Seja bem-vindo a mais uma história emocionante aqui no canal Recanto das Histórias. Juliana sacou o dinheiro rapidamente do cartão e com alguns toques fechou tudo que havia no monitor do caixa eletrônico. Seu coração batia descontrolado. Precisou ficar parada por alguns minutos ali perto do banco até conseguir voltar a respirar normalmente. Nos últimos tempos, ela vinha sendo constantemente assombrada por ataques de pânico, coração acelerado, tontura e uma súbita sensação esmagadora de medo. aquilo vinha complicando muito sua vida e até agora ela não havia conseguido lidar com isso. Tudo começou seis meses atrás, quando seu pai, o
bilionário e dono de um império empresarial, Davi Albuquerque, morreu em um terrível acidente de carro. A polícia foi honesta ao dizer que provavelmente alguém havia sabotado o sistema de freios e causado um curto circuito na caixa de câmbio. Por causa disso, o empresário, em alta velocidade numa rodovia noite, não só foi incapaz de reduzir a velocidade a tempo, como também perdeu totalmente o controle do veículo. "Quer dizer que alguém matou meu pai?", perguntou Juliana, horrorizada, olhando para o investigador. Infelizmente sim, respondeu ele. Mas será muito difícil descobrir quem armou essa tragédia. Seu pai tinha muitos
concorrentes e, provavelmente, inimigos. Gente que queria tirar Davi Albuquerque do caminho, com certeza não faltava. Apesar de os investigadores terem aberto o inquérito e prometido à filha que fariam todo o possível, já havia-se passado muito tempo desde então, e a investigação seguia parada, sem apresentar qualquer resultado concreto. Por uma dessas ironias do destino, o dia em que ela deveria assumir a herança coincidiu com seu aniversário. Juliana completava 23 anos e se tornava oficialmente a proprietária de uma rede de hotéis de luxos espalhados por todo o país, além de várias fábricas de tecidos e porcelanas. Havia
somas astronômicas em suas contas bancárias e o estilo de vida que lhe era oferecido incluía uma mansão suntuosa do pai, de onde não muito tempo atrás ela havia saído para tentar levar uma vida independente na capital. Achando que chamar atenção seria um erro e até perigoso, Juliana decidiu comprar outra casa. A nova casa ficava numa área residencial simples. Era bem modesta, para não dizer mais pobre do que a mansão anterior, mas por dentro tinha um ambiente acolhedor e justamente por não chamar atenção, era perfeita para ela. Para os vizinhos e conhecidos, Juliana dizia apenas que
estava alugando aquele chalé. Segundo ela, era uma estudante comum que trabalhava meio período em um escritório de design e que alugar uma casa ali era muito mais vantajoso do que pagar um aluguel caríssimo na cidade. Como ela sempre se vestia com simplicidade e agia de forma discreta, as pessoas acreditavam. Além disso, seu nome raramente aparecia em colunas sociais. Felizmente, seu pai, ainda em vida, tinha se preocupado em garantir o máximo de privacidade para a filha. Por isso, ninguém imaginava que aquela moça simples, de roupas comuns, era uma recém-herdeira milionária. Mas isso não significava que Juliana
havia desprezado o legado de Davi Albuquerque. Muito pelo contrário, ela vinha se esforçando para aprender tudo sobre os negócios da família e fazia visitas frequentes ao escritório central, onde estava sendo orientada aos poucos pelo melhor amigo e exbraço direito de seu pai. No começo, ela achou que jamais conseguiria lidar com aquela carga imensa de responsabilidades, mas aos poucos foi se saindo melhor e começou a ganhar confiança na sua capacidade de conduzir a empresa da família. O único ponto que pesava era necessidade de levar uma vida dupla. Para a maioria das pessoas, ela era só uma
estudante comum. Mas para um pequeno círculo que incluía alguns dos sócios mais próximos de seu pai e dois amigos de infância, ela era futura empresária. Essa duplicidade forçada causava ela um estresse diário constante. Primeiro veio a insônia, depois os ataques de pânico. E até agora Juliana ainda não sabia quem havia tentado contra a vida de seu pai. Por isso, vivia com medo constante de que algo também pudesse lhe acontecer. O mais triste era não ter com quem dividir suas dúvidas e angústias. Depois do pai, a pessoa mais próxima dela, sua mãe, havia falecido alguns anos,
vítima de uma doença cruel, consciente de sua solidão e incapaz de se abrir totalmente com alguém, Juliana se fechava cada vez mais em si mesma. sentia uma enorme falta de carinho, de um gesto simples de afeto humano. Era disso que Juliana sentia falta, de uma conexão verdadeira, onde pudesse ser ela mesma, sem medo. Quando ela já parecia ter aceitado de ver sua solidão, apareceu alguém que mudou completamente sua vida. Fernando tinha 28 anos e trabalhava como um simples gerente de vendas em uma distribuidora agrícola. Eles se conheceram por acaso em um supermercado, quando os dois
colocaram os olhos ao mesmo tempo em uma mesma cabeça de brócolis. Ambos estenderam a mão ao mesmo tempo e quando seus olhares se cruzaram, Juliana sentiu que aquilo era um sinal do destino. O relacionamento deles era envolto em uma simplicidade romântica tão pura que Juliana, pela primeira vez desde que começou a viver por conta própria, sentiu-se apenas uma garota comum, não intocável filha de um bilionário. Ao lado de Fernando, ela se sentia segura e isso era especialmente importante para ela. Juliana era uma jovem sensata e sabia que, com a fortuna que possuía, naturalmente se tornava
um alvo tentador para oportunistas. O status de noiva cobiçada nunca lhe trouxe alegria. Por isso, ao conhecer Fernando, ela optou por esconder dele sua verdadeira origem. Ele acreditava que ela estava no último ano da faculdade e que nas horas vagas fazia alguns trabalhos como web designer. Fernando demonstrava um carinho sincero por ela e depois de algum tempo juntos acabou fazendo pedido de casamento. Juliana sentiu naquele momento uma mistura intensa de emoções, da alegria genuinamente por estar noiva, ao medo silencioso de que mais cedo ou mais tarde teria que revelar toda a verdade ao noivo. No
fim das contas, ela decidiu adiar essa conversa. Em vez disso, sugeriu que os dois viajassem para sua terra natal, um vilarejo isolado no nordeste do país. Claro que aquela viagem era, na verdade, um tipo de teste. Juliana pensou que se Fernando não se assustasse com a pobreza e com a vida simples do interior, então ela aceitaria se casar com ele. "Tá bom, vamos visitar sua terra", disse Fernando ao ouvir a proposta. Dizem que a natureza por lá é linda, vai render umas fotos boas pro meu álbum de férias. Fernando era apaixonado por fotografia e ficou
animado com a ideia. Fernando queria registrar novas paisagens para sua coleção de fotos. De modo geral, ele reagiu de forma bem positiva à viagem e Juliana, em silêncio, fez uma nota mental sobre a atitude dele. Agora, o próximo passo era combinar com os moradores locais para que a recebessem como se fosse dali. "Por favor, don Odet, peça para os vizinhos entrarem na brincadeira", insistia Juliana com a senhora idosa de quem alugou uma antiga casa para passar o fim de semana. É só fingirem que eu nasci aqui, cresci com todos e depois fui estudar na cidade
grande. Passei um tempo tentando a vida por lá, mas agora voltei para rever minha terra natal. Prometo que vou compensar bem, e não só a senhora, mas também suas vizinhas receberão quanto for justo. A dona da casa olhou para ela como se Juliana tivesse pedido para virar o mundo de cabeça para baixo, mas no fim das contas acabou concordando. "Você é mesmo uma figura, menina", disse Donodet, balançando a cabeça. "Nunca vi isso na vida. Uma milionária querendo bancar a pobrezinha e ainda fazendo todo mundo participar para enganar seu namorado. Acredite, eu jamais faria isso se
não fosse por um motivo muito especial", respondeu Juliana de forma evasiva. "Ah, isso dá para ver mesmo," respondeu a senhora agora séria. Bom, então vou avisar o pessoal para não te desmentir e seguir em sua história. Mas tem uma condição. Qual seria? perguntou Juliana. Em vez de ficar distribuindo esmola para cá e para lá, quero que você consiga um trator novo pro nosso pessoal no campo. O velho já está dando o último suspiro e os homens precisam trabalhar. Dona Odet então lhe passou o telefone do presidente do sindicato rural local, onde seu irmão trabalhava como
tratorista, e disse para ela acertar os detalhes diretamente com ele. Juliana concordou, decidindo que trataria disso quanto antes. Ainda assim, mesmo ajudando com maquinário, ela queria dar um dinheiro a mais tanto para Donodet quanto para as vizinhas e para isso fez uma visita discreta a cada uma delas. Com tudo pronto, Juliana voltou para a cidade e avisou Fernando que podiam viajar tranquilos para o interior naquele fim de semana. sorridente. Ele a puxou para um abraço apertado. "Mal posso esperar para ver uma vaca de verdade", disse ele animado. "Acredita que só vi essas coisas em livro
de criança?" "Ah, pode deixar", respondeu Juliana, rindo enquanto lhe dava um beijo na bochecha. Você vai ver tantas vacas e galinhas que vai se lembrar disso pra vida toda. Ela suspirou com carinho. Sabe, ainda bem que a gente se encontrou naquele mercado. Eu te amo tanto. Me sinto a mulher mais feliz do mundo ao seu lado. Fernando respondeu que também estava feliz. E mais do que passar apenas aquele fim de semana com ela, queria viver o resto da vida ao seu lado. No fim da semana, os dois prepararam as mochilas, que ficaram bem pesadas, e
pegaram um ônibus com destino a Campo Belo, uma vila tranquila, onde pretendiam curtir o pôr do sol, descansar e aproveitar a paz de um lugar afastado. Ao chegarem, se instalaram na casa simples que Juliana havia alugado com antecedência. Depois de guardar as coisas, Fernando saiu até o quintal para dar uma olhada em volta. "Nossa, o ar aqui é outro", comentou ele. "Dá até para sentir o oxigênio puro, sem poluição, sem nada. Isso na cidade é só sonho. Ele passou o braço pela cintura de Juliana e olhou para ela com carinho genuíno. Que bom que você
está gostando daqui disse ela sorrindo. Se quiser, podemos caminhar até a beira do rio. A vista da floresta lá é linda. Podemos fazer uma fogueira e cantar umas músicas com violão. Eu definitivamente gostei da sua ideia, respondeu ele com um sorriso tranquilo. forma como Fernando se comportava tão naturalmente, fez Juliana acreditar que talvez ela não tivesse se enganado. Talvez ele fosse mesmo um bom homem, um futuro marido de verdade. Aquela noite junto ao rio foi perfeita. Ela se sentia conectada com a natureza, mas ao mesmo tempo envolvida por uma sensação profunda de confiança ao lado
dele. De repente, quando já se preparavam para voltar para casa, o ronco alto de um motor quebrou o silêncio. Em questão de segundos, duas motos esportivas surgiram e pararam perto dali. Em cada uma havia um rapaz e uma moça. Juliana logo percebeu que eram jovens da região, mas pelos rostos fechados deu para ver que eles não estavam nada contentes com a presença de desconhecidos. E esses aí, quem são? Disse um dos rapazes em tom desafiador. O que vieram fazer aqui? Assustada com a postura agressiva dos jovens, Juliana instintivamente se escondeu atrás de Fernando. Aqui é
uma área pública respondeu ele com calma. Não tem nada dizendo que é proibido descansar na beira do rio. Isso aqui não é proibido pra gente, disse o segundo rapaz, mais baixo, mas muito forte e atarracado, dando um passo à frente. A gente nasceu e cresceu aqui. Esse rio é nosso. Para quem vem da cidade, a entrada é fechada. acrescentou uma garota magricela de calça jeans colada que estava atrás do primeiro rapaz da moto. "Voltem para selvas de concreto de onde vieram", gritou a outra moça, e as duas soltaram uma risada desagradável que naquela hora mais
lembrava ienas famintas. Juliana percebeu que a situação podia sair do controle. Arriscando, saiu de trás de Fernando e falou com firmeza: "Gente, a gente nem é de cidade grande assim, não. Eu vim visitar minha avó, dona Odet." "Ah, tá bom." Retrucou com sarcasmo o rapaz mais atarracado. "Conheço a dona Odet desde pequeno. Ela nunca teve neta nenhuma. só teve um filho com o Tarso, e ele morreu há anos, se afogou nesse mesmo rio. Juliana sentiu o gelo da encrenca se aproximando. É claro que aqueles jovens não sabiam nada do acordo que ela havia feito com
os moradores mais velhos. Provavelmente os parentes deles nem comentaram nada. Isso mesmo, concordou Juliana, mantendo a calma. É que eu não sou neta direta. Sou filha de uma prima distante dela lá de Guaraciaba, digo, do interior. Os rostos dos jovens demonstraram confusão. Eles claramente não esperavam essa resposta. Mas felizmente para Juliana, ela se lembrava de ter ouvido donaldar em algum momento que tinha parentes distantes em Guaraciaba que não escreviam há muito tempo. Era deixa perfeita. A própria dona Odet não esperava que eu viesse", continuou Juliana com firmeza. Tô só de passagem por aqui. Quis aproveitar
para apresentar meu noivo. Ela fez um gesto na direção de Fernando, sinalizando que a conversa havia acabado. Os motociclistas e suas namoradas ainda ficaram um pouco ali parados, sem saber muito o que fazer, mas acabaram aceitando que a história podia até fazer sentido. "Se não acreditam em mim, podem perguntar paraa dona Odet ou pros vizinhos dela", acrescentou Juliana, dando um passo na direção do grupo. Só não reclamem depois se levarem bronca dos mais velhos por tentar humilhar gente da própria terra. Os rapazes abaixaram os olhos, visivelmente desconcertados. As garotas, contrariadas resmungaram ao mesmo tempo. Por
fim, o grupo montado nas motos deixou o lugar e Juliana e Fernando puderam enfim respirar aliviados. Caramba, você deu um fora neles? elogiou Fernando impressionado. Parecia até que já sabia exatamente como lidar com esse tipo de gente. "Foi a terra que me soprou a resposta", desconversou Juliana, desviando o olhar. Vamos para casa. Aposto que você já tá com frio. O casal voltou apressado e Juliana não pôde evitar o pensamento de que a cada dia estava mais difícil manter aquela mentira com Fernando. Talvez ela já estivesse pronta para contar a verdade. Sentia um peso enorme por
estar representando um papel diante do homem com quem pensava em se casar. Mas no fundo algo ainda impedia de dar esse passo. Tá certo? Vou esperar mais uns dias, pensou. Quando eu sentir que chegou o momento, conto tudo. Naquela mesma noite, Juliana acordou de repente, tomada por uma sensação estranha, esticou a mão atrás de si e, com surpresa, percebeu que Fernando não estava na cama. Logo ouviu um leve rangido vindo do alpendre. Levantou com cuidado e seguiu até a porta, onde escutou ele falando ao telefone lá fora. Era uma conversa esquisita. Ele parecia tentar convencer
alguém de alguma coisa. Juliana não conseguiu entender tudo, mas algumas frases vieram com clareza. Já falei, tá tudo certinho. Até os moradores daqui acreditaram nela, mas ela segurou firme. Sim, vamos ficar até segunda. Isso é certo. Depois não sei como vou saber se ela desconfia ou não. Olha, eu já tô de saco cheio de ter que ficar provando que tá tudo sob controle. Agora só me interessa uma coisa. Quando é que vão me transferir o adiantamento prometido? Ao ouvir essa última frase, Juliana sentiu o corpo inteiro enrijecer. Fernando estava esperando dinheiro e ele havia falado
dela. Disso ela não tinha dúvida. Ele estava se referindo a ela, a situação, a farça. Ela voltou em silêncio para o quarto, deitou-se e cobriu-se, ainda que o frio agora estivesse por dentro. A ideia martelava sem parar. E se Fernando não estivesse apaixonado de verdade? E se por trás daquela imagem de namorado dedicado, houvesse apenas interesse, cálculo e falsidade. Mas como isso seria possível? Eles estavam juntos há mais de seis meses. Será que esse tempo todo Fernando só estava fingindo amor para alcançar algum objetivo? Por que ele faria isso? Essa pergunta e muitas outras não
saíam da cabeça de Juliana, impedindo-a de pregar o olho até o amanhecer. Pela primeira vez, ela se sentiu aliviada por ainda não ter revelado toda a verdade ao noivo. Na manhã seguinte, resolveu testar Fernando, tentando provocá-lo de leve para ver se ele deixava escapar algo. Fingindo que o aquecedor havia quebrado, Juliana reclamou que ficariam o dia inteiro sem água quente. No fim das contas, viver no interior é isso mesmo. Suspirou com tristeza. Se fosse na cidade, eu já teria chamado um técnico e ele teria resolvido tudo rapidinho. Mas aqui vamos ter que esperar o único
encanador da região o dia inteiro. Ah, deixa disso, Ju! Disse Fernando num tom doce. Ainda bem que ontem a gente foi pra sauna. Um diazinho sem água quente a gente aguenta. Vai. E se for preciso, dá para esquentar água no fogão, no bully mesmo. Só usar a chaleira. Juliana olhou para ele com desconfiança. "Você quer dizer que tá realmente gostando de tudo isso aqui?", perguntou ela, semicerrando os olhos, tentando encontrar algum sinal de falsidade naquele rosto bonito. Mas a resposta de Fernando foi surpreendentemente natural e seus olhos até brilharam. "Juliana, eu me sinto bem em
qualquer lugar, se for com você, mas aqui é mesmo especial. Faz tempo que eu não sentia algo assim. Os amanheceres parecem cena de revista, tipo aquelas fotos da volta ao mundo. A água do poço, mesmo fervida, é gostosa, nem precisa de filtro. E a comida? Então, quando sua avó me deu aqueles ovos das galinhas caipiras dela, eu fiquei impressionado. É totalmente diferente do que a gente encontra nos mercados da cidade. Por um instante, ouvindo que Fernando dizia, Juliana sentiu um aperto no peito. Ele parecia tão sincero em seu encantamento que ela chegou a sentir vergonha
por desconfiar. Mas ao mesmo tempo sabia que uma coisa era se encantar com a natureza bruta, outra, bem diferente era encarar de verdade as dificuldades da vida no campo. Não podia ser possível que Fernando realmente estivesse gostando de tudo aquilo. Era irreal. então decidiu fazer um último teste. Fernando, se você está mesmo tão satisfeito com tudo isso aqui, então a gente pode se mudar para cá depois do casamento. Reformamos a casa e vivemos aqui mesmo. De verdade. Você toparia? Claro. Para trabalhar a gente ia precisar de carro, né? Completou Juliana. Aqui não passa táxi. Ir
de ônibus até a cidade seria uma eternidade, mas dá para parcelar, pegar um financiamento. Fernando ficou paralisado por um instante, mas logo abriu um sorriso enorme. Amor, é sério isso? Você não tá brincando? A gente pode mesmo ficar aqui? A voz dele tremia, como se estivesse realmente emocionado com a ideia. Juliana ficou sem saber o que responder. Bom, eu disse isso, né? murmurou Fernando. Então a levantou nos braços e girou com ela no meio da sala radiante. Juliana, eu nem me atrevi a sonhar com isso. Uma casa nossa, um pedaço de terra. Isso aqui não
é um cubículo apertado de cidade, não. Isso é outro nível. Ela olhava para o noivo ainda sorrindo, mas com uma certa confusão por dentro. Claro que ela não pretendia, de verdade viver ali no interior. Tinha sido só um teste, mas não esperava que ele reagisse com tanto entusiasmo. Apesar da alegria aparentemente genuína, Juliana começou a achar estranho o fato de Fernando aceitar tudo que ela dizia sem questionar, sem refletir e o seu trabalho. Tentou insistir num último esforço para ver se ele pensava com lógica. Você não dizia que seu chefe é um carrasco que demite
qualquer um que chegue 5 minutos atrasado? Ah, besteira, respondeu ele despreocupado. Ele que aguente e se não aguentar, eu troco de emprego também. Nunca me valorizaram lá mesmo, apesar de eu ser o responsável pela maior parte das vendas. Ao mencionar o trabalho, Fernando demonstrou um breve incômodo. Juliana percebeu que aquele assunto mexia com ele, então decidiu não pressionar mais e mudou de tema, puxando conversa sobre o passeio que fariam depois. Mesmo assim, ela não conseguiu decidir se Fernando estava sendo verdadeiro ou se tudo não passava de encenação. Ele parecia feliz demais com a ideia de
viver ali isolado. Era tudo convincente demais. Mais tarde, naquele dia, Fernando pediu que Juliana fosse até o mercadinho do vilarejo. Disse que estava morrendo de vontade de comer uns biscoitos amanteigados que tinha visto por lá no dia anterior. "Mais tarde a gente toma um cafezinho", sugeriu ele sorrindo. Juliana concordou, pegou uma sacola pequena e seguiu a pé até o outro lado de Campo Belo. Já se aproximava do mercadinho quando foi alcançada por um menino de uns s ou 8 anos. Era um garoto loiro, com os cabelos todos bagunçados. Estava ofegante de tanto correr. "Espera, espera
aí", chamou ele sem fôlego. "Eu preciso te contar uma coisa", disse o menino interrompendo Juliana. Ela olhou surpresa, mas parou. "Você tá hospedada na casa velha da donet, né?", perguntou ele. Quando Juliana concordou com a cabeça, ele continuou: "Seu noivo, aquele alto. Ele fez uma coisa estranha lá. Como assim?" Juliana franziu a testa. "Você tá falando do Fernando?" Cabelos cacheados, olhos meio esverdeados. É ele mesmo, confirmou o menino com um aceno. Eu tava brincando com os amigos lá fora e quando passei perto da janela da lavanderia, vi ele mexendo na escada do sótam. Estava cortando
bem certinho, como se estivesse preparando alguma coisa. Juliana deu de ombros. Ah, talvez tenha visto que uma tábua estava podre e resolveu consertar. Pode ser só manutenção. Mas o menino balançou a cabeça com firmeza. Não é isso? Aquela escada é novinha. A dona Odet comprou no ano passado. Eu lembro porque vi os rapazes ajudando ela escolher numa loja de materiais de construção. Seu noivo. Ele cortou a escada bem de leve e deixou encostada na parede. Nem chegou a subir, só deixou lá. Juliana ouviu tudo com atenção, mas achou que menino talvez estivesse misturando realidade com
alguma brincadeira. Ainda assim, resolveu perguntar: "Qual é seu nome? Leonardo Amorim, mas todo mundo me chama de Léo. Moro aqui perto. Ele olhou para o céu como se tivesse lembrado de algo importante. Agora preciso correr, mas tá avisada, viu? Acreditar ou não é com você. Dizendo isso, o garoto saiu disparado e seus tênis velhos levantaram uma nuvem de poeira no caminho. Juliana ficou parada, sozinha com seus pensamentos. Por um lado, podia ser só imaginação de criança, mas por outro jeito como ele contou tudo parecia verdadeiro demais. E se for verdade, pensou, porque o Fernando mexiria
numa escada nova daquele jeito? Ela voltou para casa com a cabeça fervilhando. Quando chegou, encontrou Fernando sorridente na porta, animado por vê-la. estava de excelente humor. Depois de esquentar água no bule e se deliciar com os biscoitos amanteigados, ele comentou como se tivesse se lembrado de algo de repente. Ju, então olha só, aconteceu uma coisa. Nem sei como te contar. Juliana imediatamente ficou em alerta quando ouviu que vinha a seguir. A sua avó, ela passou aqui hoje de manhã para ver como a gente estava se virando na casa. Então ela contou que o filho falecido,
aquele mesmo que os rapazes do Rio mencionaram, que gostava de fotografia, deixou uma caixa cheia de coisas no sóton. Tem a câmera antiga dele, rolos de filme e várias fotos reveladas. "Eu queria muito ver isso tudo", disse Fernando animado. "Tá entendendo? Tá tudo guardado no sóton." "No sótam?", repetiu Juliana com cautela, tomando um grande gole do café que já estava quase frio. "Sim", confirmou ele, impaciente. "Eu mesmo até iria buscar. Não tenho problema com isso. Mas sei lá, acho que aquela escada não aguenta meu peso. Parece meio frágil, parece feita só para alguém mais leve.
Você, por exemplo, Juliana fingiu que não suspeitava de nada. Queria ver com os próprios olhos se o que o pequeno Léo Amorim disse era mesmo verdade. O sol já se escondia quando Fernando, com uma lanterna em mãos, a levou até o sótam. "Vou iluminar aqui para você", disse ele. A dona Odet falou que a caixa tá bem na beirada. "Você vai achar rapidinho. Será que não é melhor deixar isso para amanhã?", sugeriu Juliana, tentando ganhar tempo. "Já tá escuro. Vai que eu pego alguma coisa errada. E olha, tem uma coisa que eu não te contei.
Eu morro de medo de aranha. No facho da lanterna, Juliana viu claramente um traço de irritação passar pelo rosto de Fernando. Ele insistiu, dessa vez com mais firmeza. Vai lá, amor. Não vai demorar nada. É só pegar a caixa. Então me dá a lanterna, disse ela em tom sério e sem esperar resposta, arrancou o objeto das mãos dele com rapidez. Quero ver bem onde tô pisando. Com a lanterna em mãos, Juliana iluminou a escada alta com movimento casual, mas atento. Na quinta tábua, viu exatamente o que o menino havia descrito, um corte fresco, recém-feito, se
destacando em tom amarelado contra tinta escura e gasta da escada. Léo não tinha inventado nada. Ele realmente viu. Fingindo que não percebeu o perigo, Juliana começou a ir devagar. Ao chegar na terceira tábua, parou bruscamente. "Ai, Fernando", murmurou, apertando com força o fino corrimão. "Tô me sentindo meio mal", deu uma tontura repentina. No mesmo instante deixou a lanterna cair de propósito. A luz rolou pelo chão e, por um momento, iluminou o rosto de Fernando, visivelmente distorcido pela frustração. "Ah, não exagera, amor", disse ele, tentando disfarçar o tom. Respira um pouco que passa. Deixa que eu
te ilumino daqui de baixo", disse Fernando, tentando convencê-la. Mas pelo tom da voz, Juliana teve certeza não estava enganada. Ele estava ansioso demais, insistente demais. "Será que o pior estava mesmo se confirmando?" "Não", respondeu ela, balançando a cabeça enquanto começava a descer devagar. Desculpa, Fernando, mas eu não vou subir ali hoje. Se você quiser mesmo ver essa caixa, a gente vê amanhã cedo com a luz do dia. Fernando murmurou algo incompreensível, visivelmente contrariado. Aquela foi a primeira briga dos dois. Juliana não contou a ele o que tinha percebido. Preferiu observar, ter certeza absoluta antes de
agir. Já Fernando achou que ela estava sendo apenas teimosa e que por causa disso, tinha estragado a chance de aproveitar a noite com algo divertido. Eles passaram a noite incômodos separados. Juliana ficou no quarto e Fernando dormiu no sofá apertado da pequena sala. Mesmo assim, ele não reclamou. Achou apenas que o estresse da viagem e a estranheza do lugar tinham abalado Juliana. "Tomara que amanhã a gente se entenda", disse ele antes de dormir. "Quero ter de volta Juliana, por quem eu sou completamente apaixonado." Ela não respondeu. Juliana já não podia prometer nada, nem confiança, nem
casamento. Na manhã seguinte, a caminho do rio, Juliana reencontrou Léo Amorim. O menino ficou visivelmente aliviado ao vê-la bem. Obrigada por me avisar sobre escada", disse ela sinceramente. "Se não fosse por você, talvez eu nem estivesse mais aqui." "Você mandou ele embora?", perguntou o menino, apontando com a cabeça para a sacola que ela levava com toalha e sabonete. Juliana pretendia nadar um pouco e se reconectar com a natureza. Ainda não", respondeu ela, balançando a cabeça. "Quero entender tudo direitinho antes. Por enquanto, o Fernando tá lá no campo, fotografando os ratinhos que correm por entre as
plantações." Ela sorriu ao ver o menino se interessar pelo assunto. "Quer nadar comigo?" "Tô indo pro rio agora." "Obrigado, mas eu preciso ir para casa", respondeu educadamente o menino. "Tenho que ajudar minha avó com a faxina. A coluna dela anda ruim, nem consegue segurar o rodo direito. Léo se ofereceu para acompanhar Juliana até a margem do rio. No caminho, ela aproveitou para perguntar sobre os pais dele. "Minha mãe morreu faz tempo. Eu era bem pequeno ainda", contou Léo com uma leve tristeza na voz. Fui criado pelo meu pai e pela minha avó. Ela meio que
foi minha mãe também, sabe? Juliana sentiu um aperto no coração e demonstrou sincera compaixão. E seu pai trabalha com o quê? Se não for incômodo perguntar, disse ela com um sorriso gentil. Incômodo que nada, respondeu ele. Meu pai é herbalista, vive indo pro mato, passa dias no meio do mato toda semana. Herbalista, repetiu ela. Surpresa, ele cuida de pessoas, tipo um curandeiro. De vez em quando. Sim, disse Léo, com orgulho evidente. Ele faz uns remédios com plantas, sabe? umas infusões que curam quase tudo. Ultimamente ele tem trazido um monte de ervas e flores. A gente
seca tudo no galpão de casa, depois ele vende para um cara da cidade. Um homem que trabalha numa fábrica de cosmético, acho. Eles compram esse, como chama? Matériapra orgânica. Isso. Pelo entusiasmo com que falava do pai, Juliana concluiu que Mateus Amorim, o herbalista, tinha um verdadeiro amor pela natureza. a ponto de passar dias fora de casa, só para colher as melhores plantas e oferecer produtos de qualidade. Léo se despediu ao deixá-la no rio e voltou correndo para a vila. Juliana aproveitou o banho na água fria e limpa para refletir. A situação com Fernando ocupava cada
vez mais seus pensamentos. Desde que descobriu que a escada estava danificada, ela decidiu que observaria o noivo com a tensão redobrada. já não tinha dúvidas de que ele estava escondendo algo e pretendia descobrir o que era o mais rápido possível. Na manhã seguinte, Fernando tentou se desculpar. Juliana, de verdade, me desculpa pelo que aconteceu ontem com a escada. Eu fiquei nervoso, perdi a linha, te magoei. Juro que nunca mais vai acontecer. Por favor, tenta entender. Não consigo ficar aqui sabendo que você tá brava comigo. Ele falou isso de pé na frente dela, olhando-a com aquele
ar de arrependimento. Ele estava de joelhos e dessa vez nos olhos de Fernando havia amor, ou pelo menos o desejo visível de fazê-la feliz. Juliana decidiu fingir que o perdoava. Foi então que Fernando propôs: "Que tal fazermos um piquenique hoje? Mas dessa vez vamos mais longe. Queria sentar num cantinho do mato, numa clareira tranquila, pediu ele. Não quero cruzar com mais ninguém daqui depois do que aconteceu. Juliana pensou, por que não? Ela adorava piqueniques e a previsão do tempo era excelente para aquele dia. Depois de se organizarem, os dois partiram para a mata. Encontraram uma
clareira espaçosa e confortável. Enquanto Juliana picava a carne e misturava as especiarias, Fernando ficou responsável por cozinhar o arroz. Quando o prato ficou pronto, ele encheu os pratos com entusiasmo, aspirando fundo aroma. Um murmurou. Não existe nada melhor do que comida feita pelas mãos da mulher que a gente ama. Vai, Ju, prova logo. Ele já havia colocado a primeira colher na boca, incentivando-a com olhar a experimentar também. Juliana remexeu o conteúdo do prato e finalmente provou a comida. Ao mastigar a carne e o arroz macio, sentiu um gosto estranho que não conseguiu identificar de imediato.
No instante seguinte, sua cabeça girou bruscamente e os braços e pernas ficaram gelados, pesados, como se de repente ela tivesse perdido completamente o controle do próprio corpo. Fernando sussurrou com dificuldade. O que tá acontecendo comigo? Tá tudo bem, meu amor", respondeu ele com calma, largando o prato e se aproximando. "Acho que você só precisa descansar um pouquinho. Daqui a pouco tudo passa". Juliana tentou afastá-lo, mas não conseguiu mover nem os dedos. O corpo não respondia mais. Fernando a deitou cuidadosamente sobre a mochila, afastou-se e fez uma ligação no celular. Foi nesse momento que Juliana entendeu
com horror ela havia sido envenenada e quem fez isso era justamente ele. O corpo dela já não obedecia nem mesmo a língua. Não podia gritar nem pedir ajuda. O único sentido que ainda funcionava era visão. Embora até isso estivesse falhando, tudo ao seu redor parecia embaçado, como se estivesse atrás de um vidro sujo. Era como se alguém tivesse jogado um balde de água suja em cima de uma pintura valiosa. Pronto, ela nem se mexe mais, disse Fernando ao telefone. O veneno é ótimo, viu? Agiu na hora. Enquanto descrevi a situação, a voz do outro lado
da linha respondeu com frieza. Você fez um bom trabalho, Fernando. Agora só falta se livrar da garota de vez. O sinal começou a falhar. Então Fernando ativou viva voz para continuar ouvindo as instruções completas. Leva ela pro brejo ou joga no rio. Escolhe um lugar com correnteza forte, continuou o interlocutor, explicando friamente seu plano. O mais importante agora é sumir com o corpo e, de preferência, que só encontrem bem mais tarde. E se a polícia me chamar para depor? Perguntou Fernando com leve tremor na voz. Todos os vizinhos viram que a gente chegou junto em
Campo Belo. Houve uma breve pausa, mas logo a resposta veio. Isso não é problema. Vamos dizer que foi um acidente. No fim das contas, quem vai impedir sua namorada de dar uma caminhada sozinha no mato e escorregar nas pedras molhadas ou se perder e cair num brejo? Inventa alguma coisa. Não seja idiota. Assim que eu mandar as fotos de prova, recebo dinheiro, né, Juliana? Mesmo completamente paralisada, sentiu o corpo gelar ainda mais. Era como se a alma estivesse saindo pela sola dos pés. Envenenar não bastava. Fernando ainda planejava se livrar do corpo. E tudo isso
com uma frieza assustadora. Ela nunca imaginou, nem nos piores pesadelos, que alguém tentaria matá-la, e menos ainda de forma tão cruel e calculada. Então, tudo fazia sentido. Fernando nunca sentiu nada por ela. Todo o romance, todos os gestos eram só uma encenação. Ele havia se aproximado com um único objetivo, dinheiro. E no fim, quando a hora chegasse, ele deveria se livrar dela. "Vamos dar uma voltinha agora, minha querida", disse Fernando em tom leve, pegando Juliana nos braços. Em seguida, caminhou rapidamente em direção ao mato fechado, avaliando que o rio poderia ser arriscado, alguém poderia aparecer
ou ele mesmo escorregar com o corpo, decidiu levá-la até o brejo. Depois de andar por algumas centenas de metros, chegou ao ponto que já tinha marcado no GPS. Diante dele se estendia um imenso pântano, até onde os olhos podiam alcançar. Pelas contas de Fernando, aquele brejo devia ter uns 2 km de extensão, mas a profundidade, ninguém sabia ao certo o quanto a lama ali podia engolir. Pois é, Juliana, vai ser aqui, nesse lugar tão bonito, o teu túmulos zombou ele enquanto a colocava cuidadosamente à beira da margem escorregadia. Desculpa se as coisas não deram certo
entre a gente", disse. "Mas quero que saiba, não foi por falta de esforço. A verdade é que nós dois viemos de mundos diferentes. Você, uma riquinha falsa, fingindo ser boazinha, e eu só um cara comum em apuros." "Adeus, minha coelhinha". Juliana sentiu as lágrimas escorrerem pelo rosto e nem isso ela podia limpar. Queria gritar com todas as forças, mas sua garganta não respondia mais. Sentiu que em instantes seria engolida pela escuridão fétida e fria do brejo. Fernando, com o movimento ágil do coturno, empurrou seu corpo pela lateral, bem debaixo das costelas. Na mesma hora, um
estalo violento ecoou atrás dele, galho sendo esmagado sob um pé pesado. "Quem tá aí?", gritou Fernando, girando o corpo, mas tudo que viu foi a escuridão compacta da mata. Droga, resmungou, em pânico e saiu correndo floresta dentro, desesperado para desaparecer dali. Assim que ele sumiu de vista, o corpo de Juliana começou a afundar lentamente. Ela não tinha como resistir ao puxão do lodo e o desespero a consumia até sentir uma mão forte agarrar sua jaqueta. Com um puxão só, alguém a trouxe de volta à superfície. Meu Deus do céu, como você veio parar aqui? Perguntou
um homem alto, forte, vestido com roupa camuflada. Era Mateus Amorim, o herbalista e seu salvador. Juliana queria dizer algo, qualquer coisa, mas não tinha forças. Seu corpo estava quase sem vida. Mateus a colocou nos ombros e correu com agilidade até a pequena cabana onde vinha dormindo nos últimos dias. Assim que a deitou com cuidado, analisou os sinais e entendeu. Ela tinha sido envenenada. Usando ervas que carregava sempre consigo, preparou uma infusão especial. segurando com firmeza a cabeça dela, deu-lhe alguns goles com muito cuidado. Depois de cerca de meia hora, Juliana sentiu que o corpo começava
a reagir. Conseguiu controlar a voz e muito fraca ainda, sussurrou. Você é o Mateus Amorim? sussurrou Juliana com esforço. O Léo, seu filho, ele me avisou e eu não acreditei. Léo, eu não tô entendendo nada, disse o herbalista, confuso. Mas sim, era mesmo ele, o homem que a tinha salvado. Juliana percebeu isso no mesmo instante. O senhor mora aqui em Campo Belo? Perguntou ela com voz fraca. Mateus concordou levemente com a cabeça. Então ela começou a contar. devagar, mas em detalhes, tudo que tinha acontecido nos últimos dias. Falou do comportamento estranho de Fernando, da escada,
do veneno e de como foi jogada no brejo. Avisou que, provavelmente o homem que tentou matá-la ainda estava escondido em algum ponto da mata. "Então ele te envenenou e depois te jogou no brejo", repetiu Mateus pensativo. "A gente tem que chamar a polícia". Mas ao levantar os olhos, viu que Juliana havia perdido sentidos novamente. "Vixe", murmurou ele, balançando a cabeça com preocupação. "Esse veneno é forte mesmo. Não vai bastar um antídoto leve. Vou ter que preparar algo mais potente." Mateus então a pegou nos braços com muito cuidado e a levou até o banco traseiro de
seu pequeno Jeep, estacionado atrás da cabana. Ao chegar à casa da sogra, entrou com Juliana no colo e gritou: "Dona Aparecida, meu Deus do céu!", exclamou a idosa, levantando as mãos ao vê-los entrar. "É moça da cidade, aquela que tá hospedada na casa da dona Odete. O que aconteceu com ela?" Enquanto a senhora examinava Juliana com aflição, Mateus foliava apressado seu caderno de receitas à procura do remédio certo. Envenenaram ela e o veneno é dos raros. Fica de olho nela enquanto busca os ingredientes. Pode ser que ainda dê tempo. Sem perder tempo, ele correu até
o galpão onde guardava suas plantas e começou a preparar a infusão com extrema precisão. Léo, ao ver Juliana pálida e imóvel, não aguentou. Caiu no choro. Eu avisei soluçava ele. Eu falei para ela mandar aquele cara embora, mas ela quis entender o porquê. A avó se aproximou e com dificuldade tentou acalmar o neto. Não chora assim, Léo. Seu pai vai dar um jeito nisso. Ele vai acordar essa princesa adormecida. Você vai ver. Será que vai dar certo? Perguntou o menino num sussurro. Claro que vai, respondeu dona Aparecida com firmeza. Você conhece o seu pai? Não
conhece? Ele é o melhor herbalista de toda a região. Léo enxugou o rosto com as costas da mão, respirou fundo e foi até o galpão para ajudar o pai a salvar a inesperada hóspede. Infelizmente, Fernando, que já havia conseguido voltar para a vila, viu Mateus levando Juliana desacordada em seu gipe até a casa onde vivia com a sogra. com medo de que a verdade viesse à tona e ele fosse preso, decidiu se antecipar e procurar o delegado. "Olha, eu mesmo não sei como isso aconteceu", dizia nervoso, enquanto andava de um lado pro outro diante da
mesa do delegado César. A Juliana saiu para dar uma volta no mato, disse que queria espairecer e de repente sumiu. Ficou horas sem dar sinal de vida. E aí quando vejo um sujeito enorme vestido com roupa camuflada, tá carregando minha noiva desacordada para dentro da casa dele. Ela parecia uma vítima de sequestro, delegado. Não sei o que ele estava fazendo no mato, nem que ervas andava colhendo, mas que ele deu alguma coisa para ela. Isso é certo. Fernando continuava sua encenação, gesticulando dramaticamente e até levando as mãos à cabeça. Meu Deus, só de pensar no
que fez com a minha menina sozinha naquela mata. Dá vontade de gritar. Calma, cidadão, respondeu o delegado César, mantendo a voz firme. Nós vamos verificar, pode ter certeza. Sem dizer mais nada, o delegado puxou uma folha e a entregou a Fernando. O que é isso? perguntou ele, fingindo surpresa. Um formulário. Escreva seu depoimento. Relate tudo que viu do começo ao fim. Depois a gente vai interrogar esse tal de Mateus. Satisfeito por ter conseguido se adiantar, Fernando rabiscou rapidamente sua versão dos fatos, mentindo em todos os detalhes, com o único objetivo de culpar Mateus Amorim e
livrar-se de qualquer suspeita. Ao sair da delegacia, respirou fundo, aliviado. Agora era só esperar o próximo contato de seus superiores e se preparar para o passo seguinte do plano. Enquanto isso, o delegado César seguiu até a casa de Mateus para verificar pessoalmente a situação. Ao chegar, encontrou o herbalista e dona Aparecida cuidando de Juliana, que ainda estava em estado crítico. E aí, Dro do Mato, de novo essa história de atendimento legal? disse o delegado, franzindo a testa ao ver Mateus despejando cuidadosamente, colher por colher, o antídoto na boca da jovem desacordada. César, por tudo que
é mais sagrado respondeu Mateus, sem nem olhar para ele. Você não tá vendo? Eu e dona Aparecida estamos tentando salvar essa moça. Ela foi envenenada. E se a gente não agir agora, vai ser tarde demais. César, ela tá entre a vida e a morte e não vai ser com protocolo nem formulário que vamos tirar ela dessa completou a idosa, aflita, observando Juliana respirar com dificuldade. O senhor vai ter que me acompanhar para prestar depoimento e essa moça precisa ser levada imediatamente ao hospital regional, onde profissionais de verdade possam cuidar dela", declarou o delegado César, apresentando
a queixa formal registrada por Fernando. Apesar de todos os esforços de Mateus e dona Aparecida, Juliana ainda não havia recobrado a consciência. A cada minuto, a preocupação do herbalista aumentava. Sério, César, depois de tantos anos, ainda não consegue me perdoar? perguntou Mateus, já sentado na delegacia, sendo interrogado. "Não entendi, senor Amorim", respondeu delegado sec. O rosto ficou impassível, completamente livre de expressão. E peço que o senhor não misture assuntos pessoais com esse caso. Aqui tratamos dos fatos. Mateus balançou a cabeça decepcionado. Você sabe que a Anastasia me escolheu porque me amava, do mesmo jeito que
eu a amava. Ela te pediu perdão mais de uma vez, mas você nunca aceitou. O herbalista suspeitava que o delegado estivesse usando a denúncia de Fernando como desculpa para acertar velhas contas. Anos atrás, a noiva de César, Anastasia, havia se apaixonado por Mateus Amorim e o trocado sem aviso. Ela tentou por diversas vezes se desculpar com ex-noivo, mas ele sempre encarou aquilo como uma traição pessoal. Com o nascimento de Léo, o delegado até pareceu ter se acalmado, mas nunca retomou o contato com o casal, nem mesmo depois da morte precoce de Anastasia, que faleceu 3
anos antes por insuficiência cardíaca grave. Por fora, César sempre manteve a postura profissional, mas naquele momento, mesmo se guiando mais pelo dever do que por ciúmes antigos, fazia questão de interrogar o rival com todo o rigor possível. Horas depois, Mateus Amorim foi oficialmente detido sob suspeita de tentativa de homicídio contra Juliana. Como ela ainda estava inconsciente, não poôde dar sua versão dos fatos, nem defender o homem que a salvou. Enquanto isso, Juliana era transportada com urgência para o hospital da região. Os melhores médicos estavam mobilizados para tentar salvar sua vida e Fernando vagueava pela vila,
fingindo casualidade enquanto esperava um novo telefonema. decidiu que se ficasse trancado em casa feito coruja, podia levantar suspeitas. Fernando se esforçava ao máximo para parecer o noivo arrasado pela tragédia e até que conseguia convencer quem observava. Finalmente começaram a chegar os telefonemas pelos quais ele tanto esperava. Atendendo as ligações, distraído, ele nem percebeu que estava sendo seguido por Léo Amorim. O menino acompanhava o sujeito traiçoeiro a cada passo, profundamente preocupado com Juliana, e logo entendeu que aquelas ligações misteriosas tinham ligação direta com tudo que tinha acontecido. Em uma das últimas conversas, Fernando garantiu alguém ao
telefone que visitaria Juliana nos próximos dias e que cuidaria pessoalmente da saúde dela. Foi o suficiente para deixar Léo ainda mais aflito. Não era preciso ser nenhum gênio para entender. Fernando pretendia terminar o serviço. Mandaram ele calar Juliana de vez, agora no hospital, e a intuição de Léo estava certa. Alguns dias depois, Fernanda apareceu na entrada do hospital carregando um grande buquê de flores. Como de costume, Léo estava por perto, observando tudo discretamente, preparado para agir. Fernando entrou no quarto de Juliana, colocou as flores em uma linda jarra sobre o criado mudo ao lado da
cama, olhou em volta, se certificou de que estava sozinho e então tirou do buquê uma seriga já preenchida com líquido de aparência duvidosa. Boa noite, meu amor", sussurrou ele com doçura, acariciando o rosto da jovem desacordada. "Espero que dessa vez você durma para sempre". Ele já estava prestes a injetar o conteúdo na tubulação da medicação intravenosa, quando, com grito, Léo se lançou contra ele. "Não encosta nela, sai daí." Berrou o menino completamente fora de si. No impulso, Léo bateu com força no braço de Fernando, fazendo soltar a seringa. O objeto rolou pelo chão e parou
alguns metros adiante, sem causar dano. "O que tá acontecendo aqui?", exclamou o diretor do hospital, entrando às pressas no quarto, seguido por uma enfermeira pálida como papel. Tirem esse pirralho daqui", gritou Fernando, largando de vez a máscara de boa educação. Esse moleque louco tentou me agredir. Eu só vim visitar minha noiva. Ele tá de conuio com o pai dele, aquele tal de Mateus Amorim. Gritou Fernando, completamente fora de controle. O diretor do hospital olhou para Léo com olhar sério, esperando explicações. "Ele tá mentindo. É tudo mentira." balançou a cabeça o menino, já se adiantando e
pegando o frasco da seriga no chão para entregá-la ao médico. Eu vi. Ele ia injetar isso na medicação da Juliana. Ele ia matar ela. O rosto de Fernando se contorceu numa expressão de escárnio. Um sorriso frio e debochado surgiu em seus lábios. E vocês vão acreditar nesse moleque doido em vez de mim, que sou o noivo dela. Esse menino deve ter trazido essa seriga. Vai ver. Foi ele que tentou fazer isso com ela. Agora que o pai tá preso. Nesse momento, atrás do médico e da enfermeira surgiu o delegado César. Fique tranquilo, Senr. Fernando. Nós
vamos esclarecer tudo disse o delegado com a voz firme e profissional. Por sorte, instalamos uma câmera no quarto, justamente no caso de alguma nova tentativa de atentado contra a vítima. Ao perceber que tinha sido pego de surpresa, Fernando tentou fugir correndo em direção à porta, mas foi rapidamente interceptado pelos seguranças do hospital, que já estavam de prontidão. "Parece que alguém acabou de se entregar", comentou o delegado César com um leve sorriso. Em seguida, voltou-se para Léo e completou: "E você, parabéns." Obrigado por ter pensado em gravar as conversas dele com a câmera do celular. Mais
tarde, durante o interrogatório, Fernando acabou confessando havia sido contratado por antigos concorrentes da família Albuquerque, os mesmos que anos antes provocaram a morte do pai de Juliana no acidente de carro. Quando o investigador perguntou qual era o interesse pessoal dele nisso tudo, Fernando respondeu com frieza: "Dinheiro? Ué, qual seria? Aquela maldita família arruinou minha carreira anos atrás. O pai dela achou que eu tava desviando dinheiro e talvez até tivesse mesmo, mas para um cara como ele aquilo era troco de pinga. Não ia fazer diferença. O investigador rabiscava anotações no bloco de papel enquanto ouvia o
relato. Pois é, agora, além de não ver um centavo, você também vai perder a liberdade", comentou o policial. Que estupidez, Fernando. A Juliana era milionária e gostava de você de verdade, seu canalha. Você podia ter mudado de vida com o estalar de dedos, mas escolheu se amarrar com bandidos. O oficial fez um sinal e os agentes levaram Fernando algemado para a cela. Assim que Fernando foi levado para cela, Mateus Amorim foi finalmente libertado da prisão preventiva para grande desgosto do delegado César, que embora tivesse sido obrigado a reconhecer a inocência do herbalista, ainda o tratava
com certa má vontade. Passou-se mais uma semana. Durante esse tempo, o estado de Juliana apresentou alguma melhora, mas ela ainda permanecia inconsciente. Mesmo assim, Léo e seu pai a visitavam todos os dias. Também passavam por lá dona Aparecida e Donodete, ambas verdadeiramente preocupadas com o destino da jovem. Numa dessas noites, quando o plantão do hospital contava apenas com uma enfermeira e o médico responsável, Juliana sofreu uma grave reação alérgica. O antídoto que Mateus havia lhe dado, embora tivesse funcionado no momento do envenenamento, causou uma alergia tardia e grave, potencializada pela interação com os medicamentos hospitalares.
Naquela madrugada, Juliana quase morreu por causa de um choque anafilático. Foi necessário aplicar uma injeção de adrenalina diretamente no coração para salvá-la. O episódio reacendeu a polêmica sobre a conduta de Mateus Amorim. Mais uma vez ele ficou na mira das autoridades, podendo ser acusado de lesão corporal grave por imperícia, se não fosse pela intervenção do médico responsável, que sugeriu a formação de uma comissão médica para avaliar a situação com isenção. As opiniões entre os médicos se dividiram. Alguns diziam que o chá de ervas foi o que salvou a vida de Juliana, retardando a ação do
veneno e dando tempo para que ela fosse atendida. Outros, mais céticos, afirmavam que o remédio caseiro era perigoso e não testado, e que havia causado mais mal do que bem. Foi então que, com autoridade e serenidade, levantou-se o professor Gilberto, um médico respeitado e já de idade avançada. Ele olhou ao redor da sala, fitando cada colega com firmeza, e disse: "Colegas, talvez minha opinião não seja das mais populares, mas na minha própria experiência médica já tive diversas oportunidades de testemunhar o poder real das ervas da mata. Se colhidas no tempo certo e preparadas com conhecimento,
elas podem verdadeiramente purificar o corpo e combater toxinas severas." Acredito que o que o Senr. Mateus Amorim fez foi motivado pelo desejo sincero de salvar a paciente. Seu preparo, ainda que não convencional, freou o avanço do veneno e, por isso, ela ainda está viva. Quanto à reação alérgica, trata-se de algo muito individual e não pode ser atribuída diretamente ao medicamento. Felizmente, conseguimos salvá-la, mas é importante lembrar que ele agiu em uma situação de emergência. Além disso, nem havia recursos técnicos disponíveis para realizar testes de alergia naquele momento. O professor Gilberto continuou defendendo o herbalista, explicando
com clareza os fundamentos do seu posicionamento. Segundo ele, processar criminalmente Mateus Amorim seria um grande erro, um erro que recairia sobre todos os profissionais reunidos naquela comissão. Para encerrar sua fala, o professor, com humildade e bom humor, disse que esperava encontrar Mateus pessoalmente e não escondeu que adoraria trocar experiências com jovem especialista. O diretor do hospital ficou tão impressionado com o discurso do professor Gilberto, que decidiu não comunicar a polícia sobre o novo episódio clínico. Acreditava que, dadas as circunstâncias, o melhor era seguir o parecer da comissão. Dias depois, Juliana finalmente despertou. Estava emocionada ao
ver Léo e dona Odet no quarto. E quando Mateus Amorin entrou, ela corou sem querer. Sentia-se envergonhada diante daquele homem alto e forte, que em condições extremas tinha salvado sua vida. Nem sei como te agradecer", disse ela com sinceridade. "Acho que nunca vou conseguir colocar em palavras o que sinto. Aquilo que aconteceu lá no brejo parecia coisa de outro mundo. Eu realmente achei que ia morrer." "Acho que você tá me superestimando um pouco", respondeu Mateus com um sorriso leve. "Só misturei umas ervas, nada demais". Eles se entreolharam e riram juntos do tom descontraído da resposta.
Espero que isso não tenha te deixado com má impressão da nossa vila", disse ele, desviando o olhar um pouco sem jeito. "Não quero que pensem que o pessoal do interior é tudo selvagem". Olha", respondeu Juliana, olhando nos olhos dele. "Se todo selvagem fosse como você, o mundo seria um lugar muito melhor." Naquele instante, quando os olhos de Mateus cruzaram os dela, Juliana viu neles uma bondade verdadeira, uma luz que jamais notou em nenhum dos homens com quem já conviveu. E naquele instante nasceu dentro dela um sentimento sincero, um respeito profundo, uma admiração que parecia ter
raízes. Talvez no fundo de sua alma, Juliana já soubesse aquilo podia ser o início de algo novo e muito bonito. Pouco tempo depois, Mateus combinou com o professor Gilberto de lhe entregar amostras dos seus preparados para estudo, dando início a uma possível colaboração científica entre o saber tradicional e o conhecimento acadêmico. Os cadernos e diários de Mateus Amorim, nos quais ele descrevia com detalhes as receitas de chás e pomadas feitos a partir de ervas medicinais, despertaram interesse fora da vila. Caio Mendonça, intiado do professor Gilberto, soube do material único desenvolvido pelo herbalista e, ao descobrir
sobre a reunião marcada entre os dois, viu ali uma oportunidade de se promover pessoalmente. A carreira de Caio na medicina já andava balada fazia tempo. Um grande feito científico poderia restaurar sua reputação e devolver-lhe o prestígio que ele tanto desejava. Fingindo que o padrasto estava indisposto, Caio entrou em contato com Mateus, dizendo que o professor havia pedido que a entrega fosse antecipada em meia hora. Demonstrando gentileza, ele prometeu que entregaria tudo pessoalmente ao professor Gilberto, sem que nada se perdesse ou fosse copiado. Sem desconfiar, Mateus entregou todos os seus cadernos e diários nas mãos do
golpista. Mas a alegria de Caio durou pouco. O jovem médico não fazia ideia de que na preparação de cada infusão, pomada ou tintura, Mateus sempre adicionava um ingrediente secreto que ele jamais anotava, algo que fazia parte de seu conhecimento instintivo e era a verdadeira chave da eficácia de seus remédios. Sem esse componente, as receitas simplesmente não funcionavam. Rapidamente, a farça de Caio foi desmascarada num simpósio internacional diante de respeitados cientistas e pesquisadores. Humilhado e desacreditado, ele foi forçado a abandonar a medicina, incapaz de lidar com o colapso total de sua reputação. Mateus, por sua vez,
recuperou todos os direitos sobre seus registros e, com o apoio do professor Gilberto, abriu uma pequena loja especializada em fitoterapia, onde vendia seus chás medicinais e outros produtos naturais de forma legalizada. Juliana, totalmente recuperada do envenenamento, contratou dois detetives particulares e, com base nas confissões de Fernando, conseguiu identificar e levar à justiça os responsáveis pela morte de seu pai. Ela também retomou o controle do império da família Albuquerque, envolvendo-se cada vez mais com os negócios e estudando a administração com a Finco. Exatamente um ano após aquele verão que mudou sua vida para sempre, Juliana casou-se
com Mateus Amorim. Além de se tornar esposa, tornou-se também mãe do pequeno Léo, que a recebeu com carinho genuíno. Juliana então se mudou para Campo Belo, trocando os prédios de concreto e as aparências da cidade grande pela paz, a simplicidade e o amor verdadeiro no coração da vila. Juntos, Juliana e Mateus construíram um novo lar, uma casa linda, acolhedora e cheia de vida, onde planejavam viver felizes como uma verdadeira família. Além disso, Juliana mandou erguer para o marido um laboratório moderno instalado ali mesmo no terreno. Agora, Mateus Amorim podia processar com segurança e dentro de
todos os padrões sanitários as ervas que coletava, tudo com tecnologia e estrutura que jamais imaginou ter um dia. Juliana, bem humorada, sempre dizia entre risos que nunca se sentia tão saudável e cheia de energia como desde que passou a viver naquela vila querida, calma e acolhedora, que era Campo Belo. Com o passar do tempo, a vida de Juliana e Mateus Amorim floresceu, assim como as ervas que ele cultiva com cuidado no quintal. Alguns anos depois, a família ganhou ainda mais motivos para sorrir com a chegada dos gêmeos Caio e Clara, um menino e uma menina
que trouxeram ainda mais alegria e travessuras para o lar. Dona Aparecida, mãe de Mateus, sempre sábia e carinhosa, seguia sendo alicerce da família. Depois do nascimento dos netos, dedicou-se ainda mais a eles. Cuidava com paciência, preparava suas receitas caseiras e espalhava ternura por todos os cantos da casa. Juliana, agora mãe de três, dizia com orgulho que não trocaria sua vida em Campo Belo por nada neste mundo. Com a energia renovada, ajudava a administrar os negócios da família, enquanto Mateus prosperava com sua loja de fitoterápicos. Nas tardes tranquilas, era comum ver os cinco reunidos na varanda
tomando café fresquinho. Enquanto as crianças corriam e riam pelo gramado, Mateus se juntava a elas nas brincadeiras, fingindo ser monstro, cavalo ou avião, para alegria dos pequenos. Dona Aparecida tricotava com um sorriso nos lábios e Juliana observava a cena em silêncio, grata por uma vida que superou até seus melhores sonhos, porque no fim das contas tudo que mais importava estava ali. Muito obrigado por assistir a mais uma história aqui no Recanto das Histórias. Se gostou, não se esqueça de curtir. Para você é só um clique, mas para mim faz toda a diferença. S [Música]