O SENHOR ENTRA EM SEU TEMPLO - Homilia - Apresentação do Senhor (2025) Manhã

Da apresentação do Senhor no templo e da Purificação da Santíssima Virgem Maria, que nós contemplamos no quarto mistério gozoso do Santo Rosário, diz o evangelho: "Quando se completaram os dias para a purificação da mãe do Filho, conforme a lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus. " Além, a fim de apresentá-lo ao Senhor. Aqui, São Lucas faz menção a dois ritos que havia na lei de Moisés: o primeiro era a purificação da mãe e do filho depois do parto.

A mulher deveria passar por um rito de purificação que se daria 40 dias após o parto, e quando quem nascia era um menino, a purificação e a apresentação desse menino aconteceriam 40 e 30 dias após o seu nascimento. Então, nós temos duas datas mais ou menos concomitantes: 40 dias depois do parto, a purificação da mãe; 30 dias depois do parto, a apresentação do filho. Em que consistia essa apresentação?

O versículo 23 diz: "Conforme está escrito na lei do Senhor, todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor. " Aqui, São Lucas, mais do que citar o versículo correspondente ao livro do Levítico, faz uma pequena paráfrase, um resumo do que ali está. Ora, quando nós lemos no capítulo 13 do livro do Êxodo, que é quando Deus está para mandar sobre o Egito a praga dos primogênitos, a décima praga, a praga da Morte dos primogênitos, ele estabelece o rito da Páscoa, mandando que os hebreus coloquem o sangue do cordeiro nos umbrais das portas de suas casas, e aqueles que tivessem cumprido aquele rito teriam os primogênitos da sua casa poupados.

Caso contrário, o Anjo da Morte os exterminaria todos. Ora, portanto, segundo o que está escrito no livro do Êxodo, todo primogênito de Israel pertencia ao Senhor. Então, uma vez que o primogênito nascia, ele devia ser levado ao templo, entregue ao Senhor.

E, caso—que era o que estava prescrito—o pai o resgatasse, era o que todo mundo fazia: pagava-se uma quantidade de cinco ciclos de prata para que o filho fosse restituído aos pais. Era um rito mais ou menos simples: o pai apresentava o filho, entregava-o a um do templo de Jerusalém e o sacerdote recebia a criança no seu colo. O pai entregava, na sequência, o dinheiro, e o sacerdote restituía o filho.

Então, faziam-se algumas orações, algumas bênçãos sobre a criança. Era isso, mas não é exatamente isso que acontece aqui. Isso tem um significado teológico muito profundo.

A purificação da mãe também era um rito simples: ela ia até a porta do templo de Jerusalém com outras mães e entregava um cabrito. O cabrito era sacrificado, pegava-se o sangue, passava-se sobre a mãe e ela estava purificada. Os pobres, que não tinham dinheiro para comprar um cabrito, o que faziam?

Entregavam um par de aves, duas tórtolas, duas rolinhas ou dois pombinhos: um pombinho para o holocausto, em adoração a Deus, que seria inteiramente consumido, e o outro pombinho para a expiação. Ele era morto, o sangue também era passado sobre a mãe e ela estava purificada. Ora, o texto continua dizendo: "Foram também oferecer o sacrifício, um par de rolinhas ou dois pombinhos", conforme está ordenado na lei do Senhor.

Em Jerusalém, havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso e esperava a Consolação do povo de Israel. Simeão, um personagem que aparece um tanto quanto do nada, é apresentado como um idoso. Aliás, na tradição oriental, dizem, mas sem muito respaldo bíblico, apenas uma tradição, que Simeão tinha 360 anos quando isso aconteceu, pois eles calculavam, segundo a tradição deles, que ele fosse um dos 70 anciãos que ajudaram a traduzir as escrituras para o grego e teria sobrevivido até a chegada de Cristo porque teria duvidado de uma profecia, aquela de Isaías que disse que o Messias viria de uma virgem.

É uma tradição, uma lenda popular. Em todo caso, era um homem idoso e que é qualificado como reto e como piedoso, mas aqui piedoso significa religioso, espiritual, como um homem que está, de fato, com a sua vida totalmente voltada para Deus. Ele esperava a Consolação do povo de Israel.

O que é a Consolação do povo de Israel? Essa palavra "Consolação do povo de Israel" não aparece no Velho Testamento de maneira muito clara; vai aparecer na terceira parte do livro do profeta Isaías, que é chamada como "livro da Consolação", que é quando Deus diz, através do profeta: "Consolai, consolai o meu povo", ou seja, o povo de Israel volta do exílio, e, voltando do exílio, ele recebe a Consolação em Jerusalém, ou seja, Jerusalém é reconstruída, é reedificada e se estabelece o reino do Messias, o reino do Ungido. Portanto, o texto está dizendo que Simeão era alguém que esperava o cumprimento dessa Consolação que viria para Jerusalém.

E diz: "O Espírito Santo estava com ele e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor. " Ou seja, realmente é alguém que está esperando não apenas a Consolação de Jerusalém, mas ele está esperando que chegue o Ungido, aquele que vem para reinar sobre Jerusalém. Movido pelo Espírito, Simeão veio ao templo quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a lei ordenava.

Simeão tomou o menino nos braços e bem disse a Deus. Esse é um cântico, o terceiro cântico, se nós não contarmos o glória dos Anjos na noite de Natal. Que São Lucas, no seu evangelho, escreve: "Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar o teu servo ir em paz.

" O termo grego fala de algo como "soltar o teu servo", para que ele vá em paz, como quem solta um bicho. "Solta! Eu posso ir em paz, pois os meus olhos viram a tua salvação que preparaste diante de todos os povos.

" Ou seja, não é uma salvação só para Israel, é uma salvação para todos os. . .

Povos, luz para iluminar as nações e glória do Teu povo Israel; ou seja, Ele é o Messias de Israel, mas Ele vem para iluminar todas as nações. É por isso que nós iniciamos a missa abençoando as velas, porque a luz que é Cristo entra no Seu templo. No Seu templo santo, o pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito d'Ele.

Simeão os abençoou e disse a Maria, mãe de Jesus: "Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel; Ele será um sinal de contradição; assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te atravessará a alma. " Simeão os abençoa.

Note que o texto de São Lucas não está dizendo que o sacerdote do templo abençoou a Sagrada Família e abençoou o menino; o texto está dizendo que foi Simeão, um profeta, que abençoou o menino. E quando ele abençoa, ele proclama uma profecia sobre o menino e sobre a sua mãe, como que selando os destinos dos dois. O menino vai ser causa de contradição; ou seja, uns vão amá-lo, outros vão odiá-lo.

Ele vai revelar o pensamento de muitos corações; aquilo que está escondido vai ser posto sobre a mesa. Uma espada vai atravessar a alma de Maria, no sentido de que, como Jesus dirá mesmo no Seu evangelho, "eu não vim trazer a paz, mas a espada. Eu vim para separar os pais dos filhos, os filhos dos pais, as mães das filhas, as filhas das mães, a nora da sogra, a sogra da nora.

" O que Ele está dizendo é que o evangelho causa uma divisão; ou seja, a divisão entre quem crê e quem não crê; é a divisão que depois vai culminar na paixão do Senhor. Ou seja, o texto está trazendo para a cena a paixão do Senhor que se realizará ao longo da vida de Cristo, culminando com a Sua morte; por ser Ele um sinal de contradição, um sinal de separação: "Quem está contra Mim está contra Mim; quem não ajunta comigo espalha," é o que Ele vai dizer mais tarde. Havia também uma profetiza chamada Ana.

É muito interessante que apareça aqui uma profetiza e que o nome dela seja Ana; Ana era o nome da mãe de Samuel, o último juiz de Israel. A história está bem contada no início do primeiro livro de Samuel. Ela era uma mulher estéril, pedia um filho a Deus e, depois de muita humilhação, conseguiu engravidar.

Então, ela foi apresentar o seu filho ao sacerdote Eli e entregou-o, depois de desmamado; 40 dias depois de desmamado, entregou ao sacerdote Eli. Os paralelismos aqui são interessantes, inclusive porque Samuel é alguém que, de fato, encerra um ciclo na história de Israel. Samuel encerra o período dos juízes e inicia o tempo do reino monárquico, primeiro de Saul, mas sobretudo do Rei Davi.

Então, nós estamos falando também aqui na cena do final de uma era, o fim do Velho Testamento e o começo do reinado do Messias. Aparece aqui essa profecia chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Azer. A tribo de Azer era uma pequena tribo do Norte que já não existia nos dias de Jesus; ou seja, o que São Lucas está mostrando é que Jesus, no fundo, é a profecia de reunir todas as tribos de Israel, de começar tudo de novo, de unificar o seu povo, de trazê-lo de volta para sua verdadeira idade, para sua verdadeira identidade.

Ana era de idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido, depois ficou viúva e agora estava com 84 anos. Era uma imagem do Velho Testamento que está, por assim dizer, com uma viúva de Deus que já não conta mais com a presença manifesta do Senhor. Não saía do templo, dia e noite, servindo a Deus com jejuns e orações.

Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos que esperavam a libertação de Jerusalém. Simeão espera a consolação; Ana fala aos que esperam a libertação; são temas que são correlatos. Depois de cumprirem tudo conforme a lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, sua cidade.

O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele. É interessante porque aqui temos o paralelismo também com Samuel; quando termina o relato da infância de Samuel, o texto diz que Samuel crescia e estava cheio de sabedoria. Não sei se vocês perceberam, mas no texto do Evangelho não fala nada de que Jesus foi resgatado; Ele foi apresentado, mas Ele não foi resgatado.

Ou seja, o texto não diz que Ele não foi resgatado, mas também o texto não diz que Ele foi resgatado. Por que essa omissão? O que ela pode significar?

Ela pode significar, e a meu ver, ela significa que Ele é o primogênito que não será resgatado; Ele será morto. Ele é oferecido no templo, e o seu oferecimento, a sua apresentação, é aceita por Deus Pai. Essa apresentação, esse primeiro ofertório, será concluído quando da morte do Senhor.

É muito interessante que o texto seguinte em São Lucas é a perda e encontro do menino de Deus no templo, entre os doutores da lei; Ele fica perdido três dias, que equivalem aos três dias da sua morte, no final do evangelho. Ou seja, nós temos aqui um paralelismo que nos fala do sacrifício de Cristo. Ele veio para cumprir a lei; Ele veio para cumprir a palavra.

Ele, como diz São João na sua primeira epístola, é a vítima de expiação pelos nossos pecados, mas não somente isso: Ele é o próprio Deus que vem ao encontro do seu povo. Quando a construção do templo de Jerusalém foi concluída, o primeiro livro dos Reis e o primeiro livro das Crônicas nos contam que Salomão consagrou o templo e a glória do. .

. Senhor, desceu como uma nuvem sobre o tempo. O profeta Ezequiel, antes do exílio na Babilônia, descreve no Capítulo 10 da sua profecia que essa nuvem da Glória de Deus se levanta do templo e vai embora; ou seja, a glória do Senhor saiu do Templo de Jerusalém.

A nuvem luminosa que carregava consigo a presença de Deus foi embora. O povo volta ao templo construído por Zorobabel, e não se fala nada da nuvem de glória. O profeta Malaquias nos dá a profecia que nós lemos na primeira leitura: "Eis que envio o meu anjo; ele irá preparar o caminho para mim.

Logo chegará ao seu templo o Dominador que tentais encontrar, o anjo da Aliança que desejais. Ei-lo que vem", diz o Senhor dos Exércitos. "E quem poderá fazer-lhe frente no dia de sua chegada?

Quem poderá resistir-lhe quando ele aparecer? Ele é como fogo da forja, o fogo que purifica o ouro e tira as escórias, expõe as misérias. O ouro, para ser puro, tem que ser submetido ao fogo.

Quando ele é aquecido, as escórias se juntam e, com uma pinça, você consegue tirá-las. E como a barrela dos lavadeiros, o sabão estará posto como para fazer derreter e purificar a prata. Assim ele purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata, e eles poderão assim fazer oferendas justas ao Senhor.

Será então aceitável ao Senhor a oblação de Judá e de Jerusalém; isto é uma adoração em santidade. Ele será um sinal de contradição; ele vem para aumentar o fogo da forja, para puxar a escória dos corações, para revelar o pensamento oculto que ninguém enxerga. Ele vem para oferecer o sacrifício que vai não apenas apagar os nossos pecados, mas os vai expor.

Quem poderá fazer frente à sua vinda? O Salmo 23 nos fala disso: "Ó portas, levantai vossos frontões; elevai-vos bem mais alto, antigas portas, a fim de que o Rei da Glória possa entrar. " É como Deus chegando na porta do Templo de Jerusalém e dizendo, através do seu oral: "Sacerdotes, abram a porta!

" Quem está chegando não são os peregrinos; quem está chegando é Yavé dos Exércitos. Ele entra no seu templo santo; é ele o Rei da Glória. É ele que entra para cumprir a sua promessa.

Ou seja, queridos irmãos, Deus entrou na história em Cristo. Deus entrou no seu templo santo e nós estamos aqui juntamente com ele. Tudo isso traz ao nosso coração tantas imagens, mas, sobretudo, deveria trazer-nos uma verdadeira [Música] Consolação.

Deus se encarnou em Cristo; ele entrou no seu templo santo e apresentou o seu sacrifício. E este sacrifício é como um fogo consumidor, um fogo refinador. Ele nos purifica de todos os nossos pecados e ele é causa de separação entre justos e ímpios, entre santos e pecadores.

Que nós possamos continuar a nossa peregrinação na fé, carregando as nossas lâmpadas acesas, como as virgens prudentes, as lâmpadas das nossas obras realizadas em justiça, isto é, nascidas de um coração purificado constantemente para uma adoração de acordo com a santidade do nosso Deus.