Suba no seu caixote e mostre quem você é | Mônica Martelli | TEDxSaoPaulo

[Aplausos] a cultura do lugar onde a gente nasce ela é determinante na criação da nossa identidade a gente vai se relacionando com aquela cultura e vai formando o nossos valores as nossas crenças e na nossa sociedade a gente é elevado acreditar que existe um único modelo de biografia para todas as pessoas é uma cultura que impõe muito mais do que aceita às vezes finge que aceita mas na verdade exe um único caminho que é meio tido como correto é mais ou menos assim você vai se formar aos 23 anos vai trabalhar com 28 anos você

vai casar você vai ter seu primeiro filho aos 30 anos com 35 anos você vai est bem de vida com marido ótimo morando numa casa maravilhosa para vocês fazerem aquela foto linda de final de ano do lado da árvore de Natal um perfeito que não faz xixi dentro de casa bom eu só tive o meu reconhecimento profissional aos 38 anos eu tive a minha única filha aos 41 anos e eu me apaixonei novamente aos 50 anos Sim sim eu inventei uma vida para mim do padrão que me foi colocado como correto mas não foi fácil

eu durante muito tempo me senti errada me sentia desajustada a gente leva muito tempo das nossas vidas tentando nos adequar a modelos pré-estabelecidos e eu também sentia dessa forma eu sentia que eu devia agir ou ser de uma determinada forma e olha que eu sou filha de uma mulher feminista Dona Marilena Garcia minha mãe maravilhosa Eleita vereadora aos 35 anos de idade numa região onde não existia mulher na política foi a única a primeira mulher Eleita na região Macaé no estado do Rio de Janeiro a minha mãe fazia sessões da Câmara Municipal com um pinico

em cima da bancada para revindicar um banheiro feminino nunca uma mulher tinha sentado naquela cadeira antes dela uma mulher à frente do tempo uma mulher que sempre nos in iou a irmos pro mundo eu e meus irmãos Gut e Suzana ela sempre nos incentivou a irmos atrás dos nossos sonhos e mesmo assim mesmo com essa mãe que me autorizaria a ser quem eu quisesse eu me senti inadequada E para piorar a situação eu sempre fui de humanas ou seja Café com Leite a galera de exatas é que levada a sério então tipo assim tadinha gente

de humanas tadinha sonha sonha muito tá de humanas realmente eu sempre sonhei sempre sonhei muito graças a Deus eu sonhei tanto que eu comecei fazendo direito porque eu achava que direito é que nem filme americano que você adentra um um tribunal com uma capa preta dizendo excelentíssimo senhor juiz bom eu entrei pra faculdade de direito e vi que não era nada disso eu logo me desinteressei por todas aquelas matérias fiquei afim de um menino da turma e eu passava todas as aulas escrevendo e criando histórias minha com esse menino não aprendi lei nenhuma eu até

hoje não consigo ler um contrato Mas hoje eu sei que ali eu já tava me graduando no amor e nas relações amorosas hoje eu sei que ali eu já tava exercendo o meu talento que era escrever e criar sobre o que eu vivo sobre as minhas experiências mas na época eu ainda não sabia disso fui pra faculdade de jornalismo década de 90 uhu os doidinhos exóticos de humanas vão fazer jornalismo entrei na faculdade de jornalismo e tinha uma plaquinha curso de teatro entrei fui fazer me apaixonei e logo Procurei um curso profissionalizante e fui para

cal centro de artes de Laranjeiras e ali naal no Rio de Janeiro foi quando ti primeira sensação aqui é o meu lugar Essa é a minha tribo Eu me formei em teatro e em Jornalismo e mesmo tendo tido a coragem de seguir o meu talento de seguir a minha vocação que era ser atriz Eu segui um caminho que era considerado correto dentro dessa carreira então o que que eu fazia eu fazia videobook mandar para produtor de fazia teste para entrar numa novela da Globo eu fazia videobook mandar para produtor de Elenco fazia teste para ser

passada para algum lugar para ser descoberta eu fazia teste eu fazia teste eu era que quase passava eu fui a quase durante muito tempo e eu continuei fazendo testes porque era o sonho da maioria dos Artistas entrar pra televisão por diversas razões pela visibilidade pelo reconhecimento e também pela segurança de um salário para para você poder se manter dentro da sua profissão então eu continuei fazendo teste eu continuei fazendo teste eu fazer muito bicho ator foi muito bicho início de carreira não sei o que que acontece eu fiz tartaruga eu fiz minhoca eu fiz galinha

teatro infantil programa de televisão eu fiz muito teatro infantil uma vez o portor de Elenco me ligou e me chamou para fazer uma cobra no vídeo que da Angélica era um programa que Angélica tinha na T que os bichos cantavam e na hora eu falei não gente tudo bem eu vou lá fazer uma cobra já imaginei com uma roupa grudada no corpo vou lá fazer uma cobra lâ da gata molenga vou lá fazer essa cobra e na época morava comigo um amigo meu Marcelo bochar também ator ator de companhia ator culto ele foi chamado para

fazer o pinguim aí eu falei Marcelo tudo bem amor vamos lá a gente vai ganhar nosso cachê a gente vive disso vamos ganhar nosso cachê a gente vai lá faz e volta é isso amor e fomos quando a gente chegou lá quando eu cheguei no camarim não tinha roupa da cobra aí eu falei Caraca me dei bem não vou precisar ser humilhada ficando aqui de bicho e vou ganhar o meu cachê aí fiquei lá deitadinha no sofá e veio Marcelo deprimido de pinguim aí eu falei Marcelo tudo bem amor vai lá faz seu pinguim aqui

é um cachê eu vou te esperar aqui na boa você vai lá faz o pinguim canta lá volta a gente vai embora de repente entra no camarim a figurinista e fala quem é a cobra aí eu falei falei oi sou eu a cobra caiu você agora a tartaruga entra no camarim um casco de tartaruga gigante de espuma quando eu vi aquele casco eu entrei dentro daquela roupa as patas da Tartaruga eram enormes Quando colocaram a cabeça da Tartaruga minha orelha virou e eu não conseguia e e botar minha orelha no lugar porque a pata da

Tartaruga era enorme eu não conseguia ter acesso a minha orelha e eu tava lá de tartaruga só Sobrou um pedacinho do rosto esse pedacinho do rosto que sobrou pintaram de marrom e eu tava lá de tartaruga com aquele casco gigante as patas me olhando no espelho o Marcelo do meu lado de pinguim se olhando no espelho eu olhei pro Marcelo e falei o seguinte não rolou pra gente a carreira Vamos pensar numa outra coisa pra gente fazer a vida dá sinais bom os bichos cantavam no mato né Então tinha uma van que pegava a gente

para levar pro mato para cantar e eu fazia dupla com macaco e na hora que a van chegou o meu caixo da Tartaruga não entrava na van não entrava aí o que que eu pensei porque não tem negócio para ajudar bicho não amor os bichos vão sozinho na van não tem uma pessoa para ajudar a botar o bichinho na Van não tinha isso não aí eu aí o que que eu pensei eu vou me jogar de lado porque na hora que eu cair de lado eu vou cair no casco fofo da tartaruga na hora que

eu me joguei de lado a cabeça da Tartaruga me enforcou aí eu falei macaco não tô legal macaco não tô legal porque eu não sabia quem tava dentro do macaco porque o macaco se arranhou camarim e eu falei macaco pelo amor de Deus me ajuda realmente tô passando mal não tô legal e o macaco só ria só ria bom bom fomos pro mato eu e o macaco para fazer a dupla e eu pensei o seguinte vou dar tudo de mim porque a tor é o seguinte bastou sobrar um pedacinho do rosto de Fora que você

dá tudo seu porque você acha que alguém vai te descobrir ali entendeu Sobrou um pedaço de olho pro lado de fora você fala vou fazer tudo com esse olho aqui que alguém vai descobrir que eu tenho um talento aqui a t é assim bom fizemos cantamos Dei tudo de mim não tive nenhum reconhecimento profissional não fui descoberta eu e o Marcelo voltamos do projac até a zona sul do Rio de Janeiro mudos no carro a gente não se falou a gente não tava brigado a gente estava traumatizados depois que o trauma passou o Marcelo virou

para mim e falou o seguinte Mônica na no camarim tinha uma luz que entrava através da porta um sol que entrava iluminava o camarim de repente aquele sol se apagou tudo ficou escuro era o casco da sua tartaruga chegando e eu fiquei muito preocupado com você e eu falei assim graças a Deus a gente sobreviveu Eu Só Queria Dizer para vocês que o Marcelo Hoje tá super bem porque eu prometi para ele que toda vez que eu Contasse essa história eu ia falar que ele hoje é diretor de teatro ele é preparador de ator para

não acharem que ele parou no pinguim depois es bichos todos Finalmente eu passei no teste fui fazer uma novela eu fui fazer a novela Por Amor do Manuel Carlos por amore e eu falei gente eu vou fazer uma novela das oit eu não acredito eu fiquei tão me sentindo eu falar PR os amigos gente eu chegar me despedir vou fazer novela das o Tô indo tô indo vou fazer novela falar pra minha família Gente vou fazer novela vou fazer novela das o era um sonho fazer a novela das 8 na Globo daqui a pouco eu

vou est no Arquivo Confidencial me aguarda bom eu passei 8 meses falando uma única frase Dr Arnaldo Dona Branca na linha c e como ator tem sempre uma esperança de ser descoberto o ator tá sempre achando alguém vai ver o meu talento ali então cada dia de gravação eu colocava uma intenção diferente Então tinha um dia que eu falava fala Dr Arnaldo Dona Branca na linha c e no dia seguinte eu falava Dr Arnaldo Dona Branca na linha C então cada dia eu inventando uma intenção para poder ver se alguém descobrir o meu talento nada

disso aconteceu Acabou a novela eu não tive o meu reconhecimento profissional e eu voltei pro ponto de partida Sem trabalho sem dinheiro sem perspectiva eu sei que a mulher que eu sou hoje que a artista que eu sou hoje é o somatório de tudo isso que eu percorri de todos esses caminhos que eu percorri mas na época eu não sentia dessa forma Na época eu sentia como experiências fracassadas hoje eu sei também que fracasso nos fortalece hoje eu sei também que fracasso é não agir que fracasso é não fazer mas na época eu tava com

dor eu tava com uma dor de existir e eu me recolhi porque eu não sabia se eu tava persistindo ou se eu estava insistindo porque persistir é você avaliar os seus planos avaliar os caminhos que você tá percorrendo mas não mudar o seu objetivo não mudar sua meta eu queria ser atriz eu estava fazendo teste teste para tentar ser descoberta para alguma coisa então eu estava insistindo porque insistir é você continuar fazendo da mesma forma e esperar um resultado diferente insistir é você dar murro em ponta de faca foi nesse momento que a minha mãe

a feminista do pinico na bancada virou para mim e falou minha filha que que você tá esperando da vida Que alguém tenha olhos para você não espere isso meu amor faz o seguinte pega um caixote vai pra praça sobe em cima e fala seu texto pro mundo mostra pro mundo quem você é não espere que a sociedade te dê permissão para ser você mesma e foi o que eu fiz o meu caixote Foi o Teatro Cândido Mendes em Panema um teatro menininho e lá no dia 14 de abril de 2005 eu Estreei meu espetáculo os

homens são de Marte e é para lá que eu vou eu fiquei um ano escrevendo eu Estreei com todas as inseguranças todos os medos que uma atriz desconhecida podia ter mas eu fui com medo mesmo e essa peça mudou a minha vida eu fiquei 12 anos em cartaz eu percorri de norte a sul do país todos os estados brasileiros essa peça virou filme virou série eu escrevi já a segunda peça minha vida em Marte mudou a minha vida mas hoje eu quero dizer para vocês que eu continuo tendo muitas inseguranças muitos medos eu atravesso vazios

eu sinto angústias segundo Lacan a angústia ela nos guia aonde angústia tá a gente tem que observar porque tem alguma coisa para nos dizer devemos escutá-la porque as dores e as incertezas Elas serão sempre parte das nossas vidas porque não existe chegar lá né a gente quando chega lá já tem outro lá o lá já mudou de lugar então o segredo é seguir fazendo e hoje Toda vez que eu tô hoje Toda vez que eu tô com medo de me perder eu lembro da voz da minha mãe falando para mim minha filha sobe no seu

cachote sobe no seu caixote meu caixote lá atrás Foi o Teatro Cândido Mendes meu caixote hoje tá sendo aqui o tedex São Paulo e que cada um de vocês procure o caixote de vocês e mostre pro mundo quem vocês são eu vou terminar com a frase que eu termino meu espetáculo minha vida em Marte o que vai acontecer amanhã eu não sei mas eu vou continuar tentando sempre w