G1 [Música] o Toddy muitos de nós finalmente nos conscientizamos de que muita coisa na nossa sociedade precisa ser transformada precisa mudar de fato não tá bom para todo mundo não tá bom para todos os grupos sociais que a gente tem não está bom para as pessoas negras não está bom para as pessoas indígenas não está bom para as mulheres não está bom para os idosos as pessoas que tem algum tipo de deficiência física não está bom para turma LGBT que ia mais não está bom para as crianças para as mães enfim nós temos problemas sociais
seríssimos que fazem parte estão enraizados na história da formação do nosso país nós temos o racismo nós temos o sexismo nós temos a fome EA pobreza nós temos desemprego nós temos a falta de moradia e enfim diversos elementos que compõem o tão falado quadro das desigualdades Nesse contexto de problemas tão profundos e difíceis de se solucionar se eu falar para você em direito à cidade Pode parecer um pouco estranho na mesma até porque na nossa percepção a gente transita pela cidade a gente vai e volta como quando com quem a gente quer nos momentos em
que a gente quer mas eu acho que é um momento da gente parar e se perguntar será que é mesmo assim será que nós realmente temos o direito de usufruir das cidades Será que a gente transita de fato por todos os espaços que a gente escolher no momento que a gente escolher da forma que a gente escolher é bom direito à cidade é uma expressão né um conceito que foi cunhado por um sociólogo francês chamado Henri lefebvre e 1968 o em que ele é ferro ele vai definir leduar a La Ville traduzido direito à cidade
da seguinte forma significa o direito dos cidadãos e dos grupos que eles constituem sobre as bases das relações sociais de figurar sobre todas as redes circuitos de comunicação de informação e de trocas bom partindo dessa definição a gente já começa a ver tem algum problema tem alguma questão aí que não fica bem encaixada a gente tem uma sociólogo holandesa que é uma das maiores intelectuais da contemporaneidade que também é referência em estudos urbanos né do espaço urbano da cidade das relações dentro da e se chama Saskia sassen Saskia sassen ela vai dizer o seguinte numa
entrevista que ela deu alguns anos atrás nós precisamos desestabilizar conceitos estáveis bom eu considero essa fala das aska um convite para que a gente começa a refletir sobre coisas que estão tão naturalizados na nossa sociedade que a gente nem se dá conta mais de que aquilo tá ali todos esses problemas históricos que eu tô falando aqui todo esse quadro de desigualdade tem muita coisa que a gente não consegue perceber caminhando pela cidade de tão acostumado que estamos e nos deparar com essas situações e o geógrafo Milton Santos que é um baiano incrível um dos maiores
intelectuais do mundo também nos seus textos nos seus artigos né mas famosos ele fala sobre um conceito que ele também cunhou que é de cidadania mutilada o Milton Santos ele vai dizer o seguinte se a gente não vivencie as cidades de maneira igualitária Justa e equilibrada e integral nós não podemos dizer que somos cidadãos ou cidadãos pois bem esses problemas acompanham a formação histórica do nosso país quando a gente fala na questão racial na questão de gênero na questão de classes né que ele aqui visão as vivências dentro da sociedade a gente também tá falando
de coisas que vão se espelhar que vão ser encontradas materializados nos Espaços da cidade então a gente pode concluir que o nosso espaço urbano ele é o chão onde as questões sociais vão estar cravadas desenhadas arquitetura e urbanismo que são profissões antigas né saberes profissionais antigos eles não são neutros tão pouco são silenciosos eles são altamente discursivos e se vale de símbolos que contam histórias Inclusive a nossa história a história da formação do nosso país as nossas cidades ela se formaram já lá no período colonial e elas se formaram a partir de uma espécie de
transporte do modelo de cidade do modelo de espaço urbano lá de Portugal que era fortemente influenciado pelas civilizações greco-romanas então a as nossas cidades elas foram inicialmente pensadas para defesa do território e não exatamente para proporcionar um ambiente favorável à formação da Cidadania das pessoas que iriam ocupar aquele aí as fortificações são tipo de arquitetura um tipo de construção que marcam bem esse período da nossa história isso fez com que alguns elementos que já existiam lá naquele espaço né de Portugal com forte influência greco-romana se transportassem para as cidades ou seja nós herdamos de lá
também um caráter extremamente segregacionista e excludente que a gente pode observar nos Espaços da cidade até hoje atuante firme e forte muitos urbanistas definem a cidade com o espaço fragmentado como um espaço de exclusões e segregações diversas né partindo do conceito da Saskia sassen a gente precisa começar a pensar da seguinte forma e a gente tem falado da arquitetura hostil mas na verdade para a gente conseguir se aprofundar um pouco mais e entender exatamente o que tem acontecido nas nossas cidades a gente tem que dizer estabilizar esse conceito então se a cidade se arquitetura e
urbanismo são discursivos e apresentam para gente um histórico de Formação muito comprometido com a violência que a gente observa na no nível social então a gente também tem que dizer que arquitetura e urbanismo estão sendo violentos e não exatamente os X não apenas os X arquitetura que é responsável pelo projeto de edificações é prédios casas escolas hospitais e urbanismo que engloba o planejamento Urbano as políticas urbanas a distribuição das idades dos mobiliários nos Espaços que a gente frequenta e precisam ter um olhar mais criterioso para sua participação no quadro de violência que a gente quer
combatendo no nível social Oi Valéria Gonzales que é uma das maiores intelectuais sobretudo do feminismo negro das Relações raciais no país também reconhecido internacionalmente no seu livro lugar de negro que ela publicou por volta da do começo da década de 80 em parceria com o sociólogo Chamado Carlos Raça é um bug ela vai dizer né na verdade ela vai alertar para a divisão racial do Espaço das cidades a lélia Gonzalez ela vai ser categórico em dizer que existe nas cidades o lugar do branco e o lugar do negro o lugar do branco é um lugar
do Bem Viver é o lugar do conforto é o lugar da livre expressão e vivência o lugar do negro é o lugar da subalternidade é o lugar da precariedade é o lugar da escassez e da violência escancarada bom então o problema social que nós temos chamado racismo ele também vai definir como a cidade se comporta mas não só nós temos também a questão de gênero que também influencia na dinâmica das cidades a jurista e urbanista A Betânia alfonsin no seu artigo cidade para todas cidade para todos vai dizer vai nos alertar Aqui as nossas cidades
estão muito vinculadas ao modelo greco-romano sobretudo da Grécia onde você tinha apólices que eram espaço público onde se discutia política e se tomava as principais decisões que aconteceriam naquele espaço nesse lugar só os homens podiam estar ali só os homens podiam participar da vida pública para as mulheres era destinado o ambiente doméstico ou Oikos lugar também onde ficavam os escravos e os Animais Então a partir daí a gente consegue Me dê o caráter absolutamente excludente que vem também pela vertente pelo pensamento da questão de gênero o corpo da mulher é um corpo que conceitualmente existe
para ocupar os espaços domésticos ainda que a gente transite pela cidade fazendo uma série de coisas a mulher têm alcançado e conquistar o seu espaço nós no espaço público nosso corpo também é visto como um corpo público haja Vista a quantidade de assédios né a quantidade de estupros a quantidade de violências psicológicas que a gente passa no nosso trajeto pelas cidades muitas vezes a gente tem que mudar percursos a gente tem que alterar as nossas horários de trânsito pelas cidades porque a gente precisa pensar primeiramente na nossa segurança pois bem não é só a questão
de raça E de gênero que influencia as dinâmicas EA distribuição das cidades e também tem um forte caráter de hierarquiza São por classe econômica isso também vai ser traduzir os nossos Espaços das cidades nós temos por exemplo um grande número de carros ocupando um espaço que é majoritariamente para as pessoas que deveria ser majoritariamente para pessoas os carros na cidade ocupam mais espaço do que as pessoas né isso principalmente porque o carro virou ao longo da história um símbolo né de status social para Além da questão do carro que tem sido discutido aí pelas pessoas
que fazem uma militância do cicloativismo da mobilidade a pé a gente vai ter também uma outra questão que é bem grave que a questão Habitacional né A questão Habitacional ou déficit Habitacional nosso país manda leva muitas pessoas a morar nas favelas nas encostas nas habitações irregulares insalubres é muito isso presente nesse período de pandemia o quanto isso é importante desse discutido agora tem um extremo da questão Habitacional não resolvida do nosso país que é a questão das pessoas que vivem em situação de rua é só em São Paulo nós temos cerca de 30 mil pessoas
que vivem nessa condição E essas pessoas elas acabam carregando um estigma um conjunto de preconceitos e estereótipos que vai fazer com que essas pessoas sofreram muitos danos e é daí que a gente vem discutindo a questão da arquitetura hostil por exemplo né a gente observou no último semestre agora desceram de 2021 um caso que tomou proporções e midiáticas né que durante a noite no viaduto de grande movimentação foi instalado uns paralelepípedos uns os obstáculos pontiagudos para impedir que essas pessoas em situação de rua ocupassem esse lugar para pernoitar ou enfim para se abrigar da chuva
das intempéries climáticas e tudo mais isso é uma grande violência né esse não foi o não é o único exemplo que a gente encontra nas a net ge exclusão de segregação de repulsa as pessoas em condição em situação de rua ajustar tem outros exemplos né que a gente pode observar de Barreiras físicas que se colocam nos Espaços descaradamente para não permitir que essas pessoas possam permanecer ali então a gente vê bancos de Praças por exemplo com barreiras para que a pessoa não possa deitar exticao seu corpo a gente observa taxas que elementos pontiagudos que também
não permitem que uma pessoa em situação de rua sente ali para descansar para comer a sua refeição ou para enfim qualquer finalidade as pessoas em situação de rua oitenta por cento delas são pessoas negras essa condição de não ter onde morar ou demorar nos espaços de favela de Periferia por exemplo não é a condição casual isso é resultado dos nossos processos históricos a Eugenia definiu também os espaços da cidade a maneira como se distribuem da mesma forma nós tivemos políticas fundiárias extremamente segregacionistas que favoreceram apenas um grupo social desde as capitanias hereditárias passando pela lei
de terras de 1850 que vai transformar a terra em mercadoria E aí vai dificultar ainda mais o acesso para pessoas indígenas as pessoas negras mulheres né então a questão da pessoa em situação de rua ela é um resultante desses processos históricos agora tem um outro elemento também nas cidades que vai definir muita coisa que é a questão do apagamento eu tive caminhando pela cidade de Blumenau E aí se observa uma forte influência alemã para todo lado que a gente olha imagina se a gente tira essa influência alemã as informações arquitetônicas e de distribuição do espaço
que nos remetem a memória da ocupação alemã na cidade o que que aconteceria com essas pessoas elas não se ela se sentiriam deslocados do seu lugar ela se sentiram descoladas da sua história mas a gente pode dizer que nas cidades a gente não consegue ver a presença das pessoas negras das pessoas indígenas das mulheres que são pessoas que também trabalharam ativamente para a construção literalmente braçal dos espaços das cidades em São Paulo por exemplo recentemente foi resgatada a história do primeiro arquiteto negro O thebas que foi um grande Construtor que foi responsável por muitas obras
ali de médio e grande porte na São Paulo do século 18 a gente tem também o bairro da Liberdade que atualmente se chama Liberdade Japão nós sabemos que existe no bairro uma forte e da Cultura nipônica né dos Imigrantes Japoneses mas aquele bairro começou com uma expressiva população negra e que agora isso é apagado Esse é suprimido da história tirar das cidades a forma a informação de quem a construiu provoca nas pessoas um sentimento de não pertencimento a impressão que nós temos é que a cidade é apenas e exclusivamente dos homens dos homens brancos porque
só o nome deles os monumentos enfim os símbolos presentes ali só o nome deles constam só o nome de um grupo social a gente não tem mulheres numerando Praça a gente não tem pessoas negras informações afro informações indígenas de marcando que aquele espaço também nos pertence né isso afeta de muitas formas então quando a gente tá com falando na questão do direito à cidade a gente tá a discussão de como a nossa formação física o nosso espaço de convivência física precisa ser criteriosamente avaliado porque senão todo e qualquer política que se pretenda erradicar as desigualdades
sociais elas não vão se resolver efetivamente as idades elas foram construídas por esses processos históricos e elas espelham tudo isso seria muito bacana inclusive para nossa saúde mental que as nossas cidades fossem inclusivas fossem empáticos convidativas para a formação de uma sociabilidade mas afetiva né seria muito legal que a gente conseguisse olhar para uma cidade Justa e igualitária isso não tem acontecido e a essa conversa de direito à cidade ela é fundamental porque é a partir daí que a gente vai conseguir ter uma leitura crítica da formação histórica tanto social quanto a urbana EA partir
daí a gente vai conseguir inclusive propor mudanças e transformações conjuntas entre o que se passa na sociedade e o que a sociedade está esperando para os espaços físicos que nós ocupamos bom então buscar transformações sociais passa invariavelmente pela leitura do nosso território e pela solução dos problemas históricos que se acumularam diante deles muito obrigada ó