Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém. Inspirai, ó Senhor, as nossas ações e ajudai-nos a realizá-las, para que em Vós comece e para Vós termine tudo aquilo que fizermos.
Por Cristo Senhor Nosso. Amém. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós.
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém. Muito bem, neste episódio da Direção Espiritual, eu gostaria de tratar de um problema que a maior parte dos principiantes na vida de oração experimenta, vamos aqui descrever o problema primeiro, antes de conceitua-lo.
O problema é o seguinte: a pessoa tinha uma vida longe de Deus, cometia pecados grosseiros, etc, de repente, ela decide #projetosegundamorada, vamos lá, vamos ter uma vida de oração íntima, e a pessoa, então, quando vai rezar, exatamente porque ela saiu de uma vida com pecados grosseiros, dificuldades, quedas, toda as vezes que vai rezar, vai humilhada, e ela vai lá e, de fato, se humilha diante de Deus, fala da sua miséria, fala "eu não sou nada, olha os pecados que cometi, meu Deus, tem misericórdia de mim, tem compaixão" e acontece algo fantástico, um bom número das pessoas que começam rezando assim consegue realmente rezar, as pessoas começam a experimentar aquilo que nós chamamos de "ato de fé exercida". O ato de fé, geralmente quando as pessoas falam de ato de fé, as pessoas pensam o quê? Pensam naquela formulazinha do ato de fé, onde você aprendeu a rezar, mas não é isso que eu estou falando, ato de fé exercida é o seguinte: que você realmente conseguiu realizar um ato de fé no seu interior, então, a gente exerce, porque a pessoa vai lá reza e, neste ato de fé exercida, acontece que o Ressuscitado nos envia a Sua Graça e o que a pessoa nota dentro de si, no ato de fé exercida, é que a inteligência é iluminada e que a vontade é convidada, ou seja, aquela experiência básica fundamental em que você está lá rezando, sei lá, você encontra uma verdade, "Deus me ama", você já ouviu essa frase milhares de vezes na sua vida, Deus te ama, mas, naquele dia, o pessoal usa essa linguagem assim: "caiu a ficha", ou seja, "Nossa, Deus me ama" porque houve um ato de fé exercida e a sua inteligência foi iluminada e a sua vontade foi convidada e você sente o impulso de amar de volta.
Estou descrevendo aquilo que é a experiência inicial, a pessoa se sentindo miserável, pecadora, assim, arruinada, quando não é nada, ela vai, começa a rezar e, de repente, nas primeiras experiências de oração, plugou, ato de fé exercida, inteligência iluminada, vontade convidada, mas, aí é que vem o problema, ela faz isso um dia, dois dias, três dias e aí começa a ir à oração com o diploma de segunda morada, "não, porque eu já estou na segunda morada", e você vai e com esta vaidade nada acontece, aridez, secura, você fica lá tentando entrar em sintonia na oração, mas só o que você consegue é distrações, levado de um lado para o outro, distrações aqui e ali, aqui e ali, você não consegue dar passos, não consegue progredir, isto que está descrito aqui, Jesus resumiu em uma frase que está no evangelho de São João, capítulo 5, versículo 44, Ele diz assim, vejam: "Como podeis crer", ou seja, como podeis realizar o ato de fé exercida, "vós que recebeis glória uns dos outros e não buscais a glória que vem do Deus Único? ", eis aí, você não busca a glória de Deus, você busca a sua própria glória, a vaidade, ou seja, o contrário da glória é a vanglória, então, vejam como a vanglória, a vaidade, o iniciante deixou os pecados grosseiros e rudes, começou a rezar, começou a ficar com a vida melhorzinha, a vaidade vai lá e emplaca, e impede você de realizar o ato de fé, de realizar direito, de continuar recebendo aquelas graças atuais que estava recebendo antes, então assim, sendo bem concreto, nós não podemos deixar de nos apresentar diante de Deus nos humilhando. Veja, na nossa vida espiritual existe uma realidade básica e fundamental: antes de você se encontrar com Deus, o que é a vida de oração?
, é o encontro entre você e Deus, mas não é possível você se encontrar com Deus se você antes não se encontrar com você mesmo, ou seja, é necessário um auto-conhecimento, não no sentido psicologístico da palavra, mas no sentido existencial, você vai rezar, muita gente não consegue rezar, por exemplo, exatamente por isso, porque sabe que rezando vai ter que se encontrar consigo e isso vai doer, isso vai doer, por quê? Porque Jesus disse: "A verdade vos libertará", mas Jesus não prometeu que a verdade ia ser agradável, então, quando você se coloca debaixo da luz de Deus verdadeiramente, você se encontra com aquilo que você é e é uma experiência às vezes bastante dolorosa, experiência assim que é necessário um pouco de virtude, de têmpera, de decisão, de determinação para que você se encontre com você e diga: "Puxa vida, eu sou isso, Meu Deus, olha como eu sou Jesus, eu sou um animal, eu sou arrastado por todos os lados, pelos meus instintos mais baixos, pelas minhas paixões desordenadas, sei lá, estou aqui tentando rezar, Jesus, mas eu estou preocupado, sei lá, com a panela que eu deixei no fogão, preocupado com o telefonema que eu vou receber, preocupado com o problema que eu tenho que resolver, Jesus, eu estou sendo arrastado, arrastado, puxado pela coleira" e aí, aqui que está a coisa, se você faz isso, você se encontrou com você, você está dando um bom passo porque começou rezando de verdade, mas a pessoa não faz isso, a pessoa não se humilha diante de Deus para começar a oração, ela se deixa levar pela vaidade, se deixa levar por esse sentimento: "Nossa, nunca fui assim, passei a minha vida inteira no pecado, agora, nossa, olha as minhas virtudes", pronto, olha, olha, isso daí é uma desgraça, isso daí é pra acabar com a vida espiritual de qualquer um. Vejam o conselho do Padre Reginaldo Garrigou-Lagrange, ele está aqui nas suas "Três Idades da Vida Interior", está terminando a primeira parte introdutória, segunda parte é a vida espiritual dos principiantes e, ele concluindo a vida espiritual dos principiantes diz assim, o título do capítulo é Oração mental dos principiantes", ele diz: "Em primeiro lugar, (pra começar a vida de oração), é necessário fazer um ato de humildade, porque não é lícito esquecer quem somos, nós que viemos conversar com Deus.
Recordemos o que o Senhor disse a Santa Catarina: "Eu Sou o que é, e tu és a que não é. " Porque Ele é o Ser e nós somos criados do nada, claro, esse ato de humildade pode ser comparado com a genuflexão que a gente faz quando entra na Igreja, o que é a genuflexão? A genuflexão é um ato de humildade porque você se prostra no chão e mostra a sua miséria, mostra que você não é nada diante de Deus, mas isso é, ao mesmo tempo, um ato de adoração, então, para começar a vida de oração é sempre bom começar com um ato de humildade e um ato de adoração, então, se colocar para baixo e Deus para cima, colocar as coisas em ordem para começar esse relacionamento, se você não faz isso, provavelmente não vai dar certo, principalmente você que está iniciando aprendendo a caminhar na vida de oração, "como podeis crer, vós que recebeis glórias uns dos outros, ao invés de buscar a glória do Deus único?
", essa frase de Jesus é importantíssima para nós. Agora, vamos aprofundar isso que eu acabei de dizer com Santa Teresa d'Ávila, nesse livro fantástico que eu já aconselhei para muitos de vocês "Quero Ver a Deus", do bem-aventurado Frei Maria-Eugênio, o terceiro capítulo chama-se "Conhecimento de si mesmo", eu aconselharia a leitura desse capítulo que aqui nesta edição da Vozes começa na página 74, na edição original francesa é na página 39, então vejam só, ele diz assim, começa citando uma página belíssima de Santa Teresa que nos fala no Livro da Vida: "Os pecados", trata-se do capítulo 13 do Livro da Vida": "Os pecados e o conhecimento próprio são o pão com que todos os manjares, por mais delicados, devem ser comidos nesse caminho de oração - pão sem o qual ninguém poderia se sustentar", vamos entender essa comparação de Santa Teresa, primeiro, porque nós brasileiros, precisamos, não somos do ambiente mediterrâneo e nós temos que entender o seguinte: que nos países mediterrâneos, de uma forma geral, não se senta à mesa sem pão, na Itália, por exemplo, não é possível você se sentar à mesa sem pão, tem que ter pão na mesa, porque quando vem o segundo prato, precisa ser acompanhado por pão, é o acompanhamento que as pessoas usam, então, o "pão nosso de cada dia nos dai hoje", então, todas as comidas são acompanhadas de pão, o pão está sempre lá, à mesa, em abundância, aqui no Brasil já não é assim, aqui seria o nosso arroz com feijão, ou seja, a gente não consegue comer sem arroz e feijão, seria mais ou menos isso, quando um brasileiro senta à mesa, isso para esclarecer aos nossos amigos portugueses que não têm essa noção, quando um brasileiro senta à mesa e não tem arroz e feijão, ele diz: "Ih, hoje não tem comida", essa é a reação da maior parte dos brasileiros, tem que ter arroz e feijão, se não tiver arroz e feijão não tem comida, pois bem, o que acontece, acontece isso, o pão tem que estar na mesa, isso quer dizer que mesmo que você esteja em qualquer morada que você esteja, num grau de oração mais elevado, esse pão tem que estar lá, o conhecimento dos próprios pecados e da própria miséria, isso tem que acontecer e aí vem uma frase que é tirada lá das quartas moradas do Castelo Interior, primeiro capítulo das quartas moradas, que ela diz assim: "Ó Senhor, tende em conta o muito que sofremos neste caminho por falta de instrução! ", ela está rezando, rezando e pedindo que Deus tenha misericórdia de você que está sofrendo nesse caminho de oração por falta de instrução, "e o mal é que, como não pensamos ser preciso mais do que pensar em Vós, nem sabemos perguntar aos que têm instrução e nem consideramos que haja necessidade de perguntar", então, a pessoa vai rezar e acha que a única coisa que precisa fazer quando se vai rezar é pensar em Deus, não, por quê?
Claro que o alvo da oração é Deus, Ele é o objetivo máximo que você quer alcançar, você quer ter contato com Ele, só que você não é um anjo, você não tem conhecimento intuitivo, você é um ser humano e precisa considerar que tem muita coisa dentro de você impedindo você de entrar em contato com Deus. E ela diz, continua: "Experimentamos terríveis sofrimentos porque não nos entendermos", vejam, aqui que está a coisa, não é psicologismo, não é que agora eu vou fazer uma auto-análise psicológica, não, não, é antes de tudo não entender quem é você à luz de Deus, diante da grandeza do amor a profundidade do seu egoísmo, diante da consistência Daquele que é a fonte do Ser, o nada, da sua criaturalidade, "E chegamos a pensar que é grande culpa o que, longe de ser mau, é bom. Daqui provêm as aflições de muitas pessoas voltadas para a oração, ao menos das quais são poucos esclarecidas.
Elas se queixam de sofrimentos interiores, tornam-se melancólicas, perdem a saúde e até abandonam a oração por completo. ", porque não têm conhecimento de si mesmas, então a gente precisa, primeiro, realmente firmar, o pé solidamente no conhecimento de si, então, vamos lá, o conhecimento básico de você para se conhecer na vida de oração, é o seguinte, veja: nós vamos falar aqui rapidamente da memória, vamos conhecer o que está dentro de você quando vai rezar. Quando você vai rezar, você tem a memória do cérebro, a memória que os animais têm, o que essa memória traz para você quando vai rezar?
É ela que causa as distrações, a gente fala "ah, a imaginação é a louca da casa", sim é a imaginação, porque a memória lembra, o quê? Coisas que são animais, os animais não têm acesso à verdade, então, o que acontece? o seu cérebro fica propondo coisas o tempo todo, você tem uma imagem de você mesmo, sublime, "Ah, eu estou na segunda morada, eu sou o cara, eu sou não sei o que, etc e tal" e essa memória, você ficou aqui, no cérebro, na imagem, e não na verdade, porque tem uma outra memória aqui, a memória da alma, essa memória da alma guarda verdades, ao invés de você entrar em contato com a sua verdade à luz de Deus, você entra em contato com a imaginação que você colocou, então você está aqui, você está na carne, você começa a rezar e parece que é muito sublime, que você é muito especial, lindo, mas isso é simplesmente carne, vaidade pura, como podeis crer, encontrar Deus que é a verdade, vós que dais glória uns aos outros, que está simplesmente na imaginação vaidosa de você?
Você está na carne, aí o que acontece? Você fica propondo aquela imagem, fica fazendo caras e bocas, e aquilo fica teatro pra você mesmo, você não está fazendo teatro para ninguém, está fazendo para você, porque você não deu aquele passo primeiro, de se encontrar com a sua verdade à luz de Deus, para poder se encontrar com o Deus que é a verdade. E a sua verdade está sempre ligada à sua dificuldade, à sua miséria por ser criatura, totalmente dependente de Deus, e à sua miséria por causa do seu pecado, você precisa fazer esse ato de humildade, onde diante do pecado, pede perdão e diante da sua criaturalidade você adora a Deus, você precisa começar a rezar na verdade, dando um passo na direção da verdade, porque se você não faz isso, começa a rezar imaginando anjinhos voando no ar e sei lá que conhecimentos místicos, você diz: "Não está me vindo uma imagem, imagem,", a maior parte dessas imagens quando começa assim, meu irmão, essa imagem é realmente imagem, mas é imaginação pura da sua cabeça, não estou contra pessoas que recebem Palavras de Deus através de imagens, não é isso não, eu estou aqui tentando ajudar pessoas que estão com problemas bem concretos de se concentrar na oração, pessoas que deram os primeiros passos na vida de oração, conseguiram morder, entender, fazer a experiência do que é o Ressuscitado que ilumina a minha inteligência e convida a minha vontade, mas que não conseguem ir para a frente, porque sorrateiramente a vaidade tomou conta e a vaidade é carnal, é uma realidade de uma auto-imagem ilusória.
A oração, o ato de fé crava os nossos pés no chão da verdade, a oração não é faz-de-conta, a oração é dolorosamente verdadeira no início, depois consoladora porque você se encontra com outra verdade, não fica só com a sua miséria, se encontra com aquela outra verdade que é a verdade de todas as verdades que é Deus, então você não se encontra só com a sua miséria, você se encontra também com a misericórdia. Então, é esse o pequeno recado que eu gostaria de dar de Direção Espiritual para você, para que na sua vida de oração, realmente, todas as vezes, principalmente para você que é iniciante, principiante, não queira começar, você vai fazer sei lá, uma meditação, você pega a Sagrada Escritura e embarca imediatamente na Lectio Divina, não faca isso porque não vai dar conta, você precisa primeiro se encontrar com você mesmo, como? Num ato de humildade e se encontrar com Deus, num ato de adoração, aí você saiu da memória cerebral da imagem, das fantasias, das ilusões e veio para a verdade, uma vez que você está na verdade, as coisas ficam mais fáceis.
Vai ser sempre uma luta, claro, porque a gente tem que realmente viver disso, mas eu acho que essa dica para muitas pessoas é a chave que estava precisando para progredir na vida espiritual. Deus abençoe você. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Amém.