Queridos irmãos e irmãs, nós estamos, nesses dias, meditando sobre a operação da Cruz em nossa vida; ou seja, como, para um cristão, a cruz é um critério de normalidade. E mais: quando eu falo sobre a cruz, eu me estou referindo à fé que nós devemos ter no fato de que já morremos com Cristo, assim como cremos que Ele morreu pelos nossos pecados. Ora, o grande problema é que nós, muitas vezes, temos de lidar com frustrações na nossa vida espiritual porque tentamos viver a vida cristã com a força da carne, e nós não conseguimos.
Essa é a realidade padrão de muitos irmãos: sempre reincidem nos mesmos pecados, não conseguem sair do pecado grave; estão empacados ali e se perguntam: "O que estou fazendo de errado? ". O que você está fazendo de errado é que você está tentando lutar com as suas forças humanas, e quando você usa o poder da carne, você não consegue.
A carne parece até evidente dizer isso, mas nem sempre, para nós, isso é muito claro. Nós vimos, no capítulo 6 de Romanos, como o apóstolo nos insiste. Ele nos insiste nessa ideia de que já morremos com Cristo pelo batismo.
Mas, depois do capítulo 6, vem o capítulo 7, e o capítulo 7 da carta aos Romanos é um dos capítulos mais extraordinários de toda a Escritura. E eu diria que é o texto mais sincero da história humana. São Paulo diz, a partir do versículo 14: "Sabemos que a lei é espiritual; eu, porém, sou carnal, vendido ao pecado.
De fato, não entendo o que faço, pois não faço o que quero, mas o que detesto. Se faço o que não quero, concordo que a lei é boa. Nesse caso, já não sou eu que faço isso, mas o pecado que habita em mim.
" Ele fala do pecado quase como se fosse uma personalidade, como se fosse uma entidade que nos possui e que nos controla. De fato, estou ciente de que o bem não habita em mim, isto é, na minha carne, pois querer o bem está ao meu alcance, mas não realizá-lo. Não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero.
Ora, se eu faço aquilo que não quero, então já não sou eu que estou agindo, mas o pecado que habita em mim. Portanto, descubro em mim esta lei: quando quero fazer o bem, é o mal que se me apresenta. Como homem interior, ponho toda a minha satisfação na lei de Deus, mas sinto em meus membros outra lei que luta contra a lei de minha mente e me aprisiona na lei do pecado que está nos meus membros.
Infeliz que eu sou! Quem me libertará deste corpo de morte? Isso que Paulo descreve aqui é o padrão de quase todos os seres humanos.
Nós vimos, na primeira leitura, os irmãos de José vendendo-o por inveja aos ismaelitas, e na parábola contada por Jesus, a crueldade dos vinhateiros assassinos. Isso está em nós: há muito sentimento ruim, há muito sentimento vergonhoso que está escondido em nosso coração; há muita coisa que nós não gostaríamos de ter e que está presente em nossa carne, e nós não conseguimos vencer. Ou seja, São Paulo, em Romanos 14, diz que quer fazer o bem, mas não consegue.
Sabe o que é o certo, mas há dentro dele uma força que o impede de praticar o bem, e ele está frustrado, dividido, impotente. Esse conflito não é a vida cristã normal, ainda que a maior parte dos cristãos o viva diariamente. Esse conflito é a vida cristã vivida de maneira errada; ou seja, sem depender da Cruz, sem depender do Espírito Santo.
É o homem tentando viver a lei de Deus com as suas próprias forças. A primeira coisa que nós temos que entender é que é preciso haver em nós um reconhecimento. Nós temos que cair de joelhos aos pés da Cruz, como quem diz: "Eu não consigo!
". As afirmações de São Paulo aqui são muito fortes: "Eu sou carnal, vendido ao pecado; não faço o bem que quero, faço o mal que não quero. " Ele se coloca na posição de quem não pode, de quem não consegue.
Vivemos no século XX, e está em voga toda uma filosofia estóica, e os homens até se orgulham, hoje em dia, de praticarem estoicismo. Há um tempo atrás, fui visitar uma pessoa da igreja e, todo empolgado, ele me disse: "Estou estudando estoicismo". Eu olhei assim, minha cara desmanchou, assim que eu não consigo disfarçar.
Istoicismo! O que é o estoicismo? É uma filosofia que coloca toda a eficácia moral na força humana: "Eu vou agir porque pela força eu tenho que agir.
Eu tenho que chegar àquele estado de indiferença, ataraxia. " Isso é o estoicismo! De fato, os filósofos estóicos chegavam realmente nisso.
Nós vemos, por exemplo, Sêneca, que foi o tutor de Nero. Quando Nero assumiu o império, Sêneca era senador. Nero era paranoico; ele achava que todo mundo estava contra ele, inclusive mandou matar a própria mãe, porque acreditava que ela queria dar um golpe nele.
Então, ele mandou um recado para o seu tutor, para Sêneca, e disse: "Olha, o senhor escreveu no seu tratado que a morte perfeita para um estoico é o suicídio; então, cumpra a sua filosofia com toda a frieza. " Sêneca foi para uma banheira com água quente, cortou os pulsos, ficou sangrando dentro da banheira até morrer; enquanto isso, foi ditando um tratado sobre a morte. Isso é o estoicismo encarnado!
Ou uma heresia cristã, que é filha do estoicismo, que é o pelagianismo: "Eu faço pelas minhas forças humanas. Não tenho que contar com a graça. " O pelagianismo é muito otimista em relação ao ser humano; parece que não há o pecado original, parece que não tem Romanos, capítulo 7.
Então, nós temos que entender que nós não podemos, pelas nossas próprias forças; nós não conseguimos. Esse reconhecimento é essencial porque essa é a. .
. Revelação de Deus, aqui no capítulo 7 da carta aos romanos: você não pode, você não vai conseguir. Só nesse trecho do capítulo, São Paulo repete 30 vezes a palavra "eu".
Ou seja, quanto mais você ficar centrado no seu próprio eu, mais você vai amargar a derrota de uma vida cristã vivida na carne. A gente pensa assim, né? Que uma vida cristã vivida na carne é uma vida em que a pessoa vai para a prostituição, vai pra balada, vai encher a cara, vai o tempo todo ficar na jogatina.
Não, para as Escrituras, vida cristã na carne, uma vida na carne para um cristão, é uma vida vivida de acordo apenas com as suas forças humanas, em que o cristão coloca todo o seu empenho no seu eu; ele se concentra no seu eu, ele está o tempo todo voltado para si mesmo. E São Paulo diz de uma maneira clara e evidente: "Não há bem em mim", é o que ele diz. "Estou ciente de que o bem não habita em mim; isto é, na minha carne, o bem não está em mim".
Ainda que você seja convertido, a sua carne nunca vai se converter. Você precisa entender que a vitória não vem por aí, e jamais virá por aí. São Paulo disse: "Já estou crucificado com Cristo.
Já não sou eu quem vivo; é Cristo que vive em mim". Ou seja, essa compreensão do capítulo 7 de Romanos nada mais é do que a cruz aplicada à realidade da carne. Ou seja, a cruz não apenas vem para nos redimir dos pecados que estão na nossa carne, mas ela vem para dar fim ao nosso eu impotente, ela vem para dar morte ao pecador.
Vejam que coisa impressionante! São Paulo vai fazendo toda essa declaração de derrota, de incapacidade: "Descobre em mim esta lei: quando quero fazer o bem, é o mal que se me apresenta. Como homem interior, ponho toda a minha satisfação na lei de Deus, mas sinto em meus membros outra lei que luta contra a lei de minha mente e me aprisiona na lei do pecado que está nos meus membros.
Feliz que eu sou! Quem me libertará deste corpo de morte? " Essa é a pergunta dramática de São Paulo no final do capítulo 7, mas ele diz no versículo seguinte: "Graças sejam dadas a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!
Portanto, pela minha mente, sirvo à lei de Deus, mas pela carne, sirvo à lei do pecado". Começa o capítulo 8 agora: "Portanto, já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus. Com efeito, a lei do Espírito da Vida em Cristo Jesus libertou-te da lei do pecado e da morte".
Ou seja, a solução para esse drama não está no "como", "como eu vou vencer". Não é no "como". São Paulo não termina aqui dizendo: "Infeliz que eu sou!
Como me libertarei deste corpo de morte? " Não! Ele diz: "Infeliz que eu sou!
Quem me libertará deste corpo de morte? " A pergunta é: quem me libertará? E quem me libertará é Jesus Cristo!
Veja, não são técnicas. As pessoas colocam tudo nas técnicas hoje em dia. É o paraíso da programação neurolinguística, da hipnose, de você se obstinar numa coisa.
Então, você faz uma técnica, faz uma imersão, e aquilo vai mexer com você, etc. Não, não, não! Quem te libertará deste corpo de morte é um só: é Jesus!
Não são as suas técnicas, não são as suas regras, não são as suas forças internas. É uma pessoa: quem? Jesus Cristo!
É por isso que São Paulo diz: "Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! É Ele que nos liberta". Ou seja, o capítulo 7 de Romanos é um túnel que nos leva ao capítulo 8, um túnel escuro em que nós reconhecemos a nossa incapacidade de lutar contra o pecado e, ao mesmo tempo, reconhecemos a capacidade infinita que Cristo tem de nos tirar do pecado.
Agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. O profeta Zacarias tem um versículo maravilhoso: "Não pela força nem pela violência, mas pelo meu Santo Espírito". Ou seja, a chave para a vitória não está em mais esforço, não está em mais promessas, não está em mais disciplinas.
Não! Você pode fazer o que você quiser. A chave da vitória está em desistir de tentar vencer pela carne e render-se à cruz de Jesus Cristo e ao poder do Espírito Santo.
A salvação que Jesus nos conquistou é perfeita. A salvação pela qual Ele morreu no alto da cruz é perfeita. Não falta nada nela.
Todos os santos tiraram a força de arrancada para sua santidade. Na cruz de Cristo está o mérito e a força para tudo que nós precisamos, e isso nos vem pelo poder do Espírito Santo. Ou seja, a solução de Deus para nós é a cruz de Jesus e o Espírito Santo.
É deles que nós dependemos, é de Cristo e do Espírito Santo. Eles é que nos levam ao Pai. Portanto, algumas aplicações práticas que nós precisamos introjetar em nossa alma: primeiro, reconheça a inutilidade da carne.
Ou seja, pare de ficar investindo na carne. Comece investindo na oração, comece a buscar Deus, buscar Cristo, buscar os sacramentos, buscar uma vida espiritual, buscar a Palavra, buscar uma intimidade maior com o Espírito de Deus. Segundo, pare de lutar com o seu eu, porque Deus não quer melhorar Adão.
Deus quer crucificar Adão. Você está gastando muito tempo tentando se melhorar. Acabe logo com isso.
Esqueça de você mesmo, aplique a cruz à sua carne, à sua personalidade. Já estou morto; a minha vida já está escondida com Cristo em Deus. Em terceiro lugar, abrace a cruz como libertação.
São Paulo diz: "Crucificados com Cristo, já não somos escravos. " Do pecado, portanto, não, não rejeite a cruz. Abrace a cruz de Cristo, dependa da cruz de Cristo, entenda que é dela que vem o poder.
Todo o poder que nós temos para viver uma vida de santidade não vem de nós; a fonte é o sacrifício de Jesus Cristo. Portanto, é a sua fé no que Jesus fez que libera força para que você viva uma vida santa. Não é algo que vem do teu esforço humano; vem dele.
Por fim, e isso veremos melhor amanhã, renda-se ao Espírito Santo. Nós somos chamados a viver um novo tipo de vida que aqui São Paulo chama de vida no Espírito. Ele diz: "Os que vivem segundo a carne pensam no que é da carne; os que vivem segundo o Espírito pensam no que é do Espírito".
Ou seja, qual é a força que te conduz? É a força da sua carne ou é a força do Espírito? Se você crucificou a sua carne e parou de ter esperanças nela, você vai se render ao Espírito Santo e vai deixar que ele te conduza, porque os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
Isso tudo para nós é maravilhoso, porque é um exercício de fé, e é isso que eu te convido a fazer. Quando nós dizemos que o sangue é o remédio pros nossos pecados, a cruz é o remédio pro pecador; ou seja, o sangue mata os nossos pecados, a cruz mata o pecador. Isto é para uma única finalidade: para que você viva completamente dependente do guiamento do Espírito Santo.
O sangue, a cruz e o Espírito, para nós, são o único caminho da vitória. Portanto, talvez você precise desistir desse paganismo que você vive disfarçado de cristianismo; esse cristianismo estoico, esse cristianismo pelagiano que te faz confiar na sua própria força humana, que te faz investir apenas em você, na sua carne. "O que eu tenho que fazer?
" As pessoas se perguntam: "Nossa, como que eu posso fazer? Como é que eu posso melhorar? " Esqueça!
Morra! Caia aos pés da cruz, renda-se a Cristo, renda-se ao sangue, renda-se à cruz, renda-se ao Espírito e viva uma vida espontaneamente guiada por Deus. Ah, isso significa que eu não vou me sacrificar mais?
É o contrário; é o sacrifício supremo! É quando o próprio eu já morreu, está crucificado com Jesus Cristo. Sem este sacrifício, o homem não é conduzido pelo Espírito Santo.
Não tem como! O profeta Elias invocou o fogo do céu; o verdadeiro Deus é o que responde com fogo. Mas o que ele colocou no altar?
O sacrifício morto. Sem o sacrifício morto, o fogo não desce. Enquanto você estiver vivo, enquanto você não estiver verdadeiramente crucificado com Cristo na cruz, ou seja, crendo mesmo que o teu eu já morreu e vivendo as consequências disso, sabendo-se, considerando-se e entregando-se, oferecendo seus membros à justiça de Deus, enquanto você não viver assim, o Espírito Santo não pode te guiar, porque a tua carne está hiperativa.
A hora que a sua carne morre, o Deus de Elias responde com fogo; o Espírito Santo vem e ele te consome. Queridos irmãos, peçamos a Jesus que nos conduza a essa vida de total dependência da sua cruz e do Espírito Santo, e assim experimentaremos não as nossas vitórias, mas as vitórias de Cristo na nossa vida.