Ensinar exige comprometimento. Nenhum professor e nenhuma professora escapam do julgamento que os alunos fazem de sua prática. Falamos sobre isso nos vídeos anteriores.
Por isso, assim como não é possível sair na chuva sem se molhar, não é possível ser um educador sem se colocar diante os alunos e ser avaliado por eles. Daí a importância de o professor revelar com franqueza a sua maneira de ser, a sua visão de mundo e também as suas concepções políticas. Porque, mais uma vez, quer o professor conte aos alunos ou não, os alunos percebem as suas posições.
E a maneira como eles percebem tem importância decisiva para o desempenho do professor. Por isso que uma das preocupações centrais da prática docente deve ser a aproximação cada vez maior entre o que o professor diz e o que ele faz, ou, o que a professora promete, e o que ela realmente está sendo. Incluindo aí a reflexão autocrítica e aberta sobre as suas próprias contradições e sobre o seu empenho permanente em superá-las.
Se algum aluno me faz uma questão sobre um tema da disciplina, mas me pega de surpresa, e eu percebo que eu não sei responder, e eu digo a ele que eu não sei, isso não me confere aquela autoridade de quem domina todos os aspectos do conteúdo das aulas mas fortalece o vínculo de confiança, porque fica claro para o aluno que o professor não mentiu. E isso abre um crédito junto aos alunos que o professor deve preservar. Uma resposta falsa, uma enrolação, um chute seria, além de antipedagógico, antiético.
Mas precisamente porque o professor e a professora interessados em estimular a autonomia não só admitem, mas estimulam o amplo questionamento dos estudantes, é preciso se preparar permanentemente para admitir, quantas vezes for necessário, que não sabe a resposta, ou que sabe apenas superficialmente, e precisa estudar mais aquele ponto ou aquela perspectiva para explicar melhor, e nunca imaginar que é uma boa ideia enrolar os alunos. Desenvolver a consciência de que quase todos os nuances da atuação do professor em sala de aula não passam despercebidos pelos estudantes, e saber também que a maneira como eles interpretam essa atuação pode ajudar ou atrapalhar o cumprimento da tarefa do professor, isso faz com que o professor tenha que tomar um cuidado especial na avaliação constante do seu próprio desempenho. É preciso ficar claro que a forma como eu me vejo é diferente da forma pela qual o aluno me vê.
Agora, evidentemente, o professor não vai ficar toda aula perguntando para os alunos para ver o que eles acham dele. O que Paulo Freire sugere é que professores e professoras fiquem atentos e desenvolvam a habilidade de interpretar um silêncio, um sorriso, de prestar atenção quando um aluno decide sair da sala, ou quando algum aluno faz um questionamento mais ríspido ou se mostra impaciente. O espaço pedagógico é um texto que deve ser constantemente lido, interpretado, escrito e reescrito pelo professor e pelos alunos.
É então nesse sentido que quanto mais solidariedade existir entre educador e educandos na construção desse espaço, mais possibilidades de aprendizagem democrática se abrem a todos. Por isso, mais uma vez, Paulo Freire adverte para o perigo de cair na armadilha dos discursos ideológicos que buscam ocultar a sua opção político-pedagógica sob o discurso da neutralidade na educação. Desse ponto de vista, que é, segundo Paulo Freire, nitidamente reacionário, ou seja, tem um lado, o espaço pedagógico é aquele em que se treinam os estudantes para práticas apolíticas, como se a maneira humana de estar no mundo fosse neutra.
Como se não houvessem escolhas. Mas Paulo Freire argumenta que a presença do professor, que não passa despercebida pelos alunos, é uma presença, em si, política. Enquanto presença o professor não pode ser uma omissão, mas um sujeito de opções.
O professor não pode deixar de revelar aos alunos a sua capacidade de analisar, de decidir e de optar. Em síntese, uma das coisas que o professor não pode abrir mão em sua prática docente, é a sua dimensão ética. Não basta falar de ética.
É preciso assumir o compromisso de exercê-la, na prática. E não se exerce uma educação ética quando não há escolhas. O que você pensa sobre tudo isso?
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