[Música] Olá a todos e a todas sejam muito bem-vindos e bem-vindas à nossa aula é a formação dos professores o conhecimento científico e o saberes da da experiência eh Hoje a gente vai dar continuidade à discussão que a gente vem fazendo acerca dos professores e da sua profissionalização E para isso a gente conta com a presença da professora Rosário eh que vai né já já tem falado sobre essa questão com a gente e hoje nós vamos falar desses conflitos entre esses saberes da experiência que ela vai nos explicar do que se trata eh e também
esse conhecimento científico que vai se configurando né com o processo de profissionalização que a gente viu né em aulas anteriores e aí isso gerou um certo conflito num determinado momento histórico que a Rosário vai tratar aqui hoje eh Rosário né a sua tese ela que trata né discute o trabalho docente no Brasil os discursos dos centros regionais de pesquisa Educacional e das entidades represent tentativas do magistério entre 1950 e 71 eh você traz muito bem certos conflitos né Desse presentes nesse período histórico no âmbito da prof profissão docente e você poderia então falar né um
pouco mais sobre esses conflitos particularmente né entre os especialistas e também os professores primários né como que ocorreu aí né nesse momento que você se dedicou com a tese como que a gente entende essa dinâmica aí né de conhecimento de prática pedagógica enfim Nesse contexto do seu estudo tá bom muito bem eh quando a gente fala desse período histórico em termos do que é o a área da Educação no Brasil nesse período histórico tem um um uma novidade tá que é que se passa a exigir a novidade dos professores pass passa se exigir atualização dos
professores né até esse momento um bom professor primário era o professor com muita experiência até esse momento um bom professor primário era o professor que tinha chegado a um modo de ensinar e que mantinha esse modo de ensinar tá ou seja havia constituído um estilo de aula havia constituído modelos de aula n e tá porque funciona para que e mudar tá se está funcionando então isso era um bom professor primário muito bem eh isso aqui é um pouco o o que se chama saberes da experiência né é a experiência do professor que garante essa qualidade
de ensino lá pela década de 50 começa a se questionar essa qualidade de ensino tá porque a gente tá eh tem um momento que combina uma série de fatores né Eh tem começa a se ter um um uma ação internacional de combate ao analfabetismo Tá no contexto da Guerra Fria tá no no uma políticas internacionais de modernização da educação então no Brasil começam a se efetivar acordos internacionais entre orização dos Estados americanos entre a Unesco e o Ministério da Educação e o Inep Instituto Nacional de estudos e pesquisas educacionais que eh vão começar a mobilizar
especialistas e vão começar a tentar produzir um conhecimento cientificamente fundamentado sobre ensino no Brasil eh vocês vejam Então a gente tem toda uma chegada de conhecimentos eh de outra outra ordem de conhecimento de base científica para falar de ensino de base científica e sociológica antes disso tinha uma forte ênfase na psicologia na área de educação muito bem eh hum em 1955 se celebra um acordo entre o Ministério da Educação e a organização do Estados americanos e a Unesco eu eu não localizo exatamente qual dos dois mas se celebra um acordo internacional para ah instalar no
país um conjunto de centros de centros de pesquisa centros regionais de pesquisa Educacional em cinco estados e um centro brasileiro de Pesquisas educacionais no Rio de Janeiro esses centros de pesquisa eles vão produzir eh informação tá científica vão produzir pesquisas tá sobre o ensino brasileiro e vão oferecer ação especializada com base nessas pesquisas para eh gestores e professores pelo Brasil inteiro e para gestores e professores da América Latina inteira né eles tentão por função fazer pesquisa e oferecer formação muito bem eh esses centros eles vão Seu eles vão dar lugar eles vão permitir né que
um os técnicos em educação que eram os profess que eram as pessoas formadas nas faculdades de pedagogia pudessem ter um espaço maior de ação um espaço maior de eh formulação de recomendações educacionais e na medida que eles vão eh dar cursos e e que eles vão produzir conhecimento sobre educação eles começam a fazer circular essa ideia tá de que um bom professor é aquele professor que se atualiza o bom professor é aquele professor que eh consegue mobilizar conhecimento científicos eh pro Ensino não é que essa ideia não existisse antes é que nesse momento ela passa
a circular de maneira mais intensa e ela passa a chegar aos professores então o professor que tinha como valor tá a repetição de uma fórmula que Teoricamente dava certo tá ele passa perder espaço ele passa a ser desvalorizado eh para que emerja tá a figura do professor que se atualiza do professor moderno do professor modernizado na verdade do professor que se atualiza do professor que usa novos métodos do professor que usa cartazes do professor que usa lousa de um jeito diferenciado do professor Que hã não tem medo de de mobilizar recursos que não os da
sala de aula tradicional tem uma revista nesse período que era produzida pelo programa de assistência brasileiro americana ao ensino elementar que é mais ou menos dessa época década de 50 60 que também é um acordo internacional essa revista chamava Criança escola nessa revista eh eh eh tava tudo isso proposto pros professores então o bom professor ele ele cria um clima emocional Positivo na sala de aula eles falavam isso então bom prof pessoa sabe usar um flanelógrafo então vinha uma instrução do que que é um flanelógrafo e como usar era a Inovação pura aí né era
é né use tudo de mais moderno como fazer é o professor que inova né É É o professor que inova tá é é o professor que permite que os alunos perguntem então não tem uma imagem de sala de aula com carteiras enfileiradas os alunos estão sempre eh em torno do professor e estão sempre numa disposição eh de diferente que revela uma uma maior informalidade tá nesse nessa situação de ensino muito bem então tem uma mudança na imagem social do que é um bom professor e essa mudança na imagem social do que é um bom professor
ela vai corresponder a ah aá uma mudança no tipo de conhecimento que eh no qual um bom professor se base então eh como é que era um a formação dos professores eles saíam das escolas normais e quando começavam a dar aula para constituir a a a sua prática frequentemente eles pegavam emprestados cadernos de professores experientes né e copiavam os planos de aula daquele caderno amarelo encebado de anos e anos de uso né eles copiavam para poder eles também ah constituírem uma prática bom isso deixa de isso é passa ser visto como uma coisa nociva tá
ao ensino para eh para se falar eh de um professor que tá atento às crianças nãoé de um professor que faz a escola funcionar de um jeito diferente porque ele tem um conhecimento específico ele tem um conhecimento especializado e que vai est se atualizando o tempo inteiro Rosário eh eu fiquei a gente fica imaginando né que essa mudança e essa alteração nas formas né de de pensar a atividade docente eh você pode falar um pouco do impacto né como que os professores mais experientes ou que tinham lá seus cadernos todos amarelados eh e ali se
se tinha né a qualidade o impacto dess dessa mudança dessa alteração né nesse processo aí de de formação dos professores Você tem alguma notícia ou como que foi exão né nesse período de de estudo né Que que aconteceu aí com os professores Tem sim eh existem indícios né os professores eles eh vão se expressar como grupo ou como indivíduos em eh em jornais em revistas das associações eles vão se expressar dizendo de frequentemente como como os teóricos da educação né não tinham a menor ideia como os técnicos da educação não tinha a menor ideia do
que que era a realidade da sala de aula então eu eu talvez tenha sido nesse momento que começa eu Suponho né A minha hipótese é que é nesse momento que começa a se falar nessa divisão entre teoria e prática né quando se começa a se dizer que a prática na teoria é outra ou a teoria na prática é outra Porque de fato começo ter uma os professores não só nas revistas eles vão falar que os técnicos em educação não TM noção né do que é ensinar nas escolas tá eles vão se queixar da falta de
material para implementar todas essas invenções pedagógicas eles vão eh Há uma mudança de mentalidade aí que diz respeito ao fato de que a reprovação ela começa a a o fracasso escolar ele começa a ser considerado como uma coisa nociva n e de modo geral não que antes não fosse né mas eh em termos de de país né começa a se falar no desperdício de recursos que era para as pessoas terem uma ideia nesse período se a gente pega estatísticas da década de 60 do primeiro pro segundo ano primário 50% das crianças de todas as crianças
do país repetiam tá Ou seja você tinha uma reprovação de 50% das de todas as crianças do país é um número muito assustador se você olha em termos de estatísticas né Eh e isso começa a ser questionado tá eh Será que essas crianças que tão reprovando tanto poderiam ir melhor se o professor não tivesse eh trabalhando de uma maneira mais adequada E aí Lógico os professores reagem a isso né eles vão dizer ó na sala de aula acontecem coisas que E essas Eh esses técnicos não estão sabendo Eles preparam materiais que são impossíveis de implementar
os professores vão resistir a isso tem é por isso que há o conflito tá você tem um modo de trabalho que ele vai ser deslocado ele deixa de ser eh legítimo ele deixa de ser um modo de trabalho aceito para ser suplantado por outro outro e nesse processo de transição você vai ter conflito porque você tem uma geração inteira de professores que que tá que tem esses valores da experiência como fundamento da legitimidade deles que esses esse esse pessoal não não muda de mentalidade de um dia pro outro e também não morre de um dia
pro outro ou seja Eles continuam trabalhando no sistema de ensino que começa cada vez mais a funcionar de outro jeito a exigir outras coisas tá eh eles precisam se atualizar eles precisam começar a ler mais eles precisam fazer mais cursos e na medida que precisam fazer isso isso é uma coisa importante de dizer eh nesse momento em que eles precisam investir mais em termos da e formação e do preparo deles para dar aula é o momento em que a inflação cresce é o momento em que o salário deles deixa de eh valer o que valia
então é o momento em que tá se questionando o estatuto profissional dos professores né e esse questionamento vem de eh especialistas em educação e esses eh e assim eu acho que é muito emblemático expressa muito bem esse conflito um um registro de uma de um discurso que o Fernando de Azevedo fez no início de um desses cursos que o crpe de São Paulo Centro Regional de Pesquisas educacionais de São Paulo oferecia para administradores educacionais nesse discurso ele vai dizer eh ele inicia o discurso tá eh dizendo eh nós aqui na universidade no centro de pesquisas
a gente representa a teoria tá e vocês aí que vê fazer esse curso que estão trabalhando no sistemas de ensino representam a prática então a gente aí ele faz toda uma uma um discurso conciliatório né A Teoria precisa se alimentar da prática a prática melhor ora com a teoria tem um um uma conversa conciliatória né justamente porque tava tendo uma tensão eh grande Tá na área educacional nesse período porque os professores de repente eles Como assim o que eu fazia há 30 anos não serve mais tá como assim o jeito que eu uso a lousa
não é o melhor jeito porque até no uso da lousa né se você pega essa essa revista engraçadíssima tem uma aula de como usar a lousa então tem você cobre pedaços da lousa tá E vai descobrindo faz um striptise da lousa striptise pedagógico da lousa para ah garantir o interesse dos alunos tá Ou seja é um é uma loucura divertido é divertido de de ler né porque é revista e não é é a revista chamava criança e escola ah aquela criança escola é e não é parecido com que a a gente tem hoje tá esse
momento tá na raiz disso que a gente tem hoje de um sistema de ensino em que os professores eh frequentemente não se reconhecem nas teorias educacionais não se reconhecem nesses métodos que são propostos para para o ensino né Eh é É nesse momento que do meu ponto de vista que essa essa dificuldade da conversa entre um conhecimento científico em educação e a prática em educação se origina e é essa dificuldade ela tem raízes sociais então a teoria que se opõe à prática não é um problema puramente epistemológico não é um problema puramente de como o
conhecimento Educacional ã funciona ou se organiza né Eh é também uma expressão de uma estruturação social da da educação no Brasil tá ah hoje em dia a gente reconhece né os estudos científicos em educação eles reconhecem que a prática dos professores ela tem um estatuto próprio tá a prática dos professores têm o estatuto próprio no sentido de que é prática n no sentido de que é uma coisa que tem que ser feita num tempo muito rápido é uma coisa que tem que ser feita eh tem um planejamento anterior mas na hora H A aula é
puro improviso Porque você não sabe o que vão perguntar você não sabe o que vai acontecer às vezes ah você tem que mudar a aula que você planejou porque o grupo de alunos não tá respondendo àquilo que você planejou Então isso é da natureza prática da ação dos professores eh Às vezes a gente tem um método de ensino que vai ser aplicado só que o método de ensino não dá conta da realidade de uma sala de aula porque o método de ensino ele pretende organizar um conhecimento ele pretende organizar determinados princípios mas ele não dá
conta dessa realidade toda e aí quando ele vai você vai aplicar isso em sala de aula lógico vira outra coisa tá você precisa às vezes recorrer a elementos que são estão fora do método de ensino às vezes contradizem esse método de ensino porque você precisa fazer com que esses alunos aprendam e não necessariamente eles vão aprender de acordo com o que o método diz Tá bom então hoje em dia a gente tem essa essa ideia de que o professor ele não tá isolado ele tem um contexto de uma escola essa escola tem um contexto de
um sistema de ensino tá Eh Ou seja hoje em dia tem um pouco mais de conversa entre o conhecimento científico em educação e a prática dos professores mas durante muito tempo não teve É nesse eh momento histórico que a gente consegue enxergar isso emergindo tá quando os professores eles a o que eles fazem deixa de valer então uma geração inteira eh eh deixou de ser respeitada tá porque a universidade porque os especialistas porque a sociologia a psicologia a filosofia a didática vão propor um modo de trabalho outro tá modernizante eu penso que embora né Rosário
você diga que a gente tem outro contexto e hoje a gente considere essa dinâmica do trabalho do professor eh mas a gente tem uma herança importante dessa né separação teoria prática que nos cursos de Formação é muito importante eh tratar a gente na verdade sempre precisa considerar porque senão gera uma frustração e as suas considerações eh fazem com que a gente possa né com essa aula pensar a docência hoje né que não se trata de uma hierarquia mas são saberes diferentes mas que eh não dá para ter uma expectativa de que olha né o saber
né a gente tem essa legitimidade do Saber ter teórico né e é uma expectativa que ele possa ser aplicado e eu penso que as suas contribuições ajuda né que a gente eh vocês né que a gente que ao pensar na pedagogia nas contribuições pedagógicas Tem em vista essa complexidade da atuação docente mas que houve um momento como professora Rosário trouxe em que se eh possibilita essa certa esse conflito mesmo né que houve aí um momento como eh é a aula demonstra não é não é uma separação da teoria e da prática é é uma chegada
de alguma coisa que eh pretende dizer como é que a prática vai funcionar e que ignora as experiências anteriores tenta Ignorar as experiências né já construídas enfim e e é uma ideia é uma representação que ficou tão forte mas tão forte na em termos do do do que se espera da formação para um professor que às vezes o o os professores falam Néa oposição entre teoria e prática naqueles termos da década de 50 tá eh essa essa concepção de que teoria e prática tem papéis Diferentes né e não que uma não vai aplicar uma não
é aplicação da outra ela eh não é não é comum às vezes os professores eles pedem né métodos e pedem recursos que vão resolver o problema deles para aplicar né aplicar isso não não dá conta isso não dá conta não dá conta perfeito bom então a gente agradece as contribuições da professora Rosário eh a gente considera que é bastante significativa essa retomada desse momento tão importante na história da docência e do processo eh também de profissionalização né de construção de saberes pedagógicos a gente espera que vocês tenham aproveitado a aula de hoje obrigada Rosário e
a Até logo até a próxima aula [Música] [Música] s [Música]