THERANOS: O Golpe do Século | Documentário Completo

Em 2003 Elizabeth Holmes queria revolucionar a medicina. A ideia era que as pessoas fizessem testes mensais para acompanhar regularmente sua saúde a fim de reconhecer e prevenir doenças, não apenas intervindo quando elas já estivessem claramente doentes. Tudo isso sem o uso de agulhas e de uma forma mais barata e rápida.

No futuro poderíamos antecipar doenças monitorando nossa saúde mais de perto. E como toda inovação com foco em revolucionar o futuro, foi bem-sucedida em capturar o interesse e a atenção do público. Uma única gota de sangue tirada de seu dedo, assim como os exames de glicose, lhe daria um exame completo de saúde em questão de algumas horas.

Com esse produto, Elizabeth se tornaria a queridinha dos Estados Unidos, estampando dezenas de capas de revistas, sendo convidada a jantares na Casa Branca, comparada a Steve Jobs, e se tornando a mais jovem mulher bilionária do Vale do Silício. A empresa criada por ela, Theranos - a mistura das palavras Therapy e Diagnosis - prometia que com a sua invenção todos os humanos teriam direito a mensalmente a uma checagem de saúde barata e eficaz que poderia prever até mesmo doenças graves como o câncer em estágios iniciais, tudo isso com apenas uma gota de sangue. Era a revolução da medicina moderna como conhecemos… Mas tudo isso era mentira.

Elizabeth protagonizaria um dos maiores escândalos do Vale do Silício e provocaria uma reflexão sobre como as coisas são conduzidas por lá. E a pergunta que mais atormentaria todos que ouviriam essa história bizarra seria: A ganância das pessoas é tão grande a ponto de deixá-las cegas? Como grandes nomes investiram milhões de dólares em um empreendimento que eles não possuíam prova nenhuma de que funcionava?

E como Elizabeth Holmes conseguiu enganar nomes como Joe Biden, Bill Clinton, George Schultz, Rupert Murdoch e todo Vale do Silício, é o que eu te conto nesse vídeo. Elizabeth Holmes nasceu em 1984 em Washington D. C.

Ambos pai e mãe haviam trabalho para o governo e, tendo a família vinda de uma longa linhagem rica e privilegiada herdeira das fortunas Fleischmann que teria ao longo dos anos perdido seus recursos, Elizabeth se sentia incentivada a reconquistar a glória da família desde muito pequena. Com quatro anos ela e o irmão brincavam de construir empresas. Ao sete ela dizia que seria como Steve Jobs e quando perguntada o que queria ser quando crescer ela sempre respondia “Quero ser bilionária”.

Assim ela fez. Ir para Stanford não foi uma escolha qualquer, grandes empresários do Vale do Silício haviam estudado lá, por isso Elizabeth faria o mesmo. Logo nos primeiros meses de aula na universidade, Holmes procuraria sua professora, a médica cardiologista, Phyllis Gardner e compartilharia sua ideia a qual ela tinha certeza que revolucionaria a medicina.

Porém, para seu infortúnio, a professora a alertou que sua ideia era cientificamente impossível. Elizabeth não deu ouvidos e foi até outro professor, o chefe de departamento, Channing Robertson. Channing era responsável por dar cursos avançados de engenharia química e apesar de não aceitar calouros em suas aulas, Elizabeth o esperou todos os dias em sua porta até ser convencido a aceitá-la em sua classe.

Vendo seu desempenho em sala de aula e após ouvir suas ideias, Robertson estava convencido de que ela era “brilhante”. Passou a apresentá-la a colegas e pessoas importantes como um verdadeiro gênio. Mesmo com apenas dois semestres de faculdade.

Elizabeth estava convencida de que tinha o conhecimento necessário para seu projeto, e muito possivelmente incentivada por histórias como de Steve Jobs, Bill Gates e outros grandes empresários que largaram a faculdade, ela fez o mesmo em 2003, quando tinha apenas 19 anos, para começar sua empresa. Assim que saiu ela começou a dar forma ao seu empreendimento, mas primeiro ela precisava de investimento. O que também não foi difícil para a garota brilhante.

Em um único encontro Elizabeth convenceu Tim Drper a ser o primeiro a investir em seu empreendimento. Tim era um amigo da sua família e havia ficado bilionário com investimentos. Ele lhe deu o primeiro cheque de um milhão de dólares que Elizabeth transformaria em uma empresa de $9 bilhões.

Conhecida por seu carisma e principalmente poder de persuasão somado aos privilégios de conexões trazida por sua família, não foi difícil para Elizabeth convencer as pessoas certas. Elizabeth era inteligente e sabia que mais que dados científicos que poucos entendiam ela precisava de credibilidade e para isso ela se preocupou em formar um conselho de renome. Essa estratégia a garantiu algo fundamental: a fama.

O conselho criado por Holmes, era formado por ex-secretários de Estado dos Estados Unidos, ex-senadores, fuzileiros navais, e generais da marinha famosos. Primeiro ela convenceu o ex-Secretário de Estado George Schultz a entrar no conselho e pronto, outros grandes nomes do governo e do exército dos Estados Unidos o seguiram. Nomes como Henry Kissinger, outro ex-Secretário de Estado dos Estados Unidos, William Perry, ex-Secretário da Defesa dos Estados Unidos e Sam Nunn, ex-Senador compunham a mesa.

Os nomes impressionaram e fizeram todos acreditarem que o futuro do vale do silício estava ali. Atraindo assim a atenção de investidores, todos queriam um pedaço daquilo, mesmo que esses mesmos nomes não tinham nada a ver com medicina ou engenharia química, eles confiavam nos nomes do conselho de Elizabeth e investiram pesado. Os fundadores do Walmart investiram $150 milhões de dólares na empresa.

A família DeVos, incluindo a ex-Secretária de Educação dos Estados Unidos, Betsy DeVos investiram $100 milhões de dólares e o magnata Rupert Murdoch, chegou a investir de uma só vez $125 milhões de dólares em ações da empresa. Rupert Murdoch era ironicamente o dono do Wall Street Journal, O porquê de isso ser tão irônico? Eu te conto logo mais… Ao todo, ao longo dos anos, a Theranos receberia $1,3 bilhões de dólares em investimentos.

Somado ao alto investimento, Elizabeth passou a conduzir inúmeras palestras onde ela divulgava o seu produto e sua importância. Utilizando de um discurso emocionado sobre um tio que havia morrido de câncer, Elizabeth fazia palestras repetindo a frase que viraria seu mantra: “Um mundo em que ninguém nunca mais tenha que dizer adeus cedo demais. ”.

Ela virou uma heroína. Com o sucesso, Elizabeth estamparia capas de revistas como Times e Forbes, aparecendo na lista das cem pessoas mais influentes do mundo em 2014 e se tornando a primeira CEO mulher no Vale do Silício a chegar na casa do bilhão. Elizabeth começou a ser constantemente referida como “a nova Steve Jobs”.

E ela que imitava o estilo, o método de trabalho e até mesmo a voz grave do empresário, abraçava essa fama com muito orgulho. Aconselhada por sua funcionária a mudar de estilo assim que a Theranos começou a crescer, Elizabeth começou a adotar um estilo “all black” e gola alta. Uma combinação que não era novidade para ninguém e que ficou conhecida por vestir Steve Jobs.

E as imitações não pararam por aí… Elizabeth passou a seguir todos os passos do ídolo. Jobs fazia uma dieta só com sucos verdes, ela também. Ele tinha um segurança particular, ela também teria.

Elizabeth ainda contratou a mesma agência de publicidade da Apple e ex-funcionários da empresa. A forma como liderava sua empresa também seguia os métodos de Jobs, e ela lia sua biografia a fim de ideias. Um funcionário chegou a descrever no livro Bad Blood escrito por John Carreyrou, que: “estavam todos lendo o livro também e podiam identificar em qual capítulo ela estava com base em qual período da carreira de Jobs ela estava representando.

” Alguns acreditam até mesmo que a voz dela era falsa, forçada em um tom mais grave para ser levada mais a sério. Vídeos de comparação começaram a surgir. Mas não só isso se provaria falso na vida de Elizabeth Holmes.

Apesar de toda fama, algo essencial dentro da Theranos não funcionava… A máquina. A invenção que Elizabeth vendia com orgulho ao mundo, nunca funcionou. Holmes foi movida pela maior regra de engabelação do Silicon Valley “Fake it, until you make it”, “Finja até dar certo”, e foi o que ela fez sem hesitar.

A máquina que Holmes batizou de Edison, possuía cerca de 55 cm de largura e 45 de altura, sendo do tamanho de um CPU de computador, podendo ser facilmente transportado e cabendo em qualquer espaço. A máquina segundo o vídeo liberado pela própria Theranos era formada apesar de seu tamanho pelo: Cartucho de sangue, um termociclador, responsável por amplificar segmentos de DNA. Um citômetro, que mede as características e números das células.

Um espectrofotômetro, medidor da quantidade de luz refletida e ou absorvida por uma amostra. E ainda, uma centrífuga, para a separação de elementos sanguíneos. Utilizando de uma gota de sangue a máquina faria a testagem de sangue e de forma online mandaria a um laboratório os resultados para interpretação e os resultados seriam mandados de volta.

A ideia seria abrigar em uma única máquina, do tamanho de um computador, diferentes sistemas de testagem sanguínea que antes eram feitos em distintas e grandiosas máquinas para diferentes resultados. Enquanto um componente poderia fazer reações químicas, outro poderia medir a luz refletida no sangue. Tudo isso permitiria que se tivesse em uma farmácia ou até mesmo dentro de casa um produto capaz de realizar exames de doenças infecciosas e crônicas, com resultados que sairiam na hora, porum valor acessível e muito abaixo da cobrada por laboratórios.

Exames de sangue estariam facilmente disponíveis em lugares remotos e pobres, ou seja, o que Elizabeth prometia era saúde acessível para todos do mundo. Mas a máquina simplesmente não cumpria o que era prometido. A cada teste ela entregava mais e mais resultados irrealistas.

Ela esperava que seus engenheiros e biomédicos um dia fizessem a máquina funcionar, mas para especialistas da área esta era uma tecnologia que estava longe de conseguir desenvolver. Todos aqueles elementos em um espaço de uma caixa interferiam um no outro. Além disso, para ser feita a testagem só uma gota de sangue não era suficiente para todos os exames e por isso a equipe da Theranos era instruída a diluir a amostra, o que consequentemente impossibilita resultados concretos.

Uma gota de sangue pode até medir sua glicose, mas para exames mais completos não era viável. Uma única gota não possui alta concentração suficiente dos elementos que precisavam ser medidos. Segundo o artigo publicado pela American Journal of Clinical Pathology em 2015, foi analisado que há uma grande variação de marcadores sanguíneos importantes como hemoglobinas e glóbulos brancos de uma gota de sangue para outra.

E mesmo se as gotas fossem idênticas seria preciso separar as células com reações químicas ou por centrifugação tornando o reteste da amostra impossível. Sabendo que a máquina não funcionava Elizabeth pressionou seus engenheiros e ameaçou demitir aqueles que não apresentassem resultados. Em 2013 a farsa se concretizava ainda mais.

A Theranos fecha com a companhia de farmácias Walgreens um contrato de milhões de dólares que distribuiria o produto em farmácias e o tornaria de fácil acesso à população. Nos Estados Unidos a rede de farmácias Walgreens é a maior do país, possuindo mais de oito mil lojas espalhadas por todo o seu território. A ideia da parceria era colocar em fácil acesso da população uma máquina Edison, já que existe uma farmácia da rede Walgreens em quase toda esquina do país.

A única prova na época de que a tecnologia funcionava era um relatório de duas páginas da Faculdade de Medicina do Hospital The Johns Hopkins que resumia uma reunião da Theranos com representantes universitários onde a empresa apresentou alguns resultados de dados e nada mais. Mas o Hospital disse, em uma matéria da CBS, que nunca colaborou com a Theranos. Mesmo assim, Elizabeth só precisou disso, uma lista com 192 testes de sangue que supostamente eram feitos pela máquina Edison a valores acessíveis e um pouco do seu famoso charme para convencer os executivos da Walgreens.

Sabendo de toda comoção que a Theranos estava provocando no mundo inteiro e querendo ser os pioneiros a lançarem o produto, a Walgreens fechou o contrato de parceria com a Theranos. Na época, o presidente da rede de farmácias Walgreens, Kermit Crawford disse: “Este é o próximo passo nos esforços da Walgreens para transformar a farmácia, dando aos nossos pacientes e clientes acesso conveniente aos cuidados abrangentes de que precisam, diretamente em suas comunidades. ”.

Em setembro de 2013, a primeira filial em Palo Alto, na Califórnia, anunciava a disponibilização do primeiro Centro de Bem-Estar Theranos. Em Novembro, a Walgreens anunciaria a expansão do centro para mais quarenta de suas lojas. Foi muita coragem, ou melhor, falta de caráter de Elizabeth convencer o presidente a esse contrato e de espalhar por todo o país um produto que não funciona.

E apesar do perigo, essa jogada serviu também para derrubá-los. Dezenas de testes assustaram pacientes com seus resultados. Sherri Ackert era uma sobrevivente do câncer de mama, sendo assim era preciso que de tempos em tempos ela verificasse por meio de exames se tudo estava bem e se o câncer não teria voltado.

Confiante na credibilidade da Walgreens ela decidiu fazer um teste da Theranos. Porém quando os resultados voltaram um grande susto. O estradiol marcava mais de 300.

O estradiol é o principal hormônio sexual feminino, para uma mulher acima dos 60, que já havia passado pela menopausa, isso poderia indicar um possível tumor. O médico então a pediu que refizesse o teste em um laboratório diferente e o estradiol deu quase inexistente. Apesar de contatar a empresa, a Theranos nunca comentou o caso ou sequer se desculpou.

Pallav Schader, um empresário de tecnologia médica, nunca imaginou que ele, um médico, participante da indústria de pesquisa e tecnologia médica, poderia ser enganado por uma empresa da sua própria área. Em 29 de julho ele iria até uma filial da rede de farmácias Wallgreens para fazer um teste de sangue. No dia 31 do mesmo mês ele faria outro teste de sangue em um laboratório diferente e os resultados seriam completamente diferentes.

Os exames da Theranos, indicavam que ele era pré-diabetico. Nos resultados do outro exame tudo estava normal. Se ele não tivesse feito outro teste ele começaria a usar medicamentos antidiabéticos, sem necessidade, e os efeitos colaterais disso poderiam ser graves.

Apesar da máquina Edison nunca de fato ter sido instalada nas farmácias, as amostras eram mandadas para Theranos e eram, supostamente, testadas na máquina. Mas a realidade era que eles utilizavam testes já conhecidos e diluíam o sangue para que a quantidade fosse aumentada e testada. O que passou a acontecer é que problemas graves de saúde não eram detectados e pacientes saudáveis ganhavam resultados de doenças que não possuíam.

Recém formada em biologia molecular e celular, Erika Cheung ficou extasiada quando soube que estava sendo contratada para trabalhar na empresa que revolucionaria a medicina, a Theranos. Mas pouco tempo dentro da empresa e ela viu que seu sonho se tornaria um pesadelo. Logo em seus primeiros dias no laboratório e sendo apenas uma recém formada, Erika estranhou a forma como certos testes eram realizados e de cara ela foi exposta às altas discrepâncias que a máquina Edison apresentava.

Em uma amostra onde a concentração deveria ser 0. 20 a máquina da Theranos apresentou resultados como 8. 9, 5.

1 e 0. 50. Mas a gota d’água foi quando a Theranos estando submetida a uma fiscalização para ser aprovada a examinar amostras de pacientes, recebeu uma amostra dada pela fiscalização para ser analisada em sua máquina.

A amostra foi então analisada na máquina Edison e posteriormente em uma máquina aprovada de laboratório comum, e os resultados foram extremamente diferentes, ao invés de informar aos fiscais as discrepâncias eles enviaram os resultados da outra máquina com os resultados corretos, mentindo para a fiscalização para continuar operando em pacientes. Erika reuniu todos os tipos de provas que possuía e foi até a diretoria onde apresentou suas preocupações quanto a máquina e o porquê ela não deveria ser usada em pacientes. A resposta foi rude.

Eles lhe disseram que ela não sabia sobre o que estava falando e que apenas fizesse o trabalho que eles lhe pagavam para fazer. Após essa conversa desanimadora, Cheung ligou para seu colega de trabalho Tyler Schultz, que por acaso era neto de George Schultz, ex-secretário de estado dos Estados Unidos e membro do conselho da Theranos. Os dois colegas foram até a casa do avô de Tyler e alertaram George, mas ele não acreditou neles.

Erika pediu demissão no outro dia. Pouco tempo depois ela seria abordada por John Carreyrou, jornalista do Wall Street Journal que investigava a empresa e queria seu depoimento para a matéria. Mas por conta dessa investigação, a Theranos estava atrás de todos ex-funcionários e os intimidando a não depor, até o dia que Erika notou que estava sendo seguida.

Ela imediatamente contratou um advogado, que a aconselhou a denunciar a empresa para uma agência reguladora. Pouco tempo depois, a Theranos receberia uma investigação fiscal de surpresa que elucidaria as denúncias feitas por Erika e deixaria claro as deficiências no laboratório. E a Theranos estava agora impedida de realizar exames em pacientes.

John Carreyrou leu sobre Elizabeth Holmes e sua invenção em um artigo do New Yorker e não acreditou naquela história. Tendo trabalhado por anos como repórter investigativo na área da saúde ele achou tudo utópico demais, mas foi só quando recebeu o telefonema de um patologista que já havia trabalhado e que possuía as mesmas suspeitas que ele, que John resolveu investigar. E não foi difícil achar evidências.

Não só seu antigo colega estava suspeito, mas vários especialistas da área patológica não acreditavam ser fisicamente possível. Ele rapidamente conseguiu contato com um ex-diretor do laboratório da Theranos, Adam Rosendorff, que havia acabado de sair da empresa e ele não precisou de muito incentivo para contar todos os problemas que ocorriam na empresa. John Carreyrou então juntou testemunhos de ex-funcionários, médicos especialistas e pacientes e publicou em outubro de 2015 a matéria que daria início ao fim da corporação.

E então veio a grande ironia envolvendo Rupert Murdoch. Ele era membro do conselho da Theranos e dono do The Wall Street Journal, e foi abordado por Elizabeth mais de uma vez para que a matéria não fosse ao ar, mas ele se recusou a interferir. Após as denúncias, Elizabeth rebateu alegando que eram falsas e que a empresa não seria atingida por elas.

Ela ainda prometeu esclarecer todas as dúvidas sobre a máquina Edison, isso foi feito por meio de um estudo que apresentou diversas falhas. Com isso, a empresa perdeu sua credibilidade e as ações despencaram. John Carreyrou revelou tudo isso e muito mais no livro Bad Blood: Secrets and Lies in a Silicon Valley Startup.

O livro, que conta a história da Theranos e sua fundadora desde o início, quando ela era apenas uma garota que queria ser bilionária até a queda da Theranos, virou um best-seller e deu origem a um filme estrelando Jennifer Lawrence como Elizabeth Holmes. Mas porque afinal o Vale do Silício se deixou enganar tão facilmente? Em 2010 empresas como o Facebook e o Twitter haviam deixado investidores multimilionários.

Todos estavam à espera da próxima mina de ouro. Elizabeth não precisava provar nada pra ninguém, tudo o que Elizabeth precisava fazer era convencê-los disso, e ela fazia isso com facilidade. John Carreyrou descreveu da seguinte forma: “Acho que os investidores queriam se juntar ao próximo foguete para a riqueza.

E, como resultado, eles deixaram de lado a desconfiança e foram menos cuidadosos. Com dois anos de empresa ela já havia arrecadado seis milhões de dólares em investimentos. Com seus olhos azuis, cabelo loiro e a arte de convencer pessoas, ela se tornou aos poucos uma popstar, atraindo a atenção de todos os lados, todos ficavam repetindo “Ela é um gênio”.

Depois de convencer George Schultz a fazer parte do seu conselho o resto foi fácil. Com a Theranos impedida de realizar testes em pacientes, Elizabeth Holmes também foi impedida de operar ou possuir um laboratório por dois anos, os processos começaram a chegar. Os primeiros a processarem a empresa foram a Partner Fund Management, que havia investido $96 milhões de dólares na empresa.

Depois deles outros vieram atrás, investidores e pacientes. Sob acusações de fraude a Theranos é desintegrada em 2018. E Elizabeth, a antes mulher brilhante do Vale do Silício, que possuía uma riqueza avaliada em $4,5 bilhões de dólares, agora estava completamente falida e em julgamento.

Elizabeth enfrentou doze acusações no tribunal, entre elas fraude e conspiração. O julgamento de Elizabeth levou tempo para acontecer, sendo adiada quatro vezes por conta da pandemia e em decorrência da sua gravidez. Mas em 8 de setembro de 2021, ele foi iniciado e em 04 de janeiro de 2022 os jurados chegaram a uma conclusão após cinquenta horas de discussão.

Elizabeth Holmes foi condenada em quatro das doze acusações que estava enfrentando. Três por fraude eletrônica e uma por conspiração. Podendo ser sentenciada a 20 anos de prisão por cada acusação.

Os jurados a consideraram inocente pelas acusações de fraude pública e não conseguiram chegar em um consenso nas outras acusações. Sendo assim considerado pelo departamento de Justiça que Elizabeth planejou cometer fraude contra investidores e pacientes, fazendo falsas alegações e omissões sobre o funcionamento e resultados das máquinas de teste. Agora, As coisas no Vale do Silício andam mais cuidadosas e todos estão desconfiados.

Muitas empresárias já começam a afirmar o preconceito que se instalou sobre o mercado, um mercado que antes já não era muito receptivo a mulheres, marcando um retrocesso sobre uma situação já atrasada e prejudicando as futuras gerações de meninas que sonham em construir sua empresa no grande Silicon Valley. Pior ainda do que isso, a Theranos prejudicou anos de pesquisas e avanços na indústria de exames de sangue. Pesquisas sérias pararam de conseguir investimentos durante os anos dourados da empresa, porque investidores acreditavam que seus trabalhos eram inúteis tendo em vista que a Theranos já realizava este tipo de trabalho.

E agora, com a farsa esclarecida, pesquisas na área de exame sanguíneo estão sendo desacreditadas. Mesmo assim, Elizabeth nunca se desculpou com pacientes ou sequer admitiu sua culpa. Ao que tudo indica ela era uma mulher obcecada pelo sucesso e extremamente manipuladora.

Mas a culpa poderia estar apenas nela? Ou estaria também na ganância de investidores que sequer fizeram seu dever de casa? Quem afinal deu tanto poder a ela?

Se grandes investidores caíram no conto do vigário e investiram sem entender onde estava indo o dinheiro, fica fácil entender por que pessoas comuns perdem dinheiro investindo atrás da “nova oportunidade de ganhar dinheiro rápido”, afinal, com a popularização da internet, ficou cada vez mais fácil ser influenciado a investir dinheiro em absolutamente qualquer coisa, desde que a promessa seja boa. E ai, o que você achou da história da Elizabeth Holmes e a Theranos? Comenta aqui embaixo e dá uma olhada no que o pessoal tá falando sobre isso.

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