dá é que os dois ali não sabem direito o que tá acontecendo do jeito que é descrito Parece que eles estão falando de uma prática predatória rudimentar primitiva mesmo aquilo aparece como uma consequência da pobreza do solo e da precariedade da região Essa é só uma historinha para ilustrar como uma prática tradicional que tem seus méritos é muitas vezes vista como inferior por gente que simplesmente não conhece os povos dali e na verdade nem sabe do que tá falando esse caso da Mandioca é um
exemplo singelo que a gente pegou meio pela beleza da coisa né Por ser diferente mas ele não é o único a Joana mesmo participou de um estudo publicado em 2016 que pretendia testar dentro das terras Wan uns modelos de monitoramento de leich maniose que é uma doença transmitida pelo mosquito palha a Joana a princípio estava lá mais para ser uma espécie de tradutora uma ponte entre os pesquisadores das ciências naturais e os indígenas e foi muito legal porque a minha inserção no grupo começou a problematizar uma série de coisas a principal ização é que os
pesquisadores Originalmente estavam pensando em colocar armadilhas pros mosquitos palha Em um formato padronizado mas os Wan sabiam identificar esses bichos bem pequenininhos e diferenciar as subespécies no olho isso inclusive surpreendeu os cientistas e eles também sabiam onde os mosquitos palha costumavam se acumular por ali eles falavam Olha aonde a gente é mais picado por esse por esse né por esses por esse Inseto é quando a época que o que a árvore de pequita em flor e a gente vai ficar lá fazendo espera para caçar né então a coleta dos insetos foi desenhada a partir do
conhecimento aanp no fim o estudo concluiu que essa abordagem mais integrada pode facilitar a captura dos mosquitos P infectados e aumentar a aceitação dos indígenas em realizarem Os tratamentos necessários de quebra a pesquisa ajudou a entender porque que as taxas de infecção por leix maniose estavam mais altas do que o esperado naquela região e também tem a as contribuições óbvias de conhecimentos tradicionais na farmacologia né O que tem de medicamento que veio de planta não tá no gibi para ficar num exemplo importante mas menos conhecido um anestésico muito usado até hoje veio do curari que
é uma mistura de extratos de plantas que indígenas aqui da América do Sul usam para envenenar as suas Flechas na hora de caçar e justamente porque ele paralisa o animal né então é uma ele ele tem uma ação sobre o o coração desses animais então assim esse anestésico feito a partir do curari se chama tubocurarina e é indicado em tudo que é procedimento parte das intubações que salvaram vidas de muitas pessoas com covid por exemplo foram feitas usando esse remédio e claro que a ciência também tem muitos méritos nessa história o fato de isolar uma
molécula vinda de vegetais de manipular essa molécula para gerar um efeito anestésico sem reações letais de inclusive aprender a fazer essa molécula sem precisar do extrato é um negócio incrível e que o método científico faz muito bem o problema é que nessa aliança às vezes a ciência se esquece das origens de alguns dos avanços que ela ajudou a proporcionar então e existe todo um apagamento que é uma questão política né de como esses conhecimentos foram roubados né porque você não tem o reconhecimento Eh aí você tem as grandes empresas patenteando né eles viram mercadoria a
frase da Joana é forte e claro que não foram todos os conhecimentos tradicionais usos na ciência que foram roubados também é importante dizer que muita coisa problemática nessa linha foi feita algum tempo atrás dito isso essa é mesmo uma questão que pega pros indígenas no documentário nenhum saber para trás do pessoal da Alma preta o Daniel mundurucu fala disso O Daniel é uma liderança do povo mundurucu é um ativista um escritor premiado enfim ele é um monte de coisa então ouve ele aí no documentário é uma sociedade que sempre pirateou mas deixando aqueles que são
os detentores desses saberes de fora é uma lógica não é que a sociedade ocidental vai produzindo e que fere frontalmente os outros saberes isso só tem gerado Exatamente esse país que nós estamos hoje hoje a gente tem legislações para proteger comunidades tradicionais de pesquisas antiéticas e para garantir que se sair um remédio ou uma outra tecnologia que gere lucro a partir de con delas essas comunidades ganham alguma grana esse papo leva PR a importância de pensar nas devolutivas que a ciência deve trazer para as comunidades a Joana por exemplo serviu muito de interlocutora e também
deu aulas pros wampi e para agentes de saúde indígenas entre outras coisas quem também falou disso com a gente foi o Isaac João da etnia caioá do Mato Grosso do Sul o Isaac é pedagogo e batalhou bastante para ter um mestrado em história pela Universidade Federal da Grande Dourados e no meio do papo a gente perguntou se a ciência poderia beneficiar os kaioa de alguma forma essas ideias que que vem de foras às vezes é muito ajuda nós por exemplos a gente já tivemos um projeto de produção de Quintal nesse projeto aí os caioa foram
apoiados para produzirem mandioca batata cará e outras coisas ali no solo deles o que ajuda a alimentar a comunidade segundo Isaac a ciência e o poder público em geral também podem ajudar indígenas a retomar a vida em territórios demarcados e recuperados recentemente porque o que acontece é que muitas vezes o governo até expulsa os grileiros e tudo mais mas o problema é que essa terra foi degradada por anos por atividades Ilegais então aí agrônomos biólogos e outros profissionais poderiam junto com os indígenas trabalhar para recuperar o ecossistema e a produtividade da terra a ciência se
a gente for fazer um trabalho sério eles contribuem muito n Mas se a gente for fazer um trabalho de qualquer jeito também vai prejudica muitos pro Isaac e para mais pessoas que a gente entrevistou compartilhar o conhecimento obtido e registrar de maneira justa os saberes desse povo é peça chave nessa aliança ele não pode ficar no papel a universidade eles T que ir PR Aldeia fazer seus trabalhos tem que dar o retorno pra comunidade eles têm que trabalhar junto com a comunidade e eles têm que ensinar Ah até que ponto pode contribuir e até que
ponto esses conhecimento tradicional eh possa se fortalecer juntos o Isaac como parte do mestrado dele trouxe um olhar histórico e antropológico sobre um ritual dos Caiuá durante a colheita do Milho branco e nessa ele conseguiu esclarecer uns enganos que os pesquisadores de fora da comunidade tinham sobre esse ritual então ele reparou uma história da comunidade e ainda tá ajudando a colocar no papel essa parte importante da Cultura caioá a gente Vivi num tempo em que a ciência é usada como selinho que muito conhecimento quer ganhar e por outro lado um alvo de campanhas difamatórias o
negacionismo tá aí o movimento antivacina tá aí a gente mesmo aqui no podcast anda no uma linha tênue ao apontar a parte suja da ciência e aí com tudo isso fica uma pergunta por que confer na ciência por confer na ciência aliás é literalmente o título de um livro da historiadora Naomi oreskes mas ele não foi traduzido por português se você é ouvinte do ciência suja deve lembrar da Naomi porque ela escreveu o livro Mercadores da dúvida sobre a indústria do cigarro e a sua influência na ciência que a gente aborda na primeira temporada enfim
essa obra dela traz diversos casos onde a ciência Deu errado como a Eugenia e outras ideias meio tortas tem até uma polêmica com o uso diário de fio dental mas essa a gente deixa para você ler no livro mas no fim a Naomi responde que mesmo com tudo isso dá para confiar na ciência desde que ela esteja funcionando da melhor maneira possível e para funcionar da melhor maneira possível segundo an Naomi a ciência precisa de diversidade ouve só esse trecho do livro contanto que a comunidade seja diversa e pontos de vista nativos estejam disponíveis e
contanto que todos os membros sejam ouvidos é provável que as coisas corram bem para Naomi para mais um monte de gente a diversidade não é só algo Politicamente correto que pega bem na foto ela é um mecanismo de correção de vieses Ok faz parte do método científico tentar controlar vieses mas eu acho que em quatro temporadas de ciência suja já tá bem claro que é difícil fazer isso na prática né daí a importância de ter pessoas com pontos de vista diferentes e nem só pontos de vista na verdade a comunidade científica precisa ser etnicamente socialmente
e culturalmente diversa isso porque nossas perspectivas segunda an Naomi são em grande parte moldadas Pelas nossas experiências de vida Aliás a gente às vezes usa o termo indígena de forma genérica aqui mas a gente sabe que são várias comunidades diferentes com culturas línguas e formas de conhecimento diferentes também o que só reforça o papel dessas pessoas no aprimoramento das ciência felizmente o número de indígenas no ensino superior é cinco vezes maior hoje do que em 2011 segundo o levantamento do Instituto semesp ainda é muito baixo seria 0,5 por dos Universitários mas já começa a ajudar
no lance de ter mais gente diferente fazendo perguntas diferentes e notando vieses e problemas mas tem outras vantagens mais aspiracionais e filosóficas em promover esta integração Especialmente nos tempos de crise ambiental e social que vivemos em agosto agora a nossa produtora Chloé Pinheiro conversou com a botânica Robin wal kimer dos Estados Unidos a a Robin tem origem indígena é professora da Universidade do Estado de Nova York escreveu o livro A maravilhosa Trama das coisas Onde fala sobre a integração da sua bagagem ancestral à academia no livro ela chega a dizer que conseguir o respeito dos
cientistas pro conhecimento indígena é como nadar contra correnteza na água gelada Vivi minha carreira na academia onde o conhecimento tradicional tem sido marginalizado há muito tempo as pessoas não levam a sério e não reconhecem sua poderosa [Música] influência para Robin um dos benefícios de valorizar o conhecimento de povos originários é o de ver o mundo não como amontoado de objetos pro indígena uma árvore não é só uma coisa a ser cortada ou estudada mas um ser vivo com vontade história família como parte de um ecossistema complexo a ciência indígena é por sua própria natureza holística
ela leva em conta não apenas o conhecimento que obtemos do nosso intelecto e das coisas que podemos observar e medir mas também incorpora inteligência emocional e uma perspectiva espiritual e veja a ciência tradicional não precisa embarcar na ideia de que a árvore tem vontade ou espírito nada disso a gente mesmo já que separa o conhecimento indígena da ciência mas o que a Robin falou é que essa visão Ampla do mundo dos indígenas pode ajudar a dar um passo para trás e ver se por exemplo a gente está sendo ético ou está passando por cima de
um monte de gente em nome da ciência Western Science a ciência ocidental é muito boa em distinguir o que é verdadeiro ou falso pela testagem de hipóteses mas ela não tem a capacidade de nos guiar em decisões baseadas em valores o termo valor aí pode de ser lido de um jeito errado mas a Robin tá falando em valor moral e realmente a ciência por si não foca tanto na moralidade das coisas né Só pensar que a manipulação da energia nuclear gera tanta eletricidade que salva vidas como bombas atômicas ou seja valorizar outros saberes pode ajudar
a gente a decidir o que é certo ou errado o que é moral ou não inclusive na ciência e no que ela decide produzir de tecnologia por exemplo Então é isso a ciência e os saberes tradicionais podem se aliar e se beneficiar muito com isso mas tem um limite de integração entre os saberes tem lugar que eles não deveriam se misturar do ponto de vista de um aprender com o outro e de um respeitar o outro provavelmente não mas talvez um limite seja naquela linha de que o conhecimento não é sinônimo de ciência então se
a ciência se Ancora em experimentos com com coisas demonstráveis o que não for demonstrável de um jeito estruturado dentro dos saberes indígenas não precisaria ser integrado embora precise ser muito respeitado e mesmo estudado do ponto de vista das Ciências Sociais por exemplo e se a ciência sei lá faz um estudo que indica que tal prática medicinal de uma comunidade indígena não combate a doença X para além do Placebo ou que teria algo da medicina convencional melhor elas podem simplesmente concordar em discordar no fim o Vittor Lima Félix lá do começo do episódio o pesquisador da
comunidade Potiguara que é especialista em solo falou um negócio super pragmático e verdadeiro A fala é um pouquinho longa mas vale ouvir existe um alguns pontos que a universidade não reconhece e ela não vai reconhecer eh do conhecimento indígena né aquela coisa aquele ponto que não é observável não é provável Então nós não temos preocupação com isso então se ela não reconhece não é porque ela não reconhece que não existe esse pensamento essa crítica né Tem crescido e a gente já estabeleceu isso mas os pontos que conhece né como o meu por exemplo de etnopedologia
dá para para ter as duas coisas né os aspectos práticos que a gente pode contribuir e a Cosmologia dentro da etnopedologia eu tento abarcar todo esse repertório né uma comunidade indígena pode seguir com suas práticas e a ciência pode simplesmente entender que isso não é assunto para suas ferramentas ou que as suas ferramentas mostram AL diferente e vice-versa mas tem três negócios ligados a essa coisa de limites e aceitação entre os saberes que são tão importantes quanto complicados o primeiro que a gente até já tocou por cima antes é o conhecimento que não é científico
Mas finge ser científico é o Fulano que instrumentaliza a ciência para propor ideias maliciosas ou para vender sua solução Mágica o caso da maconha que a gente abordou na temporada passada frequentemente remete a isso porque se usa o argumento de ela ser uma planta milenar uma medicina ancestral para justificar uma suposta ciência tradicional que explicaria seu uso como cura para tudo e os estudos com maconha medicinal até TM apresentado resultados positivos em alguns casos mas esse conhecimento tá sendo construído Ainda falta muita evidência antes de dizer que a maconha é mesmo um remédio para boa
parte das alegações que estão sendo feitas por aí e enquanto a ciência tá estudando e enquanto o pessoal fica com esse curso de tratamento natural um monte de empresa Startup tá mexendo os pauzinhos e lucrando rios de dinheiro com estratos da planta e a regulamentação confusa do momento pô pessoal a gente pegou uma empresa alegando pra imprensa que extrato de maconha ajuda a crescer o cabelo outro exemplo mais besta é como a ciência tem sido usada como estratégia de marketing em eventos e práticas que promovem um reencontro com a ancestralidade eh e paralelamente a isso
por exemplo até abri aqui o e-mail de um festival que eu recebi que é um olhar ancestral para o Futuro no Jardim Botânico arte ciência espiritualidade Ecologia cultura e comunidade E aí o jeito que se coloca ciência é é muito assim fora do que a gente entende como ciência sabe aí você ouviu a clo conversando com Luiz nosso consultor sobre um convite que ela tinha recebido para um evento que mencionava a ciência logo no título E aí você vai ver o que estava sendo descrito como ciência e era uma cura pelo som com taças de
cristal cheirinho de pseudociência né Tá mas a Carol falou de três questões para pensar nessa conversa entre os saberes e a segunda é se a gente precisa respeitar todos os conhecimentos o que a gente faz com aquelas ideias que não se pretendem científicas mas ainda assim podem ser maliciosas ou seja o cara não tá alegando que a ciência sem ser mas ele tá numa linha meio enganosa e que não tem nada de tradicional nesses casos a gente faz o quê a gente simplesmente Aceita isso como conhecimento e bola paraa frente eu perguntei isso pro luí
durante uma das nossas consultorias na esperança de ele me colocar num terreno seguro só que é o ponto é se a ciência não é a juíza do que é conhecimento ela é juíza do que é um tipo de conhecimento que é o conhecimento científico e é quase impossível a gente estabelecer critérios universais e e válidos pro que é conhecimento né Então o negócio é que não tem censura prévia todo dito conhecimento precisa ser analisado por suas particularidades mesmo se parecer uma pilantragem escancarada eu vou lá entendo de verdade a parada e beleza se for o
caso Eu aponto Onde tá a malandragem para trazer pro nosso dia a dia pensa aqui o chamanismo e as religiões de maneira geral trazem conhecimentos que não se pretendem científicos pelo menos nas Vertentes moderadas né gente mas que são legítimos tem toda uma tradição Por Trás uma construção própria os critérios das religiões são diferentes da ciência mas tem bases ali de um jeito de de outro mas agora olha pra constelação familiar Tem um outro cara que finge que tem conceitos científicos nessa prática mas não é um pleito majoritário entre os Defensores dela a gente tem
um mes kest que detalha bem a problemática da Constelação familiar chama constelação familiar no judiciário depois Ouvi lá mas em resumo essa técnica assume que atritos entre parentes ou pessoas próximas inclusive entre os que já morreram podem alterar um tipo de energia que conecta todos os seres vivos e que portanto certas angústias e problemas que a gente tem hoje podem estar ligados a esses atritos do passado para resolver isso o constelador faz uma espécie de dramatização que pode ter outras pessoas e até bichos envolvidos o Episódio 77 da Rádio scafandro fala de uma constelação com
cavalos bom nesse teatro entre aspas a pessoa que tá buscando a solução para sua dor interage com esses outros atores como se eles fossem esses parentes que estão gerando O atrito enfim é mais ou menos isso eu t acho isso nada a ver mas até aí tudo bem Eu não sou muito dessas terapias alternativas só que a constelação familiar não é só isso ela foi criada por um padre alemão chamado Bert hellinger e esse cara disse absurdos e não foram poucos como de que as meninas que eram abusadas por seus pais faziam isso porque as
mães não davam a devida atenção ao marido a culpa era da mulher não do abusador você entendeu E você sabe como uma filha abusada pelo pai poderia se livrar desse trauma segundo hellinger fazendo uma dramatização uma constelação em que ela agradece a pessoa que tá representando o pai pela experiência agradece o Bert hinger morreu em 2019 mas a marca que ele criou tá aí gerando bastante dinheiro em cursos livros capacitações e tem mais coisa e não é coisa boa Então eu posso dizer que não tem conhecimento ali na constelação familiar Sei lá talvez a ciência
não possa por mais que isso me doa Mas eu posso criticar Sim e eu posso mostrar como esse suposto conhecimento tem bases Horrorosas e benefícios duvidosos inclusive com riscos pra saúde mental e eu posso usar o método científico para fazer essas críticas nesse sentido cabe dizer que o Conselho Federal de Psicologia que disz apoiar na ciência proibiu que psicólogos pratiquem a constelação familiar já o SUS por meio das práticas integrativas e complementares em saúde as pics e o nosso judiciário ainda incorporam essa prática em certas instâncias aí a gente cai na terceira questão que eu
falei que tinha nesse debate que é especificamente no setor público algum tipo de conhecimento não deveria ser válido ou algum tipo de conhecimento deveria ser priorizado esse ponto pega tanto aqui no nosso grupo que a gente já tinha perguntado sobre isso pro luí na primeira consultoria eu acho que a definição dessa régua ela é muito mais política do que científica e eu acho que isso não é ruim não o que o luí defendeu é que não cabe a Biologia a física a química ou a outros Campos da ciência definirem sozinhos O que é política pública
e o que não é a ciência é uma ferramenta e uma ferramenta ótima para ajudar a embasar políticas públicas Sem dúvida nenhuma mas ela não é a única e digo mais um campo da ciência pode conflitar com o outro o político ou gestor público que só olha pra biologia ou paraa medicina baseada em evidências pode cortar um programa de Atendimento à saúde que incorpore tradições locais porque não há evidências de que essas práticas Tragam benefícios para saúde Agora se ele incorporar a ciência política e a sociologia esse mesmo gestor pode entender que manter essas tradições
locais no atendimento à saúde geraria uma maior aceitação a outros tratamentos e ao estado como um todo e ele também poderia entender que isso pode gerar votos E além disso os políticos Podem sim usar ferramentas de fora da ciência para fazer uma gestão que beneficie o povo muita coisa que a gente faz hoje não tem ciência envolvida enfim isso é tema para mais uma uma temporada inteira então a gente não vai se alongar mas o que dá para dizer é que pra gente A ciência é particularmente útil para embasar a gestão pública porque ela almeja
eliminar vieses e ela pretende ser Universal Eu acho que o conceito de universalidade fornece o guia fundamental um dos guias fundamentais de como a ciência Opera para isso está válido isso tem que estar válido no universo mas o Universal enquanto uma existência delimitada não existe claro que a ciência incorpora vieses a gente falou isso nesse Episódio e na temporada toda e a ponderação do Luiz sobre a universalidade também é perfeita se você faz estudos com poucas pessoas negras ou indígenas não dá para dizer que suas descobertas são universais e esse é só um dos pepinos
por trás dessa ideia de universalidade Mas o negócio é que a gente pode olhar para esses dois pontos a eliminação de vieses e a universalidade de forma crítica e mesmo assim buscar se aproximar deles quando a ciência pega uma molécula a aplica essa molécula em um grupo e aplica um Placebo visualmente parecido em outro grupo sem que esses grupos ou os aplicadores saibam O que é o quê Ela tá usando vários recursos que ela desenvolveu com o tempo para tentar tirar confusões da frente e ver se essa molécula pode ser um tratamento com benefícios significativos
para além do Placebo e não a gente não vai entrar no mérito se dá algo buscando efeito placebo é válido ou não quando a ciência estuda o clima e o acúmulo do dióxido de carbono e de outros gases no planeta ela mostra como o aquecimento global é um fenômeno causado pelo ser humano no mundo todo embora esse fenômeno afete cada local de um jeito diferente e que o automóvel que contribui para aquecimento global na China também pode fazer o mesmo no Brasil eu admito que eu sou meio devoto da ciência mas pensando nessas coisas eu
pelo menos acho que onde a ciência tem informação minimamente confiável para dar as autoridades deveriam escutar elas podem usar outras ferramentas Claro mas elas também não precisam desconsiderar a ciência que é o que acontece muitas vezes incorporar ozonioterapia no SUS sendo que ozonioterapia não tem nada de tradicional é cara não traz benefícios e pode gerar riscos é dar o dedo do meio pra ciência principalmente se você faz isso fingindo que a ozonioterapia tem base científica O que foi mais ou menos que rolou com a lei que o lula sancionou agora em 2023 o gestor público
pode dar o dedo do meio pra ciência pode mas aí cabe a sociedade criticar ou não Por isso eu certamente critico nesse caso para mim topar essa lei da ozonioterapia foi aceitar um Lobby que tá gerando receita para negacionista e acomodar uma vontade política esdrúxula da oposição quando a gente aqui fala em decolonizar a ciência a gente tá falando no sentido de que isso pode melhorar essa ciência que tá aí se a ciência como a gente conhece abrir espaço para mais pessoas de diferentes contextos os vieses podem diminuir se a ciência entender que excluiu muita
gente de seus estudos no passado e começar a remediar isso suas descobertas podem ser mais universais entre aspas então então assim como a gente é crítico com a ciência a gente precisa ser crítico com as críticas sabe falar em decolonização é importante de novo estamos aqui fazendo uma temporada temática disso né mas transformar esse assunto em um papo genérico sobre como No fim tudo é igual o sobre como a ciência de hoje não vale nada abre uma porta enorme para aproveitadores de plantão para responder uma pergunta que a gente fez lá no primeiro episódio não
a gente não acha que a ciência precisa ser implodida mas para melhorar ela precisa ser ar muito mais para ser inclusiva isso não é detalhe não é para fazer RP Não é só para diminuir a desigualdade social Isso é para preservar o futuro dessa instituição para fechar a temporada com as palavras de alguém que escreveu um livro acusando o racismo na ciência fica com esse trecho do A falsa medida do homem do Stephen J good eu não me alio com a alegação puramente relativista que a verdade é uma noção inútil e que a ciência não
oferece respostas duradouras eu acredito numa verdade factual e que a ciência pode aprender sobre ela apesar disso ser frequentemente feito de um jeito obtuso e errático Galileu não foi ameaçado de tortura em um debate abstrato sobre movimentação lunar Ele ameaçou o argumento da igreja que gerava estabilidade social mas logo a igreja fez as pazes com a Cosmologia de Galileu ela não tinha opção a terra realmente gira em torno do [Música] sol bom gente é isso mais uma temporada do ciência suja pra conta Gostou Carol Nossa T se eu gostei eu amei foi emoção desde o
nosso primeiro encontro entrevistas manhãs animadas pelo menos para mim até as gravações confesso que hoje acordei nostálgica triste por gravar o último episódio mas ao mesmo tempo a sensação é de alegria e de dever cumprir essa temporada tem tudo a ver com a minha vida com as minhas raízes e com o futuro que eu e todos os negros ainda Vamos enfrentar mexemos inf feritas que não foram fáceis para mim mas foram necessárias para ciência enxergar que nós negros sim temos vidas e almas e precisamos ser olhados e cuidados com todo respeito Quero Agradecer demais a
toda a família cça suja que me recebeu de braços abertos essa equipe é comprometida no sentido raiz mesmo é lindo ver como todos trabalham para entregar o melhor e a gente entregou mesmo o melhor boa Carol super Obrigado est aqui com a gente foi incrível est com você mesmo de verdade e acho que você contribuiu demais aqui para essa temporada e é isso né gente a gente tá uns anos na luta com esse podcast e a gente só tá aqui por causa de você aí com seu fonezinho de ouvido esse apoio que vem em Plays
em comentários em críticas nas redes em dinheirinho no financiamento coletivo Aliás já assinou aí é é esse apoio que faz a gente crescer amadurecer e conseguir tocar uma temporada toda sobre colonialismo e racismo da ciência cara que tema instigante e que tema difícil eu acho que no fim a gente mal trouxe respostas mas eu nunca aprendi tanto na minha vida esse processo de aprendizado aliás tem um guia com nome e sobrenome luí Augusto Campos Luiz cara você é incrível Obrigado por dedicar tempo carinho e Cérebro pro nosso projeto Oi t Carol sou eu que saio
dessa temporada com o cérebro mais rico aprendi muito com vocês e também com choé com Felipe com Pedro mas confesso também que eu tô com o coração apertado aqui porque acabou né Eh de todos os projetos em que me envolvi nos últimos tempos Sem dúvida nenhuma ciência suja foi o mais instigante e o mais prazeroso para mim então Eh foi uma honra e obrigado por me deixarem passar de fã do ciência suja a consultou eh mas vou continuar como fã aí nas próximas temporadas ouvindo e aprendendo com vocês um grande [Música] abraço [Música] Então vamos
lá últimos créditos do ano porque ano que vem tem que ter mais e não se esquece que depois dos créditos tem mais gente da rede com ciência falando sobre o que eles acham que é Ciência bom a quarta temporada do ciência suja foi apresentada por mim Carol Marcelino e por mim terr preste para essa temporada toda nós tivemos a consultoria do Professor luí Augusto Campos esse episódio foi produzido pela Carol por mim pela cloé Pinheiro pelo Pedro Belo e pelo Felipe Barbosa todo mundo aqui do time o roteiro é do T da choé Pinheiro e
do Pedro Belo com apoio de toda a equipe a edição de Som os ambientes sonoros e as trilhas originais são do Felipe Barbosa nesse Episódio nós usamos trechos dos documentários nenhum saber para trás do pessoal da Alma preta e do Margaret me e a flor da lua as vozes complementar são de cloé Pinheiro Felipe Barbosa e Pedro Belo as artes das Capas e o projeto gráfico do ciência suja são da ma tan ferry e do Guilherme Henrique e ficaram boas demais as artes dessa temporada hein parabéns gente o nosso site foi desenvolvido pelo estúdio barbatana
das incríveis Amanda talhari e Ana cermelli nele ou no seu tocador Favorito e no YouTube você encontra todos os episódios do ciência suja Siga a gente também nas redes sociais o Ciência suja tá no Instagram no Twitter no Facebook e no to É isso aí bora pro pós-crédito Bora ciência para mim é uma vela no escuro é Audácia humana de tentar entender sistematizar e explicar mesmo que um pouco o universo em que a gente tá esse é o jornalista irp Mateus steimer e agora vamos de Monique Oliveira que é jornalista Doutor em ciências pela USP
e é responsável pela Diretoria de rede da rede consciência a ciência a partir dos estudos sociais de Ciência e Tecnologia vista como as ciências tem uma definição bastante plural a partir da história da ciência dos discursos da materialidade dos atores e como esse cada campo do conhecimento se conformou tradicionalmente você tem a ideia de que a ciência é uma forma de confrontar uma hipótese com dados que podem ser de natureza qualitativa compreensiva e quantitativa estatística e factual o Eduardo Fer imunologista pesquisador e divulgador científico também mandou pra gente a sua compreensão de ciência a ciência
é uma metodologia sistemática que permite que um grupo de pessoas analise o mesmo problema complexo por diversas perspectivas e possa trabalhar de modo conjunto comparando impressões de maneira objetiva para conseguir minimizar o máximo a subjetividade da análise do problema e e chegar a objetivos concretos Na tentativa de entendê-lo jornalista Moura Leite Neto Doutor em ciências e diretor da Censo consultoria de comunicação colocou até os flinstons e os Jetsons para jogo A ciência é tudo aquilo que está ao nosso redor é a sua evolução que nos faz viver com mais conforto que os flinstons e seguir
na direção daquilo que vemos em Os Jetsons e para fechar fica com a jornalista especializada em saúde C Cordeiro ciência para mim é vida é a arte que permite a gente Responder todos os questionamentos que a gente tem sobre a nossa existência e sobre tudo que está nossa volta é aquilo que mata minha curiosidade sobre o mundo universo planeta é aquilo que faz brilhar os meus olhos ciência é tudo até ano que vem [Música] nave reportagens