antes de você ir para esse vídeo deixa eu te contar uma coisa nessa quarta-feira às 7 da noite 19 horas a gente vai ter Live aqui no canal nós da questão então bota despertador bota aviso em todo canto porque você me conhece sabe que eu sou pontual Então vamos se encontrar quarta-feira às 19 hor 7 horas da noite aqui no canal nós da questão no YouTube tô esperando você agora vai pro vídeo [Música] olha via de regra a perda de um filho é um evento absolutamente traumático e que põe em jogo uma capacidade enorme de
simbolizar coisas e de suportar um sofrimento muito grande de fato se você deseja mesmo esse filho isso é sempre muito muito traumático tanto pro pai quanto pra mãe no caso de Thiago Nigro e Maira Cardi a gente observa um fenômeno contemporâneo muito surpreendente a postagem do luto nas redes sociais ele após ela ter sofrido um aborto espontâneo mostrou nas redes sociais imagens do feto abortado bom é o Óbvio e É desnecessário dizer que muita gente na internet caiu matando em cima disso né É esse o meu objetivo aqui não não é mas é preciso que
a gente reflita sobre isso porque essa atitude de mostrar um feto abortado na internet fala também da sua vida fala da minha vida só que talvez el levada a enésima potência né Por que diabos alguém faz isso e talvez você também faça sem perceber que faz ou no escala menor mas você quer descobrir como é que tá se tornando essa história do luto na era do like então Assiste esse vídeo eu sou Marcos Lacerda psicólogo e esse é mais um nós da questão vamos junto [Música] vamos começar entendendo o seguinte o luto é um processo
interno eu vou sublinhar interno aonde a gente tenta separar a imagem do ente querido que foi perdido do nosso próprio eu a gente tenta se descolar isso é o trabalho do luto ou seja se alguém que eu amo morre se eu perdi um filho se alguém me deixou eu tenho que me desmurget [Música] eu preciso descolar a minha imagem da imagem do outro no caso de um filho um filho e eu a gente tá muito misturado e agora esse filho vai embora e como é que eu fico onde é que eu fico parece que eu
morro junto Essa é a ideia então entende o que é o luto Isso é só para esclarecer O que é o trabalho de luto é cortar na carne né É dizer ah Um Pedaço Meu foi arrancado e eu agora me reestrutura enquanto eu sem o outro isso é luto O problema é que quando eu pego este meu trabalho que deveria ser interno e o jogo na rede social como algo público quer seja em busca de apoio dos outros quer seja em busca de like quer seja em busca do que diabo for eu caio numa coisa
muito complicada que é a mercantilização da dor eu começo a mercantilizar a minha dor e não eu não estou falando do caso específico deles eu apenas estou dizendo que assim como eles ao exporem esse tipo de dor na rede acaba caindo numa mercantilização muitas vezes você ao expor o término do seu namoro ao espumador muito grande que você tá sentindo e que deveria ser Trabalhada na forma de um luto interno você mercantiliza sua dor e a gente faz isso sem perceber isso acontece porque as redes sociais enquanto instrumento de mercado ela incentiva a exposição de
todas as áreas da sua vida mas de todas mesmo porque pra rede social tudo precisa virar mercado até mesmo aspectos da vida humana que deveriam ser privados que deveriam ser íntimos vocês já pararam para pensar que a gente Às vezes tem a sensação de que o mundo Já não sabe mais o que é privado e o que é público parece que as coisas se misturaram parece que as pessoas acham que tudo agora se tornou público e o que eu tô querendo que vocês compreendam é que ao postar um momento tão cruel tão doloroso ele participa
sem perceber ou percebendo não posso saber não posso julgar de um sistema que transforma tudo em mercadoria até mesmo o luto e nesse contexto um processo que era algo íntimo perde essa característica de intimidade e se torna o quê um produto digital e aí sem que a gente perceba até um feto se torna um produto de gital Ou seja a experiência de perda e luto ela acaba sendo substituí vida pelo seu valor de troca o quanto é que essa perda aqui vale para ser trocada por likes por engajamento pelo que quer que seja e isso
pode ser a perda do bebê isso pode ser a perda do marido isso pode ser outra que um dia desse viralizou porque pegou o marido que era pastor e foi na no culto fazer um tumulto Porque descobriu que o pastor tinha uma amante na igreja ou então a mulher que não quis dar lugar pra outra no avião paraa criança não importa o que eu tô querendo que você acorde é para a mercantilização da sua existência porque o caso desse rapaz e dessa moça precisa nos ensinar alguma coisa a gente precisa mais do que jogar pedra
no outro a gente precisa aprender a gente precisa se melhorar através do que o outro faz o outro precisa ser espelho né ah mas imagina ele é uma pessoa que vive do público ele compartilha tudo da vida dele por que ele não compartilharia mais Esse aspecto da vida dele ele pode compartilhar através da comunicação eu posso fazer um comunicado eu estou sentindo uma grande dor por uma perda que eu vivi eu acabei de perder meu filho quero ser entendido neste momento e meu recolhimento vai falar por mim ponto final por exemplo mas a gente entra
numa roda numa espiral de consumo que a gente não se dá conta do que tá acontecendo do que nós próprios estamos vivenciando porque isso é desde o canal lá Grande até Dona Maria que posta qualquer bobagem mas que ela quer engajamento ela precisa disso para se sentir viva mesmo que no caso Dona Maria lá não tem a monetização Mas é para se sentir viva e aí o que é que acontece essa exposição cria A falsa sensação de comunidade você começa a achar que tem de fato uma comunidade ao seu redor mas não tem por a
sua dor a sua perda virou espetáculo é isso que virou E aí o que é que quem faz esse tipo de coisa perde perde de fato o lastro o suporte social legítimo que deveria ter porque na hora que você mercantiliza a sua dor sabendo disso ou não Não me interessa você perde a solidariedade dos outros os outros simplesmente começam a ver em você um circo e não é possível que eu passe pela dor de pegar o meu filho abortado e que isso não seja perturbador para mim psicologicamente tem que ser perturbador para mim agora sou
eu falando de mim certa vez foi muito perturbador para mim ver um animalzinho meu que tava dando cria um dos cachorrinhos nascerem mortos foi extremamente perturbador desolador ver aquilo eu estou falando de um cachorrinho então o que tipo de seres humanos nós estamos nos tornando Que tipo de sociedade a gente tá construindo quando até mesmo o luto a mais íntima das experiências se torna um espetáculo e eu insisto nisso a exposição de uma tragédia pessoal na internet não é um ato isolado deste casal você que me Assiste faz isso sem perceber é porque esse caso
foi muito absurdo porque a gente tá falando da morte de um bebê a gente tá falando da exposição de um feto abortado qu quantos fetos abortados simbolicamente você não expõe na internet e não tô querendo passar pano pro que Tiago fez não até porque eu também não tô aqui para julgá-lo mas eu tô para Leti porque eu queria que as pessoas acordassem e parassem de vender a alma pro diabo de achar que podem vir nesta Bendita internet que eu tô falando com vocês aqui e fazer qualquer coisa que seja porque eu preciso existir e eu
só existo se você aí do outro lado me disser que eu existo Será que a gente não vai acordar para o fato de que é preciso resistir a essa lógica da mercantilização da dor custe o que custar eu quero eu posto eu preciso eu não preciso desse mercado assim não é possível Onde foi parar a minha alma Onde foi parar a sua alma Então tá na hora da gente pegar este caso e se perguntar com muita honestidade ao invés de ficar jogando pedra neles a vida deles é deles Quais são os limites éticos da nossa
exposição na internet o que é que a gente tá perdendo da nossa humanidade ao transformar momentos íntimos momentos de dor em espetáculos digitais Será que não tá na hora da gente pensar sobre isso e mais será que não tá na hora da gente pensar o quanto nós somos manipulados pela engrenagem social para sermos dessa forma porque o próprio Tiago tem um canal no YouTube tem o projeto dele que se chama primo rico Pois é mas sabe uma coisa que a gente não para para pensar que para existir o primo rico Tem que existir o primo
Pobre não tem saída tem que ser assim sabe por quê você sabe os mendigos que estão na rua pedindo comida passando fome é preciso que eles existam para que a estrutura social Inclusive essa que é mantida pela internet se mantenha porque se eu não tiver pessoas passando fome eu não posso explorar a mão de obra a mão de obra só pode ser explorada e eu só posso ser rico se eu explorar a mão de obra de alguém e para eu explorar a mão de obra de alguém eu preciso ter uma fila de gente passando necessidade
p dizer assim você não quer esse salário que eu dou não você tá achando pouco tem nada não tem 500.000 pessoas que vão fazer esse trabalho por menos do que você faz essa espetacularização da dor faz parte do sistema de consumo também porque a gente agora precisa da pobreza do outro da dor do outro do sangue do outro da alma do outro e a gente não vê o papel da vampirização na internet nessa dinâmica de seres humanos Então esse vídeo não é uma crítica pessoal ao casal mas é um convite a nossa reflexão porque também
a gente é bom né a gente é bom de jogar pedra e de querer o espetáculo lembra do Coliseu Romano aonde os cristãos eram jogados para os leões comerem os cristãos e o Coliseu ficava lotado Pois é a internet virou o Coliseu mod a gente virou espectador enquanto pessoas são lançadas para os leões comerem e a gente quer mais é que o leão coma porque a gente se diverte com isso então não não tô aqui para me divertir com a falha ética desse rapaz não na minha opinião sim foi uma falha ética gravíssima mas uma
falha ética gravíssima que em maior ou menor medida todos nós acabamos cometendo eu incluso nessa história e eu preciso trazer essa reflexão porque se eu não trouxesse essa reflexão porque eu poderia fazer diferente eu poderia pegar esta cena para descer a lenha e aí esse vídeo ia ser bombástico né mas eu não faço parte do Coliseu Romano eu não tô jogando ninguém aos leões eu só estou querendo que nós nos lembremos que hoje a gente olha a figura do Coliseu em Roma e fica chocado mas a gente esquece que o Coliseu hoje em dia é
aqui essa lente que você tá me vendo e quanto mais briga quanto mais barulho quanto mais sangue quanto mais dor quanto mais vida privada quanto mais absurdo mais o Coliseu inteiro se empolga não é tá na hora da gente refletir porque isso tudo é fruto de uma única coisa do culto a um único Deus o Deus cifrão até quando nós colocaremos o Deus Cifrão no altar e ofereceremos o que quer que seja a esse Deus cifrão até mesmo abortados fetos Pense nisso tchau até a próxima [Música]