essa é uma história baseada na vida real nascida Negra num mundo de preconceitos Dona Zumira carrega uma história que irá abalar suas convicções prepare-se para uma narrativa crua e viceral coloque-se em seus sapatos sinta o peso de suas experiências os segredos que ela se viu forçada a revelar são tão impactantes e profundos que ela confessou se pudesse os levaria para o túmulo aviso esta história irá envolvê-lo de tal forma que você se esquecerá do mundo ao seu redor deixe seu like agora antes que as emoções o levem para longe deixa eu te contar algumas coisas
que me aconteceram Tenha paciência essa história só fará sentido se você ouvir desde o começo para compreender a gravidade da minha situação conheci meu marido José Antônio em 19 50 eu tinha 17 anos e trabalhava no armazém do bairro lá eu fazia de tudo desde lidar com a caixa registradora até limpeza do chão ele passava todo dia para comprar pão e sempre dava um jeito de puxar conversa comigo José Antônio era um rapaz bonito por coincidência ele fazia aniversário no mesmo dia que eu saber daquilo criou uma forte conexão entre nós ele trabalhava como aprendiz
numa oficina mecânica ali perto sempre chegava no Armazém com as mãos sujas de graxa mas com um sorriso que iluminava o dia da gente no começo eu ficava toda sem jeito quando ele aparecia Mas aos poucos fui me acostumando com aquele jeitão brincalhão dele minha família era humilde sabe meu pai Seu Antônio era pedreiro dos bons e minha mãe dona Maria lavava roupa para fora nós morávamos em uma casinha modesta eu e também meus dois irmãos mais novos o João e o Pedro a vida não era fácil eu comecei a trabalhar cedo para ajudar nas
despesas de casa Ora ora aquele José Antônio com uma história de vida marcada por algumas perdas ele costumava dizer que seus pais biológicos entregaram ele aos cuidados dos tios quando ainda era um neném apesar da ausência dos pais seus tios o acolheram e o criaram com muito carinho e dedicação era como se ele fosse filho de sangue mesmo mas lá na cidadezinha vizinha de onde ele veio não tinha muitos empregos sabe então ele veio sozinho ali paraa nossa cidade alugou um quartinho improvisado na oficina do seu Manuel minha filha o José Antônio era esforçado aprendia
rápido ele queria ser mecânico ele gostava muito do trabalho na oficina tinha jeito para coisa sonhava em ter seu próprio negócio um dia quando eu conheci ele Fiquei impressionada com a dedicação trabalhava duro sabe sempre com um sorriso no rosto mesmo quando as coisas estavam difíceis a gente foi se aproximando aos poucos nos intervalos do trabalho dele ele me contava dos sonhos Dele de como queria construir uma vida melhor e eu Bob que só fui me apaixonando tinha algo nele uma força uma determinação que me cativou lembro como se fosse hoje do dia em que
ele me convidou para sair era um sábado à tarde o armazém estava cheio ele esperou todo mundo sair e chegou perto do balcão todo nervoso Zira ele disse tava pensando se você não queria ir comigo na praça amanhã fiquei vermelha que nem um pimentão mas aceitei na hora a verdade é que eu não via a hora de ele me chamar para sair naquele dia a gente começou a namorar escondido meu pai era brabo não queria que eu me envolvesse com ninguém antes dos 20 anos mas José Antônio era persistente ele fazia de tudo para me
ver nem que fosse só por 5 minutos na hora do almoço os dias eram duros sabe eu acordava cedinho junto com as galinhas ajudava minha mãe com o café ia pro Armazém trabalhava o dia todo e ainda ajudava em casa à noite dobrava as roupas que a mãe lavava eram tantas que cancera José Antônio não tinha vida mole também não trabalhava de sol a sol na oficina às vezes até nos domingos Mas a gente sempre dava um jeito de se ver nem que fosse só para trocar olhares com o tempo José antnio foi ganhando a
confiança do meu pai ele era trabalhador respeitador e todo mundo no bairro gostava dele depois de um tempo se conhecendo ele finalmente pediu permissão pro meu pai pra gente namorar oficialmente foi um dia de festa lá em casa a vida não era fácil mas a gente era feliz sabe depois de um ano de namoro José Antônio e eu decidimos nos casar foi uma cerimônia simples na igrejinha do Bairro com a presença da família e dos amigos mais próximos eu estava Radiante no meu vestido branco simples feito por mim e pela minha mãe José Antônio todo
arrumado de gravata e tudo parecia não caber em si de felicidade neste dia eu conheci o casal de Tios dele dona Lídia e seu laert eram muito queridos estavam muito felizes por entregar seu amado sobrinho para uma família de bem eles trouxeram bastante presentes para ajudar no enxoval lençóis toalhas de mesa de banho até um jogo de panela de ferro eles nos deram eu amei pois íamos realmente precisar meu pai Seu Antônio apesar de ser um homem duro tinha um coração mole ele viu o amor verdadeiro entre a gente e decidiu nos ajudar como era
pedreiro e o terreno da nossa casa era grande ele construiu uma casa meia água de alvenaria pra gente nos fundos em poucos meses eu já estava de barriga foi uma gravidez tranquila continuei trabalhando no armazém até o dia do parto quando chegou a hora foi uma correria a Parteira do bairro Dona Jussara veio às pressas e depois de horas de trabalho de parto nasceu nosso primeiro filho mas a alegria logo se transformou em preocupação assim que o bebê nasceu a Parteira ficou séria nosso menino tinha nascido com uma má formação o braço esquerdo não tinha
se formado completamente só tinha o cotoco foi um choque pra gente mas minha filha o amor de mãe é realmente algo extraordinário quando segurei Meu Pequeno no colo pela primeira vez e olhei em seus olhinhos todo o medo que sentia se transformou em uma forte determinação ele era nosso filho nossa carne e sangue e estávamos decididos a amá-lo e protegê-lo eu chorava toda hora me perguntando se tinha feito algo errado durante a gravidez os vizinhos cochichavam alguns diziam que era castigo foi um período difícil muito difícil mesmo José Antônio demorou um pouco mais para aceitar
mas quando o fez se tornou o pai mais dedicado que você pode imaginar a gente deu o nome de Antônio para nosso filho em homenagem ao meu pai os primeiros meses foram difíceis a gente tinha que aprender tudo como cuidar de um bebê com necessidades especiais Mas aos poucos Fomos nos adaptando os vizinhos que no começo cochichavam começaram a ajudar traziam roupinhas davam palpites a se uniu em volta da gente depois que o pequeno Antônio nasceu a vida ficou bem corrida no começo eu pensei em deixar o emprego no armazém para cuidar dele em tempo
integral Afinal com as necessidades especiais dele Achei que ia precisar de atenção o tempo todo mas a vida tem dessas coisas né Nem sempre a gente pode fazer o que quer o salário do José Antônio na oficina era bom mas não dava para sustentar a família sozinho ainda mais com as as extras que a gente tinha com o Antônio então depois de muita conversa e quebra-cabeça para organizar as coisas decidimos que eu ia voltar a trabalhar não foi fácil viu meu coração ficava apertado de deixar o pobrezinho por sorte a dona Sida nossa vizinha se
ofereceu para olhar o Antônio enquanto eu tava no armazém ela não cobraria muito para isso e além do mais ela já tinha criado cinco filhos então sabia das coisas todo dia de manhã eu levava o Antônio paraa casa dela antes de ir pro trabalho era difícil me separar dele mas saber que ele tava em boas mãos me deixava mais tranquila no armazém Seu Joaquim o dono foi um anjo ele me deixou fazer um horário mais flexível para que eu pudesse amamentar o Antônio no meio do dia eu corria paraa casa da dona Sida na hora
do almoço dava de mamar pro menino e voltava correndo pro trabalho era cansativo mas a gente faz o que precisa pelos filhos né os meses foram Pass e a gente foi pegando o jeito O Antônio foi crescendo forte e esperto apesar da dificuldade com o bracinho era de cortar o coração ver ele se esforçando para fazer as coisas mas também enchia a gente de orgulho ver a determinação dele ele não desistia nunca a rotina era puxada Eu acordava cedinho preparava as coisas pro Antônio ia pro Armazém voltava correndo na hora do almoço depois trabalhava até
o fim da tarde chegava em casa cansada mas ainda tinha que cuidar da casa e do menino José Antônio ajudava como podia mas ele também chegava tarde da oficina muitas vezes sujo de gracha até o pescoço mesmo com toda a correria a gente era feliz sabe tinha amor na nossa casa nos fins de semana a gente sempre dava um jeito de passar um tempo junto nem que fosse só para sentar na frente de casa e ver o Antônio brincar José Antônio fazia questão de levar o menino para ver os carros na oficina e o pequeno
ficava fascinado só que lá era um lugar perigoso para uma criança então sempre com o olho bem aberto sabe passou mais um ano e dois meses e Eis que descobri que estava grávida novamente foi uma mistura de alegria e preocupação por um lado a gente ficou feliz com a ideia de dar um irmãozinho ou irmãzinha pro Antônio por outro veio aquele medo sabe a gente não podia evitar de pensar no que tinha acontecido da primeira vez Dessa vez fui pro o médico Logo no início da gravidez ele era um doutor muito atencioso ouviu todas as
nossas preocupações sugeriu que eu tomasse umas vitaminas especiais disse que podia ajudar o bebê a se formar direitinho agarrei essa chance com todas as forças tomava as vitaminas religiosamente não esquecia um dia sequer mesmo assim a preocupação não saía da minha cabeça ficava pensando o que será que eu tinha feito de errado da primeira vez pro meu bebê nascer daqu jeito Será que tinha sido alguma coisa que eu comi algum esforço que eu fiz a culpa é uma coisa terrível minha filha Mas o médico sempre dizia que essas coisas Às vezes acontecem sem ter um
motivo Claro dessa vez eu me cuidei ao máximo não levantava peso comia tudo certinho descansava sempre que podia José Antônio também estava super atencioso não me deixava fazer nada pesado até o pequeno com seus quase dois aninhos parecia entender que a mamãe precisava de cuidados especiais quando eu tava com se meses de gravidez mais ou menos decidi tirar uma licença do trabalho no armazém foi a melhor coisa que eu fiz eu já tava tão cansada sabe cuidar do Antônio da casa trabalhar tudo isso com a barriga crescendo era muita coisa seu Joaquim do Armazém foi
muito compreensivo os últimos meses da gravidez foram de muito pouso e cuidado passava boa parte do dia deitada com as pernas para cima a mãe dizia que era bom para melhorar o inchaço das pernas e pés o Antônio era o que dava mais trabalho ele era bem arteiro eu fazia pequenos trabalhos manuais para me distrair sapatinhos casaquinhos de lã mantinha para o neném em crochê e tricô José Antônio assumiu mais tarefas em casa mesmo já estando cansado do trabalho na oficina a ansiedade ia aumentando a medida que a data do parto se aproximava a gente
orava todas as noites implorando para Deus pedindo para que dessa vez tudo corresse bem o medo ainda tava lá no fundo do coração mas a gente tentava se manter positivo Afinal tínhamos feito tudo diferente dessa vez né quando finalmente chegou a hora foi uma mistura de medo e expectativa o trabalho de parto começou de madrugada e eu tava bem tensa o hospital era muito longe da gente então José Antônio Correu para chamar a dona Jussara a mesma Parteira que fez o parto do Antônio minha bolsa já tinha estourado a uns 40 minutos quando ela chegou
em casa e a cabecinha do neném já tava saindo foi tudo muito rápido dessa vez Dona Jussara agiu com a experiência de anos em poucos minutos ouvi o choro do bebê e meu coração quase parou a Parteira examinou o bebê com cuidado limpou e depois de alguns momentos que pareceram uma eternidade ela sorriu e disse é uma menina Zulmira e tá perfeita Ah que alívio Meu Deus a gente chorou de tanta felicidade nossa filhinha tinha nascido com saúde com todos os dedinhos das mãos e dos pés demos o nome de Maria em homenagem à minha
mãe ali deitada na nossa cama com José Antônio segurando minha mão e a neném no meu peito senti que um novo ciclo da nossa vida estava começando nessa época as coisas tinham mudado bastante pra gente e para melhor viu o José Antônio meu Deus como aquele homem tinha progredido ele tava trabalhando tanto e ganhando tão bem que quase era sócio do seu Miguel dono da oficina sabe como é que foi os carros e caminhões que ele arrumava ficavam tão bons mas tão bons que o serviço dele começou a ser recomendado para muita gente rica tinha
gente que vinha de longe só para ele consertar o carro acredita e não é que o José Antônio teve uma ideia de ouro ele começou a ensinar mecânica pro meu pai que era pedreiro dizia que assim meu pai poderia ter uma profissão que pagava melhor todo fim de semana lá estavam os dois de cabeça enfiada num motor velho que José Antônio tinha trazido para casa meu pai já de cabelo grisalho aprendendo uma profissão Nova Era bonito de ver sabe os dois ali genro e sogro Unidos planejando trabalhar juntos no futuro com o José Antônio ganhando
bem assim eu pude realizar um sonho larguei o trabalho no armazém e assumi o papel de de dona de casa Ah minha filha que alegria poder ficar em casa cuidando dos meus pequenos O Antônio já tava com quase 5 anos esperto que só ele aprendendo a se virar com um bracinho só de um jeito que dava gosto de ver e a Maria nossa princesinha crescendo forte e saudável eu tava vivendo um sonho sabe cuidava da casa fazia comidinha fresquinha todo dia pro José Antônio levar pro trabalho de marmita dava atenção pros meus filhos sempre PR
com a mãe e os irmãos às vezes eles iam na nossa casa às vezes a gente ia na deles era ótimo morar no mesmo quintal a Maria mamava no peito ela já tava com um ano e 8 meses uma mocinha já era nosso momentinho especial ela dormia que era uma beleza depois do mamá foi nessa época boa quando a gente achava que tudo tava se ajeitando na vida que eu descobri que tava grávida de novo fiquei sabendo quando a Maria tinha acabado de fazer um ano e 9 meses no começo fiquei meio assustada sabe três
filhos meu Deus mas o José Antônio ficou todo bobo quando eu contei já fazendo planos falando que agora a gente podia dar todo o conforto para essa criança a gente tava feliz achando que finalmente a sorte tinha virado pro nosso lado eu passava os dias cantarolando arrumando a casa pensando em como seria esse novo neném José Antônio falava em expandir a oficina quem sabe até abrir uma própria com meu pai Como funcionário era um tempo de sonhos e esperanças para nossa família mas sabe como é a vida às vezes prega umas peças quando tudo parece
que está indo bem demais vem alguma coisa para balançar a gente nessa gravidez eu me cuidei direitinho mesmo sem receita médica tomei as mesmas vitaminas que tinha tomado quando estava esperando a Maria era o medo sabe medo de ter outro filho com algum problema que nem o Antônio eu rezava todo dia pedindo a Deus que esse bebê nascesse perfeito quando chegou a hora do parto foi a Parteira Jussara quem veio fazer o parto em casa como das outras vezes a gente estava cheio de esperança mas aí veio aquela surpresa que deixou todo mundo preocupado assim
que o bebê nasceu um menino Dona Jussara percebeu que havia algo errado com a perninha direita dele disse que o pé estava virado para dentro como se estivesse torcido e essa perninha era mais curta também foi um baque viu a gente ficou desanimado lá vamos nós de novo pensei com a correria para levar nos médicos fazer um monte de exame o José Antônio coitado ficou arrasado ele que estava tão feliz fazendo tantos planos agora a gente tinha que pensar em como cuidar desse nosso novo filho como fazer para dar todo o tratamento que ele ia
precisar a gente mal sabia que esse era só o começo de uma jornada bem diferente do que a gente tinha imaginado mas na naquele momento tudo que eu conseguia pensar era em Como proteger meu pequeno Ismael em como fazer para ele ter a melhor vida possível mesmo com esse desafio que Deus tinha colocado no nosso caminho Ah minha filha deixa eu te contar depois que o Ismael nasceu com aquele probleminha na perna Ave Maria fiquei com um medo danado de engravidar de novo já tinha três filhos para cuidar cada um com sua precisão o José
Antônio coitado do homem não entendia o que estava AC ele me procurava à noite chegava perto de mim na cama com aquele jeito carinhoso dele passava a mão no meu cabelo ai minha filha naquele tempo eu pelejei viu mas eu sempre dava um jeito de escapar era dor de cabeça era Chico eu inventava cada desculpa que Deus me perdoe às vezes eu ficava ali rezando baixinho para uma das Crianças chorar e quando acontecia a menina do céu eu pulava da cama na mesma hora dizendo que precisava ver o que era Teve noite que eu fingi
que estava dormindo Tão Profundo que nem terremoto acordava às vezes dava certo às vezes não eu comecei a colocar o Antônio no meio da gente dizia que ele não estava conseguindo dormir mais sozinho falava que era insegurança por causa do Esmael essa situação foi se arrastando por um tempo o José Antônio tentava conversar comigo perguntava se tinha algo errado se ele tinha feito alguma coisa se eu não o amava mais eu não sabia como como explicar tinha vergonha de falar sobre essas coisas a gente mal sabia como os filhos vinham quanto mais como evitar o
que antes era bom para nós dois que me fazia feliz viste Maria acabou sendo ruim virando motivo de preocupação Eu via a tristeza nos olhos do José Antônio a confusão no rosto dele mas o medo era maior que tudo depois com muita vergonha na cara confidenciei para minha mãe misericórdia ela me deu uma bronca danada disse que eu tava fazendo errado que mulher que não satisfaz o marido era trocada por outra falou que tinha o risco dele ir pra Zona ou pior ficar com outra mulher e ir embora com ela menina quase morri de medo
Fiquei imaginando meu José Antônio nos braços de outra abandonando a gente naquela mesma noite voltei para minha rotina normal com ele você precisa ter visto a alegria daquele homem parecia que tinha ganhado na loteria foi difícil não vou mentir mas o amor da gente era forte sabe E no fim das contas era bom estar nos braços dele de novo sentir aquele carinho todo mas o medo de engravidar Ah esse nunca foi embora de todo um dia numa dessas consultas que fui levar o Ismael no médico criei coragem e perguntei se ele podia me ensinar algum
jeito de não engravidar mais o doutor muito profissional me explicou sobre um método chamado coito interrompido disse que o homem tinha que se retirar antes de de terminar o médico explicou direitinho como funcionava Sem Rodeios falou que não era muito confiável que podia falhar mas era o que ele podia me dizer naquela época também avisou que isso podia causar frustração pra gente voltei para casa e com muito custo consegui conversar com o José Antônio sobre isso no começo ele ficou resistente não gostou muito da ideia mas quando expliquei meu medo minha preocupação com os filhos
que já tínhamos mente o Antônio e o Ismael que precisavam de mais cuidados ele acabou entendendo a gente começou a tentar fazer daquele jeito não era fácil viu muitas vezes dava errado a gente ficava nervoso sem conseguir aproveitar direito mas era o que tinha pra gente naquele tempo assim fomos levando com medo mas tentando se cuidar do jeito que dava Ah minha filha deixa eu te contar nesse tempo as crianças foram crescendo e a vida estava boa graças a Deus o José Antônio me disse que tinha umas economias guardadas então a gente ficou na dúvida
se montava uma oficina própria ou comprava um lugarzinho só nosso Foi aí que decidimos comprar um sítio que tinha ali perto dava até para ir a pé na casa da minha mãe claro com umas boas pernadas era um lugar bonito viu mas sabe como é a gente tava costumado com nossa vidinha de rotina nossos vizinhos e amigos o José Antônio descobriu que o sítio Estava à venda por acaso um dia ele estava consertando o carro de um cliente que morava perto desse sítio o homem mencionou que seu vizinho estava interessado em vender um de seus
Imóveis pois ele residia na cidade e planejava vender a propriedade meu marido ficou todo animado voltou para casa naquele dia com os olhos brilhando falando desse lugar a gente começou a sonhar sabe toda a família ficou empolgada com a ideia as crianças já falavam em ter mais cachorros o Antônio mesmo com o bracinho dele já dizia que ia ajudar o pai a cuidar de uma hortinha a Maria queria um cantinho só para plantar flores minha mãe coitada ficou mais animada que todo mundo ela já tava fazendo planos de vir todo dia me ajudar a cuidar
das Galinhas dizia que ia plantar umas árvores frutíferas que em poucos anos a gente ia ter Pomar o José Antônio já estava pensando em construir um galpãozinho nos montar uma pequena oficina ele sonhava em trabalhar por conta própria atender os vizinhos do sítio a gente fazia tanta conta tanto plano já via as crianças crescendo naquele espaço tendo uma vida melhor que a nossa eu mesma já tava pensando em fazer umas conservas uma compotas de doces talvez quem sabe até vender pro Armazém onde eu trabalhava antes a gente sonhava cada um teve um plano sabe mal
consegui dormir aquela noite bom mas o que aconteceu foi bem diferente do que se passava na cabeça de qualquer um de nós no dia que fomos ver o lugar eu o José Antônio e as Crianças a gente se arrumou todo colocou a melhor roupa até água de cheiro eu Bori na gente eu até fiz uns bolinhos de chuva para levar e oferecer para o dono do sítio pensando que ia ser um dia de festa quando chegamos lá nossos olhos brilhavam o lugar era tão bonito tinha umas árvores frondosas um Riachinho nos fundos as crianças estavam
pulando de alegria querendo entrar logo para conhecer o quintal a gente já estava se imaginando morando ali foi então que aconteceu minha filha enfrentamos muito preconceito o proprietário se recusou a vender aquele sítio pra gente só porque éramos uma família negra nos deixaram esperando horas debaixo do sol quente para depois dizer na nossa cara que o lugar já tava vendido mas a gente sabia que era mentira viu a foi grande o dono do sítio um homem branco de cara fechada saiu na varanda nem se aproximou apenas gritou pra gente não se aproximar mais disse que
o lugar não estava à venda pra gente como a gente o homem olhava pra gente de cima a baixo e dizia gente da sua laia não tem condição de comprar uma propriedade dessas depois chamou o cachorro para nos espantar como se fôssemos bandidos as crianças choraram ficaram com medo Coitado com o rosto vermelho que nem um pimentão eu senti as lágrimas querendo sair mas engoli o choro não queria mostrar fraqueza na frente daquele homem Pior foi quando fomos embora os vizinhos do sítio que tinham ouvido a gritaria ficaram nos olhando como se fôssemos bichos uma
senhora até puxou o neto para dentro de casa quando passamos como se a gente fosse fazer algum mal pra criança voltamos pra nossa meia água arrasados o José Antônio ficou calado por dias se sentindo menos homem por não poder dar um lugar melhor paraa família as crianças ficaram perguntando por que não podíamos ter uma casa grande como a do sítio era difícil explicar para eles sabe essa experiência nos marcou fundo a gente percebeu que por mais que trabalhasse duro por mais honesto que fosse sempre ia ter gente nos olhando diferente só pela cor da nossa
pele foi uma lição dura uma ferida que demorou para sarar e que até hoje quando lembro ainda dói Ah minha filha deixa eu te contar a minha aprovação não acabava não depois de tudo isso passou mais ou menos uns sete meses e lá fui eu com sintomas de gravidez de novo Ave Maria fiquei muito aflita todos nós ficamos viu eu e o José Antônio na nossa ignorância achava que tinha descoberto o segredo para não engravidar mais e nada tudo de novo foi passando o tempo a barriga crescendo com todos os cuidados que você já sabe
quando chegou a hora do parto a Parteira Dona Jussara veio fazer o parto em casa como das outras vezes mas aí minha filha foi que o baque veio assim que o menino nasceu Dona Jussara ficou com uma cara estranha ela pegou as mãozinhas dele e examinou bem de perto Foi aí que ela nos contou o bebê tinha uma deformidade nas mãos Os Dedinhos eram Unidos por umas membranas como se fosse pezinho de pato e o tamanho dos dedos era todo irregular uns grandes outros pequenos o dedinho mendinho era apenas uma pelotinha um brotinho menina eu
chorei tanto que você nem imagina Que castigo era esse meu Deus eu ficava pensando o que eu tinha feito de errado para merecer isso será que era porque eu tinha tentado evitar filho será que Deus estava me castigando minha cabeça ficava rodando com esses pensamentos o José Antônio ficou mudo coitado ele só olhava pro bebê com os olhos cheios d'água sem saber o que dizer a gente já tinha o Antônio com o problema no braço o Ismael com a perninha torta E manca e agora mais esse parecia que cada filho que vinha trazia Um Desafio
novo me perguntava por que eles não nasceram igual a minha Maria as outras crianças ficaram curiosas para ver o irmãozinho mas quando viram as mãozinhas dele ficaram assustadas a Maria chegou a perguntar se ele ia conseguir brincar com ele aquilo partiu meu coração em mil pedaços naquela noite depois que todo mundo foi dormir eu fiquei acordada ninando o pequeno José olhava para aquelas mãozinhas dele e chorava baixinho orava pedindo força pedindo sabedoria para criar mais esse filho especial o José Antônio coitado passou a noite toda na cozinha sentado na cadeira de balanço com o olhar
perdido a gente nem conversou direito sabe cada um estava mergulhado na sua própria tristeza e preocupação certo tempo depois Aconteceu algo Digamos um tanto interessante que garanto vai te deixar de boca aberta era noite e do nada chegou uma senhora toda desesperada no nosso bairro ela ia de casa em casa pedindo socorro bem alto eu vi o alvoroço e corri para ajudar a senhora estava segurando no colo dela um neném todo embrulhadinho na manta ela procurava desesperadamente p a dona Jussara a Parteira só que a dona Jussara morava mais longe da minha casa quase do
outro lado do bairro essa senhora dizia aos prantos que a netinha dela estava à beira da morte que ninguém sabia o que era a neném chorava sem parar um choro tão sofrido que partia o coração eu me para mim de cima a baixo hesitante mas acho que o desespero falou mais alto e ela acabou me entregando a neném a gente foi pra casa da minha mãe que era ali perto no sofá da sala eu tentava ninar a pequena mas nada adiantava foi quando do nada a bebezinha começou a procurar o peito sabe como é aquele
movimento que os bebês fazem quando estão com fome eu percebi na hora que ela queria mamar deve ter sentido o cheiro do meu leite olhei pra senhora e perguntei se podia dar de mamar para ela só para ver se era isso que ela queria a senhora ainda nervosa disse que eu podia fazer o que fosse para salvar sua neta minha filha quando eu tirei o peito para fora aquela recém-nascida pegou valendo sugou tão forte que até me assustei ela mamava feito doida quase se afogando no leite a coitadinha só tinha fome imagina só fiquei pensando
que provavelmente a nora da senhora que ela dizia ser a mãe da neném não tinha leite cente ou algo parecido foi o que me passou pela cabeça naquela hora depois que a netinha dela se fartou de leite caiu num sono profundo toda satisfeita Foi aí que a senhora nos contou que sua nora estava quase morrendo em casa ela tinha vindo procurar ajuda não só para bebê mas pra mãe também eu não podia ficar parada né deixei as crianças com meu pai e meus irmãos que estavam por ali e eu o José Antônio e minha mãe
fomos com a senhora entramos no carro dela era um carro chique desses que a gente não via muito por ali e seguimos pra casa deles quando chegamos minha filha era uma casa de rico mesmo daquelas grandes com Jardim na frente e tudo mais a gente ficou meio sem jeito de entrar mas a situação era de emergência lá dentro encontramos a nora da senhora deitada numa cama enorme pálida como um fantasma tinha umas empregadas em volta todas nervosas sem saber o que fazer José Antônio voltou com motorista deles e o marido da moça para ir buscar
a Parteira Jussara enquanto eu e minha mãe fomos ver como a moça estava ela gemia muito estava muito febril suando eu senti muita dó era uma cena que eu nunca vou esquecer ali estava eu uma mulher simples numa casa de gente rica tentando ajudar uma moça que provavelmente nunca tinha passado necessidade na vida mas naquela hora éramos só duas mães uma precisando de ajuda e a outra querendo ajudar quando me aproximei da moça na cama logo percebi o que estava acontecendo o seio dela estava duro igual pedra inchado e vermelho Na hora reconheci o problema
era mastite já tinha visto isso antes com outras mulheres do bairro e até eu mesma já tinha passado por isso a mastite é uma inflamação no seio que acontece quando o leite fica parado lá dentro sabe geralmente ocorre quando a mãe não consegue amamentar direito ou quando o bebê não suga o suficiente para esvaziar o peito é uma dor terrível parece que o peito vai explodir e ainda vem com febre alta que deixa a gente prostrada toquei de leve no seio dela e ela gemeu de dor Coitada devia estar sofrendo há horas virei pra sogra
dela e perguntei Faz quanto tempo que ela tá assim E por que não chamaram um médico a senhora ainda nervosa respondeu que tinha começado na noite anterior não tinham chamado o médico porque achavam que ia passar sozinho balancei a cabeça pensando como a falta de informação podia causar tanto sofrimento olhei para minha mãe que já tinha entendido a situação e ela foi logo pedindo umas toalhas limpas Dona eu disse pra senhora sua nora tá com mastite é uma inflamação no seio por causa do leite parado precisamos tirar esse leite para ela melhorar a senhora ficou
me olhando meio desconfiada no começo mas depois assentiu acho que naquela hora ela percebeu que rica ou pobre Negra ou branca todas as mães passam pelos mesmos problemas pedi para trazerem água morna e umas compressas expliquei pra moça o que ia fazer Tentando acalmá-la comecei a fazer uma massagem delicada no seio dela para ajudar a descer o leite era dolorido para ela Coitada Mas necessário enquanto isso minha mãe preparava um chá de erva doce que ajuda a aumentar a produção de leite foi um trabalho demorado e delicado a gente alternava as compressas Mornas com a
massagem sempre com cuidado para não machucar mais aos poucos o leite foi saindo e a moça foi sentindo alívio depois de um tempo quando o pior já tinha passado ensinei para ela como amamentar direito como posicionar o bebê para sugar melhor e esvaziar todo o seio expliquei a importância de não deixar o leite acumular e como prevenir a mastite afinal ela era mãe de primeira viagem e a sogra não era muito entendida de certos assuntos foi uma experiência e tanto viu ver aquela moça rica olhando para mim com tanta gratidão quando finalmente chegaram com a
dona Jussara a situação já havia melhorado bastante ela expressou surpresa pelo que conseguimos fazer e comentou com a senhora de nome Lourdes que se tivessem demorado mais um pouco poderiam ter perdido tanto a nora quanto a netinha antes da gente sair da casa deles naquele dia a senhora nos abraçou chorando de emoção E agradecendo sem parar a gente ficou até sem jeito com tanto agradecimento sabe mas foi no dia seguinte que aconteceu o mais Improvável lá pelas 9 da manhã a gente ouvi um carro parando na frente da casa da minha mãe não era comum
ver carros tão chiques por ali então a vizinhança ficava curiosa quando olhamos pela janela Vimos a mesma Senhora do dia anterior descendo do carro mas ela não estava sozinha um senhor alto de terno sofisticado desceu com ela a senhora toda animada já já foi entrando e falando trouxe meu marido para agradecer a vocês por terem salvado a vida da nossa nora e netinha mas aí minha filha foi que o mundo pareceu parar quando eu e o José Antônio vimos aquele homem ficamos paralisados o homem também ficou com uma cara de espanto quando nos viu era
como se tivesse visto um fantasma sabe por quê aquele senhor era o mesmo homem que tinha nos enxotado do sítio a cachorros no dia que fomos conhecer para comprar aquele mesmo que tinha dito que gente como a gente não podia comprar a propriedade dele foi um momento de silêncio que pareceu durar uma eternidade a senhora sem entender o que estava acontecendo olhava confusa de um lado pro outro o José Antônio estava tão tenso que eu podia ver as veias do pescoço dele saltando o homem foi o primeiro a falar com a voz tremendo um pouco
ele disse vocês vocês são aquela família que foi ver o sítio eu respirei fundo e respondi sim senhor somos nós mesmos a senhora ainda sem entender perguntou vocês já se conhecem Foi aí que o homem fez algo que eu nunca esperava ver ele abaixou a cabeça visivelmente envergonhado e disse eu eu cometi um erro terrível com essa família um erro que agora vejo o quanto foi tolo e preconceituoso ele se virou pra gente e com lágrimas nos olhos continuou eu não tenho palavras para expressar o quanto me arrependo do que fiz vocês que Eu tratei
tão mal salvaram a vida da minha nora e da minha netinha como eu pude ser tão cego a senhora entendendo finalmente o que estava acontecendo ficou horrorizada ela olhou pro marido com uma mistura de decepção e raiva o José Antônio sempre mais calmo que eu foi quem respondeu o Senhor nos magoou muito naquele dia mas a gente não guarda rancor a gente fez o que fez ontem porque era o certo a se fazer não importa quem fosse o homem então se ajoelhou ali mesmo na nossa frente pedindo perdão disse que aquele incidente tinha aberto os
olhos dele que ele percebeu o quanto estava errado em julgar as pessoas pela cor da pele ou pela condição social Foi uma cena que eu nunca vou esquecer minha filha ver aquele homem que antes nos tratou como se fossemos menos que gente ajoelhado na nossa casa simples pedindo perdão e com tanta gente de testemunha a gente ficou sem saber direito como reagir mas sabe o que o José Antônio fez ele estendeu a mão e ajudou o homem a se levantar disse que o perdão é importante mas que o mais importante é aprender e mudar naquele
momento eu senti que algo maior estava acontecendo era como se Deus tivesse arranjado um jeito de ensinar uma lição para todos nós sobre julgar os outros e sobre o poder do perdão o Homem se apresentou como anjo depois de todo aquele momento intenso ele se recompôs um pouco e disse eu queria poder desfazer o que fiz mas infelizmente o sítio já foi vendido É uma pena eu não conseguiria vendê-lo para vocês agora mesmo que quisesse eu e o José Antônio Nos olhamos por um momento senti aquela pontada de tristeza ao lembrar de todos os sonhos
que tínhamos feito com aquele sítio mas sabe de uma coisa a gente não se importou tanto assim depois de tudo que tinha acontecido aquele sítio já não parecia tão importante o José Antônio com aquela calma dele respondeu não se preocupe com isso seu Ângelo O que passou passou a gente já seguiu em frente se você acredita que Deus agiu nesta situação para ensinar algo para a gente escreva nos comentários não julguem para que vocês não sejam julgados em troca eu te darei um coraçãozinho esta frase bíblica do Evangelho de Mateus resume bem a lição poderosa
sobre perdão arrependimento e transformação pessoal mesmo em situações difíceis logo a senhora que tinha ficado quieta por um tempo disse mas deve haver algo que possamos fazer para compensar vocês salvaram nossa família eu sorri e falei a senhora não precisa nos compensar por nada a gente fez o que qualquer pessoa de bom coração Faria ver sua nora e sua netinha bem é a melhor recompensa que a gente poderia Ter o Seu Ângelo ainda visivelmente emocionado disse vocês são pessoas extraordinárias eu fui um tolo em julgar vocês pela aparência Espero que possam me perdoar um dia
foi então que Antônio surgiu do nada abraçando o a barriga do Seu Ângelo olhou para o homem e Sorriu feliz o homem Caiu no choro novamente Acho que a falta de um dos braços do meu filho o comu ainda mais ficou tudo bem Depois disso a gente até eles para tomar um café e Eles aceitaram foi engraçado ver aquele casal rico sentado na nossa mesa simples Tomando café em nossas xícaras velhas mas naquele momento essas diferenças não importavam mais o tempo foi passando quando o Antônio completou 12 anos decidimos que era a hora de começar
a educação escolar de nossas crianças Eu e o pai deles mal sabíamos escrever nosso próprio nome como mãe assumi a responsabilidade de levá-los e trazê-los da escola todos os dias era uma jornada longa e cansativa mas eu não confiava em ninguém mais para cuidar dos meus pequenos nesse trajeto cheio de desafios muitas vezes enquanto caminhávamos eu ficava pensando que era uma Pena não termos conseguido comprar aquele sítio se tivéssemos aquele pedaço de terra estaríamos Bem Mais Perto da escola e a vida seria mais fácil para todos nós foi uma época de muitos desafios e preconceitos
toda manhã eu acordava antes do sol nascer para preparar o café e arrumar as Crianças O Antônio já ajudava os irmãos menores a se vestirem mesmo com a dificuldade do seu bracinho o caminho para a escola era longo e difícil eu carregava o José no colo a maior parte do tempo enquanto segurava a mão do Ismael para ajudá-lo a caminhar o Antônio sendo o mais velho ajudava a cuidar da Maria caminhávamos por quase uma hora passando por estradas de terra atravessando carreirinhos para cortar caminho enfrentando o sol forte nos dias de calor eu levava comigo
um guarda-chuvas para nos refugios em uma sombra em falar em guarda-chuvas em dia nublado ou de tempo chuvoso eu nem levava eles pois era impossível era uma barrocada que só durante essas caminhadas eu aproveitava para conversar com as crianças preparando-os para o que poderiam enfrentar na escola falava sobre a importância dos estudos sobre como deveriam ser fortes diante das dificuldades tentava incutir neles um senso de Orgulho e confiança Mesmo Sabendo dos Desafios que enfrentariam ao chegar na escola meu coração se apertava ao ver os olhares e coxixos dos outros pais e crianças alguns se afastavam
como se meus filhos tivessem alguma doença contagiosa outros nem disfarçavam o despreso eu erguia a cabeça abraçava cada um dos meus filhos e os encorajava a entrar orando silenciosamente para que tivessem um bom dia as crianças sempre voltavam chorando porque sofriam tremendos preconceitos lá na escola as outras crianças eram cruéis demais chamavam meus filhos de aberrações zombavam das Diferenças deles sem dó nem piedade o Antônio com o bracinho dele o Ismael com a perninha manca e o José com as mãozinhas diferentes eles sofriam muito com as piadas e insultos até a Maria que não tinha
nenhuma ciência não escapava da Crueldade dos colegas Falavam do cabelo dela diziam que parecia palha de aço Coitadinha ela chegava em casa aos prantos me perguntando por Deus fez eles assim aquilo partia meu coração em mil pedaços eu sofria muito de preocupação tinha dias que eu não sabia se estava fazendo a coisa certa em continuar mandando eles pra escola ver meus filhos sofrendo daquele jeito me deixava arrasada mas ao mesmo tempo eles estavam aprendendo a ler e escrever e isso me dava força para continuar mandando eles eu me esforçava para preparar eles para serem fortes
dizia sempre meus filhos não se importem com a conversa dessas outras crianças foquem nos estudos mostrem para todo mundo que vocês são capazes mas não era fácil não era dia bom dia ruim mas sabe de uma coisa apesar de tudo eles foram ficando mais fortes começaram a aprender a se defender a não ligar tanto para que os outros falavam ver eles progredindo nos estudos aprendendo a ler e escrever me dava esperança foi aí que tive uma ideia e combinei com o José Antônio a gente ia pedir para as crianças nos ensinarem tudo que aprendiam na
escola à noite nossa você não imagina como isso deu um ânimo paraas crianças de repente ele se esforçavam mais e mais na escola ansiosos para chegar em casa e ensinar a gente claro que no começo foi uma confusão uma brigaiada imagina todo mundo querendo falar ao mesmo tempo mas a gente logo se organizou cada dia era a vez de um deles ser o professor o Antônio com aquele jeitinho responsável dele explicava as lições com uma paciência de gente grande a Maria adorava ensinar as historinhas que aprendia fazendo vozes diferentes pros personagens o Ismael tímido que
só ele foi ganhando confiança a mostrar como resolver os problemas de matemática e o José mesmo com as mãozinhas dele se esforçava para nos ensinar a escrever as letras as continhas Por incrível que pareça eu pegava rápido dos tempos que trabalhava no armazém eu sabia fazer de cabeça meu problema mesmo era com as letras já o José Antônio tinha mais facilidade com a leitura com os números Ele ia bem também por causa dos seus negócios na oficina foi lindo de ver como Isso mudou nossa família as crianças chegavam da escola animadas orgulhosas por terem algo
novo para nos ensinar a gente sentava todos juntos depois do jantar às vezes até esquecia da hora de dormir tão entretidos que ficávamos com as lições em um ou dois anos acredita eu e o José Antônio já sabíamos ler e escrever tudinho Graças aos nossos filhos abençoados foi um tempo de muito aprendizado para todos nós A gente cresceu junto sabe aquelas noites de estudo em Família São Lembranças que guardo com muito carinho o tempo foi passando minha filha e as Crianças foram crescendo nossa casinha há tempos estava apertada um dia sentados na mesa da cozinha
Depois do jantar o José Antônio olhou para mim e disse Zulmira acho que tá na hora da gente procurar uma casa maior as crianças precisam de mais espaço e seria bom ficar mais perto da escola deles era uma época de muitas chuvas e eles estavam faltando muita aula eu concordei com medo de eles se tornarem repetentes de ano fiquei com o coração apertado só de pensar em sair dali onde a gente tinha vivido tanta coisa mas sabia que ele tinha razão as crianças precisavam de mais espaço e a gente já tinha condições de dar uma
vida melhor para eles a verdade é que fiquei traumatizada ao buscar um novo lar depois de tudo o que aconteceu no sítio mesmo que a situação tenha se resolvido Depois começamos a procurar uma propriedade na cidade o pessoal da região já conhecia a gente de ver eu e as crianças indo pra escola todos os dias não tinha mais aqueles olhares de curiosidade e maldade que a gente sofria antes Parece que eles já tinham se acostumado com nossa presença sabe achamos muitas casas à venda algumas bonitas outras nem tanto algumas grandes demais outras pequenas demais mas
aí num domingo de manhã a gente encontrou ela uma bela casa com um jardim na frente e um terreno grande nos fundos ficava apenas três quadras da escola das crianças quando entramos naquela casa minha filha Parecia que ela tava nos chamando o José Antônio olhou para mim com aquele sorriso no canto da boca e eu soube que ele estava pensando a mesma coisa que eu as crianças corriam de um cômodo pro outro animadas já escolhendo seus quartos o preço era um pouco alto mas com o tempo que tinha passado a gente tinha conseguido juntar um
bom dinheiro o José Antônio tinha feito o nome como mecânico ele trabalhou duro economizou cada tostão e finalmente podíamos dar esse passo no dia que a gente assinou os papéis da compra eu não conseguia parar de chorar eram Lágrimas de alegria de gratidão eu e José Antônio Lemos tudo que estava escrito naquela documentação re assinamos sem medo de ser passados para trás Lembrei de tudo que a gente tinha passado das dificuldades das humilhações e agora ali estávamos nós comprando nossa própria casa na cidade no dia da mudança enquanto a gente estava empacotando as últimas coisas
da Casa Velha Aconteceu algo que mudou tudo para mim o Ismael meu filho mais novo tinha perdido sua cartinha de bafo preferida e tava no maior escândalo falando que não ia se mudar de jeito nenhum se não achasse ele dizia que tava jogando com o tio Pedro na casa da avó então todo mundo tava na missão de achar essa cartinha eu fui procurar no quarto dos meus pais Comecei a mexer numa caixa velha dentro do guarda-roupa tava revirando tudo procurando a tal cartinha quando de repente encontrei um envelope amarelado pelo tempo Escondido entre uns panos
antigos curiosa abriu o envelope dentro tinha uma foto em preto e branco de uma mulher bem vestida jovem e muito bonita que eu nunca tinha visto antes Virei a foto e meu coração quase parou quando li o que estava escrito atrás minha querida filha nascida em 15 de agosto de 1933 Escrevo esta carta com mãos trêmulas apenas TRS dias após seu nascimento você Meu maior tesouro está sendo entregue para uma nova família saiba que esta decisão me causa uma dor indescritível mas é necessária para garantir seu futuro nasci em uma família tradicional que não aceita
a sua existência seu pai um homem bom e trabalhador não tem condições de criá-la peço que um dia possa me perdoar você nasceu do amor mas as circunstâncias nos impedem de ficar juntas espero que seus novos pais possam lhe dar todo o amor e cuidado que você merece que Deus a proteja e guie seus passos saiba que sempre a amarei sua mãe Helena 18 de agosto de 933 foi como se o chão tivesse sumido debaixo dos meus pés aquela data de nascimento 15 de agosto de 1933 Era exatamente a minha não havia dúvida esta carta
era mesmo para mim ali naquele momento de alegria com a mudança eu descobri que meus pais aqueles que eu amei a vida toda não eram meus pais de sangue foi um baque tão grande que fiquei sem ar por um instante mil pergun passaram pela minha cabeça Quem era essa Helena como ela teve coragem de me entregar com apenas TR dias de vida e por meus pais nunca tinham me contado nada disso me senti perdida como se não soubesse mais quem eu era de verdade ouvi a voz do José Antônio me chamando lá da sala perguntando
se eu tinha achado a cartinha do Ismael rapidinho guardei a foto de volta no envelope e coloquei dentro da minha blusa no meio da correria da mudança com as crianças adas o José Antônio organizando as caixas eu me vi perdida nas minhas emoções queria gritar chorar fazer meu perguntas mas algo dentro de mim dizia que aquele não era o momento resolvi que ia falar com minha mãe e quer dizer com a mulher que me criou como mãe depois que a poeira da mudança baixasse afinal ela ou o pai eram os únicos que podiam me dar
as respostas que eu tanto precisava naquele momento o resto do dia foi um borrão eu ajudava com a mudança sorria PR os meus filhos conversava com o José Antônio mas minha cabeça tava longe olhava para minha mãe que tinha vindo ajudar na mudança toda animada e me perguntava se ela me amava de verdade mesmo eu não sendo filha dela de sangue quando finalmente Chegamos na casa nova e todo mundo tava comemorando eu me senti estranha era como se eu tivesse mudado não só de casa mas de vida inteira tudo que eu achava que sabia sobre
mim mesma de repente parecia incerto naquela noite deitada na cama nova com o José Antônio roncando do meu lado eu não consegui dormir ficava pensando em Helena imaginando como ela era como deve ter sido difícil para ela me entregar tão pequeninha Será que ela ainda estava viva será que eu tinha outros irmãos que não conhecia guardei esse segredo comigo queria entender tudo antes de contar para José Antônio e pros meus filhos dois dias depois da mudança quando as crianças já tinham voltado a frequentar a escola eu criei coragem e fui até a casa da minha
mãe o Coração batia forte no peito minhas mãos suavam frio levei a foto comigo escondida na bolsa quando cheguei lá minha mãe tava na cozinha fazendo um bolo o cheiro doce encheu meus pulmões me lembrando de tantas tardes da minha infância por um momento quase desisti de tocar no assunto mãe eu disse a voz tremendo um pouco preciso conversar com a senhora sobre uma coisa ela se virou limpando as mãos no avental e Sorriu mas o sorriso Sumiu quando viu minha cara séria sentamos na mesa da cozinha com as mãos tremendo tirei a foto da
bolsa e coloquei na mesa mãe o que é isso a reação dela foi imediata a negrinha ficou branca suas mãos tremiam quando pegou a foto Onde onde você achou isso andou mexendo nas minhas coisas é é Ela perguntou a voz quase um sussurro na mudança mãe aquela hora que a gente estava procurando a cartinha do Ismael tava escondida numa caixa velha fiz uma pausa reunindo coragem mais onde encontrei não é importante mãe Quem é essa mulher é é minha mãe verdadeira O silêncio que se seguiu pareceu durar uma eternidade vi lágrimas gordas se formando nos
olhos dela algo o que eu raramente tinha visto na vida finalmente ela falou eu eu ia te contar minha filha juro que ia mas nunca encontrei o momento certo as palavras saíram dela Como uma torrente depois disso me contou que a dona Jurema mãe da Parteira Jussara tinha feito o parto da minha mãe biológica uma moça rica chamada Helena a família da Helena Ficou desesperada quando eu nasci não queriam o escândalo de uma moça de família rica ter um bebê com um empregado negro eles pediram para Dona Jurema sumir comigo minha mãe adotiva explicou até
deram dinheiro para ela fazer isso mas a dona Jurema ficou com dó ela conhecia a gente há anos e sabia que a gente não tinha filhos ainda na verdade seus irmãos vieram depois você sabe me viu grávida não é mesmo filha ela disse com um sorriso triste a dona Jurema achou que a gente ia ser uma boa família para criar você Então ela mandou a Jussara te trazer pra gente no meio da noite a dona Jurema pensou que como a gente era negro a gente ia aceitar você de bom grado sem fazer muitas perguntas e
ela tava certa quando a Jussara que era apenas uma moça chegou aqui com você nos braços tão pequenininha a gente se apaixonou na hora eu ouvia tudo em choque as lágrimas correndo pelo meu rosto mas como vocês me alimentaram Eu era só um bebê minha mãe segurou minhas mãos a Jussara arranjou tudo ela conhecia uma moça que tinha acabado de ter bebê e tinha leite de sobra essa moça Branca chamada Viviane que não mora mais aqui já faz tempo ela nos recebia todos os dias no começo para te amamentar depois a Jurema que Deus a
tenha nos ensinou como fazer com o leite de vaca a mãe disse que aquele dia que ela viu eu amamentando a netinha daquela senhora rica e branca ela e o pai se lembraram da minha história que há tempos eles não falavam foi como se o passado tivesse voltado de repente trazendo Todas aquelas lembranças que eles tinham guardado no fundo do coração por que vocês nunca me contaram perguntei no começo a gente tinha medo que você fosse embora Se soubesse procurar sua mãe rica depois depois você já era nossa filha nossa menina a gente não queria
que nada mudasse isso ficamos ali chorando juntas por um bom tempo ela me contou que nem ela nem a Jusara sabiam onde a Helena morava pois o parto foi realizado por Dona Jurema em um celeiro apenas três dias depois chamaram Dona Jurema de volta para entregar o bebê Dona Jurema mãe da Jussara nunca revelou o local exato do parto ela havia feito um acordo com uma família rica para manter o segredo temendo que se a verdade fosse revelada todos poderiam ser prejudicados minha mãe me contou como a Dona Jurema foi essencial nos primeiros meses visitando
quase diariamente para garantir que tudo estava bem sempre tomando cuidado para não levantar suspeitas a Jussara sabe de tudo minha mãe disse Ela guardou esse segredo junto com a gente todos esses anos respeitando a decisão da mãe dela saí de lá com o coração pesado mas de certa forma aliviada agora eu sabia a verdade por mais difícil que fosse caminho de volta para casa mil pensamentos passavam pela minha cabeça será que devia procurar a Jusara e a Helena minha mãe biológica o que diria pro José Antônio e pros meus filhos cheguei em casa decidida a
contar tudo pro José Antônio sabia que ele me apoiaria como sempre fez e juntos a gente ia decidir como contar PR os nossos filhos Ah minha filha a vida às vezes prega cada peça na gente que nem nos sonhos mais sombrios a gente imagina o que aconteceu depois é surreal eu senti no meu coração que não falaria naquele momento o José Antônio Estava tão cansado não queria dividir mais problemas ele estava tranquilo curtindo a nossa casa nova ele queria aproveitar aquele momento comigo as crianças foram dormir e a gente resolveu ficar junto estava tão bom
sabe depois de toda aquela correria da mudança na casa nova essa era a primeira vez que eu e ele tivemos a nossa privacidade então depois de ficarmos juntos fomos dormir e assim foi por uma semana e meia Ah que fase maravilhosa foi aquela para toda a nossa família até na escola as crianças estavam se saindo tão bem Imagine só os colegas souberam que havíamos comprado uma boa casa e Isso mudou a forma como viam meus pequenos eles passaram a ser mais respeitados mais integrados era como se a nova casa tivesse trazido não apenas conforto mas
também oportunidades de amizade e aceitação mais felicidade de pobre dura pouco minha filha depois algo terrível aconteceu aquele dia Ah aquele dia foi o pior da minha vida o José Antônio Demorou a chegar em casa eu e as Crianças estávamos preocupados ele chegava todos os dias praticamente no mesmo horário a gente já tava aflito demais cansado de esperar já era noite foi então que meu pai chegou minha filha ele estava todo desesperado entrou na casa agitado nunca tinha visto meu pai daquele jeito meu peito gelou com um mal pressentimento minha filha pelo amor de Deus
aconteceu um acidente na oficina e José Antônio o pai nem sabia o que me dizer direito algo trágico minha filha não deu tempo de ajudar ele o macaco do carro quebrou e ele estava embaixo infelizmente ele morreu na hora meu pai contou isso na sala estávamos todos nós lá foi aquela choradeira uma tristeza profunda e extrema nunca imaginei sentir aquela dor dentro de mim e ver as crianças chorando e desesperadas daquele jeito Essa com certeza foi a pior parte naquela hora parecia que o mundo tinha acabado o José Antônio meu marido o pai dos meus
filhos tinha partido assim de repente e da pior forma possível eu não sabia o que fazer como é que eu ia seguir em frente como é que eu ia criar nossos filhos sozinha aquela no foi a mais longa da minha vida foi um baque tão grande e tão doloroso a gente nunca tá preparado para uma coisa dessas mas ali naquela noite com meus filhos chorando nos meus braços eu sabia que ia ter que ser forte mas como minha filha como é que a gente segue depois de uma coisa dessas Essa é realmente a parte mais
dolorosa da minha vida não vou relatar os detalhes para vocês porque eu sofro demais só o que posso dizer é que o caixão do meu marido foi fechado no ló ele estava todo desfigurado simplesmente inacreditável bom o que vou contar agora é algo que vai surpreender você arrepiar todos os seus cabelos assim como aconteceu comigo a funerária entrou em contato comigo informando que precisava dos documentos dele e até das roupas para o corpo mesmo que o caixão não fosse ser aberto escolher aquelas roupas foi uma tarefa dolorosa cada peça parecia ainda guardar o cheiro dele
e só Deus sabe o que senti naquele momento mergulhada em lembranças e saudades foi enquanto eu procurava esses documentos que avistei a velha Bíblia dele ele tinha ela há anos foi o tio dele laert que deu ela ficava aberta na parte dele do guarda-roupa cheia de coisas no meio a capa de couro preta estava gasta pelo tempo José Antônio usava aquela Bíblia como se fosse um cofre sagrado um lugar onde depositava suas esperanças e recordações dentro dela havia notas de dinheiro que ele colocava ali para Deus multiplicar havia também fotos de cada membro da família
algumas bem antigas entre as páginas estavam bilhetes recortes de jornal e pequenas lembranças que ele considerava importantes eu comecei a foliar as páginas amareladas de repente eu vi algo familiar um envelope parecido com aquele da foto da minha mãe biológica eu pensei ué Será que ele sabia ir e depois me contaria bom não entendendo direito eu resolvi abrir e para minha surpresa era a foto da minha mãe Helena sim mas não era a mesma foto minha filha senti um frio na barriga e quase caí para trás dessa vez a Helena tava num lugar diferente com
outro vestido dava para ver que ela ainda era realmente uma moça rica sabe toda arrumada numa casa que parecia ser de gente importante brinco e col par de pérolas com cor de ouro fiquei olhando aquela foto Sem Entender direito o que estava acontecendo daí com o coração batendo que nem tambor eu virei para ver se tinha alguma coisa escrita atrás e não é que tinha menina quando comecei a ler senti as pernas ficarem moles era diferente da minha carta mas ao mesmo tempo tão Parecida até a mesma caligrafia dizia assim meu querido filho nascido em
15 de agosto de 1933 você veio ao mundo como um raio de luz em meio à escuridão Escrevo esta carta com lágrimas nos olhos sabendo que não poderei vê-lo crescer você Meu Pequeno Guerreiro está sendo entregue a uma família que poderá lhe dar o que eu não posso um futuro seguro seu pai um homem honrado e trabalhador sofre tanto quanto eu com esta decisão mas o mundo é cruel com aqueles que desafiam suas regras um dia espero que entenda que fizemos isso por amor para protegê-lo carregue sempre consigo a força que já demonstrou ao nascer
seja corajoso seja justo seja feliz e saiba que onde quer que eu esteja meu amor por você será eterno que Deus o proteja e guie seus passos sua mãe que o ama incondicionalmente Helena 18 de agosto de 1933 fiquei ali parada olhando para aquela foto simplesmente não acreditando e olha minha filha antes mesmo de terminar de ler aquela carta eu já havia entendido éramos irmãos gêmeos mas eu não entendia como as coisas não se encaixavam podia até ser que a gente fosse parecido mas iguais jamais que baque minha filha que baque então eu me negava
a acreditar naquilo isso deve estar errado eu não aceito comecei a pensar sobre tudo que sabia de José Antônio que foi criado pelos tios porque seus pais rejeitaram ele ele não tinha outros parentes que eu soubesse como é que a gente podia ser irmãos e não saber como é que a gente foi parar em famílias diferentes e por que meu Deus porque a gente foi se encontrar e se casar sem saber de nada disso com tantos homens neste vasto mundo o que eu vi no meu próprio irmão Aquilo me corroía por dentro a culpa bateu
forte em mim era muita coisa para processar sabe naquela hora minha filha eu só queria chorar chorar de confusão de raiva de tristeza era como se o chão tivesse sumido debaixo dos meus pés minha querida por fim veio o penso mais doloroso de todos nossos filhos Ah me Deus nossos filhos foi como se um raio esse me aido de repente tudo fazia um terrível sentido as deformidades deles aquelas coisas que os médicos nunca conseguiram explicar direito estava tudo ali escancarado na minha frente senti um aperto no peito que quase não me deixava respirar Que judiação
pensei o que Deus foi permitir Por que a gente por que nossos filhos tinham que sofrer por causa de um segredo que nem a gente sabia que existia fiquei pensando em cada momento difícil que a gente passou com as crianças cada olhar torto que a gente teve que aguentar na rua por causa de pessoas ignorantes e preconceituosas logo eu fui interrompida pela minha mãe que chegou rapidamente na minha casa ela tava chorando muito e me abraçou forte para me confortar por um momento eu tinha me esquecido da grande perda que tinha acabado de sofrer a
dor voltou com tudo a mãe logo viu a foto na cama mas acho que ela pensou que fosse a minha porque ela não disse nada eu acabei não falando nada Também guardei aquela dor só para mim o segredo de que eu era irmã gêmea do meu marido foi difícil sabe ter aquele segredo pesando no peito junto com toda a dor da perda do José Antônio eu olhava PR as crianças e pensava em tudo que eu tinha descoberto pela manhã eu e eles nos despedimos de José Antônio e agora nunca mais em nossas vidas a gente
olharia para ele tivemos que aguardar um dia para os tios de José Antônio chegarem da cidade onde moravam Olha para te falar a verdade eu nem sei quem avisou eles pois eu não estava com cabeça para nada eles pediram para não enterrar o sobrinho sem ele se despedirem quando a dona Lídia e seu Laerte chegaram foi uma tristeza só eles conheceram as crianças no velório abraçaram cada sobrinho com tanto carinho e tristeza sabe era a primeira vez que estavam vendo os meninos até então só me conheciam pois vieram no dia do nosso casamento que crueldade
conhecer os sobrinhos em circunstâncias tão difíceis a dona Lídia lamentava profundamente dizendo Coitadinho do meu José Antônio tão jovem Apenas 39 anos acabou de comprar uma casa boa para a família Depois de tanto trabalho agora que ia aproveitar a vida não é justo meu Deus do céu partir desse jeito tão trágico e repentino eu não me conformo suas palavras eram carregadas de dor e incredulidade refletindo a tristeza que sentia pela perda precoce do sobrinho que na verdade era um filho ela expressava sua revolta dizendo que não queria mais saber de Deus pois acreditava que ele
não deveria ter permitido uma tragédia dessas a dor de dona Lídia era tão intensa que abalava sua fé deixando-a sem respostas para seu sofrimento o seu Laerte percebendo o desespero da esposa a abraçava Com ternura e dizia calma não fala bobagem tentava confortá-la mesmo que ele próprio estivesse arrasado quando tudo acabou Eles foram lá para casa para pousar eu como quem não quer nada acabei contando quando tive a oportunidade estávamos só nós três e eu queria saber sobre aquela foto eu disse José Antônio me mostrou a foto da mãe biológica dele faz pouco tempo então
eles me disseram sim minha filha nunca escondemos dele sua origem ele sabia que a Helena e seu pai por seus motivos não puderam ficar com ele eu perguntei quem deixou ele lá a dona Lídia me contou foi a dona Jurema que Deus a Tenha ela era amiga de infância da ela e sua família moravam ali na nossa cidade depois que ela se casou com o finado seu João ela veio morar aqui na sua cidade então eu pensei que a dona Jurema esperta que só ela levou José Antônio para bem longe provavelmente ela fez isso para
que a gente nunca tivesse chance de se encontrar então eles continuaram a conversa a dona Lídia comentou como sempre ficavam sabendo das notícias da família através das cartas que José Antônio enviava mensalmente a cada novidade eles se emocionavam profundamente ela prosseguiu Relembrando a época em que a caligrafia das cartas mudou José Antônio havia explicado que agora era ele mesmo quem escrevia pois tinha aprendido com os filhos Nossa quando ela falou aquilo me deu uma nostalgia danada que saudades daquela época a gente era tão feliz a tia acrescentou que foi lindo para eles acompanharem o crescimento
e a evolução de José Antônio na cidade cada carta era uma prova do quanto ele estava se desenvolvendo e se adaptando à vida urbana o que lhes trazia uma alegria imensa os tios falaram que ficavam tranquilos sabendo que o José Antônio tinha um casamento feliz para eles era um alívio saber que apesar de tudo ele tinha conseguido construir uma vida boa minha filha enquanto eu ouvia tudo aquilo sentia um frio na barriga como dizer que o plano da dona Jurema não tinha dado certo que eu e o Antônio tínhamos nos encontrado e nos casado sem
saber de nada eu simplesmente não podia revelar isso guardei aquilo comigo mais um segredo pesando no peito quando cheguei ao nosso quarto a tristeza me consumia meu companheiro não estava ao meu lado e eu sentia um imenso vazio só quem já passou por uma perda dessas entende o que estou falando não conseguia parar de pensar que o José Antônio partiu sem conhecer toda a verdade passado um tempo eu decidi procurar a Parteira a dona Jussara chegando lá a Jussara me atendeu toda educada me convidou para entrar e sentar eu não fiz rodeios não comecei a
contar tudo para ela mostrei as fotos e tudo que você já sabe minha filha você precisava ver a dona Jussara começou a chorar lembrando de tudo ela ficou ali chorando e balançando a cabeça como se não acreditasse que tudo aquilo tava voltando à tona eu fiquei esperando ela se acalmar um pouco depois de um tempo ela enxugou as lágrimas os olhos dela estavam cheios de tristeza sabe como se ela tivesse carregando um peso enorme todos esses anos Eu sempre temi o dia que isso ia acontecer ela disse a voz tremendo nessa hora meu coração disparou
o que será que a dona Jussara sabia foi então que ela começou disse que não sabia que éramos irmãos nem imaginava isso Ela falou que só ia contar a verdade porque a mãe dela tinha falecido começou contando que naquele dia a mãe dela apareceu na casa delas com dois recém-nascidos um bebê ela deu na mão da dona Jussara e confiou nela que levaria na casa do casal que não conseguia ter filhos mandou o bebê junto com o envelope e a mãe dela foi embora com a outra criança a dona Jusara disse que nem sabia se
era menino ou menina mas agora ela acreditava ser o José Antônio eu estava chocada ouvindo tudo aquilo ela continuou dizendo que sua mãe foi viajar para a cidade vizinha onde ela nasceu e voltou somente no outro dia à tarde sem o bebê isso era tudo que a dona Jussara sabia eu saí de lá com mais perguntas do que respostas sabe eu me via em uma Encruzilhada tava numa dúvida danada se contava ou não para minha mãe para Dona Jussara eu tinha pedido segredo E pelo que eu conhecia dela sabia que ela ia guardar bem guardado
as sete chaves Se eu quisesse esse assunto ia morrer junto com meu marido como minha avó já dizia na dúvida é melhor não fazer e foi isso mesmo que eu decidi nunca contei para ninguém os anos foram passando as crianças já estavam grandes adultos o Antônio casou achou uma moça boa que gostou dele do jeito que ele era quando meus netos nasceram vieram todos perfeitinhos eu orei tanto dia e noite agradeci muito a Maria se esforçou nos estudos e virou professora do primário trabalh na mesma escola onde Eles estudaram todo mundo se orgulhava dela uma
mulher negra batalhadora que conseguiu se formar nessa época ela ainda não tinha casado o Ismael virou funcionário na oficina do avô Antônio ele queria seguir os passos do pai sabe tava noivo já e o José o caçulinha Tava terminando a faculdade de engenharia eu nunca mais casei Tinha alguns homens na época que me cortejavam mas eu nunca quis saber de ninguém já tive problemas demais na minha vida fiquei com a casa que meu marido deixou pra gente e uma pensãozinha que eu recebia não precisava trabalhar mas eu não aguentava ficar parada fazia crochê uns tapetes
bem bonitos e vendia para quem encomendava foi nessa época da minha vida quando eu acreditava que tudo estava estabelecido e que não haveria Mais surpresas que algo inacreditável aconteceu um evento tão inesperado e impactante que abalou todos na nossa família lembro como se fosse hoje era um domingo ensolarado o Antônio e a família dele vieram nos visitar para o almoço como sempre fazíamos chamei meus pais também a gente era bem unido estávamos todos no quintal as crianças correndo de um lado para o outro aquele Agito gostoso de família de repente para a nossa surpresa um
carro bem elegante parou na frente de casa desceu uma senhora toda arrumada com um ar meio perdido ela ficou olhando para um papel depois para a casa como se quisesse confirmar o endereço o José que é muito prestativo foi até o portão e perguntou se ela precisava de ajuda Foi aí que ela disse acabei de achar o que estou procurando Ela perguntou se podia falar com z umira o José falou que era a mãe dele e foi me chamar mas eu já tava ouvindo tudo de longe e fui indo pro portão quando a senhora me
viu os olhos dela se encheram de Lágrimas ela pediu para me abraçar e naquele momento eu tive a certeza de que ela era a Helena minha mãe biológica ela se apresentou eu sou Helena Maria Isabel Paiva foi ali que eu ouvi o nome completo dela pela primeira vez todos da família já estavam reunidos no portão sem entender nada daquela cena imagina uma senhora Branca emocionada em ver a mãe acho que foi isso que eles pensaram só meus pais sabiam a verdade sobre nosso passado foi um momento muito confuso apesar apesar da minha curiosidade em conhecê-la
eu não queria que fosse assim afinal ninguém sabia de nada sem contar o José Antônio como meu gêmeo a casa caiu para mim naquela hora mas o que que eu podia fazer a única coisa era recolher a senhora para dentro Ah minha filha se você soubesse a vida tem dessas coisas que só Deus sabe explicar estávamos todos sentados na sala e eu com o coração na mão apertado a Dona Helena Coitada com as mãos trêmulas começou a contar do passado dela Olha a Zulmira eu me apaixonei pelo jucemar sabe o jardineiro lá da mansão ela
disse e o olhar dela parecia viajar para bem longe para aquele tempo em que tudo era mais complicado naquela época minha filha essas coisas não se perdoavam fácil não romance com empregado e ainda mais um negro isso era escândalo na certa e o pior acabei ficando grávida com apenas 16 anos o jucemar estava com 9 anos eu já sentia um nó na garganta um Presságio de dor que se confirmava a cada palavra Eu sabia que o que ela tinha para contar não era pouca coisa sabe a Dona Helena continuou quando meus pais descobriram Ah minha
filha foi um Deus nos acuda um escândalo daqueles Meu pai sempre tão rígido e preocupado com as aparências não suportou a ideia e a raiva tomou conta dele bateu muito no jucemar dava socos e chutes nele o coitado mal conseguia se defender ele ele gritava acusando o pobre de golpe eu tentava protegê-lo mas minha mãe totalmente submissa ao meu pai me segurava para não acabar apanhando junto ela chorava e me implorava para que eu pedisse perdão mas como pedir perdão por amar meu pai era um homem poderoso na cidade um político influente a reputação da
família estava em jogo e nada mais importava a solução que encontraram foi a Mais Cruel tirar meu filho de mim assim que nascesse fui trancada em casa como uma prisioneira em sua própria vida os dias se arrastavam longos e solitários a cada noite embrulhava em meus lençóis e chorava até não ter mais lágrimas a saudade de jucemar era uma ferida aberta em meu peito uma dor que nunca cicatrizar e a culpa essa me consumia por dentro como pude permitir que isso acontecesse as palavras dela me deixaram gelada Todos estavam com os olhos arregalados só quem
não estava ali era a esposa do Antônio amar Line que viu que as crianças iriam atrapalhar a conversa então ela levou eles para brincar lá fora mas eu vi a cabecinha dela na janela toda curiosa ouvindo o que podia e Dona Helena o que mais aconteceu eu perguntei Ansiosa com o coração já disparado ela continuou eu me lembro como se fosse ontem o parto adiantou Então minha mãe ela contratou uma Parteira jamais me levaria i a um hospital e a gente teve que ir lá pro celeiro das proximidades meu pai tava em uma viagem de
negócios eu sentindo as dores do parto quando de repente vi o jucemar de longe eu achei que tava vendo coisas de tão fraca que tava mas não era ele mesmo ele teve coragem de vir mesmo chegou todo decidido corajoso dizendo eu quero ver o parto do meu filho Minha mãe quase caiu para trás e do jeito dela começou a brigar com ele ah brigou um monte viu mas eu tava tão zonza com a cabeça rodando de dor que nem sei direito o que eles falaram só lembro da Parteira me mandando respirar e fazer força vai
respira respira agora e minha mãe e o juar que estavam discutindo pararam tudo e vieram pro meu lado cada um de um lado segurando firme as minhas mãos e foi aí minha filha que o bebê nasceu um menino forte saudável e negro igual o pai quando Dona Helena falou isso todo mundo lá em casa ficou sem reação Até minha mãe e meu pai um menino nada mais estava fazendo sentido Ah minha filha a Dona Helena não parou por aí não ela respirou fundo e continuou minha mãe fez uma coisa que eu nunca vou esquecer ela
pegou aquele menino no colo e me entregou E eu toda emocionada abracei o bebê com todo o amor do mundo jemar meu Deus do céu elee tava com um sorriso de orelha a orelha parecia que tudo tinha se ajeitado naquele momento mas a coisa não tinha acabado ali De repente as dores começaram de novo a Parteira olhou para mim e falou tem mais um bebê eu não acreditava e novamente Nasceu uma menina negra também mas tão magrinha tadinha e essa menina era você Zulmira Ah minha filha você tinha que ver a cara da família naquela
hora parecia que tinham visto um Foi aí que o Antônio Coitado nem conseguindo segurar a curiosidade olhou PR avó Maria e perguntou é verdade vó o que essa senhora tá contando e a minha mãe Maria confirmou é verdade meu neto Depois eu explico melhor mas agora deixa a Dona Helena terminar de contar a história a casa inteira ficou em silêncio todo mundo com os olhos em Dona Helena esperando mais era muita informação para processar filha e agora que eu vou te contar o coração aperta só de lembrar a Dona Helena continuou o jucemar já sabendo
que meu pai não tava por perto ajoelhou ali no chão aos pés da minha mãe e começou a implorar ele dizia que me amava que ia cuidar de mim e dos bebês falou que tinha juntado umas economias que a gente podia fugir começar uma vida nova mas minha mãe coitada olhou para ele com pena e disse ah jemar como você é ingênuo essas economias devem ser uma mixaria como você pretende manter minha filha bem E além disso o meu marido nunca aceitaria isso ele ia mandar caçar vocês dois até o fim do mundo mas o
jucemar não desistia falou tanto tanto que acabou convencendo minha mãe a nos ajudar acredita que ela no desespero de proteger a gente tirou o colar que ela tanto gostava os brincos os anéis e até a aliança de ouro do casamento e disse pra gente sumir desaparecer dali que um dia se Deus quisesse ela ia nos achar aí ela me beijou na testa e com o coração partido nos mandou embora o próprio motorista da minha mãe nos levou até uma pensão que o jucemar tinha conseguido alugar era simples mas era o que tínhamos sabíamos que não
podíamos ficar ali muito tempo tínhamos que sair dali oquanto antes Dona Helena parou por um momento e eu podia ver nos olhos dela o peso de cada uma dessas palavras era uma tristeza que parecia carregar décadas de dor Ah minha filha Essa parte é de cortar o coração ela começou a chorar muito quando começou a contar esta parte no dia seguinte o jucemar todo esperançoso foi até a rodoviária comprar as passagens a gente ia para bem longe longe de tudo e de todos mudamos de pensão para não levantar suspeita mas três dias depois quando estávamos
prontos para ir embora de vez apareceu uns homens estranhos eles pegaram eu e os bebês e nos colocaram num carro e o jucemar coitado foi levado em outro me levaram de volta pro celeiro onde tudo tinha começado e lá estava minha mãe Ah filha Se você visse a tristeza naquele rosto estava toda machucada com o rosto roxo ela mal conseguia olhar para mim e com a voz tremendo diz seu pai não me perdoou ele descobriu tudo e a Parteira tá aqui porque vai ter que levar os bebês embora Se você não deixá-los ir ele vai
mandar matar os dois Ele é um homem Cruel Helena não tem coração eu só conseguia chorar abracei meus filhos com toda a força que tinha eu sabia que ia ser a última vez que os veria tinha ali comigo uma bolsa com algumas fraldinhas e roupinhas que uma senhora boa lá da pensão tinha me dado e junto umas fotos que o jucemar pegou de casa para ele ter uma recordação minha foi então que eu implorei deixa eu escrever um bilhete PR os meus bebês minha mãe olhou pra Parteira e ela com um olhar triste deixou eu
procurei na bolsa e achei uma caneta velha e ali com a mão tremendo escrevi umas poucas palavras uma esperança sabe de que um dia meus filhos me perdoassem a Parteira pegou os bebês mas antes de ir ela me olhou e disse que só estava fazendo aquilo Porque meu pai tinha ameaçado a família dela ela também sofria filha e assim eles foram embora e eu fiquei ali desolada sem meus filhos e sem o amor da minha vida ah filha tem dor maior que essa Helena continuou com a voz embargada pela dor Foi então que quando cheguei
em casa meu pai estava furioso ele me Pegou de surpresa me deu uns tapas na cara e me jogou no chão gritava tá satisfeita por sua causa eu posso nem me eleger Coloquei aquele safado na cadeia Se depender de mim ele vai apodrecer lá ele roubou as joias da sua mãe claro que ele sabia que não era verdade mas parecia que gritava aquilo para si mesmo tentando se convencer eu tentei falar eu disse que o jucemar era mais honesto que ele mas eu não devia ter falado Ah filha ele bateu tanto em mim e na
minha mãe ela só queria me defender a gente ficou vários dias se recuperando das agressões meu pai não teve Piedade Foi então que ele tomou uma decisão Cruel comprou uma passagem de avião e me matriculou em uma escola em Boston nos Estados Unidos disse que eu nunca mais iria atrapalhar a vida dele e assim eu fui sem poder dizer adeus a ninguém sem saber o que aconteceria era uma época tão desgostosa filha eu desejei do fundo do meu meu coração que meu pai sumisse deste mundo que tudo fosse diferente Helena parou de falar e olhou
para baixo pegando o Seu Lenço da bolsa Eu senti muito dó dela então fui abraçá-la mas ela queria falar mais ela nos contou que sempre que sua mãe ligava lá em Boston ela relatava as atrocidades que o pai dela cometia em uma dessas ligações mais ou menos três meses que ela estava lá a mãe dela revelou que o jemar tinha morrido na cadeia Mataram ele lá dentro ela disse minha mãe estava devastada acreditava que o pai tinha mandado matar o jemar por medo de que ele pudesse falar algo que prejudicasse a candidatura dele ouvi aquilo
e quase morri de tristeza quando ela disse isso ali na sala de casa eu via no rosto de cada um uma tristeza imensa a mãe e o pai tava chorando Fazia tempo eu fiquei arrasada meu pai biológico morreu e Dona Helena continuou então eu fiquei lá por anos mesmo depois de ter me formado sem coragem de voltar para casa nunca mais queria ver meu pai o pobre jucemar envolveu-se comigo e acabou se tornando vítima de uma tragédia foi acusado injustamente de roubo e depois morto na cadeia não consegui aceitar tudo isso então eu fiquei lá
no exterior por 42 anos acabei me casando tive três filhos e um deles é um casal de gêmeos também e agora só voltei porque meu pai também foi morto a investigação ainda está em andamento e não se sabe o motivo exato da morte dele trouxe meus filhos comigo e meu marido ficou por lá por causa do trabalho Ele é um homem muito bom e conhece toda a minha história então contratei um detetive ele chegou até você Zulmira eu mal podia esperar para te conhecer minha filha a verdade que Carrego comigo é pesada mas peço que
me perdoe ela falou tudo isso me olhando com os olhos cheios de lágrimas e um semblante de cansaço profundo A sala estava em silêncio todos absorvendo a magnitude da Revelação o tempo Parecia ter parado e o choque ainda estava fresco em nossas cabeças a história de Helena com todos os seus altos e baixos finalmente se entrelaçava com a minha e agora precisávamos enfrentar juntas o que eu iria revelar Ismael perguntou com uma pressão de curiosidade sobre o gêmeo o menino e Dona Helena respondeu que o detetive tinha uma pista indicando que ele morava na cidade
vizinha ela estava esperançosa de que em breve descobrisse o paradeiro dele meu coração gelou ao ouvir isso percebi que estava encurralada e precisava falar a verdade levantei-me e disse que voltaria logo Quando retornei entreguei a Dona Helena as duas fotos que eu tinha quando ela viu a foto quase desmaiou de tanto chorar dizendo com lágrimas nos olhos sobre como aquilo era possível a minha mãe e meu pai estavam em choque sem palavras Dona Helena Ainda chorando me perguntou se eu conhecia meu irmão gêmeo foi quando eu disse que ele era meu marido de repente Todo
mundo começou a falar ao mesmo tempo que situação meu Deus Dona Helena sentiu tanto calor que pediu um copo d'água ela molhava as mãos no copo e espirrava no rosto tentando se acalmar minha mãe perplexa perguntou como assim Zumira Que história é essa eram muitas perguntas ao mesmo tempo todas direcionadas a mim mas então Dona Helena começou a olhar fixamente para os meus filhos notando as deficiências deles vi no rosto dela que ela estava entendendo tudo eles são os filhos de vocês não são perguntou Dona Helena com a voz trêmula eu respondi sim tivemos quatro
filhos a minha filha essa história que eu carrego aqui dentro me dói demais já te contei os detalhes e não vou repetir tudo de novo mas saiba que cada palavra que saiu da minha boca foi como reviver cada instante de Sofrimento essa situação Ah ela foi dura tanto que acabou levando meu pai pro hospital bem ali na nossa frente ele não aguentou foi um infarto minha filha do jeito que ele caiu o motorista da Dona Helena Deus o abençoe correu levou ele rápido pro hospital mas já era tarde demais perdemos ele um homem tão forte
um homem que eu pensei que enfrentaria qualquer coisa mas a verdade o derrubou ele não suportou e eram tantas verdades reveladas de uma vez só que eu naquela hora minha filha só pedi para Deus me levar também como eu queria que tivesse sido Eu no lugar do meu paizinho Quem me dera ah se eu pudesse trocar de lugar com ele naquele momento ele não merecia sofrer assim mas a gente só pode aceitar não é foi um golpe duro ver Dona Helena Ah ela ficou simplesmente apavorada horrorizada Quando soube que os próprios filhos os gêmeos que
ela perdeu acabaram se casando mal ela podia acreditar os olhos dela nunca vou esquecer eles ficaram arregalados de choque como se não conseguissem processar aquilo que eu tinha acabado de contar o sofrimento no rosto dela era visível ela soube que tudo aquilo foi o fruto da maldade do pai dela que jamais eu chamaria de avô e os meus filhos minha filha eles ficaram tão magoados comigo por eu nunca ter contado a verdade para eles chegaram até a dizer que o pai deles o José Antônio devia estar sabendo de tudo e que nós dois sabe mantivemos
esse segredo por tanto tempo eu tentei explicar para eles que ele morreu sem nunca saber de nada mas ah como foi difícil eles acreditarem em mim foi duro viu coração apertado demais se não fosse por toda aquela crueldade talvez as coisas fossem diferentes aquele homem o pai de Dona Helena a maldade dele trouxe muita tragédia paraas nossas vidas meu coração se apertava porque ali diante de todos a verdade nua e crua estava exposta e não tinha mais como fugir dela tudo o que aconteceu os erros as mentiras o sofrimento culminaram naquela sala com cada pessoa
lidando com as revelações à sua maneira ali no enterro do meu pai não saía da minha cabeça Essa Mulher Dona Helena não devia ter aparecido a gente estava Vivendo em paz eu teria morrido com o meu segredo quetinha mas fui obrigada a abrir a boca e olha no que deu meu paizinho se foi ele não merecia passar por isso nada disso teria acontecido se a Dona Helena não tivesse voltado naquele momento eu senti raiva uma dor misturada com culpa só que depois me dei conta de que era egoísmo da minha parte afinal ela era a
maior vítima ela passou uma vida inteira sofrendo longe dos filhos com um peso no peito como mãe eu não podia nem imaginar alguém arrancar os meus filhos do meus braços assim como aconteceu com ela Claro que ela também tinha o direito de saber a verdade né e agora eu aqui com a cabeça cheia de perguntas que que nunca vão ter resposta se você me assistiu até aqui me diz o que você faria no meu lugar como alguém consegue seguir em frente depois de uma coisa dessas eu me perguntava todo dia e outra coisa que sempre
me veio à mente e se o José Antônio ainda estivesse vivo Será que eu teria coragem de me separar dele porque mesmo sabendo de tudo eu amava aquele homem como meu marido como o pai dos meus filhos Essas são coisas que por mais que eu pense nunca vou poder responder é uma dor que não tem fim passaram-se muitos anos meus irmãos se casaram cada um seguiu seu caminho e minha mãe para não ficar sozinha decidiu vir morar comigo eu cuidei dela com todo o amor que eu tinha até seu último suspiro foi uma fase difícil
mas eu sabia que era o certo a se fazer já minha outra mãe a Helena depois de tudo que aconteceu acabou voltando para os Estados Unidos a vida que ela tinha construído lá era mais fácil e tranquila do que aqui o tempo foi passando e aos poucos meus filhos começaram a me perdoar a mágoa que eles tinham por eu ter guardado aquele segredo foi se dissolvendo com o tempo ainda tenho dúvida se eles acreditaram que o pai José Antônio morreu sem saber que éramos irmãos gêmeos hoje moro com meu filho José e sua família na
casa dele herdamos uma quantia considerável da parte da minha mãe Helena depois que ela faleceu vivemos com Muito conforto não nos falta nada mas apesar de tudo eu carrego meu coração pesado cheio de memórias e cicatrizes da vida que eu vivi agora com os meus 91 anos só estou aguardando o dia que Deus vem me buscar se você ainda não se inscreveu neste canal Aproveite e faça isso agora em troca receba histórias reais dos avós todas semanas escolha outro vídeo para continuar assistindo e se comovendo