a minha infância o que eu eh não tive de possibilidade material eu falo que a gente vivia não era não era numa linha de pobreza era numa linha de miserabilidade mesmo mas eu tive em termos de afeto isso é o fundamental n e era um afeto que era muito pouco transmitido por abraços mas era um afeto de andar de mão dados até hoje eu gosto muito de andar de mão dada com as pessoas a gente andava muito de mão dadas ou de braços dado o abraço raramente existia mas era o afeto da minha mãe das
minhas tias sentar conosco contar histórias né eu tenho dito que a minha tia mais velha principalmente se ela tivesse tido a oportunidade de estudar ela seria historiadora porque é A Saga dos Bandeirantes de Minas Gerais eu tomei conhecimento que minha tia contava ela lia entende ela tinha um certo grau de leitura Então ela lia história de Minas Gerais história do Brasil e contava era essa tia que trabalhava na biblioteca não trabalhava na biblioteca era outra né era outra tá tá E aí e a minha mãe encava história muito também essa é minha tia história da
escravização principalmente então eu eu cresci escutando essas histórias e isso foi muito bom Foi muito bom porque me despertou a curiosidade me despertou a possibilidade da escuta eh me despertou esse desejo de olhar o rosto da pessoa quando a pessoa tá contando as expressões que as as as expressões falam muito você que artista você sabe disso né então eh a como é que fala a Gênese da minha literatura ela sai de um lugar que não é comum que eu fale eu não nasci rodeada de livros eu nasci rodeada de palavras mas essa experiência foi muito
boa porque eu acho que dá um um diferencial H entende total e esse termo que eu adoro a escrevivência gente é lindo demais né como é que veio na sua cabeça esse terma assim da onde é que surgi Pois é né eu sempre digo falar de escrevivência é quase como dar um curso né porque eu começo a pensar nesse termo a fazer esse jogo de palavras ainda 94 quando eu tava fazendo meu mestrado na PUC que na verdade não é só o jogo de escrever e viver né E também né É um jogo de escrever
e viver mas eu tenho insistido muito também que a Gênese da ideia de escrevivência não do termo em si mas o sentido né É tem também algo de muito histórico e e de e de ancestral por quê Por isso também corma essa frase aí a nossa escrevivência não é para adormecer os da casa grande e sim para acordá-los dos seus sonos injustos e o que o que que o que que me fez Qual a imagem que está aí no fundo da escrevivência né Qual a imagem que semti essa ideia eu sempre penso até porque por
exemplo a minha tia que me criou ela foi Babá e na verdade esse serviço doméstico das mulheres negras é uma é uma extensão histórica da escravização Com certeza e aí eu sempre imaginava aquela Mãe Preta tendo de contar história pros meninos da casa grande então eu e os seus filhos em casa se escar isso E os seus filhos né no caso dessa mãe preta é inclusive na própria escravização exato ora tudo dessa mulher pertencia ao a além do do corpo a própria voz dessa mulher também cumpria uma uma função dentro da escravização né que era
de contar a história não era o momento que ela escolhia né estava dentro da da própria função dela ora a nossa escrita na medida que as mulheres negras também ganham a competência dessa escrita é como se fosse um acúmulo Dessa voz que cumpria uma função Dessa voz que tinha um rumo certo né Dessa voz que tinha um público uma audiência certa que eram os meninos da casa grande e a escrita hoje a nossa escrevivência é como se fosse um texto libertário né é como se fosse um texto o acúmulo desse silenciamento ou ou acúmulo Dessa
voz que era dirigida então por isso eu tenho é insistido muito que a escrevivência tem esse sentido na tem na geneologia da ideia essa esse fundamento histórico e ancestral né é como se fosse uma explosão desse texto oral que essa mulher negra que essa mulher escravizada dentro da casag grande eh tinha de ser eh dirigida paraa prol colonizadora né