Olá pervertidinhes, estamos aqui para mais um episódio. Do meu, do seu, do nosso. O favorito de vocês.
Mulheres F*d4! Porque nunca é cedo nem tarde para contar a história F*d4 de Mulheres F*d4 da história. E a primeira coisa que quero saber sobre Mulheres F*d4 hoje é, você está ouvindo o meu podcast?
Gente eu até queria pedir uma solidariedade aqui para vocês que não menstruam e que não sabem o que é TPM. Eu queria poder falar para vocês assim sejam pacientes, sejam calmos. Sabe?
Porque a gente também não gosta de parecer maluca, de andar por aí igual uma bomba de hormônio e sentimentos, eu queria pedir entendam tenham assim empatia. Porém eu sei que não posso pedir. Sabe por quê?
Porque é impossível entender. Gente vocês estão? Vocês sabem?
Dessa maravilhosidade que tem um podcast Ela é tão galera. Tá inscrita? Já deu as cinco estrelinhas no Spotify?
Clicou muito lá para me ouvir, para me dar impressões. Eu falei quando eu chegar em 10. 000 impressões no Spotify vou fazer uma festa.
Não gosto desse verbo famosa porque famoso para mim é Deus Vai ter churrasco vegano. E vocês não estão convidados mas vocês podem ajudar quem tiver convidando a participar. Então vamos lá.
Bora mana. Então fala aí o que que a mulher f*d4 de hoje fez? Hoje a gente tá falando e o momento histórico não poderia ser melhor.
Enquanto o Brasil queima, enquanto o estado de São Paulo perde um território imensurável em queimada, enquanto a gente tem um novo dia de fogo articulado, enquanto o agronegócio tá botando o país para ser destruído, arrasado, por fogo. A gente vai falar de alguém que tá na contramão de tudo isso. A gente vai falar de uma guerreira do Povo Kayapó.
Uma ativista dos direitos indígenas e da proteção dos territórios e direitos ambientais. A gente tá falando de uma Líder que coloca presidente de hidroelétrica para mamar. Ai amo!
Quem é a mulher f*d4 de hoje? A mulher f*d4 de hoje é Tuíre Kayapó. Roda Vinheta Bom pessoal vamos lá falar de Tuíre, ao contrário da história do último vídeo que era uma história muito muito triste que eu fiquei realmente emocionalmente abalada com a história da mãe Bernadete com essa história de Tuíre também fiquei abalada mas ela tem um viés um pouco mais positivo, no sentido de que tem história para contar sobre ela, sobre a vida dela sobre a atuação dela em vida.
Isso me deixou bastante esperançosa e inspirada ao saber e conhecer mais a história da Tuíre espero que vocês também se sintam assim. Vem com a gente aqui. Bora lá.
Tuíre é então como a gente já adiantou uma mulher, uma liderança indígena da etnia Kayapó, uma etnia que está presente em mais de 50 aldeias, espalhada em seis terras indígenas, 11 milhões de hectares. Exato. Na região do centro sul do Pará e norte do Mato Grosso.
Ela viveu em diversos povos, diversas aldeias, ela tinha um estilo de vida mais nômade assim como os pais dela também. Então quando ela nasce, ela nasce em uma aldeia aí eles vão morar na aldeia de origem da mãe e depois quando ela já tá acho que com 17 anos mais ou menos eles se mudam pra aldeia de origem do pai dela e a ali ela fica por mais tempo. Aliás uma coisa importante de dizer, é que essa região que os Kayapó ocupam, ela é conhecida como Arco do Desmatamento, ela é uma das zonas de interesse do agronegócio, latifundiário, explorador grileiro, do nosso país.
Área de minérios também, é uma das grandes áreas de disputa entre os povos originários, povos indígenas e as esses grandes Empreendimentos. Inclusive falando em grandes empreendimentos, Tuíre fica muito famosa, mundialmente famosa pela resistência que ela apresentou à construção da hidrelétrica de Belo Monte. Tem uma imagem que provavelmente já impactou vocês.
Vocês devem lembrar dessa imagem que é de uma mulher indígena segurando um facão no rosto de um homem branco numa mesa de negociações. Gente essa imagem é muito impactante. Na internet tem a gente vai deixar links aqui várias fotos e vídeos desse momento e é muito legal, é muito emocionante, é muito impactante.
Irritados os índios começaram a argumentar, segundo suas tradições é claro. Tuíre, prima de Paiakan, guerreira mulher da Aldeia ucre foi a mais incisiva. A Tuíre nessa época tinha só 19 anos.
Sim que é muito impressionante. Muito impressionante ela era apenas uma jovem indígena de 19 anos já tava lá nesse encontro, que foi o primeiro encontro dos povos do Xingu que aconteceu em altaira em 1989, e a própria Tuíre conta numa entrevista que ela deu num artigo que a gente vai deixar aqui listado também. A jornalista Luciana Ferreira pergunta para ela, como ela teve a ideia de fazer esse gesto, de ter esse ato durante a reunião né que era esse encontro dos povos do Xingu, onde teve entre as outras pautas essa audiência pública para falar do projeto da Belo Monte.
Que na época nem Belo Monte chamava né. Ah sim um dado muito importante, o projeto se chamava usina hidrelétrica de Kararaô. Kararaô, é uma palavra dos indígenas, uma palavra Kayapó e que é um grito de guerra.
Isso já era uma coisa que começou incomodar esse povo já de cara porque eles estavam usando uma palavra indígena para um projeto que não. Que ia destruir a vida deles deslocar eles, destruir o território, né muita perversidade. Um grito de guerra indígena para talvez a obra faraônica recente brasileira que teve maior impacto ambiental que a gente conhece.
Entre inundações, secas, desvios de rio, represamento. O errado já começa aí. E eles já estavam muito revoltados com isso durante a reunião a Tuíre fala que ela ouve, começou a ouvir esse diretor da Eletronorte falar e ela ficou muito brava, ela meio que se sentiu desrespeitada e agredida pela fala dele.
Ela nem entendia direito assim o português, então tinha uma tradução se não me engano rolando mas ela se sentiu desrespeitada ela simplesmente pegou o facão dela e foi caminhando até a mesa da audiência e colocou o facão na cara do cara falando várias coisas na linguagem Kayapó. A gente não tem a tradução literal do que ela fala nesse momento mas o que já se conseguiu fazer de tradução é que ela falou algo como, "Nós não precisamos da energia de vocês, nós não precisamos das represas de vocês, a gente precisa que o nosso Rio flua livremente. " Enquanto ela colocava o facão na cara dele.
Lá ela já mostra a sua fibra, a sua postura de guerreira, de liderança também né dos povos indígenas. Isso porque ela foi criada para ser uma líder e uma guerreira indígena. Ela é neta de um grande líder né.
Ela é neta de grandes líderes mais de um. Então os avós da Tuíre eram caciques de diferentes povos, tanto avós paternos quanto maternos criaram ela contando histórias, incentivando que ela fosse uma defensora dos seus territórios e dos seus direitos, incentivando para que ela fosse sim uma guerreira e uma Líder. Então ela recebeu muito essa influência ancestral, essa influência das histórias que Ela ouviu desde criança.
Teve uma coisa que a Mari me contou da pesquisa dela que que me impactou muito, era algo que eu não sabia. É que pros Kayapó existem objetos para gênero, isso é comum em muitas etnias. Mas pros Kayapó o cajado é um objeto masculino né os homens carregam cajado e o facão é um objeto feminino, as mulheres carregam facão.
E esse gesto que ela fez não era exatamente uma ameaça de morte era um pedido de respeito, era uma demanda por respeito. E ela fala isso em uma das entrevistas que esse gesto simboliza entre os Kayapó uma demanda por um respeito. E que se ele for ultrapassado já tá o aviso já meio que tá dado já foi dado.
Então quem conta isso inclusive na entrevista é o marido dela que é o Dudu. E ele fala que o borduna que é o cajado é o instrumento um masculino e o facão é que fica com as mulheres. Ele também contou uma outra história que eu achei muito divertida, assim, curiosa sobre a personalidade da Tuíre.
Ele conta que teve uma vez que ela tava com um bebê de colo, uma bebezinha pequena, a filha bem pequena e ela ouviu de dentro do lugar que ela tava lá porcos selvagens passando pelo território, e aí ela deixou a bebê de colo nesse local que ela tava, pegou o facão para ir abater um porco selvagem e ela saiu, simplesmente saiu, abateu a caça, e ainda trouxe a caça para casa. Assim nem hesitou. E ele comentou que ele acha muita graça essa história porque essa é uma atividade, segundo ele, tipicamente masculina, tipicamente dos homens aquele povo de caçar porcos selvagens.
Mas que com isso a Tuíre mostra que ela está além dessas distinções de gênero, além de papéis pré-estabelecidos. Isso também tá expresso no papel que a Tuíre representa depois dessa ação de 1989 do Facão, como uma liderança indígena onde ela não foi oficialmente tornada cacica desses povos mas ela atuava como um Cacique. Ela passa a operar como tal, ser reconhecida como tal, respeitada como tal.
Tem uma coisa né disso que a Mari tá contando que a gente tá tentando organizar, é que não é alguma coisa meramente simbólica, essa reunião ela paralisou as obras de Belo Monte por 20 anos. Então de 1989 até 99, 2009 são nos governos do PT que essa obra com impacto ambiental desgraçado, que destruiu dezenas de milhares de vidas, impacto de fauna flora inestimável. O deslocamento dos povos indígenas também.
E o "clash" né, o confronto, conflito dessas visões de mundo um povo que não tá vendo um rio. Tá vendo o seu avô o rio é um é um sujeito e que essa visão desenvolvimentista vai lá toma tudo desses povos subverte em outra coisa usa e deixa esses povos literalmente sem nada né. Tem aldeias Kayapó que não tem energia elétrica, elas usam máquina a diesel, fóssil fornecida pela Norte Energia.
Hoje Norte energia na época era Eletronorte. E esse é o cúmulo do absurdo. Saber que as vidas, os territórios foram todos destruídos foram todos reordenados, reorganizados para que energia elétrica fosse produzida, os cabeamentos passam às vezes na fronteira do território e o território tá no escuro.
Se abastece de energia elétrica por energia suja. Enquanto o território deles, a água deles, o rio deles é convertido para a produção de energia limpa pro resto do país. É basicamente é isso que a Rita falou território, água, terra e vegetação envenenados, Rios represados e secos ou lugares inundados e eles recebem nada, não vou nem falar muito pouco, eles recebem nada em troca dessa violência, como compensação, em troca não mas como compensação por toda essa destruição.
Então assim é um povo que tá à margem e a Tuíre fala muito sobre isso, assim, a gente não quer negociar, a gente não quer mais intervenção aqui, e vocês não tem que vir aqui de longe, enquanto brancos. Que eles chamam de kuben. Vem lá de longe não são dessa terra, não nasceram aqui, não cresceram aqui e vem destruir tudo.
Que é isso que a gente faz né enquanto brancos. E essa é parte da história da família dela né, foi o avô dela que foi ludibriado, enganado, assassinado pelos brancos. Isso desarticula as lutas da região, os povos tinham nesse avô uma importante liderança, essa relação né de enganar, passar para trás, colocar numa armadilha né.
O avô dela morre numa emboscada. Exato ele é colocado numa situação de suposta amistosidade com os brancos em que parecia que ia haver algum tipo de negociação, e algum tipo de benefício pro seu próprio povo. Só que ele é enganado e ele cai numa emboscada, numa armadilha e é morto por esses brancos.
E essa morte desse avô dela, entre outras lideranças de outros mais velhos. Ela fala que isso é uma coisa que deixou essa população muito vulnerável porque é uma soma de fatores né, então a perda dos mais velhos onde se tem referência, experiência, história, contato com a terra, coragem, estratégias de guerra também né. Isso acaba morrendo com eles porque não dá tempo deles passarem pra frente às vezes, as juventudes às vezes não estão preparadas e ficam desarticuladas com a morte desses líderes.
E a aproximação dos brancos com esse discurso supostamente amistoso, protecionista e desenvolvimentista né como se isso fosse levar algum lugar melhor do que onde eles estão, sendo que isso é completamente questionável né. Inclusive num podcast que eu ouvi que também vou deixar aqui que é o Bom Dia Fim do Mundo da Agência Pública. Eles falam isso né que a Tuíre já tinha falado, já tinha mostrado Como aquela era uma obra que faria com que a região retrocede e se comprovou como verdadeira porque ambientalmente enfim, em todos os aspectos é um retrocesso.
A Altamira é a região mais afetada pela construção né de Belo Monte. Os ribeirinhos, os povos locais, os povos indígenas eles relatam vivendo uma guerra pela água literalmente. E você ainda tem ação de madeireira, ação de madeireiras Ilegais que a Norte Energia não fiscaliza, não oferece ajuda, não monitora.
Tráfico de drogas, violência e lixão porque essas indústrias todas, essas obras gigantescas também inflam as cidades, as populações em volta. E aí não tem saneamento básico, não tem infraestrutura para atender, aí vira uma grande guerra. Inclusive se falou de um processo de favelização em Altamira porque são pessoas que vivem no meio do lixo em plena Amazônia.
Todo o processo é muito medonho, e a Tuíre esteve no meio dessa luta toda e fez questão de passar pras netas, pras filhas, pessoas com quem ela convivia esse espírito de luta mesmo. De defesa dos territórios, defesa dos direitos indígenas porque uma das grandes preocupações dela era o futuro realmente. E ela deixa semente a neta dela se chama Tuíre, uma neta que foi recebeu o nome em homenagem a ela.
Ela faleceu no dia 10 de agosto de 2024. Então faz pouquíssimo tempo você devem ver esse vídeo em setembro, com 54 anos em decorrência de um câncer de colo de útero. Então ela fez um tratamento pra doença mas infelizmente não resistiu.
Foi uma morte que teve um grande Impacto pro movimento ambiental e indígena mas vejam só, foi próxima. Eu também estava ouvindo isso no podcast, a morte dela aconteceu próximo da do Delfim Neto e do Silvio Santos. Vocês ouviram falar da morte da Tuíre?
Ou ela foi completamente eclipsada? Se falou mais sobre o Delfim Neto sabe um grande apoiador da ditadura, muito mais do que uma liderança indígena que foi, foi e ainda é, e continuará sendo tão importante pra defesa do nossos territórios. Sim que paralisou Belo Monte por 20 anos.
Exato. Eu acho que tem uma essa coisa dos Absurdos irem se somando, irem construindo uma Torre de Pisa de Absurdos, é porque desde 2021 Belo Monte opera sem licenciamento ambiental. Então faz mais de 3 anos que essa hidraelétrica não tem licença ambiental para operar.
Aliás só para contar para vocês a Eletrobras acabou de perder os direitos de fazer os estudos prévios de viabilidade para a construção de outras três hidrelétricas no Estado do Amazonas. Então a gente tá falando mesmo assim de um nível que Beira o inacreditável do Absurdo ambiental, para além da presença de madeireira, do tráfico de drogas, do impacto ambiental, do garimpo, do número de peixes que morreu. Entre 2015 e 2019 foram 85.
000 peixes. E aí você tem os pescadores locais falando, minha vida acabou, meu modo de vida acabou, meu sustento de vida acabou, meu trabalho acabou. Você tem as populações ribeirinhas, as populações indígenas falando.
isso aqui era um paraíso agora nem mais pássaro voa aqui eles vão comer o quê? Os peixes morreram. A gente tá falando né desse cenário do fim do mundo de quem lá vive, e tem esse tempo oportuno.
Por que que a gente escolhe essa mulher? Um pouco para prestar homenagem ao falecimento da Tuíre, falar da luta dela, reconhecer a luta dela, quando muitos e muitas de nós tem as suas atenções voltadas para economistas da ditadura que assinaram A5 ou para golpistas banqueiros que fundaram uma rede de alienação do povo. Sem contar que esse daí o último também se aproveitou bastante na época da ditadura, da política desenvolvimentista do Amazonas, porque ele comprou muitos e muitos e muitos hectares de terra lá por causa dos incentivos fiscais, esses hectares de terra correspondem à metade da cidade de São Paulo.
E lá ele abriu uma Fazendinha que é metade da cidade de São Paulo e depois uma loja de móveis. Então assim, esse podcast que eu ouvi inclusive faz muito essa relação do Delfim do Silvinho e da Tuíre porque ali está muito da nossa relação da relatos suco do Brasil. Suco de Brasil, exatamente.
E aí eu acho que a última coisa que eu queria dizer também, é que a gente acaba de passar, quando a gente tá gravando o vídeo, a gente acaba de passar pelo 28 de Agosto que foi quando a PIB e todos os grupos indígenas que montam a PIB, eles saem da mesa de negociação do STF que depois de já ter decidido tá voltando atrás da decisão, rasgando a Constituição de 88 e tentando viabilizar o absurdo do Marco Temporal, que é basicamente uma lei de genocídio indígena. Tem essa última coisa que é pensar, São Paulo tá queimando, o Pantanal tá queimando, a Amazônia tá queimando. A gente tem em 2024 o maior número de focos de incêndio da Amazônia da história, são mais de 7.
000 focos de incêndio, danos do Pantanal assim irrecuperáveis uma dimensão de destruição que a gente não consegue dimensionar. São Paulo agora um território todo somado que chega perto do Estado do Rio de Janeiro em destruição e Os Guardiões da terra, os povos que desde que o Mundo Existe convivem em paz, harmonia, preservação, equilíbrio com a terra sendo dizimados e tendo suas terras tomadas. Fica um pouco como um clamor que a gente num momento Cultural de Delfim Neto e Silvio Santos, a gente não arrede o pé de que esse é um país de Tuíres, que é essa luta que precisa de toda atenção, todo foco, toda reverberação, é aí que está a vanguarda e a retaguarda.
É isso que impede o Brasil de Deixar de existir, são os guardiões, são os povos originários que estão atrasando o fim do mundo e agora a luta deles é a luta mais importante que existe. Sem eles não tem terra, não tem Rio e portanto também não tem a gente, então não tem sentido a gente continuar sem olhar para essa luta tão importante. A gente convoca vocês para acompanharem os materiais, ouvirem os podcasts, se informarem das notícias, reverberar o conteúdo e fortalecerem a luta dos povos originários do nosso país.