"Minha sobrinha de 13 anos riu e disse: 'A mamãe falou que se você sumisse amanhã, ninguém nem'

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Livro de Histórias
"Minha sobrinha de 13 anos riu e disse: 'A mamãe falou que se você sumisse amanhã, ninguém nem perce...
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Minha sobrinha de 13 anos deu uma risadinha. Mamãe fala: "Se você sumisse amanhã ninguém ia nem notar". Enquanto ela abria o celular de R$ 850 que eu comprei, todo mundo, uns 30 convidados, começou a rir, menos eu.
Só balancei a cabeça. Com dois cliques, cancelei tudo. Pagamentos, créditos, contas, assinaturas.
Tudo sumiu. Naquela noite eu fui embora. Cortei contato com todo mundo e desapareci.
Deixei só uma mochila preta. Lá dentro eles acharam um papel. Nele estava escrito: "Mamãe fala: "Se você sumisse amanhã, ninguém ia nem notar".
Minha sobrinha riu de novo enquanto tirava o plástico do celular. Dedos delicados, mas palavras mais afiadas que vidro. ao redor, a família toda falava alto, rindo, como se fosse uma festa qualquer.
Tinha um bolo na cozinha, esperando as velas, mas a única coisa queimando era aqui dentro, no meu peito. Minha irmã, Lindsey, nem levantou os olhos. estava no sofá mexendo no celular com o sorrisinho de quem ficou feliz com o que ouviu.
Mamãe estava na cozinha fingindo que não escutou, mas eu vi os ombros dela subirem um pouco, como se dissesse a isso aí. E meu pai? Ele nem tentou disfarçar.
Riu, levantou a cerveja e falou: "Bom, ela não tá errada. Mais risadas. Meus primos sorriram.
Até o tio Gory, que mal me conhece, deu uma risadinha e quase engasgou com a bebida. E eu ali parado com cara de bobo, como sempre fui. O bobo que paga, o que conserta, o que nunca é o bastante.
Valeu pelo celular, tio. Minha sobrinha falou encostada na mãe, já vidrada na tela brilhante. Eu fiquei olhando para ela.
Meu coração batia forte, meu rosto estava quente e de repente o quarto parecia apertado, sufocante. Mas eu não falei nada, só balancei a cabeça, como sempre fiz. Balancei a cabeça, sorri, fingi, sempre fingindo.
Lindsey finalmente olhou para mim. Nossos olhos se encontraram. E naquele momento eu vi rápido, mas claro, um brilho de diversão, de prazer, como se ela estivesse esperando exatamente aquilo, me ver calado, envergonhado.
"Vamos cortar o bolo, pessoal? ", disse minha mãe, toda animada, tentando quebrar o clima. A voz dela parecia leve, feliz, mas o gosto que deixou na minha boca foi amargo, pesado.
Fui até a cozinha e encostei no balcão, enquanto todos se juntavam na mesa. Acenderam as velas, fizeram pedidos e eu só fiquei ali observando com as mãos fechadas em punhos. Meu maxilar travado e no meio da dor, algo gelado começou a crescer dentro de mim.
Senti meu celular no bolso. Dois toques, só dois toques rápidos. E todas as contas, todas as assinaturas, todos os cartões de crédito que eu criei para eles, para Lindsey, paraa minha mãe, pro meu pai, tudo sumiu.
Meus dedos mexeram sozinhos, sem pensar, como se o corpo já soubesse o que fazer. Eu nem sabia que tinha tomado essa decisão até já ter feito tudo perdido. As vozes ao redor viraram um barulho distante.
A sala parecia balançar, cheia de rostos conhecidos, mas que agora pareciam de estranhos. Eles riam, aplaudiam, festejavam e eu eu já não estava mais ali. Eu era só um fantasma com carteira, mas agora nem isso.
Fui embora sem dar tchau. Ninguém notou. Claro que não.
Essa foi a única coisa que minha sobrinha acertou essa noite. Não voltei para casa. Fui direto pro meu AP.
Coloquei só o essencial numa mala pequena e depois voltei. A mochila preta era velha, quase esquecida num canto do armário. Mas hoje à noite ela tinha um destino.
Eu enchi a mochila, mas não com minhas coisas, nada que eles esperavam. E então voltei. A casa ainda estava uma bagunça, cheia de barulho.
Ninguém percebeu quando entrei. Andei pelo corredor e deixei a mochila ao lado da escada. Depois fui embora.
Dessa vez, de verdade. Quando eles notassem, eu já seria só uma lembrança. Mas deixei aquilo lá dentro da mochila.
Deixei para eles acharem, para tentarem entender. O silêncio não durou muito. Achei que ia ter pânico, gritos, raiva.
Mas o que veio foi uma explosão. Tudo começou na manhã seguinte. Acordei com alguém batendo na porta do meu ap.
Não foi ligação, não foi campainha, era soco mesmo, direto na madeira. Abre essa porta. Era a voz do meu pai, alta, cheia de raiva.
Fiquei em silêncio, só olhando a porta tremer como se fosse cair. Eu sei que você tá aí. Você acha que é esperto?
Acha que é melhor que a gente? A voz dele falhou. Não era só raiva.
Tinha medo ali também. Mas eu continuei calado. Eu não ia jogar esse jogo.
Depois de um tempo, ele parou. Ouvi os passos pesados indo embora e o barulho da porta do carro batendo. Mas não acabou por aí nem perto.
20 minutos depois, meu celular vibrou. Uma mensagem da minha mãe. Só uma frase.
Como você teve coragem de fazer isso com a sua própria família? Não respondi. Uma hora depois, A Lindsey tentou.
Dessa vez foi uma ligação. Vi o nome dela na tela e deixei tocar. Depois veio outra e mais outra.
Seis chamadas seguidas. Por fim, uma mensagem. Você acha que é tão esperto?
Acha que a gente não vive sem você? Vamos ver quanto tempo você aguenta sem família. Li e sorri.
Isso era uma ameaça ou uma promessa, mas a verdadeira tempestade veio à noite. Estava saindo do banho quando ouvi o som de uma chave na fechadura. Eu congelei.
Ninguém devia ter a chave do meu AP. Ninguém. Só uma pessoa.
A porta se abriu com tudo. Meu pai entrou furioso, o rosto vermelho suando. Minha mãe veio logo atrás.
com os olhos arregalados, apavorada. "Você acha que pode me deixar trancado do lado de fora? ", ele gritou.
"Sai, falei" com a voz calma, mas gelada. "Sai! Vai embora!
É isso que você virou? " A voz da minha mãe era aguda, quase desesperada, como se eu tivesse abandonado a família. "A gente te criou.
" Você me usou? Corrigir encostado no balcão da cozinha, ainda secando o cabelo. Tem diferença.
Meu pai se aproximou com o punho fechado. Seu ingrato encrenqueiro. Tenta, falei antes mesmo de pensar.
Calmo, firme. Um desafio. A mão dele tremia, mas não veio.
Nós dois sabíamos. Ele não era de briga, nunca foi. Era só um valentão.
Gritava para esconder o medo. O que você fez? A voz da minha mãe saiu fraca.
Os cartões não passam mais. A Lindsey não consegue pagar as contas. A casa.
Acabou tudo. Isso mesmo falei só sentindo com a cabeça. Tudo que eu paguei, tudo o que eu banquei acabou.
Meu pai riu, mas sem humor. Um riso seco, azedo. Ah, você se acha poderoso?
Acha que a gente precisa de você? Parece que sim. Dei de ombros.
Já que vocês invadiram meu AP só para implorar. Implorar? Ele rosnou.
Você acha que isso é implorar, hein? Chega. Gritei firme, cortando ele no meio.
Já deu. Acabou. Minha mãe deu um passo pra frente com as mãos esticadas.
Por favor, nós somos sua família. Somos tudo que você tem. Tudo que vocês têm corrigir.
Cansei de ser a rede de segurança. O apronto socorro. O capacho.
O rosto do meu pai se contorceu. Seu moleque ingrato. Levantei um dedo.
Sai agora. Você não pode fazer isso. Mamãe sussurrou com os olhos cheios de lágrimas.
Isso é crueldade. Cruel demais. Eu ri.
Cruel é dizer pro seu filho que ele não vale nada enquanto gasta o dinheiro dele. Cruel é me usar como ferramenta e rir de mim pelas costas. Papai deu mais um passo, mas eu não recuei.
Dessa vez ele parou. Os ombros dele baixaram. "Você vai se arrepender", ele murmurou.
"Vai voltar rastejando? " "Não vou, respondi" com a voz firme, dura como pedra. Eles saíram batendo a porta, mas enquanto o som dos passos deles ia sumindo, eu sabia.
Aquilo não era o fim. No dia seguinte, eles tentaram de outro jeito. A Lindsey apareceu no meu trabalho.
Eu a vi pelo vidro. Estava pálida, com os olhos vermelhos de tanto chorar. Minha chefe olhou confusa, depois ficou desconfortável.
Começou a fazer sinal para mim. Eu continuei sentado na minha mesa. Senhor, tem uma mulher aqui.
Ela não é ninguém, falei sem olhar. Mas ela não foi embora. Vi ela discutindo com a recepcionista, a voz alta, as mãos tremendo.
A segurança veio e levou ela para fora, mas eu sabia ela ia voltar naquela noite. Mais uma batida na porta. era o dono do apartamento.
Então é o seguinte, tá meio complicado. Ele estava sem jeito. Sua família tá lá embaixo fazendo escândalo.
Se o senhor não mandar eles irem embora, vou ter que chamar a polícia. Ele me olhou. Mas é sua família, né?
Não mais respondi firme. Fui até a janela e vi eles lá embaixo, gritando, gesticulando, fazendo cena. Até que a segurança chegou e levou todos embora.
Mas eu conhecia eles, sabia o quanto insistiam. E também sabia que em algum lugar naquela casa que deixei para trás tinha uma mochila preta esperando, esperando que eles abrissem. para entender o quanto eu estava disposto a ir longe.
O silêncio não durou muito. Eu os conhecia bem demais. O silêncio era só pausa antes da tempestade.
Por dias, eu ignorei as ligações, as mensagens de texto e os áudios desesperados deles. Até faltei no trabalho. Deixei o mundo de lado só para aproveitar o silêncio.
Mas eu não era bobo. Sabia que eles não iam desistir fácil. Primeiro vieram os dramas da Lingsey.
Mensagens cheias de veneno me culpando por tudo. Depois os áudios da minha mãe chorando, implorando para eu a ser uma pessoa melhor e a salvar a família. E aí veio o papai.
No começo era o de sempre. Raiva, ameaças, xingamentos. Mas depois a voz dele mudou.
ficou calma, fria, como se ele tivesse um plano. Filho, vamos resolver isso como homens. Nada de drama, só você e eu.
Nosso time vai jogar esse fim de semana. Vem comigo. Vamos conversar.
Parecia uma armadilha. Eu senti isso no fundo do peito, mas aceitei. Eu queria ir.
Então fui quando vi os lugares vazios ao redor dele e a mochila preta nas mãos dele, soube na hora. Eu estava certo. Eles não queriam paz, queriam controle, mas eu não era mais o mesmo.
Não era mais aquele cara que ficava calado na sala, só concordando e sorrindo. O estádio estava lotado, barulhento como um bicho gigante. Gritos, aplausos, gente batendo os pés nas arquibancadas de metal.
Um caos, o lugar perfeito para esconder segredos. Papai estava na sessão 12. Os assentos perto dele estavam todos vazios, mesmo com o estádio cheio.
Ele me viu e acenou com uma mão. Na outra segurava minha mochila preta. Desci os degraus devagar, com firmeza.
Olhos fixos nele. Ele parecia animado. Tinha um sorriso torto, como se achasse que tinha vencido.
Surpreso que eu te chamei? Ele gritou por cima do barulho, deu um tapinha no banco ao lado. Finalmente resolveu conversar como homem, né?
Sentei, mas não tirei os olhos da mochila no colo dele. É só isso. É.
Ele disse: "Ah, acho que tem mais coisa aí. " Ele se inclinou paraa frente, falando baixo, quase sussurrando. Você achou que era esperto, né?
Fugindo, cortando a gente da sua vida. Mas você deixou um presentinho para trás. Ele bateu com os dedos na mochila.
A gente achou isso aqui. E adivinha, gênio? A gente já sabe.
Sabe o quê? perguntei com a voz calma, fria como o vento que batia no estádio. Seus segredos, suas mentiras.
Você acha que é limpo? Que é melhor que a gente? A voz dele ficou mais irritada.
Você tava escondendo coisa. Eu devia ter percebido. Sempre bancando o santo, o Salvador.
Quase ri. Então abre. Vai.
Abre. Me mostra o que você acha que sabe. Os olhos dele brilharam.
Tinha medo e raiva ali. Não brinca comigo. Não preciso abrir.
Já sei que você estava nos roubando, nos manipulando, fingindo ser o filho bonzinho enquanto escondia suas coisinhas. Me encostei no banco gelado. A única coisa escondida aí é a verdade.
A torcida ao redor gritou alto quando o time da casa fez um gol. Mas ali no nosso canto só tinha silêncio. Silêncio e a mão dele tremendo em cima da mochila.
Você tá blefando? Ele murmurou. Tá querendo me confundir, mas já era.
A gente vai contar para todo mundo quem você é de verdade, como abandonou sua família. Vai lá, falei, apontando pro campo. Conta para todo mundo.
Conta como eu paguei o aluguel da Lindsey por dois anos. Como eu cobri suas dívidas depois que você jogou metade da aposentadoria fora? Conta do celular que eu comprei para sua netinha.
Pouco antes dela dizer que eu não prestava. O rosto dele ficou tenso, fechado. Cala a boca.
Não. Vamos deixar bem claro. Pai, você tá segurando uma mochila cheia de provas de tudo que eu fiz por vocês.
E mesmo assim, ainda acha que tem poder sobre mim. A mão dele apertou a mochila com tanta força que os dedos ficaram brancos. Você não fala comigo desse jeito.
Desse jeito como? Me inclinei um pouco paraa frente. A voz ainda calma, mas os olhos queimando.
Como se eu fosse só um móvel velho e inútil do jeito que você sempre me tratou. Como se eu fosse só a sua carteira. O seu angaroto Aron.
Cala a boca. Ele gritou, se levantando de repente. Algumas pessoas atrás da gente olharam.
Senta minha voz saiu gelada. Por um segundo, eu vi o medo nos olhos dele. Ele me odiava, mas mais do que isso, ele odiava perder o controle.
Ou o quê? Ele tentou rir, mas era uma risada fraca, nervosa. Vai me bater?
vai bater no seu próprio pai. Você acha mesmo que alguém aqui vai ficar do seu lado? Que eles vão te apoiar?
Eu apontei paraa multidão, aquele monte de gente desconhecida que nem ligava pro orgulho dele. Você é só um velho bravo com uma mochila cheia de dívidas. Eles não me conhecem, mas também não precisam.
O rosto dele se retorceu e a voz virou um rosnado. Egoísta. Você é um egoísta.
Eu dei um leve sorriso. Eu era sua boia de salvação. E agora você tá se afogando sem mim.
Ele cambaleou. Eu vi quando aconteceu aquela mão pesada e trêmula se levantando, indo direto pro meu rosto. Mas eu não me mexi, não pesquei.
Ele queria me provocar, criar uma cena, fazer parecer que eu era o vilão da história. Mas eu só olhei bem firme para ele, calmo. E a mão parou a centímetros do meu rosto.
Tremendo. Eu devia ter deixado você na rua. sussurrou com a voz falhando.
"Você sempre foi um parita engraçado," sussurrei de volta, me inclinando até sentir o cheiro de cerveja velha no hálito dele. Foi exatamente isso que eu pensei de você. Alguma coisa dentro dele quebrou, a mão dele caiu, os ombros também.
A multidão aplaudia bem alto agora, fazendo barulho suficiente para esconder o fim do último pedacinho de orgulho que ele ainda tinha. Estendi a mão, peguei a mochila e puxei com força das mãos dele. Ele nem tentou segurar.
Quer saber o que tem aqui? Falei alto para todo mundo em volta ouvir tudo o que eu fiz por você, cada presente, cada sacrifício. As pessoas começaram a olhar.
Algumas coxixavam, outras apontavam. Um casal até pegou o celular e começou a filmar. Você quer a verdade?
Abri o zíper da mochila e tirei uma pilha grossa de papéis. Aqui está prova de como eu te carreguei nas costas, de como eu paguei suas contas, de como salvei sua casa da dívida duas vezes. O rosto dele ficou branco.
E você quer falar de traição? Fiquei de pé, levantando os papéis bem alto. Você me traiu no dia em que me transformou no seu caixa eletrônico.
No dia em que você riu quando disseram que eu não valia nada. Para ele sussurrou com a voz baixa, se afundando no assento. Não, você queria uma cena?
Então aqui está. Joguei os papéis aos pés dele. Eles se espalharam, rolando escada baixo como folhas secas.
Me virei e comecei a subir os degraus, passando pelos rostos chocados pelos susurros. "Você, você não pode simplesmente ir embora? ", ele gritou com a voz falhando.
Mas eu não parei, nem olhei para trás. Pela primeira vez, a voz dele não tinha mais poder sobre mim. Mas eles não pararam de tentar, pelo menos não no começo.
No dia seguinte ao jogo, o dia em que o orgulho do meu pai ficou estirado naquelas arquibancadas frias, meu telefone não parou de tocar. Ligação atrás de ligação, mensagens chegando sem parar. Acusações, pedidos, ameaças.
Tudo misturado nas vozes que um dia eu conheci tão bem. Ignorei tudo. Meu pai foi o primeiro a ceder.
As ligações dele mudaram de raiva para súplica em poucas horas. Vamos conversar. Ele mentia.
Eu vou esquecer tudo. Vamos ser uma família de novo. Mas eu não respondi.
Depois veio a minha mãe. As mensagens dela cheias de culpa. Você tá destruindo nossos corações.
Não foi isso que quisemos dizer. Família é tudo que temos. Eu nem li todos eles.
Lindsey tentou depois. As mensagens dela eram puro veneno. Você é um covarde.
Um covarde egoísta e inútil. Você estragou tudo. Então, por favor, fale comigo.
Eu não quis dizer aquilo. Eu estava com medo. Não faça isso.
Mas eu fiz. Silêncio. Essa foi minha resposta.
Essa foi minha vingança. Eles não entenderam no começo. Pensaram que eu estava blefando, jogando algum jogo cruel.
Mas conforme os dias viraram semanas, conforme as contas que antes ignoravam começaram a se acumular e os amigos deles pararam de tomar partido, eles finalmente entenderam. Eles não podiam me alcançar. O senhor e o deles me ligou, gaguejando, tentando explicar que não tinham pago o aluguel.
Eu disse que não era problema meu. Mamãe me enviou uma foto da família sentada no escuro com uma vela solitária tremendo sobre a mesa. Não nos resta mais nada.
Eu apaguei a mensagem sem pensar duas vezes. Uma noite, voltando do mercado, vi meu pai parado do lado de fora do meu prédio. Ele andava de um lado para o outro como um louco.
Seu rosto estava pálido, as mãos tremiam e aquele olhar cheio de fogo nos olhos havia sido substituído por outra coisa, medo. Ele me viu e seu rosto se iluminou com uma esperança distorcida. Ele correu até mim.
Escuta, você não pode fazer isso. Você é meu filho. Eu não diminuí o passo.
Eu era apenas a carteira deles. Ele parou na minha frente com a voz trêmula. Nós te criamos, te demos tudo.
Vocês me usaram. Eu o encarei e agora vocês não têm nada. Tentei contorná-lo, mas sua mão se moveu rápido, segurando meu braço.
Você não pode fazer isso. A voz dele era um rosnado, a velha raiva vindo à tona. Você acha que é melhor que nós?
Acha que pode simplesmente ir embora? Eu sei que posso. Soltei meu braço e segui em frente.
Ele se lançou contra mim, lento, fraco. Eu nem hesitei. Seu punho só resvalou no meu ombro, mais como um empurrão desesperado do que um soco.
Ele cambaleou e se apoiou na lateral do prédio, ofegante. Patético. As palavras escaparam como um suspiro.
O rosto dele se contorceu. Aquela raiva conhecida acendeu de novo. Você vai voltar rastejando.
Você sempre volta. Você não é nada sem a gente. Eu ri alto, estridente.
O som da minha risada ecuou pela rua silenciosa. Eu não era nada com vocês respondi virando as costas. Fui embora.
Não olhei para trás. Naquela noite, joguei meu celular na gaveta debaixo da minha mesa e deixei lá. As mensagens e chamadas perdidas foram se acumulando, mas não me afetaram.
Uma semana depois, recebi uma carta pelo correio. A letra era trêmula e parecia apressada. Filho, por favor.
Seu pai está ficando doente. A Lindsey está perdendo a cabeça. Estamos desmoronando.
Você é o único que pode consertar isso. Por favor, volte para casa. Amassei a carta sem terminar de ler.
Eles estavam caindo aos pedaços. Ótimo, porque pela primeira vez eu não estava, eu não mudei meu número, não me escondi, não fui para longe, fiquei exatamente onde estava, mas parei de fazer parte do mundo deles. E o mundo deles desmoronou sem mim.
Os amigos de Lindsey pararam de atender suas ligações. Os parentes distantes da mamãe, que costumavam enviar cartões de Natal educados, agora ignoravam. Meu pai perdeu a paciência no trabalho tantas vezes que acabou demitido.
Mas eu não liguei, não assisti à ruína deles. Eu vivi, cozinhei para mim mesmo, dormi em paz, fiz longas caminhadas sem me preocupar com mensagens, exigindo meu tempo, meu dinheiro, minha vida. Agora eram apenas vozes, fantasmas que deixei para trás em uma casa em chamas.
E eu estava livre. Meses se passaram e o silêncio virou meu amigo. Eu acordava na hora que queria, comia sem culpa.
Nos finais de semana, explorava a cidade que antes eu ignorava, sentindo a liberdade em cada momento de silêncio. Às vezes me pegava esperando o som familiar das mensagens desesperadas, aquela culpa sufocante, a voz frenética, exigindo que eu resolvesse o caos. Mas isso nunca veio.
Eu fiz o impossível. Eu os enterrei não no chão, mas na minha vida. Caminhava pela Mem Street em uma manhã fresca de outono, passando pelo café onde comprei bolos caros para o aniversário da Lince, pela boutique, onde gastei uma fortuna em presentes, pelo restaurante onde sempre pagava pelos jantares em família.
Eu costumava ser tão generoso, até que não fui mais. Fantasmas. Apenas fantasmas.
Na esquina, um músico de rua tocava uma melodia lenta e dolorosa. Sua voz era áspera, os dedos dançavam sobre as cordas da guitarra. Uma voz que não tentava ser perfeita, apenas verdadeira.
Parei e deixei a música me envolver. Não era sobre amor, não era sobre desgosto, era sobre deixar ir. O mundo se movia ao meu redor, agitado e vivo.
Fiquei parado, respirando fundo. Quando a música terminou, joguei uma nota de 20 no estojo aberto da guitarra. O músico fez um aceno com a cabeça e eu sorri.
Não porque eu precisava fazer isso, nem porque alguém esperava. Fiz porque eu queria e essa era a diferença. Eu não precisava deles, nunca precisei.
Cada passo que eu dava era mais leve, cada respiração mais fácil. Enquanto o sol se punha atrás dos telhados, pintando o céu de âmbar e carmesim, senti uma certeza silenciosa. Eu estava livre.
M.
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